Ramé escrita por LuriCris


Capítulo 8
Início


Notas iniciais do capítulo

Bom dia.
Esse capítulo está... grande. 6K.
Não pretendo que todos saiam nessa média, esse é apenas um caso especial mesmo.
Espero que gostem.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/769112/chapter/8

Todos que me conhecem sabem como, ao contrário dos grandes nomes em magia, não nasci nesse meio. Sou filho de uma secretária de dentista, residente do Colorado, e seu fechado marido metalúrgico. Cresci em uma pitoresca cidade onde a forma mais conhecida de se divertir era correr nas plantações de milho e todas as velhas senhoras nos conheciam pelos nomes de nossas mães. (Eu sempre seria o caçula de Nina.)

Não muito interessante vida, eu diria. O contexto histórico, entretanto, era completamente bizarro.

Os anos 1900 são tratados como a segunda Era Negra da Magia aqui em Reah ou, como muitos sussurram aterrorizados, o Último Suspiro. Todos os avanços tecnológicos que, já sendo velozes, simplesmente dispararam absurdamente. Potências econômicas entravam em mais conflitos do que precisavam realmente e a grande Depressão destruiu o estilo de vida ostentoso de toda a população de meu país.

A arte surgiu e explodiu ainda mais como produto, tornando a ‘expressão’ digna de ouro. A supremacia branca, mais uma vez, desfigurou ainda mais nosso falho senso moral e o espetáculo instalou-se no mundo.

Colegas e professores, quem de nós não se lembra do manifesto futurista?

E foi nessa insegurança do mundo pós-guerra, do fazer pelo ver e, principalmente, pela vida que Duchamp não tão carinhosamente definiu de Dadá, que eu explodi a cozinha de meus pais.

O detalhe é que em minhas mãos não havia um isqueiro. Eu segurava um copo de água. Como eu fiz isso? Pergunto-me até hoje.

Sei de muitos grandes nomes da magia confrontaram situações parecidas em suas primeiras experiências de canalização. Sei de magos que dizimaram geleiras, congelaram fogueiras ou tornaram pó diamante.

Eu desabriguei minha família.

Esses magos receberam atenção imediata, o conselho sendo tão eficiente através de suas redes de plasma e, pelo posicionamento de pontos seguros, sentiram muitas manifestações de Potenciais imediatamente.

Na América o sistema começou a cair em 1857, 66 anos antes que eu nascesse. O ponto seguro mais próximo de minha casa ficava no sul do Texas. Obviamente, não sentiram isso.

Sendo de descendência colona, vindos da Áustria na mesma época que a queda do sistema, minha família ainda era vista como ‘os estrangeiros’ ou forasteiros. O crescente terror causado pela Alemanha fechou todas as portas tão sofridamente abertas através de quase um século de gentileza e contribuição a comunidade que minha família havia conseguido abrir.

A magia era o destino de minha vida. Mas isso não me impediu de sofrer em suas mãos. Se Mestre Asmark não tivesse passado pela cidade, se ele não tivesse tido aquele concilio com os patronos da Universidade de Seattle, nós provavelmente teríamos perdido todas nossas posses, sendo incapazes de reconstruir a casa. O albergue que nos abrigou não poderia manter a família de cinco pessoas, não com o caos da entre guerras e meu pai quase aleijado.

Por isso, quando eu penso em meu primeiro contato com a magia, sendo uma inocente criança de sete anos a única palavra que vem a minha mente é: traumatizante.

 

Trecho da autobiografia e diários comentados de Stan Lurrof - 1977. Reah

(Registro 8977-125/h  sob GC.)

 

 

 

Antes que Izuku percebesse, seu aniversário chegou novamente, em meio a aquela estranha rotina que se tornara sua vida. Da mesma forma que no ano anterior, Aizawa-sensei apareceu na grande casa, por volta das duas da tarde, trazendo um presente surpreendentemente bem embrulhado e a informação que não o treinaria durante as próximas duas semanas, pois precisava se preparar para uma avaliação própria.

Ele estava exultante a receber outro caderno com capa de couro de seu sensei, (algo que se tornaria uma tradição entre os dois, enchendo sua própria seção de nichos na prateleira de seu chalé, ao lado dos seus demais preciosos presentes) e mais alguns mimos de heróis que ele ainda não possuía.

Junto deles o homem também presenteou Izuku com uma estranha coleção de doces, que daria um infarto a qualquer dentista (isso recebeu uma sobrancelha arqueada de Mitsuru, numa conversa que ele ainda não entenderia).

Naquela manhã Izuku já havia recebido um pacote, contendo uma linda capa, no mesmo tecido e corte que as de seus irmãos, em um tamanho próprio. A embalagem completamente branca, amarrada por barbantes num padrão cuidadosamente intrincado indicava como aquilo era uma posse de magos e não pessoas comuns. Mais tarde, para seu próprio espanto, Izuku descobriria, a partir da dedicatória, que aquela capa fora mandada pelos três estranhos senhores do conselho.

(Embora seus nomes fossem ridiculamente difíceis de decorar, Izuku admitia que gostava dos homens. Depois da primeira vez tornou-se quase um hábito para ele ir até lá junto de Aya, pelo menos uma vez por mês, e não demorou muito para que a grande estrutura começasse a se fazer familiar. Ele poderia ir a alguns lugares sozinho agora como a praça comum, o refeitório e, principalmente, a biblioteca, onde teria passe livre a hora que quisesse.

