Tra l'amore e l'odio escrita por Souffle Girl


Capítulo 5
Clip V




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Sábado — 22:45 — 24 de Novembro de 2018

 

Encostada na parede, Eleonora observava as pessoas dançando na pista improvisada. Embora todos tivessem uma bebida em suas mãos e parecessem ter alcançado o auge da diversão, Eleonora aparentava o mais puro tédio. Talvez fosse pela música, talvez fosse o clima londrino, ou talvez fosse o fato de que festas nunca fizeram alegria.

Quando Lana disse que aquela era a festa mais esperada do ano pelos alunos da sua universidade, Eleonora realmente tinha tido esperanças de que poderia se divertir por uma noite. Até enfim chegar ao local descampado e perceber que tudo o que eles tocavam era música eletrônica. Eleonora odiava música eletrônica. Não que o ritmo a desagradasse, mas ela era o tipo de pessoa que se deixava guiar pelo sentimento da letra e a emoção na voz do cantor. O que ela gostava mesmo era poder pular e gritar todo o refrão até ficar rouca, até suas amigas se juntarem a ela. Uma experiência que jamais conseguiria somente com música eletrônica.

— E aí? — Thalita disse ao regressar com um coquetel de frutas. — Quanto tempo até desistir e correr de volta pro conforto do nosso lar?

— Bom, pelo menos uma de nós está se divertindo — disse e então olharam para Lana, que pulava animada junto ao grupo de amigas, que encontrara minutos antes de abandonar as colegas de apartamento.

— É por isso que não gosto de sair com ela. Lana diz que sou desanimada, mas a verdade é que britânicos não sabem festejar. Olha essa só essa música de merda! Sou mil vezes mais o funk.

— Concordo plenamente. — Balançou a cabeça. — Com a parte de que britânicos não sabem se divertir quer dizer. Eu nunca ouvi funk.

— Se não morrermos de tédio hoje mesmo, eu prometo que vou encontrar alguma balada que tenha um espírito brasileiro e aí você irá aprender a balançar a raba.

— Balançar a raba? — Repeti meio embolada sem compreender muito bem o que a colega dissera em português.

— É. — Colocou uma mão no joelho e agachou um pouco, balançando o corpo. — É tipo descer até o chão.

— E por que iria descer até o chão para dançar? — Seu rosto expressava uma confusão infinita e Thalita riu.

— Você verá!

Eleonora entreabriu os lábios para protestar, mas se distraiu ao notar um rosto conhecido falando com o barman a apenas alguns metros de distância delas. Thalita, notando que algo chamava sua atenção, estreitou os olhos.

— Quem você está olhando? — Tentou virar o rosto, mas foi impedida por Eleonora.

— Não olha agora — ordenou e no segundo seguinte estava conversando com Thalita como se a pista tivesse se tornado o espaço mais atrativo. — Mas eu acho que aquele ali é o nosso vizinho, não? Seja discreta, por favor.

— Por favor, com quem você pensa que está falando? Eu não me chamo Lana!

Eleonora desviou o rosto da colega e percebeu que haviam sido reconhecidas.

— Okay, você não vai precisar ser discreta porque ele está vindo para cá.

Antes que Thalita pudesse responder um corpo negro se juntou a elas, com um sorriso galante e roupas perfeitamente engomadas.

— My ladies! — Fez uma mesura e depositou um delicado beijo nos dorsos das mãos de cada uma.

As garotas trocaram um olhar cúmplice, tentando segurar o riso.

— Beber até achar que sou um lorde do século XII — Thalita levou o canudo de sua bebida a boca após soltar o comentário de modo nada discreto.

— Será que é a proximidade da rainha que deixa as pessoas assim? — Eleonora entrou na onda e começaram a gargalhar.

— Okay, okay. — Ergueu as mãos em rendição. — Já entendi que meu gesto foi um pouco excêntrico demais.

