Destino Incerto escrita por ShisuiONagato


Capítulo 5
Quebra-Cabeça


Notas iniciais do capítulo

Olá galerinhaaaa! Cá está mais um capítulo saindo do forno (Em breve ele também será betado)

Espero muito mesmo que estejam gostando de ler o tanto que estou adorando escrever kkkk

Em breve vão começar a surgir algumas novidades hein (Talvez um possível trailer? ainda não sei kkk)

Mas enfim, sem mais delongas... Boa leitura a todos e espero que gostem :)



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As luzes tornam a acender e o moreno — que antes encontrava-se diante de mim — agora estava caído no chão e com as costas coladas na parede. Suas mãos estavam cobrindo o seu rosto, para tentar esconder pequenas lágrimas que escorriam envergonhadas.

— Jungkoo...

— Não falar nada, por favor. — sua voz era chorosa, e ele mordia os seus lábios como se estivesse com raiva.

— Eu sinto muito mesmo, não sei o que me deu. — insisto em me desculpar.

 Bruno, chega! — disse engolindo o choro e enxugando as lágrimas. Prefiro apenas obedecer.

Nesse momento, ele se levanta sai subitamente do armário. Jimin — que observava completamente confuso — tem que se segurar por causa do esbarrão do moreno. 

— Caramba, o que houve aí dentro? — ele franzi o cenho.

— Cala sua boca, seu idiota! — eu estava completamente mal, não conseguia medir minhas palavras.

— Ei, calma, não pode ser assim tão ruim. — tenta me acalmar.

— Já mandei fechar a porra da boca! Você não sabe de nada! — elevo meu tom de voz. Todos da roda olham assustado para nós.

Apenas corro em direção a saída da casa, nem mesmo lembro de Sabrina que estava completamente bêbada e largada no chão. Tudo que queria era encontrar Jungkook.

Olho por toda a volta e em todos os cantos possíveis daquela região, fico mais de quinze minutos rondando o lugar para tentar acha-lo, mas foi tudo em vão. O coreano havia desaparecido por completo, minha preocupação só aumentava de saber que estava sozinho. Me perguntava o motivo de tê-lo beijado, não conseguia entender. Só queria poder voltar no tempo naquele momento.

Apenas continuo a andar, me afastando cada vez mais da casa. Minha cabeça mantinha-se baixa e meus olhos miravam somente o asfalto, estava repetindo aquela mesma cena dentro de mim, e ela não parava. Estava se tornando insuportável. Sigo o sem perceber o caminho de volta para casa.

— X —

Assim que chego, entro com a expressão abalada, vejo que minha mãe percebe meu estado. Subo as escadas rapidamente e me tranco no quarto, jogando-me na cama sem sequer tirar minhas roupas, queria apenas tentar dormir e quando acordasse rezar para ser tudo uma mentira.

Não podia chorar, apesar de necessitar que algumas lágrimas caíssem para que pudesse melhorar, não poderia quebrar a promessa que havia feito a Sabrina no passado.

— Meu filho... Querido, está tudo bem? Responda sua mãe. — ela batia na porta e emanava uma voz de preocupação, mas nada saia da minha boca.

Me sentia tão acabado, como se algo tivesse apunhalado minhas costas. Não sabia o que havia me feito beijá-lo — mesmo que meu coração pedisse — meu corpo relutava. Só não conseguia tirar sua expressão da minha cabeça, aquela que ele havia feito quando as luzes se acenderam.

Ligo meu celular que até então piscava avisando sobre as notificações de mensagens — que aliás, eram muitas, e de praxe mais algumas ligações perdidas. Eram de Sabrina, Tales, minha mãe. Menos dele, menos de Jungkook.

Abro o Whatsapp e clico na conversa da ruiva — dentre as noventa, setenta e oito mensagens eram só dela, fico ali encarando sua foto e me perguntando o motivo pelo qual meu coração agora estava disparando por aquele coreano, se ele já pertencia todo a aquela garota que tornava seu olhar misterioso por meio da imagem de perfil. Sem que eu perceba começo a digitar.

 

Bruno:

Me perdoe.

Dois minutos depois ela me responde e parecia estar bem nervosa — até mais do que o normal para ela.

Sabrina Mouro:

Bruno, seu babaca! Como pode sair correndo daquele jeito e me deixar naquele estado na festa?

Bruno:

Sinto muito... Que bom que está sóbria agora!