Nepotismo era errado, ele admitiria muitos anos mais tarde, só que isso não o impediu de passar por cada prateleira daquele lugar.)

Havia, da mesma forma que o ano anterior, um bolo. Eles  passaram a maior parte daquele fim de semana na sua confecção, da mesma forma que os demais comestíveis, e todos se orgulhavam do resultado final. Aya e Ethan, surpreendentemente (ou talvez nem tanto, visto que tinham o dente mais doce que Izuku já conhecera) eram absurdamente bons em confeitaria, então tudo que eles se envolviam acabava se transformando em uma competição para ver quem faria melhor.

Depois que todas as vasilhas, bowls, colheres e qualquer coisa que fosse da cozinha estivesse finalmente limpa e guardada (eles não eram de desperdiçar comida, sabão era uma história completamente diferente) Izuku finalmente permitiu-se cair completamente cansado no sofá, com um saco de pipocas e algum filme aleatório que nenhum deles prestou atenção realmente.

Foi uma agradável véspera que fez todos dormirem amontoados nos estofados e acordarem com as costas gritando menos de doze horas depois. A TV tocava comerciais estranhos de frigideiras em algum anormal retrato de família americana. Parecia perfeito.

A diferença entre os dois aniversários era que, nesse, Kacchan estava aqui.

Fazia muito tempo que os dois meninos não interagiam um com o outro, sendo o ombro frio e tratamento silencioso uma tática de duas vias. Izuku não gostava muito de se sentir daquela maneira, mas não conseguia evitar tremer cada vez que olhava para a criança loira e se lembrava da dor horrível em suas costas.

Dessa forma o menino sardento preferiu manter algo de distância do colega e, sem nenhuma novidade, Kacchan não havia procurado por ele, nem mesmo para as costumeiras ‘brincadeiras’ com seus asseclas. Embora uma parte da coerção verbal continuasse a ser dirigida para ele, em todas as situações que sua professora estivesse longe, Izuku, pouco a pouco, foi se esquecendo como era a sensação de voltar para casa com queimaduras pelo corpo ou joelhos ralados.

Não era nada ruim, ele admitia, embora de, alguma forma, Kacchan fizesse falta em sua vida. O problema de crescer com o menino era justamente o fato de que, Izuku acabara por preencher a maior parte de suas horas com a companhia do mesmo. Levando em consideração, então, como sua mãe passava muitas horas trabalhando, quando ainda moravam no apartamento, fazia do acompanhamento adulto uma necessidade.

Os turnos loucos de Inko, como enfermeira, permitiam que Mitsuki cuidasse de Izuku durante as noites e finais de semana da mesma forma que a pequena senhora Midoriya sempre mantinha um olho nos meninos nos fins de tarde e manhas livres.

Fora um sistema não ideal, mas estranhamente propicio para ambas as famílias. Foi o mesmo sistema, entretanto, que permitiu a Katsuki escapar sem problemas de suas ‘brincadeiras um pouco duras demais’ ou as ‘lições de realidade’ que ele empregava em seu amigo mais jovem. Os últimos meses estavam sendo ótimos para Izuku, que parara de se preocupar, pelo menos um pouco, com a necessidade de manter-se sempre em guarda.

(A cicatriz em suas costas, entretanto, nunca iria embora. A pele distorcida serviria sempre como lembrete daquele que foi um dos momentos mais desesperadores de sua vida. Anos no futuro, ao sentir os dedos de seu amante gentis sobre a pele distorcida, Izuku tremeria, tanto de prazer quanto de agonia, ao lembrar-se exatamente de como havia chego ali.)

Então, Izuku poderia admitir que possuía sentimentos mistos quanto a presença de Katsuki em sua casa, quanto mais naquele dia. A última vez que o menino havia estado em uma comemoração de aniversário de Izuku, foi três anos antes e mesmo essa lembrança era vaga demais para que o garoto soubesse o que esperar.

Uma parte dele chorava, mal dizendo qualquer infortúnio que levou tia Mitsuki e tio Masaru para longe da cidade num compromisso que Kacchan não poderia acompanhar. Isso resultou num telefonema frenético, que acordou Izuku às cinco da manhã e uma Aya completamente sem palavras, enquanto tentava encontrar uma forma de proceder.

Por algum motivo (que certamente se chamava Ethan) eles concordaram em cuidar do garoto, mesmo que apreensivos, e isso deixava todos naquela exata situação. Então ali estava Izuku agora, encolhido contra sua mesa enquanto abria os pequenos mimos que havia recebido de cada um dos seus irmãos, rindo de cada um deles e tentava ignorar o elefante branco.

Kacchan estava sentado calmo, do outro lado do balcão, aparentando não saber exatamente o que fazer, enquanto seus pais conversavam com Aya, a ponto de sair.  Mitsuki pedia, pela quinta vez, desculpas por se impor tão de repente, enquanto sua irmã tentava tranqüiliza-la de que não havia problemas realmente.

O relacionamento entre Aya e Katsuki era tenso sim, mas eles eram estranhamente civis um ao lado do outro. Aya dizia que se recusava a agir feito criança em relação a uma criança (embora Izuku suspeitasse que Elijah fosse o responsável por impor aquele pouco de bom senso na mente dela) e Katsuki parecia ter uma espécie de respeito relutante por ela.