Eles conversaram um pouco e a noite pareceu ficar um pouco mais suportável. Nathan era uma presença bastante divertida. Quando percebeu que havia um clima rolando entre os dois, Eleonora logo sugeriu buscar mais uma bebida e se distanciou, deixando-os sozinhos.

Moveu-se pela balada, tentou se entrosar com algumas pessoas e quem sabe criar novos amigos, no entanto era possível sentir a reserva dos ingleses com desconhecidos mesmo numa festa. Foi impossível não voltar seus pensamentos para a Itália onde todos costumavam ser mais abertos.

Eleonora suspirou e caminhou para o bar. Ela estava habituada a ser a amiga que permanecia sóbria do início ao fim, porém se quisesse sobreviver àquela noite teria que se render. Olhou todas as garrafas na prateleira e se deu conta de quem nem sequer sabia o que pedir. Lógico que conhecia o nome de várias bebidas, afinal estava acostumada a ver as amigas tomarem diversos drinks. Porém não fazia ideia de qual poderia se adaptar melhor ao seu paladar. Por fim, apenas pediu que o barman a surpreendesse e saiu se lá com um drink colorido, cujo nome não fazia ideia.

Demorou um pouco para que o álcool fizesse efeito. Porém quando fez já estava no terceiro drink e sentindo vontade de dançar ao som do eletrônico que tanto odiava. Uma garota loira com cabelos cortados rentes a nuca lhe sorriu. Quando se deu conta, já estavam dançando juntas. Tão próximas que de tempos em tempos um perfume floral atingia seu olfato. Lá pela quarta música, a garota avançou mais um pouco, segurando o rosto de Eleonora pronta para beijá-la.

De repente a imagem de Eva lhe veio a mente e Eleonora se viu incerta se queria seguir por aquele caminho. A garota era realmente bonita, envolvente e parecia ser uma boa pessoa, contudo aquela não era ela. Eleonora não ia a festas com a intenção de beijar várias bocas para superar uma paixão não correspondida.

— Desculpa, eu não posso. — Cambaleou para trás, balançando a cabeça, e trombou com um grupo de rapazes dançando do modo mais duro possível. Andou até que perdesse a garota, que nem sequer sabia o nome, de vista.

Ela precisava acabar com aquela dor. Precisava expor seus sentimentos antes que fosse sufocada por eles. Decidida a contar tudo para Eva, atravessou o amontoado de pessoas dançantes, se afastando da música alta. Caminhou de encontro a rua, onde podia sentir o vento gélido da noite londrina. Lá, pescou o celular e procurou o número de Eva na sua lista de contatos.

Quando a ligação foi atendida, não esperou pelo cumprimento de Eva. Começou a andar em círculos, enquanto soltava tudo que estava engasgado.

— Sei que está tarde e talvez você já estivesse dormindo, mas me escute, por favor. Eu preciso confessar isso ou nunca irei viver em paz. Então, por favor, Eva, não surte.

— Sinto muito informar, bella, mas você ligou para o número errado — uma voz grossa e cadenciada falou.

— Edoardo?

O choque fora tão grande que ela não se conta que não o chamou por Eduardo. Sentiu a confusão lhe atacar e parou na calçada, levando a mão ao cabelo exasperada.

Tinha clicado no número de Eva, não havia dúvidas. Como poderia errar algo tão simples como clicar num nome?

— Fico feliz que tenha reconhecido minha voz, Nora. E ainda pronunciou meu nome correto? Dio mio! Ainda que ignore minhas mensagens, acho que finalmente estamos perto de nos entendermos. — O tom convencido que antes a faria soltar algum comentário sarcástico, naquele instante fez com que uma onda de choro a envolvesse. Talvez fosse por ter ultrapassado o limite do álcool, mas a sensação de ouvir uma voz conhecia falando italiano, ainda que fosse Edoardo, mexeu com seus sentidos. — Nora, você está bem? — perguntou mais sério ao ouvi-la fungar. — Nora? O que está acontecendo? Estou começando a ficar preocupado.

— Não é nada. — Fungou. — Só estou um pouco bêbada, mas logo vai passar.

