Olhar Preto e Branco escrita por ShiroiChou


Capítulo 3
A caverna


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura!



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A visão não chegava a ser assustadora, mas causava surpresa em quem olhasse. A caverna por fora não tinha nada demais, mas por dentro a visão era outra.

As paredes da caverna eram coloridas, porém quem entrasse automaticamente ficava em preto e branco, assim como filmes e desenhos antigos. Lucy olhou para ao redor e viu as cores, literalmente, voando e grudando no chão.

— Que tipo de magia é essa? — perguntou assustada.

— A Magia Sem Cor — disse um senhor em preto e branco saindo do fundo da caverna. — Vocês devem ser os magos que vieram por causa da missão.

— Sim, nós somos...

— Lucy e Gray, certo? Eu fui informado da chegada de vocês, meu nome é Lérico, sou o prefeito da cidade.

— O senhor sabe o porquê disso acontecer? — perguntou Gray.

— Bem, muito anos atrás o meu pai fez uma promessa para uma maga poderosa. Ele disse que se ela salvasse minha mãe que estava muito doente, poderia fazer o que quisesse com a cidade... Infelizmente ele não esperava que a cidade fosse se tornar habitada um dia.

— E o senhor quer que nós resolvamos isso?

— Sim. O último pedido da minha mãe antes de falecer foi que eu arrumasse um jeito de recuperar a cor a cidade.

— Mas a cidade está normal — Lucy o olhou desconfiada.

— A parte que vocês viram, sim. Venham comigo, preciso mostrar algo importante.

Lérico saiu da caverna, sendo seguido pelos dois magos. Lucy olhava com cuidado ao redor, estava achando a história muito estranha. Gray por outro lado estava curioso, ele nunca tinha visto uma magia que tirasse a cor das roupas e grudasse em outros lugares.  

Conforme foram andando, chegaram a uma trilha que dava para outra entrada na cidade. Foi só aí que eles perceberam a real gravidade da situação, pois aquele lado da cidade estava em preto e branco assim como eles e o próprio prefeito.

— A magia está se espalhando aos poucos, quase metade da cidade está assim sem as cores tão vivas os quais somos acostumados. O problema não são nem as cores, mas sim a barreira.

— Barreira? — Gray olhou ao redor, dando alguma passos para a frente e batendo em algo. — Essa deve ser a barreira...

— Gray, você está bem?

— Sim, foi só uma pancadinha.

— Essa barreira impede quem está em preto e branco de sair e quem está em colorido de entrar. Eu posso entrar, pois fui afetado, mas não consigo ir para a parte colorida da cidade...

— Então se essa magia continuar, logo vocês estarão presos dentro da cidade.

— Exatamente.

— Como o senhor conseguiu sair? — perguntou Gray.

— Por causa disso — tirou os sapatos e mostrou suas meias amarelas. — Essas meias mágicas são imunes à magia, meu pai criou elas antes de falecer. Com elas eu posso andar em ambos os lados sem problemas.

— Oh! Incrível! — Lucy olhou admirada para a meia brilhando levemente.

— Concordo. O lado ruim é que não sei como elas foram feitas, mas tenho esses dois pares extras — disse, tirando do bolso um pequeno embrulho. — Vocês não serão afetados enquanto estiverem com eles.

— Obrigada, senhor Lérico. Vamos fazer o possível para resolver essa situação — a loira agradeceu, pegando o embrulho.

— Tenho certeza que vão, confio em vocês. Aqui tem um pequeno mapa da cidade, tem uma casa marcada nele que é onde vocês podem ficar. Ela na rua da prefeitura, então se precisarem de algo é só me informar.

— Certo, pode deixar com a gente! — disse Lucy empolgada, mas o prefeito já tinha ido embora. — Cadê?

— Não faço ideia, eu não vi ele saindo...

— Vamos para a tal casa antes que a magia nos afete.

Olhando o mapa, os dois viram que a casa não ficava tão longe de onde estavam, precisavam apenas seguir uma das ruas do lado preto e branco. Antes de começarem a caminhar, colocaram as meias, iguais as do prefeito, e só então seguiram o caminho.

As casas e pessoas não estranharam quando entrarem, provavelmente por já saberem que estavam ali para ajudar. As casas mantinham um padrão de tamanho, raramente passando do segundo andar. Toda a cidade era decorada com flores, desde as calçadas até as varandas.

A casa indicada no mapa não tinha nada de diferente das demais, ficava a alguns metros da prefeitura, o único prédio da cidade.