“E você...” Disse tia Mitsuki enquanto olhava para Kacchan. Ela estava caminhando em direção a Izuku, com as mãos nos quadris. “Se comporte entendeu? Não quero ouvir sobre você sendo mal educado ou mesmo um idiota para Izuku aqui. Se eu souber que fez mal para um fio do cabelo dele, nós vamos ter mais uma conversa séria. Entendeu?”

Kacchan apenas resmungou alguma coisa ininteligível que não agradou em nada a sua mãe.

“Entendeu Katsuki?” repetiu com mais força em sua voz, enquanto parava o seu trajeto.

“Que seja.” Ele respondeu de má vontade, desviando o olhar para a janela, ao invés de qualquer um dos ocupantes da casa.

Kacchan e Mitsuki já haviam estado em sua casa duas vezes antes que os meninos cortassem suas relações. A primeira das ocasiões foi logo depois o encontro de Aya com tia, na primeira vez no centro, em que a mulher insistiu em ver sua amiga comatosa.

Naquela ocasião, em que Izuku e Katsuki ainda brincavam muito um com o outro, os dois meninos passaram o tempo caminhando ao redor da casa, Izuku mostrando todas as coisas que havia descoberto até então para seu amigo não tão empolgado com aquilo.

A segunda vez foi logo após seu ‘problema’ na escola, que forçou Izuku a ficar de repouso por uma semana antes que a pele se recuperasse o suficiente para não ser incomodada por suas roupas.

A família de três apareceu dois dias antes de Izuku voltar para a escola, completamente sem graça e implorando pelo perdão e compreensão do menino (Mitsuki e Masaru na verdade. Kacchan apenas se recusou a olhar para Izuku e seu ‘sinto muito’ saiu em um fio de voz). Foi nessa situação que Ethan acabou se aproximando um pouco de Kacchan, enquanto o menino parecia não saber se deveria estar ali ou não. Claro que seu amigo não foi um exemplo de bons modos e afeição para o irmão, mas ele não o afastou também, o que Izuku poderia considerar algum progresso.

A situação era praticamente a mesma agora enquanto seu ex melhor amigo parecia querer estar em qualquer outro lugar que não fosse a casa de Izuku. Como tal um presente foi rudemente empurrado em suas mãos pelo garoto, que ainda se recusava a olhar para ele.

Dentro do embrulho havia um adorável boneco All Might. Izuku reconhecia aquele modelo. Era igual a um dos últimos que Kacchan havia quebrado antes de tudo. Era um dos únicos que ainda não tinham sido substituídos. Isso diminuiu um pouco do medo de Izuku, da mesma forma que o aqueceu saber que Kacchan (ou mais provavelmente tia Mitsuki) realmente  pensara seriamente sobre o que lhe dar de presente,

“Muito obrigado.” Izuku era sincero em agradecer por aquilo, sentindo-se feliz pela estranha consideração. Poderia nunca substituir o boneco comprado pelos esforços de sua mãe, mas pelo menos mostrava que Kacchan poderia mudar em relação a ele, depois de tudo.

Quando os dois adultos saíram o clima pesado pareceu se instalar novamente, vindo da criança parada na cozinha. Elijah suspirou e após uma conversa de olhares, que Izuku apenas poderia imaginar, sua irmã se dirigiu até Kacchan.

“Katsuki.” O tom de Onee era tranquilamente sincero quando ela se abaixava em frente ao menino, que tentou não se encolher com aquilo. O brilho no olhar de sua irmã disse a Izuku como ela havia compreendido a mesma coisa que ele, como o brilho de temor de Katsuki realmente a preocupava. “Você tem algum problema com estar aqui? Está se sentindo desconfortável?”

O Katsuki que Izuku conhecia iria apenas rir e mudar de assunto com insultos. Esse Katsuki agarrou as próprias roupas enquanto levantava o olhar para encará-las.

“Por quê?” Resmungou baixinho enquanto desviava o olhar.

“Desenvolva, por favor... eu não sou adivinha.” Isso arrancou uma risada de Ethan, ao lado de Izuku.

“Eu machuquei De...Izuku. Eu sei que você me odeia, então porque aceitou ajudar a minha mãe comigo?”

“Oh, Katsuki... eu não odeio você. Fiquei irritada sim quando tudo aquilo aconteceu e continuo dizendo que sua atitude foi errada. Mas todos erram, sei disso mais do que qualquer um, pois eu mesmo errei mais do que qualquer pessoa nessa casa. Quando digo que isso precisa mudar, que você agiu covardemente, é pelo simples motivo de que já passei por coisas suficientes para saber que não quero que você ou ninguém passe por isso também.

Não precisa temer ninguém aqui, entendeu? Você é complicado, teimoso e muitas vezes irritante... mas somos todos. Izuku mesmo.” Isso pareceu tranquilizar o menino que finalmente afrouxou o aperto que tinha na camisa. “Eu não vou forçá-los a dar as mãos e fazer as pazes. Longe disso. Mas eu também não vou negar ajuda quando realmente precisar dela, entendeu? Então relaxe antes que dê a Elijah ali uma arritmia.”

Essa pequena conversa foi o suficiente para acalmar todos e forçá-los a fazer alguma coisa, retomando a rotina que já estava planejada. Mesmo que parte da tensão tenha permanecido, a conversa entre os dois foi o suficiente para deixar o ar mais respirável pelo restante do dia.

