Wolf Woods escrita por MrstDream


Capítulo 5
Capitulo 4 - O Colégio de Riverwood




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Acordou sobressaltada e encharcada em suor. Tentou recordar o sonho, mas nada lhe veio à mente. Cansada das tentativas fracassadas foi tomar banho. Depois de um abundante pequeno-almoço perguntou à avó se alguma vez ouvira falar de lobos habitarem a floresta, ao qual ela respondeu que não e que tal ideia era absurda. De qualquer maneira juntou-se aos restantes alunos na rua e caminhou rumo à escola.

As aulas de Inglês e Literatura passaram sem que desse conta e ao almoço os sons passavam-lhe ao lado. Mickael ficara a ensaiar para a audição por isso não apareceu deixando-a sozinha. Como não tinha aulas de tarde foi para a biblioteca. Através dos ultrapassados computadores pesquisou sobre avistamentos de lobos na região e umas lendas que acabaram por aparecer. Perdeu completamente a noção do tempo. Olhando de esguelha para o relógio praguejou atraindo a atenção de outros estudantes. Desculpou-se e imprimiu os papéis que precisava, quase correndo para o pátio pois já estava atrasada.

 Quando lá chegou já estavam todos a entrar para uma carrinha de nove lugares enquanto Jenna falava com um jovem rapaz. Aproximou-se deles.

— Ah, cá estás tu! Estava a começar a preocupar-me. Este é o Alex. Ele vai ser o nosso motorista durante as próximas semanas.

Apresentações feitas entraram na carrinha. Chloe e Jenna foram à frente com Alex, Mickael, Jackpot e Leo, e nos bancos mais atrás, Aida e Jan. A carrinha encheu-se de gargalhadas e conversas alheias, até Alex que não os conhecia participou moderadamente nas brincadeiras. Após algum tempo, entraram num caminho ladeado de árvores. Passaram por um portão de ferro entrando no pátio do colégio. Mais parecia uma fortaleza do que uma escola. Pararam em frente de uma escadaria onde saíram. Alex e um outro rapaz cumprimentaram-se. Este último guiou-os para dentro da instalação e levou-os até à sala de apresentações, que, para se ser exato, mais se parecia com um enorme salão com cadeiras e um palco digno de um verdadeiro teatro.

Mas o olhar de Chloe não se fixou nas paredes brancas ornamentadas com pinturas douradas e arquitetamente equiparáveis ou nas trabalhadas janelas por onde a luz do sol entrava, nem sequer no enorme palco de madeira com cortinas vermelhas de veludo, não, o seu olhar fixou-se no enorme piano de cauda branco polido que se encontrava em frente do palco. Foi então que reparou que não estavam sozinhos, as pessoas que deveriam ser o clube de teatro do colégio já se encontravam na sala. Jenna subiu a palco enquanto o seu grupo se acomodava nas cadeiras. Um jovem homem de cabelos pretos bem aparados, olhos azuis e bem vestido acompanhou-a.

— Atenção a todos por favor! – começou Jenna – Para quem não me conhece, eu chamo-me Jenna, e para quem não o conhece, - apontou para o homem – ele é o Marcus. Como já voz foi anunciado, como o tema de ambos os clubes é o mesmo, eu e o Marcus chegamos à conclusão que era melhor unirmo-nos para melhor recriar tão bela história de amor. Os papéis femininos, visto que só há três, já foram distribuídos, como tal hoje faremos as audições para os masculinos. Após as devidas nomeações irá decorrer um pequeno ensaio para ver como se saem. Alguma questão? Não? Ótimo, passemos assim às audições, quando vos chamarmos compareçam em palco por favor.