Lucy aproximou-se da porta e viu a chave pendurada por um cordão na maçaneta, pegou-a e abriu a porta, revelando o interior. A casa tinha apenas um andar e tinha o tamanho suficiente para duas pessoas viverem. Assim que entravam, uma lácrima ativou no teto, colorindo tudo ao redor.

Logo na entrada, uma sala dava as boas-vindas, com dois sofás brancos, uma mesinha de centro preta e um tapete cinza no chão. Mais para o fundo, na direita, ficava a pequena cozinha toda azul com uma mesa com duas cadeiras no centro.

O lado esquerdo mostrava três portas brancas, nas duas primeiras dois quartos pequenos, apenas com uma cama e um guarda-roupa de madeira escura, e a última um banheiro simples com o necessário.

As paredes de toda a casa estavam pintadas de bege claro e o chão de madeira escura.

Ao fundo, uma porta solitária chamava a atenção, ela era a única preta. Gray passou na frente um pouco desconfiado, passando pela porta com curiosidade. Do outro lado ficava um quintal.

O quintal tinha um tamanho normal, a sua única diferença estava em um a lácrima que brilhava no centro do lugar. Lucy olhou ao redor tentando entender para que servia aquilo, até que viu uma pequena plaquinha na parede.

A placa dizia que a lácrima era o painel de controle para outras que estivessem na casa, elas projetavam as cores reais do lugar para que os moradores não se sentissem tão desconfortáveis.

— Isso explica a cozinha azul — deu de ombros entrando novamente para guardar as malas.

Gray permaneceu onde estava, algo lhe dizia que resolver o problema das cores seria a parte mais fácil.

—— // ——

Lucy terminou de guardar suas coisas e jogou-se na cama, a missão não fazia sentido algum na sua cabeça. Por que iriam querer as cores para deixar uma caverna colorida?

Virando-se de lado, a loira teve a ideia de investigar a caverna. Ainda era de tarde, então podiam descobrir alguma coisa enquanto ainda não escurecia. Animada, levantou-se em um pulo e correu até o quintal, onde estava o moreno.

Abriu a porta rapidamente e caiu no chão ao bater em algo, ou melhor, alguém.

— Lucy, está tudo bem? — Gray estendeu a mão para ajudá-la a levantar.

— Sim, obrigada — sorriu agradecida. — Eu estava indo atrás de vocês para irmos até à caverna, eu quero investigar melhor.

— É uma boa ideia, vamos antes que fique de noite.

Durante todo o caminho, Gray apenas fez o que mais fazia da vida: observou a loira. Lucy andava dando pulinhos, enquanto cantarolava alguma música animada. Sua animação era de fato muito contagiante, tanto que vários moradores sorriam ao vê-la tão alegre.

A loira sentia-se energética, tinha a certeza de que encontraria algo de útil na caverna e só a ideia a deixava feliz. Quanto antes descobrissem algo, antes poderiam fazer a cidade voltar ao normal.

A caverna estava do mesmo jeito de quando olharam anteriormente. Algumas cores flutuavam de um lado para o outro, como se fossem tintas voadoras.

No fundo da caverna, nada podia ser visto. Gray tirou do bolso uma pequena lanterna e iluminou o lugar, assim conseguiram ver o que tinha: uma porta.

— Agora sabemos de onde o prefeito veio, ele deve ter a chave daquela porta.

— Se ele quer que a gente investigue, a porta tem que estar aberta — Lucy andou até a porta e girou a maçaneta.

— Lucy!

— O que foi? Estamos aqui para investigar, ué.

— Você tomou chá de detetive hoje? — perguntou surpreso.

— Acho que não, mas me sinto com uma vontade imensa de olhar lá dentro. Vamos logo! — sorriu mais aninada que o normal e correu para dentro.

— O que deu nela?

O interior da caverna deixou Lucy mais empolgada ainda, atrás da porta ficava um hall enorme, muito parecido com um de castelo. Duas escadas, uma de cada lado, levavam para cima, um tapete vermelho seguia reto até uma parede e duas portas duas de madeira branca estavam fechadas, uma de cara lado do lugar.

Andando reto, o moreno viu uma mesinha no canto na parede, onde terminava o tapete. A mesinha estava enfeitada com diversas rosas e, na parede, o quadro com a imagem de uma mulher morena ocupava quase toda a parede.

Afastando-se da parede, o mago seguiu até as portas da direita, abrindo-a com certo esforço, fazendo um rangido. Do outro lado uma cozinha enorme, toda branca fazia inveja a qualquer pessoa. Um pouco mais para a frente estava a sala de jantar, com móveis mais escuros, contrastando com a cozinha.