Eles acabaram não fazendo muita coisa no final, escolhendo ter uma tarde de filme e porcarias. Todos os doces produzidos  foram consumidos durante a tarde, entre Procurando Nemo e A Viagem de Chihiro. Mesmo Kacchan relaxou o suficiente para realmente aproveitar sua programação e estava rindo com eles enquanto repassavam as cenas de Timão e Pumba.

Filmes antigos assim eram difíceis de encontrar, afinal de contas, como muitas coisas pré-quirks. Clássicos infantis seriam sempre clássicos é claro, mas os preços eram quase altos demais para que as pessoas realmente mantivessem cópias deles consigo. Izuku aproveitou sua tarde, da melhor maneira possível, pedindo, em sua mente, que elas nunca mudassem.

Faltava apenas mamãe para que realmente fosse perfeito.

 

*****

 

Era cerca de cinco da tarde quando os pais de Kacchan finalmente chegaram para buscar seu filho. Em algum momento entre os filmes,  os meninos haviam adormecido no sofá tendo a enérgica batida na porta como despertador.

Acordar e levantar das almofadas contra o chão provou-se uma tarefa hercúlea para as duas crianças que foram instruídas a lavarem seus rostos enquanto Mitsuki recolhia as coisas de Katsuki. Foram cinco minutos do momento em que Izuku o guiou ao lavabo até quando eles finalmente estavam do lado de fora, onde os pais já o esperavam. O sol ainda estava forte o suficiente para que Izuku tivesse que proteger os olhos para poder enxergar. O outro menino chutava as pedras do caminho de entrada, alguns passos à frente e, por alguns minutos, nenhum deles havia dito nada.

Sinceramente, em nenhum momento do dia, salvo no início, eles haviam interagido diretamente um com o outro. Katsuki não o procurou e Izuku também se manteve para si mesmo, onde estava confortável. Talvez fosse por isso que os filmes haviam sido escolhidos, no final.

Com o canto dos olhos Izuku, enquanto caminhava, olhou vagamente para as árvores mais próximas, contendo a vontade de infiltrar-se entre a mata para poder esquecer um pouco das últimas horas. Sim, ele concedia que nada ruim ou errado aconteceu, mas a tensão em volta dele e Kacchan, principalmente agora,  era tão densa que até o ato de respirar era desconfortável.

Fazia tempo que Izuku não precisava pensar e repensar em todas as palavras que diria. A naturalidade que se instalou em sua casa tornou mais fácil para o menino se expressar verdadeiramente, sem medo de represálias e chacota. E, de certa forma, ainda era o único lugar que ele poderia fazer aquilo, visto que a situação em sua escola, por mais que tenha melhorado, não mudou verdadeiramente.

Ter Kacchan ali, então, em seu lugar seguro, era como uma invasão e Izuku não gostava nada daquilo. Seu consolo era que não fora tão ruim como pensara que seria, ele ia conceder aquilo.

“Eu já pedi desculpas uma vez, não espere que eu faça novamente Deku.” Kacchan quebrou o silêncio, com ele, seus pensamentos.  Oh, ali estava a animosidade característica de Kacchan, finalmente dando as caras. (Izuku não assumiria em voz alta para ninguém, mas ele meio que sentia falta daquilo, às vezes.)

“Eu já sei disso.” O tom de Izuku não era animado nem nervoso. Ele se sentia razoavelmente calmo, apesar de tudo. Talvez o fato de estarem em casa, sob vigilância o deixasse mais tranquilo, sabendo que o outro não correria o risco de exagerar.

“Mesmo assim... eu sei que fui meio idiota com você... embora minha opinião não tenha mudado.”

Izuku apenas assentiu, resolvendo que de nada adiantaria começar uma nova discussão. Ele havia aprendido, a duras penas, que o tema de heroísmo (mais especificamente Izuku sendo um herói) era um Tabu perante Kacchan.

“Nós já concordamos com isso, eu acho.”

“Acho bom que você entenda.” O tom dele terminava com qualquer intenção de continuar com aquela conversa. Izuku assentiu, perdendo-se na visão das árvores novamente, enquanto escutava a voz de sua mãe chamá-lo para irem embora.

“Até logo Ka...tsuki.” Corrigiu-se no último instante, quase por instinto chamando-o pelo velho apelido. Ainda levaria muito tempo para parar de chamá-lo assim em sua mente, talvez nunca fizesse, mas havia decidido que pararia de pronunciar o apelido em voz alta.

“O que for. E a propósito... eu posso ter errado... eles não são tão ruins como eu pensei que eram.” Resmungou enquanto corria em direção ao carro e entrava. Ele ficou feliz, embora não fosse realmente importante, que Katsuki tenha conhecido, de verdade seus irmãos da mesma forma que ele sabia quão ruim era para o outro admitir aquilo.

(Izuku nunca saberia sobre o aperto no peito de Katsuki ao não escutar o apelido. Não teria conhecimento sobre a sensação de falta que ele havia sentido nem a tristeza inexplicável que o tomou durante um momento.

Katsuki nunca admitira também. Sobre o momento que mudou mais uma vez seu conturbado relacionamento. Sobre quando percebeu que Deku já estava longe da criança chorona que conhecera.