Sabrina Mouro:

Se eu estivesse do seu lado nesse momento, você iria levar um socão tão forte que não iriam mais sobrar ossos nesse seu corpo magrelo!

Bruno:

Eu não estou legal, Sabrina. Me perdoe mesmo!

Sabrina Mouro:

Ãh? Como assim? Vou te ligar então, assim você me conta tudo.

Bruno:

Já está tarde, temos colégio amanhã!

Sabrina Mouro:

Que se dane o colégio!

Depois dessas palavras, ao lado de sua foto — que até então estava constando “online” — torna-se “ocupada”. Em poucos minutos meu celular toca, e o nome da pessoa que estava me ligando aparece como: “maluca que eu amo ♥” Sei que era clichê, mas foi ela mesmo que havia mudado nos contatos do meu telefone, e simplesmente não conseguia tirar.   

— Acho bom essa conversa ser rápida, senão a máscara que coloquei vai tirar não só meus cravos, mas vai levar uma parte da minha cara de brinde.

— Só você mesmo para usar essas coisas essa hora da madrugada. Sabe que não adianta tentar fica bonita né? Nunca vai funcionar em você. — tento brincar como sempre fazíamos para ver se ela me perdoava mais rápido.

— Quer que eu faça minha mão atravessar esse celular e te espancar agora ou mais tarde?

— Como chegou em casa? — disfarço.

 Por sorte encontrei Kook do lado de fora da casa do Tales quando sai para gorfar. ¹

— Do lado de fora? Eu não o encontrei lá... Ele estava bem?

— Está preocupado com ele? Eu sou a vítima sua aqui sabia?

— Sinto muito...

— Mas já que tocou no assunto, ele estava um tanto quando pálido, e seu rosto vermelho, como se estivesse chorando. Aconteceu algo entre vocês?

— Não... — fico em silêncio por alguns instantes enquanto mentia na cara dura para minha melhor amiga.

— Bruno? Morreu? Tá esquece, eu te perdoo e nem mesmo vou contar para meu pai que você abandonou não só sua filha, mas também seu carro, durante uma noite de domingo. — beleza, ela fez parecer que o que fiz muito pior do que realmente foi.

— Prometo que isso não irá se repetir. Estou completamente arrependido...

— Mas por que essa sua voz de quem comeu e não gostou? Aconteceu alguma coisa com você?

— Eu fiz algo que não deveria e agora sinto que tudo vai se desmoronar. Beijei alguém e...

— QUEM VOCÊ BEIJOU SEU DOIDO? — ela me interrompe gritando pelo telefone móvel. — Aí meu menininho está tão crescido... Já dá até beijo na boca!

— Pena que com isso eu estraguei tudo...

— Me fale quem é! — ela insiste, mas não poderia contar. Mesmo sendo minha melhor amiga, tinha sentimentos por ela, e todas minhas pequenas chances — que já eram quase zero — de conquista-la, iriam se esgotar se eu dissesse que havia beijado um garoto.

— Não posso, sinto muito. Mas eu vou ficar bem prometo. Só quero saber se você está melhor e se realmente me perdoa...

— Se não me contar, nunca vou te desculpar!

— Sabrina! Já disse que eu não posso...

— Tudo bem, que se foda, eu mesma descubro sozinha! NUNCA DUVIDE DA MINHA INTUIÇÃO... E quando eu descobrir, acho bom você tomar cuidado. — merda, pude imaginar sua expressão de empoderamento ao dizer essas palavras.

— Quando eu melhorar, eu te conto...

— Até lá eu já terei descoberto meu caro Watson! Mas sim eu te perdoo. Passe amanhã em casa e carregue minha mochila até o colégio e tá tudo resolvido, afinal uma princesa como eu não pode machucar esses lindos ombros.

— E eu tenho alguma escolha?

— Mas é claro... Que não! Agora vou desligar antes que essa porra seque e leve toda minha alma junto com os cravos.

— Até logo... — ela já havia desligado.

Fico feliz de ter acertado as coisas pelo menos com Sabrina, assim poderia dormir um pouco mais tranquilo. Depois mandaria mensagem para o Tales, avisando que estava tudo bem comigo. Finalmente — mesmo estando destruído por dentro, e sem tirar a imagem do moreno da minha cabeça — consigo pegar no sono.