Desceram de palco e ocuparam duas cadeiras mesmo em frente. Com blocos de notas no colo e canetas em riste começaram a chamar os atores. Jan foi o terceiro a subir a palco propondo-se para desempenhar o papel de pai do protagonista. Até foi bastante bom, mas engasgou-se numa fala o que o eliminou automaticamente. Aida sentou-se ao lado de Chloe e ambas foram sussurrando sobre a atuação dos rapazes. Chegou à vez dos atores que queriam desempenhar o papel de irmão da protagonista. Mickael foi o primeiro a subir. Chloe ficou presa na sua atuação, ele encarnava de tal forma a personagem que corria o risco de se tornar nela, o que para um ator era a melhor coisa que lhe podia acontecer. Quando finalmente acabou sabia-se pelo orgulho na cara de Jenna que ele seria o escolhido, não importava quão bons os outros fossem o papel era dele. Quando já todos tinham terminado, as portas da sala abriram-se e dois rapazes entraram. Reconheceu-os como sendo aqueles que passaram por si no café acompanhados por uma rapariga. O mais novo sentou-se no fundo da sala, mas o mais velho prosseguiu até estar em cima de palco. Marcus sorria de orgulho e Jenna estava expectante. Quando ele abriu a boca percebeu porquê. Não olhou para ninguém, apenas fixou um ponto ao fundo e as falas fluíram naturalmente, como se de facto fosse ele o solitário e apaixonado rapaz. Desceu de palco e foi sentar-se sozinho no centro da plateia. Marcus e Jenna subiram a palco. A melodiosa voz do primeiro preencheu a sala.

— Bem, primeiro que tudo, estão todos de parabéns. Mas como devem saber apenas um de cada papel pode subir ao palco. Eu e Jenna estivemos a conferenciar e os papéis ficaram da seguinte forma: para desempenhar o papel de protagonista feminina Aida Medley, protagonista masculino Kyle Wood – “Então é assim que ele se chama”, pensou – como irmão da rapariga Mickael Stuart, como pai John Wesley, como pai do rapaz Raphael Santos e como mãe Luísa Rodrigues, como presidente Leonard Adams e a sua mulher Agatha Romeia, como policia Samuel Martins e, por fim, o noivo da rapariga Valéri Jones. Os restantes participarão como figurinos e ajudarão durante o espetáculo no que for preciso.

» Ah!, antes que eu me esqueça, para a semana teremos a prova dos figurinos. Acho que é tudo… - Jenna aclarou a garganta propondo que ele se esquecera de algo. – Ah, pois pois, não nos podemos esquecer disso. Protagonistas não se esqueçam de aquecer bem as gargantas porque a voto do diretor, durante a peça haverá momentos em que terão de – remoeu a palavra – cantar. E agora sim, se não houver mais nada, - olhou significantemente para Jenna que sorria – peço aos atores que agarrem nos guiões e venham para palco.

Aproximou-se de Mickael enquanto este vasculhava na mochila e deu-lhe os parabéns. Ele agradeceu e apressado subiu a palco. Sentou-se perto de Jenna enquanto esta e Marcus avaliavam o que estava a ser criado. Melodias começaram a encher a sua mente à medida que a história se desenrolava. A parte do canto chegou mas Marcus disse que naquele dia iria-se saltar essa parte que posteriormente seria ensaiada apenas com os envolvidos. Quando terminaram foram aplaudidos pelos restantes e todos se dirigiram a uma outra sala onde um lanche seria servido. Chloe chamou Jenna à parte e perguntou se poderia praticar um pouco com a desculpa de se acostumar ao piano ao qual ela respondeu para ela estar à vontade.

Assim que todos saíram sentou-se no pequeno almofadado banco trabalhado. Levantou a tampa e sopesou as teclas cor de marfim e azeviche. Eram pesadas, perfeitamente equilibradas. Fechou os olhos e imaginou o decorrer da cena de abertura, o primeiro encontro entre os apaixonados. Na tela branca da sua mente apareceu um acolhedor café antigo, cheio de pessoas que tentavam fugir à chuva, que transmitia calor e com conversas animadas, uma calçada e um intricado candeeiro de ferro, um banco de madeira e vazos de flores que começavam a florir com o início da primavera, uma jovem rapariga com um vestido florido e guarda-chuva cinzento passava evitando as possas de água que se formavam, um rapaz de fato castanho-creme a sair do café esbarrando acidentalmente nela… Os seus dedos batiam nas teclas, as notas enchiam a sala ricocheteando nas despidas paredes voltando para si ou indo para longe. Uma estranha leveza preenchia-a. Tombou a cabeça para trás e embrenhou-se mais e mais na música imaginando o decorrer da peça. De tão concentrada que estava não notou que alguém a escutava. Escondido atrás da porta entreaberta, esse alguém estava deslumbrado com o que ouvia e, ao mesmo tempo, nervoso por assim se sentir, pois tal não era suposto.