Katsuki quase não o reconhecia mais.)

Tia Mitsuki acenou para Izuku, tendo já entrado no carro, e ele retornou o comprimento antes que o veículo partisse. Ao perder de vista o automóvel, depois da primeira curva, Izuku finalmente permitiu-se relaxar e encarar as árvores que pareciam estar chamando-o.

Pensando que não faria realmente mal tomar um ar puro, ele dirigiu-se até a borda, finalmente entrando naquele especial pedaço de mundo.

 

*****

 

Ele caminhou durante alguns minutos, apenas passeando a esmo entre as gastas e antigas trilhas e tentando não pensar muito na tarde que tivera. A melhor forma de fazer isso, ele admitia, era realmente entre a tranquilidade e frescor que apenas a mata antiga era capaz de dar a ele.

Quando finalmente sentiu-se tranquilo o suficiente Izuku permitiu-se sentar contra sua grande pedra favorita, junto das raízes de um grande teixo.

(Não escaparia de sua mente a ironia. As frutas da toxidade e a árvore do renascimento sendo a principal testemunha do momento que finalmente cimentaria sua decisão.

Esse mesmo teixo, independente da época, sempre seria seu favorito entre todos. Seria em sua sombra que Izuku, um dia, diria aquelas palavras e seria ali também que receberia o sorriso mais sincero de sua vida. Poderia ser um companheiro de fins em sua vida, mas também testemunharia muitos reinícios.)

Mas, por enquanto, aquele teixo apenas o acompanhava em sua dúvida, sobre como se portar e como se sentir devido aos acontecimentos daquela tarde. Sem ter exatamente onde se pautar, uma experiência para comparar, Izuku tentava entender o que se passava pela mente de Kacchan.

“Uoh... aquele menino é tenso, não é mesmo?” A voz sussurrante fez com que Izuku saltasse no lugar. Olhando em volta, da mesma forma que alguns meses atrás, a única coisa que Izuku foi capaz de ver foi a floresta: árvores, folhas e... o brilho? Isso chamou sua atenção completamente, já que desde aquele dia, quase um ano atrás, aquilo nunca mais havia acontecido.

Agora ali, naquele espaço, onde até então estivera apenas ele, flutuava o estranho pó do ano anterior, que Izuku quase pensou ter sonhado. Ele não percebera o quanto sentia falta daquilo até vê-lo novamente. A sensação de alegria e conforto que ele trazia era equivalente ao abraço de sua mãe, a uma tarde de chuva sob seu cobertor favorito.

Izuku não poderia explicar completamente, ou perfeitamente, como se sentia a estar ali. A palavra em sua mente naquele momento, embora não justa o suficiente para o esplendor, era ‘completo.’

“É você!” não era uma pergunta. Aquela voz, mesmo que tenha pronunciado poucas palavras, estava gravada em algum canto de sua mente. “O que você esta fazendo aqui?”

“Eu deveria estar lhe perguntando isso Filho dos Homens. Não deveria ser um dia especial para você? Não acho que se esconder entre vegetação obsoleta seja uma boa forma de comemorar.”

“Estou pensando. E isso inclui saber quem é você. O que  quer? Por que eu apenas escuto sua voz, mas não te vejo?” Eram muitas as perguntas em sua mente enquanto olhava para o vazio de onde a voz vinha e tentava enxergar um roto, um vulto ou qualquer coisa que fosse. Completamente sem sucesso. Ali, havia apenas a voz.

“Eu não quero nada exatamente, eu só queria ver sua reação, se visse isso?” Desconversou-o com seu próprio entusiasmo. Izuku poderia apenas imaginar um rosto sorridente perto dele. Era assustador, de certa forma.

“Ah o brilho? Faz um tempo que quero saber na verdade, mas o que seria isso? É perigoso?” Sua cautela baixou um pouco, sendo superada pela curiosidade. Talvez se ele fizesse as perguntas corretas, poderia saber o que estava acontecendo.

“Oh, claro que não. Hoje é novamente seu aniversário, não é mesmo? Então nada mais é do que um presente. Isso é apenas a floresta mostrando o apreço que tem por você. Imaginei que, como está amadurecendo seria capaz de notar. E também, imaginei que o restante dos Filhos já teria lhe esclarecido isso.”

“Eu não imaginava que algo assim existisse por isso acabei não dizendo nada.” Justificou-se envergonhado de não ter perguntado para seus irmãos sobre o que poderia ser aquilo. Pensando francamente era absurdamente certo que eles saberiam lhe explicar. Izuku sentiu-se um idiota agora por ter deixado o assunto de lado.

“Oh, você não disse a eles... garoto sapeca. Realmente alguém que gosta de valsar com o perigo, eu vejo.” A voz parecia estar mais perto de seu ouvido agora, e absolutamente divertida. Izuku corou com a perspectiva de ter escondido conscientemente aquilo dos irmãos e, ao se lembrar de todos os avisos velados que recebera sobre a floresta, percebeu quão torpe havia sido. “Mas, respondendo suas dúvidas, existe sim! Tudo aqui, acho que sabe, vive a um tempo absurdamente longo. A magia canta por essa terra e dá vida a coisas de formas completamente diferentes a maioria do mundo. Então não é anormal que a flora aqui tenha um pouco mais de consciência do que o restante. Quer dizer... muitas dessas árvores viram a própria rainha em seus primeiros dias, e isso quer dizer alguma coisa.”