— Você está sozinha? Tem alguém que possa te levar pra casa?

— Hum.... — Esfregou o rosto, secando as lágrimas e olhou ao redor. Ainda conseguia ver o prédio da universidade, mas estava cercada por carros que iam a toda na estrada e lojas comerciais. — Sim, vim com umas amigas. Mas estou bem. Não bebi tanto a este ponto.

— Bom. Você está num país estranho sem nenhum conhecido. Precisa se cuidar, bella.

— Eu sei. Não queria te incomodar. Pensei que estivesse ligando para Eva. Desculpa.

— Você nunca será um incômodo, Eleonora. Não importa se não acredite, falo a sério. — Embora estivessem a quilômetros de distância, Eleonora sentiu a vibração cálida em cada palavra.

— Sei... — Permaneceu alguns segundos em silêncio, somente ouvindo o barulho de pessoas conversando no outro lado da linha. Ainda não acreditava que tinha ligado para Edoardo. Não havia menor sentido naquele ato. — Acho que vou desligar então. Desculpa mais uma vez.

— Você vai ficar bem?

— Vou. Só preciso esperar o efeito do álcool passar — suspirou.

— Okay.

— Okay.

Sem se despedir, Eleonora encerrou a chamada. Ela respirou fundo, voltou para dentro da festa e foi direto ao bar, pedindo mais dois drinks para recuperar a coragem. Após falar com Eduardo, não havia mais clima para se declarar para Eva.

Quando o corpo ficou mais leve, buscou o celular. Sua visão já estava um pouco turvada, de modo que demorou um pouco para reencontrar o número de Eva e levou alguns segundos extras se certificando de que não ligaria outra vez para a pessoa errada.

— O que você pensa que está fazendo? — Ergueu os olhos para descobrir quem a interrompia e ficou zonza. Ainda assim conseguiu enxergar uma Thalita um pouco suada, com o batom falhado e com alguns fios fora do lugar. — Caso não saiba isso é uma festa. Se fosse pra estar no celular, teríamos ficado em casa. A menos que seja pra postar stories, isso aí está terminantemente proibido.

— Bocê não tá entendendo. É um caso de bida ou morde!

Thalita suspirou e colocou as mãos na cintura, assumindo uma postura autoritária.

— Seu irmão entrou em coma?

— Não.

— Seu apartamento pegou fogo?

— Não.

— Um tsunami destruiu a sua cidade?

— Não.

— Então eu não entendo como isso pode ser um caso de vida ou morte, Eleonora.

— Eu domei uma decisão. Eu bou fala pa Eba dudo o que eu sindo.

— Ah, mas você não vai mesmo. — Soltou uma risada sarcástica e pegou o celular da amiga, guardando-o no bolso em seguida.

— Mas...

— Nada de mas. — Pegou a Eleonora pelo braço e a conduziu para um canto com menos gente. — Agora você vai pra casa tomar um banho e uma aspirina pra diminuir essa resseca que com certeza vai te fazer companhia amanhã. Se depois disso tudo, você ainda quiser contar tudo pra ela, vai ser por sua conta. Mas aqui trocando letras e totalmente irracional? Nem pensar.

Eleonora balançou a cabeça em concordância. Ela tinha certeza de que seus planos não mudariam na manhã seguinte e naquele instante não parecia uma boa ideia contraria Thalita. Ela poderia adiar sua declaração por algumas horas. Seria até bom para preparar um discurso mais elaborado.

De repente se deu conta de que não parara de balançar a cabeça e toda a tontura se transformou numa azia. De súbito, Eleonora se agachou, vomitando todo o álcool e o almoço que havia ingerido no cimento

— Ótimo! — Thalita abriu um sorriso amarelo. — Pelo menos não vou correr o risco que vomite em cima de mim no uber.


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Notas finais do capítulo

Eu sei, eu sei que sumi e dessa vez nem tem desculpa. Peço perdão e vou me esforçar pra atualizar mais rápido.

Amanhã começa a 3ª temporada! Quem aí tá animado?



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