— X —

Novamente o feixe de luz emitido pela fresta da cortina semifechada, me acorda depois de um longo descanso, juntamente com o som alto do despertador do meu celular. Olho para o relógio e eram cinco da manhã — o horário que costumava levantar, assim sempre tinha um pouco de tempo antes de me arrumar para o colégio, no qual não tinha sequer um pingo de coragem de aparecer — os problemas da noite anterior estavam martelando na minha cabeça e me fazendo saber que aquele não seria um dia normal como qualquer outro.

Odiava aquele uniforme do colégio. Os shorts eram muito apertados e a costura pegava bem no Bruno jr. — nem deixava ele dar uma respirada de vez em quando — mas mesmo assim eram melhores do que as calças, aquelas estavam completamente fora de cogitação. Pelo menos a camiseta polo era até que aceitável, sua cor branca com as golas e mangas nas cores azuis, até que combinavam comigo.

E assim distraído — implicando com as roupas tediosas do colégio — mal percebo quando chego na casa dela. Seu pai estava acordado tomando uma xícara de café e enrolado em seu roupão vinho, sentado na varanda. Por sorte ele não soube que deixei Sabrina ficar bêbada, nem que a abandonei na festa, junto de seu carro. Por sorte ela encontrou Jungkook num momento como aquele.

— Sabrina achei que tinha tirado a máscara. — digo analisando seu rosto de ponta a ponta.

— Oxi? Mas eu tirei.

— Nossa então sua cara que é feia assim mesmo, me confundi. — queria tentar deixa-la irritada, assim as coisas iam voltando ao normal.

— Seu eu não tivesse chateada contigo, eu até poderia te dar um socão, mas já que estou então vai ser dois. — ela sempre acertava nos mesmos lugares, depois minha mãe pergunta o motivo dos meus braços estarem roxos e eu tinha que mentir. Daqui a pouco vão acabar todos os postes da cidade e não vou mais poder ficar inventando desculpas.

O caminho até o colégio ficava cada dia mais monótono, afinal eram quase três anos fazendo o mesmo trajeto. Por sorte tinha Sabrina sorrindo e melhorando minhas manhãs, e quando ela faltava, parecia que algo estava errado comigo. Estava tão acostumado com as bobagens que saiam de sua boca, com o brilho do sol refletido em seus cabelos vermelhos, deixando-os em tons alaranjados, e com aqueles lindos lábios rosados que se estendiam de bochecha a bochecha quando sorria. Essas coisas faziam o caminho e o tempo até lá diminuírem, já que ela era o centro das minhas atenções e mal via as coisas ao meu redor com ela por perto.

Mas foi diferente dessa vez...

Só pensava nele, e quase não conversei com a ruiva. Mal vi a senhora Abigail regando suas flores em seu chalé amarelo — como fazia todos os dias — muito menos acompanhei o jovem CEO da empresa coreana de automóveis em São Paulo, caminhar com sua maleta cheia de papeis e entrar na padaria tomar seu café da manhã. Apaguei tudo ao meu redor e só conseguia vê-lo para todos os lados que olhasse.

— X —

Ele sequer olhava na minha direção. Nem mesmo um cumprimento de bom dia, ou um singelo sorriso. Foi assim durante as três aulas antes do intervalo, eu não sabia o que poderia fazer para consertar tudo aquilo.

Durante o intervalo, vejo Sabrina e Jimin junto ao moreno, naquela mesma mesa onde ele sentara da última vez, uma bem afastada das demais. Estavam rindo e conversando, o que me faz querer estar ainda mais ali com eles, claro que o outro coreano poderia sair, não fazia questão nenhuma de sua presença.

— X —

Era a última aula do dia, música, com a professora Margarida. Eu adorava as aulas, apesar de não saber tocar sequer um instrumento, mas os sons daquela sala me acalmavam completamente — e queria muito que isso acontecesse naquele momento, graças as circunstâncias que ocorriam.

— Lembrem-se que a música tem que sair de dentro de você, então quando se sentirem prontos podem começar e sintam-se à vontade. — sua voz era digna de quem já vencera vários concursos, e os troféus encontrados nas prateleiras da sala, não negavam isso.

A turma infelizmente tinha um ou dois talentos — que nem eram tão bons assim — então na maior parte, tudo que saia dos alunos eram apenas barulhos irritantes, por esses motivos as vezes ficava com dor de cabeça. Preferia muito mais ouvir a professora — que era um tanto esquelética e com os cabelos bem pretos e cumpridos — mostrar seus verdadeiros talentos no violino, que era seu instrumento preferido.