“Uau.” Izuku poderia não entender tudo que a voz disse, mas entendeu o suficiente para saber que isso era algo incrível. Ele realmente precisaria falar com seus irmãos sobre isso depois.

“Sabe...” A Voz retomou seus relatos, chamando sua atenção novamente em um tom muito orgulhoso. “Todos nessa floresta já sabem seu nome...” Izuku gelou ao ouvir isso, temendo por sua segurança. Rapidamente o menino levantou-se da pedra, andando para trás até tropeçar na maior das raízes. De repente todos os avisos de seus irmãos voltaram a sua mente e mais uma vez sentiu-se um idiota por ter ‘esquecido’ de confessar sobre o ano passado para eles.

 “Não se preocupe!” A voz deve ter percebido o seu temor, pois o tom era urgente enquanto tentava tranquilizá-lo. “Nós sabemos, mas não vamos tirá-lo de sua casa. Tanto que respeitamos a vontade da guardiã e nem o pronunciamos. Era o que eu queria dizer, você não precisa se preocupar.”

“Então por que está me dizendo isso?” O termo guardiã era estranho em sua mente. Ele sabia, objetivamente, que deveria se referir a Aya, mas nem mesmo isso o acalmou realmente.  Enquanto falava Izuku pensava em diferentes formas de poder voltar para dentro de casa.

“Esse pó é algo que apenas árvores antigas fazem...” Izuku estava fascinado pela conversa, ele admitia, por mais que a maior parte de si gritasse para que ele saísse logo dali. Contrariando tudo que ele sabia ser o correto (ou pelo menos seguro), entretanto, Izuku levantou-se e estendeu a mão em direção ao tronco do teixo que também havia começado a emitir o pó. Era fascinante. “E elas fazem apenas por aqueles a quem apreciam, que a floresta ama. A floresta ama você, achei que devia saber. Ser dotado de magia é algo incrível, principalmente em nossos dias em que o antigo se perde cada dia mais, mas a Magia de Fauna, sua afeição incondicional, é incomparável. É quase um crime esconder isso de você.”

“Oh, obrigado?” Ele não entendia exatamente essa exclamação. “Mas eu acho que você se enganou. Eu posso viver com meus irmãos, mas eu não tenho magia.”

“Eles lhe disseram isso?” O tom era descrente.

“Não! Quer dizer... eu nunca pedi. Mas não é obvio, quer dizer... eles são incríveis e eu... sou eu.”

“Usuários de magia são capazes de sentir a energia em tudo. Você tem verdadeiro potencial desde que chegou aqui e ele só vem aumentando. Conhecendo Matsukaze Aya ela provavelmente deixou-lhe para descobrir isso sozinho.” O tom era contemplativo enquanto falava com Izuku e, ele pensou, fazia sentido se aquilo fosse verdade.

Ele gostaria de negar e fizer educadamente que isso era um engano. Izuku queria dizer como seus irmãos teriam lhe dito algo, qualquer coisa, se isso fosse verdade, mas no fim ele se calou. Por mais que as palavras fossem absurdas ele entendeu que elas eram completamente verdadeiras.

Fazia muito sentido.

Seus irmãos jamais forçariam o uso da magia para Izuku, por mais que sua vida fosse pautada nele. Mas eles nunca o negaram também, não de verdade, passou pela sua mente no mesmo momento. Eles nunca disseram que era impossível para você... eles apenas jogaram o assunto para frente. Eles lhe ensinaram algumas coisas até, e sempre responderam todas as suas perguntas. Eles esperavam isso?

Essa nova perspectiva o deixou sem reação durante um minuto. Atônito ou feliz, ele não poderia decidir. O conhecimento de que ele poderia ser mais do que o simples menino Quirkless ao mesmo tempo em que a consternação e confusão de ter sido deixado para compreender aquilo por conta própria.

Eles deveriam ter seus motivos? Com toda a certeza. Não doía ou picava menos, mas tornava aquilo mais aceitável.

Eles o mantiveram por perto, sabendo desde o início? Conhecendo-os... sim. Mas Izuku sabia que o afeto, carinho e palavras ditas sobre tendas e cobertores eram completamente verdadeiros. Ele sabia que nenhuma palavra e reação que recebia eram fabricadas, mesmo sendo tão jovem.

(Aya não acreditava em destino, ele se lembraria algum tempo depois, ao mesmo tempo em que parecia estar estranhamente presa no conceito. Ela não agir, pelo simples objetivo de testar suas motivações, não parecia fora do personagem para ela.)

“A rainha vai ficar tão feliz quando eu contar isso para ela! você nem imagina a quanto tempo ela espera…” Novamente a citação a essa rainha, percebeu.

“O que? Que rainha?” Ele instigou ao ver que a voz parou em seco. Havia muitas coisas sobre a própria floresta que Izuku não conhecia ainda.

“Nada! Ainda nada. Agora eu tenho que ir! Se sua guardiã souber que eu falei com você ela não vai gostar muito, afinal de contas. Até logo criança! Estou ansiosa em ver seu desenvolvimento daqui em diante…”

“Eu não sei do que você está falando!” Embora agora ele soubesse sim. Izuku apenas precisava colocar sua mente em ordem.