*

Quando ficou satisfeita, arrumou as suas coisas e juntou-se ao grupo na sala do lanche. Ao vê-la Mickael agarrou numa sandes e ofereceu-lha.

— Então o que andas-te a fazer?

—Oh, ahm… Tive de ir à casa de banho. – mentiu. Por alguma razão não se sentiu à vontade para dizer algo tão simples como ‘estive a tocar piano’; Não só levantaria inúmeras questões da parte do amigo, como tal a faria regressar a memórias do passado e isso era algo que ela preferia evitar.

Agora num ambiente descontraído ambos os clubes conviviam alegremente, mas por pouco tempo pois Alex teve de os levar de volta ao centro. Chloe, que desta vez fora nos bancos de trás com Mickael, encostou a cabeça no ombro do rapaz que, por sua vez, envolveu-lhe os ombros com o braço. Ao chegar ao centro despediram-se de Alex. Jenna lembrou-os que o próximo ensaio seria dali a dois dias e para praticarem bastante indo de seguida embora. Com o grupo reduzido pois Leo e Jackpot já tinham planos e Jan tinha de ir para casa, Aida, Mickael e Chloe foram juntos ao café.

Entraram e ocuparam uma mesa do fundo junto à janela. Em contraste com o frio que se levantava no exterior o café estava quente e acolhedor. Uma rapariga de cabelo loiro e bastante base aplicada, com avental rosa esbatido aproximou-se da mesa onde se encontravam. Com um bloco de notas e caneta pronta perguntou quais eram os pedidos. Mickael apressou-se a responder sem dar hipótese a qualquer uma das acompanhantes.

— Ora muito bem, então vão ser três pratos de panquecas tamanho grande e três canecas de leite com chocolate quente à moda da casa, se faz favor. – a rapariga assentiu e apressou-se a cumprir o pedido. – Não se importam, pois não? – as raparigas abanaram a cabeça em resposta – Ótimo! Agora mudando de assunto… Aida conta-me como é ser a estrela do espetáculo?

— É estonteante! Estou tão nervosa e contente ao mesmo tempo, principalmente agora que sei com quem vou contracenar, aquele pedaço-de-pão-gato-enigmático-ambulante!

— Pois já reparei que ele é bastante popular…

— Oh Chloe esqueci-me que não eras daqui. – lamentou Aida. – Deixa estar que eu vou-te por a par! Então é assim, há uns anos aquele colégio abriu e houve imensa gente a mudar-se para cá, alguns acabaram por desistir e foram-se embora, mas maior parte ficou cá e estabeleceu-se abrindo negócios ou arranjando trabalho aqui e ali; Isso fez com que a vila crescesse e passasse a ser tal como a conhecemos hoje. A família do pedaço-de-pão-gato-enigmático-ambulante foi uma delas. Só que apesar de conviverem são muito reservados, em especial os dois filhos rapazes; Andam sempre com aquela aura de intocáveis e cheios de segredos.

— Eles é que são os donos deste café. - disse Mickael para ninguém em particular. Como que combinado Kyle e o irmão entraram indo sentar-se no que parecia já ser a sua mesa habitual. De onde estava, Chloe podia observá-los perfeitamente.

A rapariga loira aproximou-se da mesa com uma grande travessa e distribuiu os pratos, desejou bom apetite e foi atender os próximos clientes, que numa escolha do acaso eram os irmãos Wood. Chloe observou os pratos. As panquecas pareciam perfeitas com o mel chocolate e doce de morango com um morango inteiro no topo e as bebidas fumegantes com tom achocolatado e chantilly por cima chamavam a atenção. Aida e Mickael, sentados à sua frente olhavam-na expectantes. Levou a caneca aos lábios. O cheiro que lhe encheu as narinas provocava deliciosas promessas, mas nada a preparara para o divino sabor do líquido quente que lhe escorregava pela garganta. Pousou a caneca levando as costas da mão à boca.