— Estamos em uma mansão dentro de um caverna, eu nunca fiz isso — murmurou surpreso.

— GRAY, OLHA ISSO AQUI — gritou Lucy do outro lado.

Gray correu até Lucy, ela tinha aberto a outra porta e estava “plantada” na entrada, olhando admirada para o que quer que tivesse ali dentro.

A sala de estar tinha mais sofás do que o necessário, todos na cor bege. Uma lareira de vidro ficava exatamente no centro do lugar. Mais para o fundo tinha uma televisão na parede e várias almofadas no chão.

Assim como o hall, a sala tinha as paredes amarelas e o chão de madeira escura.

— Uma lareia no meio da sala?

— Não é isso que eu te chamei para ver, tudo bem que achei estranho também, mas olha aquilo — apontou para a parede, onde ficava uma estante.

A estante branca destacava-se no lugar, mas não era sua cor que chamava a atenção. Um de seus livros estava caído para o lado, revelando um pequeno botão vermelho com o famoso “Não aperte!” escrito em preto.

— O que ele faz? — perguntou Lucy com os olhos brilhando.

— Não sei, mas que tal olhar o resto da mansão e deixar ele para depo... — tentou falar, mas Lucy foi mais rápida e apertou o botão.

Todo o lugar começou a tremer como se estivesse acontecendo um terremoto. Gray abraçou a loira e se segurou na primeira coisa que encontrou. Os livros caíram da estante um a um, até que tudo voltou ao normal.

— Francamente!

— O que foi? Vai me dizer que também não estava curioso?

— Curioso eu estava, mas apertar um botão aleatório não é nada que você faria.

— Então você ainda não me conhece direito, seu idiota — retrucou com raiva, afastando-se do moreno.

— O que eu fiz? — olhou perdido para a loira.

— Você... Ah! Esquece! Só fique longe de mim! — respondeu nervosa, indo para o final da sala, onde uma passagem na parede estava aberta.

— Ela está estranha, muito estranha — sussurrou para si, antes de segui-la.

A passagem levava para uma única sala toda de pedra, com uma escada levando para baixo. Quando chegou, a loira já tinha descido, ele apenas conseguiu ouvir os xingamentos que ela soltava vez ou outra.

Descendo, Gray deu de cara com uma biblioteca cheia de estantes e prateleiras. Algumas mesas e cadeiras ficavam no canto da parede e um pedestal no centro do local. O moreno deu uma volta, analisando tudo rapidamente. Não tinha nada de diferente.

— Lucy, encontrou algo de diferente? — perguntou, mas não obteve resposta. — Lucy? — chamou novamente, dando-se conta de que não tinha visto a loira desde que desceu. — Para de se esconder, temos que trabalhar juntos e não separados.

— Hum! Interessante, trabalhar juntos — a loira apareceu atrás dele. — Não me parece uma boa ideia.

— Como não?

— Não sei se quero trabalhar com você, prefiro trabalhar contra você — sorriu macabra.

— Você... Você não é a Lucy.

— Oh! Finalmente descobriu. Eu estava me perguntando quanto tempo levaria até você perceber — sorriu novamente, brilhando levemente.

A imagem de Lucy sumiu, dando lugar para um mulher morena vestindo um vestido azul-escuro. A mesma mulher do quadro que o mago viu na parede do hall.

— Onde está a Lucy?

— E eu quem tenho que saber? Você aceita uma missão e vem nela comigo, depois fica perguntando cadê sua amiguinha?

— Então era você o tempo todo?

— Sim. Minha magia de imitação é impecável, claro que ela perde o efeito com o tempo...

— Por isso eu te achei tão estranha...

— Exatamente. Agora, o que eu farei com você? — fingiu pensar.

— O que fez com a Lucy?

— Eu não fiz nada, sequer me aproximei da garota. Aliás, você nem deveria estar aqui.

— Como não? — perguntou já nervoso.

— Acalme-se, não tenho nada a ver com sua chegada até aqui, no máximo eu me disfarcei da sua amiga para você não descobrir meus plan... Enfim, não me importa — virou-se para ir embora.

— Espera, você não pode me deixar aqui.

— Não só posso como vou, se você quer sair, apenas acorde.

— Acordar?

— Sim. Francamente! Toma isso, você vai sair daqui — entregou um copo com um líquido rosa para o moreno. — Beba e pare de me irritar!

Mesmo em dúvida, o mago bebeu o líquido e sentiu sua cabeça girando, apagando logo em seguida.


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Notas finais do capítulo

Acho melhor não acreditar em tudo que se lê, hihihi :3

Até o próximo!



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