“Ora, meu pequeno menino mágico, eu posso ver como a ideia passeia por seus olhos. É claro que você sabe. Chame-me quando for capaz de falar comigo realmente. Podemos conversar de verdade então.”

Vendo como suas intenções não eram tão secretas, no fim das contas, Izuku suspirou, imaginando que não fazia mal manter aquilo em espera.

“Eu nem sei a quem chamar.” Resmungou torpemente enquanto via o brilho desaparecer junto com os restos do dia. "Mas eu vou."  Seu tom era decidido e o vento pareceu ressoar em resposta. “Eu vou.” Jurou para si mesmo enquanto olhava na direção que sabia estar a casa. Ali, no lado de fora, o sol finalmente começava a se despedir, trazendo a brisa e suavidade da noite para consolo daqueles que precisavam do merecido descanso.

Para aqueles que precisavam, urgentemente, pensar.

 

*****

 

Izuku não precisou pensar muito para chegar a suas respostas.

Sentado sobre sua cama, olhando para a capa que recebera ainda naquela manhã ele entendeu as frases cuidadosamente planejadas e silêncios tensos entre todos que conhecia desde então.

Izuku entendeu que ele poderia ser um mago, um verdadeiro mago, se quisesse.

Seus irmãos estavam lá não apenas com ele, mas para ele também.

A questão era que, desde sempre, aquela deveria ser sua decisão, sua pura e absoluta vontade. Entre pessoas que negavam a importância ou mesmo existência do destino, Izuku foi confiado para tomar suas próprias decisões.

Acontece que ele estava decidido.

 

*****

 

A cena foi exatamente como Izuku pensou que seria. Sentada atrás de sua grande mesa, Aya gastou sólidos dois minutos para encarar a criança parada solidamente a sua frente. As mãos cruzadas rente ao se rosto, apoiadas no cotovelo, escondiam uma parte de sua expressão. O brilho no olhar da menina era inidentificável.

“Ensine-me magia, por favor.” Foram as palavras que carregaram toda a sua resolução.

Nos olhos de Aya uma mistura de pensamentos e contradições podia ser vista se formando, no exímio caos que era sua mais conhecida característica. A caneta em sua mão havia parado de se mexer no mesmo momento em que Izuku havia entrado na sala e, como tal, continuava no ar, palavra congelada, enquanto Aya encarava a sua determinação.

Izuku sorri quando ela abandona sua postura tensa. Comemora internamente quando ela solta a caneta sobre sua papelada. Izuku imagina um futuro que, até dois anos atrás, ele nem sabia existir e, pela primeira vez em sua vida, se sente na mais completa e absoluta paz.

“Eu estava pensando que você nunca perguntaria.” Diz ela na sua estranha forma de concordar. Aya o conhecia, bem como todos os irmãos. Não era surpresa o interesse de Izuku em tudo que eles faziam, nas coisas que eles diziam.

(A única surpresa aqui era realmente a quantia de tempo que ele demorara.)

“Por que vocês não me disseram nada?” Ele não queria soar acusatório, mas precisava saber dos motivos.

“Pois a magia vem até você e ninguém pode realmente te levar a ela. Não teria sentido, caso contrário. Peço desculpas se isso parecer errado ou uma quebra de confiança, mas é protocolo desde sempre.” Disse simplesmente confirmando o que o menino pensava ser. “Você entende Izu...” Ela continuou. “Que sua mãe vai acordar um dia não é?”

“Sim?”

“Eu não deveria fazer isso, não sem ela concordar. O conselho, é claro, não vai ver problemas, mas, mesmo assim, temo que sua mãe não goste muito.”

“Então não?” perguntou com um fio de voz, amaldiçoando a si mesmo.

“Eu não disse isso... apenas, eu não vou lidar com sua mãe sozinha entendeu?”

“Sim Onee.”

“E mais, eu sei que você entende, mas... não é brincadeira de criança Izuku. Se você quer ser estudante de magia o caminho vai ser longo, sofrido e, mais vezes do que não, vai querer desistir. Isso em situações normais. Você é um estudante regular também. Sua carga escolar vai ser mais do que o dobro da normal. Ainda tem certeza?”

“Sim Onee.” Ele sabia disso. Izuku não apenas olhava, admirado, as ações de seus irmãos, ele as avaliava também. O suficiente para saber que tudo aquilo era mais complexo do que qualquer pessoa poderia imaginar.

“Eu vou ser sincera: aprender magia é tudo menos ‘mágico’. Esqueça Disney aqui. Você vai ter que entender mais idiomas do que sabe que existem. Seu processo de pensamento vai ter que se desenvolver a ponto de funcionar praticamente sem você. Biologia, física, química, geografia, religião, história... vai ter que saber tudo, sempre. Isso apenas nas bases, Afinidades são outro território completamente diferente. Ainda tem certeza?”

Izuku pensou nos primeiros anos de sua vida. Pensou em um sonho com a qual sempre cresceria, pensou em esperar algo que nunca chegaria. Pensou na chacota e maus tratos. Pensou no medo da morte e no alívio de ter sido salvo.

Izuku pensou em sua mãe, ferida por algo que nem heróis conseguiriam lidar. Pensou em si mesmo, abandonado ao próprio destino, mesmo tendo a sorte de encontrar sua família. Izuku pensou nas pessoas que conheceu nos últimos meses, na voz que escutou e no lindo brilho que deveria significar ‘nós gostamos de você’.

