A Senhora do Tempo - Grimório escrita por Eldhjarta


Capítulo 2
Capítulo 2 - Os senhores


Notas iniciais do capítulo

Segundo capitulo desta delicia, obrigada Ka por acompanhar,



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"Ela é minha razão de viver, a que salvou minha alma e que serei leal até o fim dos tempos. Um contrato que não pode ser desfeito."

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O senhor chegou com os dois novos criados. João e Maria, foi assim que se apresentaram. Ele não acreditou, mas nomes não são tão importantes, ao menos não o primeiro. Desceu de seu cavalo e pediu para uma das servas levar ambos para a ala dos criados e dar um jeito. Seu nome era Petros Adreus, irmão mais velho de Theodoro Adreus o senhor da região. Subiu até os aposentos do irmão e sentou a cabeceira da cama. Eram idênticos. Se não fosse o destino diferente.

— Hum... é um mensageiro da morte mesmo. Aguardando a cabeceira da minha cama. – O mais jovem se ajeitou nos travesseiros e olhou o irmão, não conviveram por muito tempo. Recordava-se de algo terem os separado, mas não exatamente o que. Bom a idade deve ter contribuído. Ao menos era o que acreditava. Ele sorriu por fim. Sabia da fama do irmão. Mas isso não importava. Seus dias estavam no fim, ainda que não fosse logo, e foi sua própria cópia genética que o disse em alguma conversa passada. – Como foi lá?

— Ora, eu gosto de ficar aqui sempre que consigo. E foi bem trouxe dois bons lacaios para você. Como tem se sentido? – Ele não fez esforço para estender a conversa.

— A sim... bom para meu filho. E estou morrendo, fora isso estou ótimo. – Olhou no fundo dos olhos dele já se corrigindo. – Desculpe, sei que não gosta dessas brincadeiras. Vou descer conhece-los mais tarde. Agora pretendo conversar trivialidades com você.

— Seria bom meu querido irmão, mas vim somente lhe dar um oi, tenho que voltar a meu posto. Virei pela noite. Prepare um pernil. – Ele se levantou e foi até a janela aberta que denunciava a chuva fina e fria. A fechou. – Estou indo meu irmão.

— Sempre assim, enigmático, vem com o meu acordar se vai com o inicio da conversa. Mas tudo bem,  pedirei as senhoras que cozinhem.

Antes mesmo que pudesse procurar por ele já havia saído dali. Era sempre assim. Pouco tempo depois seu filho mais velho Claude entrou.

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O corvo seguiu a mulher e a criança até sua fortaleza na gruta, uma casa que parecia entalhada na pedra. E escondida de qualquer intruso indesejado. Ela abriu uma porta entalhada e o colocou para dentro, passando em seguida. Depois foi a vez da ave.

— Cuide dele para mim Petros, eu vou aprontar o resto. – Apontou com os olhos o garoto e seguiu para a sala ao lado, onde tinha uma mesa de madeira feita de um grande tronco de arvore e armários com papeis, caixas e livros atulhados. Iluminado por lamparinas curiosas.

O corvo pousou ao lado do menino e se transformou a seu ritmo se tornou o senhor que dera a bala e era o irmão do atual senhor das terras da região. O garoto se assustou e foi tentando se afastar.

— Tudo bem senhora, venha. – Pegou o menino antes que se afastasse e o levou para mais ao fundo da gruta. – Vai gostar daqui, a senhorita é muito gentil. Aqui você vai dormir. – Apontou um quarto a esquerda, ao menos o que parecia ser um. Uma cama com cobertas, mesinha e o que seria uma porta era um véu quase transparente negro. – O meu é o da frente. Agora aqui... a senhorita pediu para te deixar apresentável. É bom que já vou te explicando as regras.

O garoto pareceu não gostar nada do tacho com água já pronta, na verdade pareceu não gostar  nada de nada. Ele queria ir embora como qualquer criança. E desde o inicio para aquele desfecho nada foi fácil. Ele viu seu pai ser assassinado, a mãe ser vendida a um senhor em outra cidade. Fogo e gritos. O ataque a cidadela e o sentimento de estar perdido sem entender nada e ainda não era capaz de entender. Sentia-se incapaz de falar então tudo que fez foi ouvir o senhor.

“Ele me deu a bala”

— Não se acanhe pode perguntar, você fala que eu sei. Mesmo que não falasse agora falaria. – Ele pegou uma grande bucha natural e começou a esfregar o garoto para tirar a sujeira.

— Ahh... paila...

O senhor não parou na verdade continuou com mais afinco.