De repente todos os olhos e ouvidos são voltados ao piano no canto esquerdo da sala de aula, que começa a ser tocado por alguém que já se encontrava sentado no banco perto dele a alguns minutos. Jungkook era o aluno que estava tocando. Em um tempo breve — ali brincando com as teclas — o moreno subitamente começa a abrir seus lábios e cantar fazendo sua voz ecoar pelo ambiente. Mesmo sem entender as palavras daquela música, seu timbre prendeu não só a minha atenção, como a de todos os alunos que lá estavam. Era inimaginável que um simples garoto do terceiro ano do ensino médio, de apenas dezessete anos de idade, tocasse e cantasse tão perfeitamente e com tanta harmonia. Meus olhos chegam a encher, mas lembro de minha promessa novamente, então me seguro, mesmo que sinceramente estava quase impossível fazê-lo. Sua música me acalmava aos poucos, e já me encontrava com os olhos fechado e focando apenas em sua voz angelical.

“Você é o sol que iluminou outra vez a minha vida

Uma reencarnação dos meus sonhos de infância

Eu não sei o que são essas emoções

Eu ainda estou sonhando?”

Aquilo não era inglês e claro, nem português, então logo penso que estava cantando em coreano, afinal não possuía mais aquele sotaque de quando falava comigo ou com Sabrina, e até mesmo o fluir das palavras eram mais sutis. Meu coração estava palpitando devagar, e sentindo aquele momento que sabia que duraria pouco.

“Há um oásis verde no deserto

A princípio, dentro de mim

Estou tão feliz que não consigo respirar

Meu entorno está ficando cada vez mais transparente...”

Cada palavra, cada verso... Parecia me trazer mais perto dele. Tudo que eu queria era poder voltar no tempo e corrigir aquele momento em que o beijei, para que pudéssemos voltar a ser como éramos antes de tudo aquilo acontecer.

“Eu ouço o oceano de longe

Através do sonho, depois da floresta

Estou indo para o lugar que está ficando mais claro

Pegue minhas mãos agora

Você é a causa da minha euforia...”

Seus movimentos eram preciosos, desde o levantar dos dedos até afunda-los nas teclas do piano. Ele parecia estar apenas focado em sua música, que ainda prendia a atenção de toda a sala.

As palmas vieram logo em seguida, e fizeram o moreno se corar por completo. Eu sorri para ele, mas não tive resposta alguma, apenas ignorou como havia feito até o momento. Meu coração que até então havia se restaurado e criado um pingo de esperança ouvindo-o cantar, nesse momento já se encontrava despedaçado mais uma vez.

— Meu querido, estou sem palavras com essa sua pequena apresentação. — senhorita Margarida se encontrava de queixo caído e com os olhos brilhando depois de ouvir a música do moreno. — Pois sua luz, transmitida por essa sua voz esplendida, me deu uma ideia incrível! Vocês em duplas, terão que escrever uma música autoral e os que se sentirem à vontade, poderão cantar para a turma.

Era só o que me faltava, eu com essa voz de taquara rachada, ter que me apresentar na frente de todos.

— Vou separar os grupos e sendo assim vocês terão duas semanas para finalizarem e treinarem para se apresentar. — pelo menos era opcional a apresentação. — A primeira dupla é... Sabrina e Lisa!

— Ah não professora! Eu vou ter que fazer tudo sozinha, porque mais burra que essa daqui é só duas dela. — a ruiva questiona sem papa na língua.

— Deus me livre fazer um trabalho com essa gentalha. Vai sujar meu histórico escolar. — a outra interrompe.

— Que histórico querida? A sua nota equivale a quantas vezes você já abriu sua periquita esse ano? — dentre todas as vezes que Sabrina havia discutido com as pessoas, essa definitivamente foi a frase mais pesada que ela poderia ter dito.

— Mocinha! Modos por favor! Ninguém vai poder mudar as duplas. — a professora afirma batendo com as duas mãos na mesa para chamar a atenção. E assim ela continuou a formação dos pares. — Por último quem sobrou? Bruno e... Jungkook!

Isso era só o que me faltava! O dia podia piorar ainda mais?  

O moreno nem mesmo questionou — sabia que não daria em nada afinal — apenas pegou suas coisas, arrumando-as na mochila e se retirou da sala assim que o sinal tocou.

Estava praticamente do lado de fora, quando Tales me puxa pela bolsa pendurada em minhas costas.

— Você deu um baita susto na gente irmão! — ele esfrega meus cabelos levemente, deixando-os bagunçados.