A questão era que, Izuku tinha certeza sobre a magia, pois ele não conseguia imaginar mais sua vida sem ela.  Ele tinha seus objetivos, que nunca mudariam, e uma nova forma de alcançá-los.

As palavras de Aizawa-sensei voltaram para ele naquele momento. As pessoas recebem cartas diferentes, mas ainda fazem parte do baralho. Ele entendia agora, ele sabia suas cartas e também como poderia usar aquela mão.

Em um mundo de Quirks, de anomalias, em que o bizarro era ser normal, Izuku faria uso do que sempre fora estranho, e mesmo então era considerado inexistente, para poder seguir em frente.

“Eu não poderia estar mais certo.” Respondeu com toda a certeza e sinceridade. Izuku estava fazendo o que ele sabia que já deveria ter feito. Ele abraçaria sua própria essência e usaria o que sempre fora fraqueza ao seu favor.

Izuku não precisava de um Quirk. Não mais.

 

****

 

Na porta traseira de sua casa, aquela que levava diretamente a floresta, um pequeno frasco repousava, contendo o mesmo brilho que fora responsável pela tomada de sua decisão.

Izuku sorriu com aquilo, mostrando para os irmãos que olharam para o frasco com admiração.

(Os magos agradeceram a floresta pelo voto de confiança e pela sua benção ao menino. Conhecendo a rainha, da maneira que eles faziam, mais uma vez confirmaram que Izuku estava destinado a grandes coisas.

Como explicar, de outra forma, o fato de que a floresta simplesmente cantara de vontade própria, para uma criança de sete anos?)

 

****

 

Na manhã seguinte Izuku foi recebido na mesa de café pela totalidade de sua estranha família, todos olhando para ele com diferentes graus de satisfação e felicidade. Aceitação.

Se havia qualquer dúvida, qualquer temor, ficou para trás na mesma hora. Além de suporte ele notou o apoio em cada um dos adultos que seriam, a partir dali, não apenas seus irmãos, mas também seus novos mestres.

Foi quando Izuku ganhou seus presentes, olhando abismado para os itens que sua família haviam se preocupado em embalar no mesmo Kraft que o conselho utilizara, só que negro ao invés de puramente branco. O menino encararia item por item durante horas antes de aceitar que, por algum estranho motivo, aquilo realmente estaria acontecendo.

Ele já possuía a capa, dada pelo conselho.

(As capas eram responsabilidades daquele que primeiro lhe dava as boas vindas. Sua benção e ponto de partida. Eram as capas que o guardariam para si mesmo, da mesma forma que o guardariam do mundo. Com sua capa, um dia, Izuku poderia aprender a vagar pelo ar, esconder-se a vista e ter um abrigo para um corpo cansado. A capa, para um mago, era a sua barreira.)

Seria de Mitsuru que Izuku ganharia seu primeiro amuleto. A pequena esmeralda bruta simulava perfeitamente o brilho de seus olhos e Izuku apenas poderia encarara como ela complementava perfeitamente o ouro da corrente. Ele simplesmente amava a sensação e peso no seu pescoço.

(Os amuletos eram amados por magos afinal, e símbolos de preocupação sincera. Ninguém comprava amuletos para si mesmo, afinal de contas, estando no ato do ganhar e doar a verdadeira força por trás de seu objetivo, que era a proteção.)

Ethan lhe daria o Athame. A linda lâmina negra, de alguma forma, conseguia refletir um brilho esverdeado quando pego contra a luz. O metal da qual era feito garantiria que ele nunca precisaria ser substituído, já que cresceria junto de Izuku. (Seu principal aliado, sua força contra o mundo. Numa era em que lâminas bem afiadas eram a diferença entre a vida e a morte o Athame se tornara a mais fundamental arma de um mago.)

De Elijah Izuku recebeu aquilo que ditaria grande parte de seus estudos. A pesada caixa de madeira antiga continha uma grande quantia de substancias e ervas, as básicas e essenciais para qualquer uso em poções e unguentos. Junto vinha o mais lindo pilão em pedra azul esverdeada que Izuku já havia posto seus olhos.

(Para um mago que seria conhecido como um dos melhores herbalistas de toda a existência, tal presente era apenas uma confirmação daquilo que a magia reservava para ele. O ato de ser presenteado com uma de suas principais ferramentas, mesmo no inicio de seus estudos, seria um dos motivos de orgulho para o menino.

Anos mais tarde, quando o pequeno pilão já estivesse gasto e perdendo pequenas lascas do impacto constante Izuku olharia para ele com carinho, ao lembrar-se de como, com ele, havia feito diferença na vida de tantas pessoas importantes para si.)

O último presente que Izuku recebeu foi de Aya. O pesado volume tinha, facilmente, mais de quinhentas folhas. Num papel da qual Izuku nunca havia visto similar, e com a capa mais rígida que havia colocado suas mãos, segurar o pesado grimório seria o ponto de partida para seus novos estudos

(Era o grimório, afinal de contas, que marcaria a sua história, suas conquistas e seus segredos. Cada grimório era único para seu mago, servindo apenas e exclusivamente para ele. Para o estudante de magia, era uma honra ser presenteado com aquele item que conteria o retrato vivo de sua existência.)

A partir daquele momento, Midoriya Izuku era um aprendiz mágico em formação.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Ramé" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.