— Você precisa ficar limpo é a primeira regra pessoal para sua vida. Muitas das pestes deste tempo são por falta de higiene e você esta horrível. Então engula esse choro. E preste atenção. Você a partir de hoje vive pela senhora, não é mais criança entendeu? – “É claro que não Petros, mas ele vai você sabe” pensou para si mesmo, lembrando que um dia também esteve daquele lado. – Siga tudo o que ela ordenar e vai ficar bem.

Petros virou um balde de água limpa repassando o garoto que respondeu com um muxoxo. A pele avermelhada de tanto esfregar.

— Isso mesmo sem reclamar. Venha. – Levantou e pegou um tecido macio e secou o pequeno. Vestiu e levou até a sala ao lado da onde se encontrava a mulher. – Continuando – Pegou o pulso dele e foi soltando. – Vou te ensinar muitas coisas. Não importune a senhora. Entendeu?

— Tá

— “Tá”? Responda “Entendi senhor”. Tente de novo.

— Mai... tendi senhor. – Olhava pelos lados, não tinha muitas lembranças, mas algo no velho lembrava a mãe. Devia ser o olhar. E isso justificaria a não tentativa de fugir.

— Vejo que ele está melhor. Não precisa causar terrorismo querido Petros. Você precisa ver alguém está na hora.  – O senhor se afastou e fez um aceno educado a mulher que com um gesto pediu para que ele se retirasse. – Menino venha comigo.

A mulher que se aproximou furtiva se inclinou levemente para frente oferecendo a mão esquerda ao pequeno. Ele caminhou até ela vidrado e a acompanhou até a mesa grande. Petros entendeu a demanda e saiu tomando suas asas pelo céu já noturno.

Ela o ajeitou numa das pernas depois que se sentou em sua cadeira talhada de madeira no vapor. Passou as mãos nos fios úmidos dele secando enquanto entoava algumas palavras baixinhas. Na mesa havia um grande mapa do céu. Estrelas e marcações em dourado. Se movendo como um espelho voltado ao universo celeste. As nebulosas e cores enchendo os olhos do pequeno.

— Não precisa ter medo. Petros é muito severo. – Ela quebrou a atenção dele, por sua vez ele a olhou de verdade pela primeira vez, os olhos não pareciam tão escuros agora, um leve brilho dourado nas íris parecendo que foram pintados e colocados por alguém muito habilidoso. A voz elegante. – Você trabalhara comigo, mas irei te ensinar o necessário. Petros seus deveres. Meu único pedido é que seja leal a mim. Pode cumprir com este juramento de uma vida toda?

Nenhuma criança de 4 anos teria a ciência do que estava sendo pedido. Mas ele sentia que queria como se fosse um grande bolo açucarado que só pertencia a seu imaginário. Fez que sim respondendo a mulher que sorriu e num balançar de mãos puxou um grande livro negro da estante que veio flutuando até eles.

— Obrigada. Seu nome a partir de hoje será Alwin que significa defensor. É o que espero de você no futuro.  – Ela escrevia algo no livro  enquanto dizia. – Meu nome é Maeve e só deve se dirigir a mim assim dentro deste lugar. Me de sua mão direita.

O menino estendeu sua mão vidrado e sentiu o braço queimar. O livro negro brilhava e letras numa página antes em branco começaram a aparecer. Ele não conseguia entender, mas entendia que novamente a mulher falava algo, seu braço ardia em fogo e quase se desfez em choro. Ao olhar viu uma cobra dourada descendo pelo braço dela e cobrindo o dele. Como um laço. A cobra no lugar de suas escamas possuía caracteres estranhos. Mas ele não queria pensar nisso. Gritou enquanto sentia sua pele ser talhada. A sensação de algo sendo escrito a fogo. Sequer percebeu que não estava mais sentado.

Logo o brilho dourado se fez em linhas que circundaram ambos, mantendo os dois no circulo. Orbes brilhantes, cheiro de sangue  sem ter sangue e as estrelas.

Alwin nunca soube quanto tempo levou, mas a sensação de dor e marcação daquele dia ainda voltaria algumas vezes, assim como o êxtase final.

No final ela ajeitou o pequeno no colo, desfalecido pela energia consumida, cobriu ele com uma manta próxima e voltou a observar o mapa. Estava feito. De agora em diante ele era seu.

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Ao norte dali na cabeceira da cama o emissário da morte esperou. Esperou na escuridão. A cena horrenda que se sucedeu para no fim acompanhar o ultimo respiro do irmão assassinado.

— Nos veremos em breve no grande banquete meu nobre irmão.


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