Minkis Mackenzie

Estava lá, novamente! Assim que entrei na cela, não deixei de revirar os olhos. O que poderia fazer para passar meu tempo? Olhei em direção a pequena janela da cela e ri, era possível perceber que ela estava danificada. Peguei uma das pedras que estava em baixo dos bancos de concreto e tentei alcançar a janela, não conseguindo por conta da altura. Subi em cima de um dos bancos e escrevi um pequeno recado ao lado dela, quem sabe um futuro pinguim não veja minha pintura e meu recado?

Desci do banco e, ainda com a pedra na nadadeira, me virei para a outra parede, no caso, a vazia. É bom decorar essa delegacia, as paredes vazias e geladas estavam me incomodando, só espero não ter que pagar a delegacia por conta dos meus desenhos.

O que eu poderia desenhar dessa vez? Quem sabe as panquecas de Greeny? Não! Descartei todas minhas ideias e resolvi desenhar qualquer coisa, qualquer coisa que surgisse na minha mente, iria reproduzi-la na parede.

Passei um bom tempo desenhando, eu chutaria uns vinte minutos, e antes de conseguir terminar de “pintar” minha obra, uma voz interrompeu. Ela não estava falando diretamente comigo, provavelmente com um telefone, pois não era possível ouvir uma segunda voz. Por conta da distância, não conseguia saber o que o pinguim que havia feito a ligação estava falando, tentava decifrar uma palavra, mas não conseguia.

Alguns minutos se passaram, e consegui ouvir o barulho da porta principal se abrindo. Corri em direção a parede esquerda, onde estava localizado o meu mais novo desenho e tive visão. Meus amigos, não acredito! Eles olharam em direção à sala de interrogatório, e suas expressões mudaram, fiquei confusa, quem estava lá? Minha resposta não demorou para ser respondida, Gerda e outra bruxa, Greta, passaram pela minha cela de nadadeiras cruzadas, indo em direção a Greeny. Mas, a mãe do pinguim mudou de humor em um estralo de dedos e colocou um sorriso no rosto e abraçou Greeny, repetindo a seguinte frase:

— Eu estava tão preocupada! Eu estava tão preocupada!

O pinguim se manteve paralisado, com uma expressão visivelmente assustada, mas ao mesmo tempo entediada. A bruxa mais velha se separou e olhou diretamente para Greeny e disse:

— Por favor, entre no Seventh Waning Moon. A última foi Gaia, estou preocupada, não quero que você seja o próximo. Nós, eu, você e Greta, seremos mais fortes juntos. Temos que nos proteger, não vê que já começou? A Inquisição está se repetindo!

O pinguim mais novo cruzou os braços, respirando fundo, como se estivesse em busca de algo, quem sabe paciência?

— Gerda, eu irei falar mais uma vez e é a última. Eu não vou entrar para o seu conciliábulo.

Greeny deu um pequeno sorriso e saiu, ficando ao lado de Thay. Logo em seguida, o Delegado chamou meus amigos para a sala de interrogatório, e após a porta bater, as duas bruxas fizeram um movimento com suas nadadeiras e desapareceram da delegacia.

A sensação de tristeza apareceu por um leve momento. Em momento algum eles olham em minha direção, será que eles se cansaram de mim? Com certeza, isso mostra que sou um peso para eles, apenas estou atrapalhando.

Como a sala de interrogatório era próxima da minha cela, conseguia ouvir perfeitamente o que era dito no cômodo. As paredes, além de cinzas e geladas eram finas principalmente.

Coloquei minha cabeça na parede, e não estava escutando nada. Em poucos segundos, ouvi o barulho de cadeiras sendo arrastadas, e o barulho cessou rapidamente. A voz do Delegado se fez presente, fazendo a seguinte pergunta para os três pinguins interrogados:

— Por favor, peço que falem tudo que viveram na última noite, na noite que a senhorita Mackenzie fugiu de sua cela.

Um silêncio se fez presente, mas logo foi quebrado por Thay, que começou a contar:

— Nós fomos perseguidos pelo assassino. Eu, Greeny e Marcus. Mas a Minkis não é a assassina, pois fomos perseguidos depois que ela voltou para a delegacia. E que eu saiba, depois disso, nenhum guarda relatou a fuga dela, ela passou a madrugada inteira aqui, não tem como!

Dessa vez, não houve silêncio. Assim que a pinguim terminou de falar, o Delegado fez uma pergunta para os três:

— Como vocês têm tanta certeza? Conhecem a amiga que têm?

Minhas nadadeiras se fecharam como se fosse dar um soco. A raiva tomou conta de mim e minha mente estava pintada em uma única cor, vermelho. Ódio, ódio e ódio. Isso era o que estava se passando dentro de mim. Sentia o sangue correr mais rapidamente pelas minhas veias, me fazendo sentir meu corpo ficar cada vez mais quente.

Meus pensamentos foram cortados pela voz de Greeny, carregada por raiva:

— Que eu saiba a delegacia tem câmeras, e elas não ficam de enfeite! Em vez de ficar tentando nos jogar contra nossa amiga, faça algo útil! — Ele parecia ter se levantado da cadeira batendo na mesa do Delegado.

Consegui ouvir passos e um longo silêncio se fez presente, mais uma vez. Eles não podem pensar que alguém está ouvindo-os e pode estar agoniado nesse exato momento?

Uma tecla foi apertada, e pelo visto, com muita força, já que consegui escutar. E em seguida, foi possível escutar um grito

— Viu! Aqui! Ela fugiu!

E Thay responde, gritando:

— Será que dá para parar de tentar nos colocar contra nossa amiga? Agradeço!

Outra tecla é apertada, e o silêncio volta.

A vontade de gritar, voltando com a conversa de gritos é grande, com a mensagem de “podem parar de fazer silêncio?”

E para completar, Marc, que até agora não havia dito nada, gritou:

— Viu! Aqui! O assassino invadiu a cela dela! Ela fugiu por isso!

Olhei em direção à pequena janelinha que tinha no cômodo, observando meu pequeno recado e ri, fazer uma seta e escrever “Minkis Mackenzie passou por aqui, acredita?” era a última coisa que faria se estivesse presa, mas não podia perder essa oportunidade.

Consigo escutar passos, novamente. E então, meus pedidos são atendidos, o silêncio é cortado de vez em quando mais uma vez, a voz do Delegado se faz presente, e dessa vez não é com um tom alto nem irritado, e sim calmo, o que me fez ficar confusa.

— Bem, com as filmagens, é notável que o assassino está atrás da senhorita Mackenzie também, e isso causou a fuga dela. Eu tenho um plano, que irei mandar para vocês por e-mail, mas para isso, é necessário que vocês, incluindo Minkis, juntamente com Gerda e Greta fiquem na delegacia enquanto nossa equipe procura o assassino.

Os três pinguins concordam. Mesmo que estivesse comprovado que eu não era a assassina, muitas perguntas estavam em meus pensamentos, será que que eu continuaria presa? Será que o assassino poderia aparecer na cela novamente? Essas e outras questões rondavam minha mente repetidamente, mas, a única coisa que podia fazer era esperar.