— Isto é…. Nunca provei nada assim! – os companheiros riram-se dela e começaram também a deliciarem-se. Entre garfadas, conversa e gargalhadas, Chloe não se conseguia impedir de lançar olhares de esguelha para os irmãos a umas mesas de distância. O irmão mais novo estava de costas para ela, mas Kyle, de frente, olhou repentinamente para ela. Os seus olhos fixaram-se nos dela prendendo-lhe a atenção e fazendo-a boiar à deriva.

— Uh, uh, casa de banho, casa de banho! – exclamou Aida trazendo-a de volta à realidade. Com os seus característicos totós, t-shirt, saia de ganga, meias listadas até aos joelhos e ténis florescentes, apressou-se por entre as mesas e desaparecendo por trás de um biombo.

— O rapaz que está com Kyle chama-se Gabriel e a rapariga, é a mais velha deles os três, devo informar, chama-se Kira. – Chloe corou envergonhada – Pois é, não és propriamente subtil, principalmente com esse lance de olhares que ouve ainda há pouco entre ti e o Sr. Misterioso. – ao ver a expressão  da amiga, Mickael riu-se alto e fingiu tirar um lágrima do canto do olho, o que atraiu a atenção de algumas pessoas. Aida que chegava nesse preciso momento perguntou se perdera alguma coisa que devia saber, ao que Chloe respondeu tentando controlar a voz.

— Não, nada! Nada de interessante quero dizer. – ela perscrutou-os desconfiada, mas acabou por encolher os ombros e desinteressar-se. Por sua vez Mickael ainda contendo o riso concentrou-se na comida e Chloe olhou em volta para ver se ainda olhavam para eles. Apenas uma pessoa ainda o fazia, Kyle, mas a sua atenção foi virada para uma rapariga que se dirigia a eles, Kira, com um sorriso estampado no rosto.   

Assim que terminaram, pagaram a comida no balcão e saíram. A meio caminho Aida separou-se deles prometendo que se veriam há hora do almoço no dia seguinte. Os dois continuaram a descer a rua; Mickael foi o primeiro a quebrar o silêncio.

— Então… Qual é o teu lance com o Sr. Reservado? – Chloe encolheu os ombros.

— Qual é o teu com a Aida?  

— Então reparas-te nisso… - passou os dedos pelo cabelo.

— Desculpa informar-te mas e um bocado óbvio pelo modo como olhas para ela, mas ao que parece ela é aluada demais para perceber.

— Sim, eu sei. Mas ela é… Não sei explicar, mas acho que me percebes. – assentiu. Passado um momento de silêncio continuou – Não sei quando começou, um dia olhei para ela e simplesmente fez-se clique. Só me apetecia abraça-la e nunca mais largar. Agora é a tua vez! – disse jovialmente.

— A minha vez de quê? – tentou disfarçar, mas teve de ceder perante o olhar que ele lhe lançou. – Pronto, está bem! Foi no dia a seguir há minha chegada. A minha avó mandou-me fazer uma entrega no café e lá fui eu. Quando me estava a ir embora ele e os irmãos entraram. Os irmãos passaram por mim sem me olharem, mas ele prendeu-me no seu olhar. Foi tão… estranho. Parecia que me conhecia e eu fiquei com a impressão de que o conhecia a ele, mas por mais que escave na minha mente não me consigo lembrar da onde. É como se ele fosse um fantasma.

— Percebo-te… Mas bem, boa sorte, porque para além de conversas estritamente necessárias ou trabalhos de grupo da escola ele não fala com mais ninguém! – chegaram ao cruzamento seguinte – Bem e é aqui que eu me despeço. De certeza que chegas a casa bem?

— Sim, eu fico bem, vai lá.

— Bem, então até amanhã. - disse indo-se embora deixando Chloe embrenhada nos seus pensamentos pelo resto do caminho.


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