— Explodiria se eu ficasse um pouco mais dentro de sua casa depois de... — quase que a história do ocorrido escapa pela minha grande boca.

— Depois de o que? — pergunta confuso.

— Nada, esquece... Só preciso de um tempo sozinho.

— Sozinho nada, vamos ficar um pouco juntos brother. Faz tanto tempo desde a última vez que paramos para conversar.

— Ainda tenho tempo antes de ir ao trabalho, vamos no estacionamento atrás do colégio então, onde costumávamos ir antigamente.

Aquele lugar era praticamente abandonado, servindo apenas para os alunos deixares suas bicicletas bem guardadas, ou para transarem sem que ninguém ficasse sabendo. Tales acomoda-se, encostado nas grades que cercavam o lugar, enquanto eu fico de pé em sua frente. Ele era um tanto mais alto que eu, o que acarretava em ter que erguer um pouco meu pescoço para falar em sua altura.

— Mano, acho que vou pedir Lisa em namoro no meio da canção que temos que fazer.

— Legal...

— Só isso? Legal? — questiona decepcionado.

— Foi mal cara, mas não me sinto muito bem hoje.

— Você precisa se distrair um pouco, sair mais e fazer umas loucuras de vez em quando. Vou chamar uma galera para vir aqui para jogamos um pouco de basquete o que acha? — ele nem mesmo esperou que eu respondesse e já tacou a mão em seu celular no bolso de sua calça.

Em poucos minutos, uns caras estranhos encostam com as bicicletas. Visivelmente eles não frequentavam nosso colégio — usavam shorts longos de basquetes e moletons escuros com os capuzes cobrindo suas cabeças, apesar de vários deles estarem usando tocas. Um deles se aproxima de Tales.

— E aí meu velho, como vai? Faz tempo já hein... — sua voz era rouca e profunda, mal dava para ouvir. O jovem revira seus bolsos e tira de lá uma caixinha pequena. — Vai um trago hoje?

— Opa, com certeza! — Tales puxa um dos cigarros da embalagem e coloca-o sobre os dentes, pedindo o isqueiro do colega em seguida, que atende seu pedido. Não podia imaginar que ele estava fazendo algo tão repugnante.

— Quer um pouco, meu irmãozinho? — ele pergunta sorrindo para mim, mas eu jamais iria aceitar algo do tipo, por mais que fossemos amigos.

— Na verdade, Tales, tenho que ir trabalhar agora. Amanhã a gente se fala ok? O senhor Emanuel já deve estar me procurando. — minto, afinal ainda tinha alguns minutos antes do serviço.

Apenas pego minha mochila que havia deixado de lado — perto da grade — e saio sem ao menos olhar para trás. Aqueles caras chegavam a dar medo, principalmente um grandão que estava com eles.

Quase virando a esquina, perto de da cafeteria do outro lado da rua, vejo o moreno encostado no muro de frente para Jimin. O loiro parecia estar mexendo nos cabelos do outro, e visivelmente estavam mais próximos do que deveriam.

— Jungkook! — dou um berro que provavelmente todos da rua puderam ouvir, mas não sabia o motivo.

— Veja se não é o Bruno! — o outro coreano se anima ao me ver.

— O que vocês estão fazendo? — pergunto franzindo o cenho e jogando um olhar desconfiado até eles.

— Como assim? Estava indo embora e vi uma folha grudada nos cabelos do Kook. Apenas fui ser gentil em tirar.

— Então vocês não iam... — sequer consigo terminar minha frase.

— Íamos o que? Nos beijar? — ele ri com sua dedução do que eu iria falar.

— Chegar Jimin! Nos vemos amanhã. — Jungkook atravessa a rua e se aproxima lentamente de mim, ao chegar ao meu lado, não vira seu rosto um milimetro que seja, me evitando completamente, isso só deixava meu coração cada vez com menos esperanças.

— X —

Foi assim durante o restante da semana. O coreano não olhava em minha direção nem mesmo para pedir um lápis emprestado — muito pelo contrário — quando precisava de algo, ele preferia ir até a outra turma e pedir a ajuda de Jimin do que se rebaixar a pedir a minha. Sinceramente, meu coração já estava começando a acostumar ficar sem ele do meu lado, afinal fazia tão pouco tempo que o conhecia, não era possível uma pessoa mexer tanto com outra em um período tão curto...

