A Senhora do Tempo - Grimório escrita por Eldhjarta


Capítulo 3
Capítulo 3 - Carne


Notas iniciais do capítulo

Contém um flashback haha não se percam.
Fiz uma pequena edição nos capítulos anteriores referente a pontuação, nada de mais.



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E eles correram quando o refugio foi queimado e a caçada começou.”

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Em algum lugar do passado.

A mais de 50 anos dois garotos gêmeos foram encontrados por uma senhora em uma ruína queimada. Ela os adotou, não por amor, mas por ganância. Ela os colocou para trabalhar, aproveitando do tamanho deles, fazia com que explorassem os dutos entre paredes até os quartos dos patrões a fim de procurar por coisas brilhantes. Enquanto isso a senhora ficava de serviçal. Com o passar do tempo e conforme crescia, ela os apresentaram pequenos trabalhos domésticos. Feito de empregados não demorou em passar de pequenos serviços para atividades mais pesadas.

O pagamento de tudo isso era a solidão e dor. A senhora pouco fazia por eles e se tencionavam brincar ela logo aparecia empunhada de uma espada de São Jorge e os lembrava o quanto deveriam ser gratos por ela ter lhes dado um teto.

Na noite do dia 25 de dezembro em meio ao inverno seco da região aconteceu o impensável aos pequenos. Ela iria vender o mais novo deles para uma família rica que procurava os filhos desaparecidos. Os gêmeos horrorizados não com o fato de serem vendidos, mas separados tentaram fugir.

Na madrugada enquanto o mais velho segurava a barra da janela o menor saiu, ele seguiu o menor guiando pelo quintal enlameado. No limite do terreno uma lamparina dentro da casa foi acesa, a senhora acordou e ao notar a fuga dos pequenos foi atrás junto aos cães.

Se havia um dos castigos mais temidos pelos gêmeos era o dos cães. Eram obrigados a dormir junto aos animais famintos enjaulados como única proteção e só de escutar aos latidos apertaram o passo. Algo para eles dizia que não existiria próxima vez. A escuridão noturna deveria ser sua melhor amiga e o sono e cansaço ignorados se quisessem ter uma chance.

Venceram a primeira parte da noite, mas o pânico constante dos latidos já não tão reais ainda bombardeavam os ouvidos.

 Pela manhã encontraram a entrada de uma cidadela, pensando que seria um bom lugar para se esconder entraram. Num dos becos sujos Morpheus os levou para um breve descanso.

Dias atuais.

— Tua divida esta paga Petros você pode ir, cumpriu nosso acordo. – O corpo do irmão menor de Petros queimava debaixo de chuva fina, chamas insistentes e bravas contra a oposição líquida. A bruxa e o senhor observavam um pouco afastados junto aos servos.

— Obrigado minha senhora, mas não. Minha divida não foi paga, eu dei minha palavra naquele dia cinzento que estaria com a senhora até o fim, para proteger a ele e a senhora. Meu irmão descansa em paz, eu sei disso, ainda que na circunstância criminosa, mas isso se refere somente à metade. Continuarei junto para servir e criar aquele menino o quanto mais eu perdurar nestas terras. – O senhor pegou a mão da mulher e beijou, ela por outro lado ousou um abraço naquele momento tão difícil, grata.

— Está certo se estiver feito e decidido que assim seja.

Ele fez uma mesura elegante e deu uma ultima olhada no funeral. Depois tomou o caminho seguido pela mulher.

— Ele é um garoto esperto. E estou curioso qual forma vai assumir.

— Ele é sim, mas você sabe que não são iguais. Você tem um dom que nunca havia presenciado. Esta afinidade tão grande com os seres da natureza. – A mulher sorriu gentil pelo caminho se lembrando de pequenas cenas do passado. – E com as sombras. Ele... Tenho um palpite que pode ser o contrário. Mas ainda há muito tempo para isso. Não tem nem um risco do quanto você já havia crescido quando o encontrei e isso não significa que deva apressar.

— Eu sei senhora. – Ele riu sem graça, mas depois prazerosamente com suas lembranças mais amargas, porém responsáveis pelo que se tornou. – Não vou apressar, mas a senhora já deu uma avançada que eu senti.

— A era o ritual. Algo que iria acontecer. Bom você sabe o porque.

— Sim eu sei, e isso me faz mais grato à senhora. – Já na entrada do refúgio ele ficou em silêncio, sabia que o ritual de ligação precisava de uma alma cedida pelo anjo da morte. Também que graças a esta doação teria aquele que mais amou entre os homens por perto. Abriu a porta e deixou que ela entrasse para entrar em seguida. – Hum esta dormindo.

Quando adentraram deram de cara com um menino dormindo sobre os livros e pergaminhos. Era claro que ele não tinha instrução alguma, mas se existe uma vantagem no elo e ritual é a capacidade de aprender rápido com a ajuda do ente espiritual que o rege. É claro que isso não significava milagres, mas para um inicio de aprendizado na arte das letras e imagens era um avanço.

Ela fez um sinal e o senhor o levou para o quartinho, deixou dormindo e seguiu para uma de suas tarefas.

Do lado de fora a chuva ganhara força, não contente ventos do leste entraram na comunhão. Na casa do antigo senhor, o jovem herdeiro mal chegara a casa já se enfiou em sua sala de trabalho com alguns de seus seguidores. Novos planos deveriam ser traçados. Primeiro o pai, depois a memória dele.

De todas as historias que seu pai contou sobre quando reencontrou seus pais nobres havia uma que o velho caduco repetia. Ele por todos os anos que se passaram jurava que seu irmão o vinha visitar e que ele era escravo de uma bruxa má que se fazia de boa. Claro que assim como os outros, ele também acreditava que o pai era caduco. Ao menos depois da adolescência quando as cobranças aumentaram e a insistência dos outros senhores para substituir o senhor louco. Todavia, durante o período de posse e administração das terras se quer foi pensado em retirá-lo. Mesmo que suas ideias fantasiosas assustassem e colocava em duvida qualquer lucidez em tomadas de decisões ele permaneceu, isto porque, foi diagnosticado por um médico que se tratava de delírio especifico. Outros diriam que foi por respeito ao nome da família e outros ainda pela a proximidade do rei. Outros mais que isso teria a ver com a bruxa da floresta que algumas lendas infantis locais diziam que no antepassado a benção dada por dela.

O filho herdeiro levou por um tempo esta história, tentando ignorar os cochichos e tramas dos infelizes com a situação. Mas numa das noites ele descobriu que não era alucinações do passado traumático do pai. Ele conheceu seu tio, achou que estava bêbado de mais ao ver um gato se tornar um homem, mas logo pode perceber que era real. Depois deste dia os outros dias que se passaram não foram mais normais. Pareceu que um véu que cobria as esquisitices do mundo havia sido destruído, ao menos para seus olhos. Ele passou a observar mais as pessoas, a observar e encontrar mais o homem que sempre esteve ali de maneira tão discreta. Até aquela tarde passada onde viu o homem quando o acaso o fez passar pela ponte e mais tarde a mulher que tanto ouviu histórias. Não poderia ser delírios de sua mente, complexado voltou para casa e num surto deu inicio ao seu “reinado”, quando se deu por si, sua ganância e medo o dominaram e o fratricídio aconteceu. Ninguém poderia saber, mas ele viu o corvo. E sabia que o corvo sabia e entendia.

Sem arrependimentos na mente de razão quebrada.

Em sua sala, junto a três homens conversavam, nada de assuntos feéricos, não, aquele não era o momento.  Ao menos não para o primeiro dia. Mas um deles Natanael parecia saber, é ele sabia. Natanael o conhecia a muitos anos, cresceram praticamente juntos ainda que não partilhassem a mesma região. Mais tarde a amizade enriqueceu e os amantes na noite escura da floresta se encontravam, enquanto as jovens noivas donzelas mal pensavam que o tipo de traição existiria em seu futuro casamento.

Em uma dessas noites o herdeiro e seu amante viram mais do que deveria e sobreviveram, desde então o desejo de ambos além da carne era de poder, um poder desconhecido e uma porta nas rochas que angustiava e dava fome ao desejo.


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