Tudo havia acontecido tão repentinamente, sequer conseguia me concentrar nas aulas, no meu trabalho, e até mesmo minha mãe via minha infelicidade dentro de casa. Mas aos poucos às coisas foram sumindo, primeiro o cheiro de ser perfume adocicado, então seus olhos e seus lábios também começavam a ficar borrados quando pensava nele, até que chegou um certo momento que nada mais vinha na minha mente, apenas boas lembranças.

Tudo isso mudou quando chegou no último final de semana que teríamos para compor a música — brasileiros e sua mania de deixar as coisas sempre para última hora.

Tive que pedir o número do apartamento do moreno para Sabrina — ela era única que sabia. O prédio ficava na Vila Mariana — assim como muitos outros — por sorte era fácil de ser localizado pela sua cor peculiar, verde-oliva. Ele não era muito grande, apenas oito andares, e o de Jungkook era o sétimo.

Bato na porta do apartamento número treze. Consigo ouvir barulhos vindos de dentro, e alguém se aproximar com passos leves no chão que parecia ser de madeira. Meu coração acelerava rapidamente nesse momento e não conseguia conter. Finalmente ele abre aquela porta gigantesca da entrada, estava esperando seu sorriso radiante de sempre — que consigo me lembrar na hora, apesar de ter tentado apagar por completo — mas o que eu vejo é uma expressão verdadeiramente fria.

— Com licença. — murmuro bem baixinho ao entrar.

O apartamento — apesar de ser pequeno — era absolutamente todo arrumado, desde os livros enfileirados por ordem alfabética na estante, até a mesinha de centro na sala, sem uma poeira sequer. A cozinha era praticamente junto com a sala, depois haviam apenas mais dois cômodos: o quarto e o banheiro, que posso ver graças as portas que estavam entreabertas. O sofá era pequeno de apenas dois lugares, e os papeis e canetas já estavam nos esperando em cima dele.

— Gostei daqui, — digo tentando quebrar o silêncio alarmante que continuava, mas não consegui fazê-lo esboçar nada. — Vamos começar de uma vez. — tento contornar a situação.

Enquanto o moreno senta do lado direito, fico no esquerdo, acolhido ao máximo para que nossas pernas não se encostassem. Ele estava tão sério que o clima do ambiente se tornara uma verdadeira nevasca. Serrava os punhos, e os apartava tanto com as unhas que chegaram a sangrar, não estava aguentando mais aquela situação em que estávamos. Só queria meu amigo comigo outra vez.

Minhas mãos se movem para pegar os materiais que até então se encontravam entre nós no sofá, surpreendentemente o moreno pensa o mesmo, e isso faz com que nossas mãos se toquem por um milésimo de segundo. Percebo que ele morde seus lábios, como se estivesse relutante em algo. Nesse momento, encarando-o sem pensar em mais nada, as palavras libertam de dentro de mim como uma bomba que estava prestes a explodir.

— Por favor me desculpe! — eu literalmente cuspo essas palavras gritando. — Jungkook eu não sei o motivo ainda, mas eu não consigo mais ficar sem você. Sinto muito pelo que fiz, estava fora de mim naquele momento. Só volte a falar comigo, eu não estou mais suportando essa dor dentro de mim... — minha voz já se encontrava chorosa, implorando a desculpa do coreano que até então voltava seu olhar para um ponto fixo no chão, tudo para não me encarar.

— Eu también... — ele diz e finalmente me olha, depois de tanto tempo tentando disfarçar sua vontade de voltar a falar comigo. — Não querer ficar sem você...

Lágrimas escorriam em um lado de seu rosto lentamente. O moreno — depois de dizer aquelas palavras — vira-se voltado para mim, e me abraça. Sinto pequenas gotículas caírem em meus ombros — apesar da camiseta de manga comprida que estava usando impedir um pouco a percepção.

Fecho meus olhos, e só foco em aproveitar aquele momento que me deixara novamente com uma chama de esperança dentro de mim.

Finalmente o meu coração — que até então se encontrava despedaçado – une outra vez as peças de seu quebra-cabeça. 


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Notas finais do capítulo

¹ : Botar o conteúdo do seu estômago pra fora. Vomitar. (Em uma linguagem mais adolescente)

Música que o Jungkook canta na sala de música é : Euphoria - BTS (Jungkook)

Aaaaaa mas e esse ship que não sai logo hein kkkkk Brukook is real or not?

Galeraaa espero muito que tenham gostado :) e novamente se puderem deixar seu feedback ia ser top hein kkkk



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