Wolf Woods escrita por MrstDream


Capítulo 3
Capitulo 2 - O Café




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Acordou com o barulho de panelas na cozinha. Aconchegou-se e suspirou. Teria de se levantar por mais que não lho apetecesse fazer. Lentamente abriu os olhos e olhou em redor. Sorriu. Através da janela apercebeu-se que o céu estava coberto por nuvens cinzentas, ameaçava chover.

“Lá se foi o meu querido sol…”

Espreguiçou-se. Levantou-se e foi até à casa de banho. Olhou-se ao espelho.

Este semestre vai ser diferente!”

Lavou os dentes, a cara e escovou o cabelo. Voltou para o quarto e vestiu-se para correr, leggins pretas, t-shirt larga, ténis e elásticos no pulso – dois, sempre para o caso. Foi para a cozinha. A meio das escadas inspirou profundamente, já se sentia o cheiro do pequeno-almoço. A avó andava atarefada a fazer pequenos bolinhos. Tirou um do tabuleiro e enfiou-o na boca.

— Esses não são para ti! – disse dando-lhe uma palmadinha na mão enquanto ela tentava tirar outro.

Sorriu. Foi ao frigorífico e preparou um copo de leite que emborcou de seguida.

— Deixa-a estar. – disse o avô entrando na cozinha.- Fazes sempre bolos a mais.

— Ora essa! Estes são para a Sandra e para mais ninguém!

Acabou o leite e pôs o copo no lava-loiça.

— Vou correr. – informou.

— Vai, vai querida que te faz bem para limpar esses pulmões do ar da cidade. – encorajou-a a avó.

Deu um beijo na face de cada um e saiu. Tomou o caminho da floresta. Mais tarde poderia explorar a vila, agora precisava era de algum lugar calmo e tranquilo, um sítio em que não olhassem para ela e perguntassem quem era. Entrou na floresta e começou a correr.

Era verdejante, cheia de vegetação farta, escura e húmida. Era o tipo de locais que ela gosta. Relaxada, continuou a correr passando por troncos caídos como se tivessem sido posto para criar obstáculos e árvores tão altas que pareciam roçar no céu. Ouviu água a correr e resolveu seguir o som até um pequeno e estreito curso de água. Seguiu ao seu largo.

Dois maciços e peludos vultos escuros saltaram de cima de um rochedo alguns metros acima dela. Estacou, surpreendida e assustada.

— O que era aquilo?! – sussurrou, perscrutando o local onde estes desapareceram.

Um terceiro vulto preparava-se para saltar quando reparou nela e travou a tempo de ficar em cima do rochedo a observa-la. Arregalou os olhos não querendo acreditar no que via. Ou melhor acreditava porque o via, mas parecia impossível de o ser. Acima dela, com um olhar inquisitivo, encontrava-se o maior e mais belo lobo que alguma vez vira ou ouvira falar.

Grande, musculado, de farto pelo brilhante da cor da casca da amêndoa e mel, com olhos profundos cor da avelã com laivos dourados.

“Assustadoramente belo…”, foi a única expressão que lhe ocorreu.

A enorme besta saltou e aterrou à sua esquerda fazendo-a voltar-se para ficarem frente a frente. Deu um passo atraída pelo seu esplendor, mas este rosnou-lhe para a visar que deveria ficar onde estava. Olhou-a como se a avaliasse, fitando-a em seguida diretamente nos olhos. Tentou desviar o olhar mas não conseguia, a magnitude era tanta que ameaçava deixa-los assim para sempre. Algo na floresta restolhou levando o lobo a quebrar a intensa ligação e olhar para o que se aproximava. Olhou para ela uma última vez e desapareceu por entre a folhagem.

Não se mexeu um milímetro que fosse com medo de despertar daquele estranho sonho. Como nada mais acontecia beliscou-se. Doeu. Não era um sonho. Não podia ser verdade, mas era… Voltou para casa, já tinha tido a sua cota parte de surpresas na floresta por um dia.

Tomou banho e despachou-se com a imagem daquela mística criatura a invadir-lhe constantemente a mente. Aquilo era o tipo de coisas que lhe despertavam curiosidade. Agora teria de investigar, mesmo que isso significasse voltar ao local e voltar a encontrar o magnifico lobo.

*

Durante o almoço, a sua avó pediu-lhe que levasse os bolinhos que tinha feito de manhã ao café. Depois de limpa e arrumada a cozinha, deu-lhe instruções específicas de onde era o café. Entregou-lhe um saco de papel onde estavam caixas de cartão com os bolos e, finalmente, pô-la a caminho.

Pouco tempo depois de ter começado a caminhar, começou a chover levemente.

Deparou-se com uma estrutura que parecia ter saído de um filme. Construído em madeira com o telhado que se prolongava e fazia um pequeno telheiro que abrigava um pequeno hall onde se encontravam duas portas duplas de vidro e madeira. Ao longo da parede grandes janelas de vidros. Olhou para o placar por cima do telheiro. Nele lia-se “MoonWoods café-restaurante”. Entrou.

O interior condizia perfeitamente com o exterior. Transmitia uma sensação de conforto e passar bons tempos à conversa com qualquer um que ali entrasse e abdicasse algum do seu tempo para ficar. As cadeiras, a estrutura do balcão e as mesas eram em madeira. Tanto haviam mesas soltas como incrustadas nas paredes juntamente com bancos corridos para grupos maiores ou pessoas mais reservadas. As paredes eram vestidas com quadros de molduras também elas em madeira e pinturas em tons escuros ou fotografias e recortes de jornal em preto e branco. Atrás do balcão, a cozinha. Reparou que os dois velhos homens que se encontravam a jogar xadrez numa das mesas exaltavam-se com o jogo e que mais ao fundo um grupo de raparigas começava a comentar a seu respeito. Não estava para aturar os sussurros, guinchinhos e risos que vinham delas por isso aproximou-se do balcão para terminar o que lhe fora pedido e ir-se embora.

Uma jovem mulher saiu da cozinha através das portas vai-e-vem e dirigiu-se-lhe:

— Boa tarde, em que posso ajuda-te?

— Olá, pode chamar a Sandra? Tenho uma encomenda para ela.

— A própria!

— Ohh! Ahh… eu não sabia. Aqui tem. – pousou o saco em cima do balcão e empurrou-o na sua direção.

— Pareces surpreendida. – sorriu enquanto arrumava os bolinhos para depois lhe devolver o saco.

— Ahh é que quando a minha avó falou de si imaginei alguém mais velho.

— Ah, então é isso. – riu-se. - Aviso-te que sou mais velha do que aparento. – passando para outra caixa apercebeu-se de algo repentinamente – És a neta da Karen! Diz-me o que achas da vila pelo que viste até agora?

— Calma. Boa para um novo começo. Não que eu tenha visto muito. Este é o primeiro lugar que eu visito desde que cá estou.

— Bem estás certa. É calma o suficiente para alguém que não gosta de muito movimento.

Quando se deslocou para arrumar o tabuleiro em cima da bancada de exposição reparou no anúncio de procura de pessoal.

— Queres um formulário? – perguntou-lhe Sandra.

— Sim. Dava-me jeito arranjar trabalho já que vou ficar por aqui durante algum tempo.

Entregou-lhe uma folha e uma caneta. Preenchido o formulário devolveu-lhe o material e guardando o saco no bolso do casaco preparou-se para se ir embora.

Quase á saída cruzou-se com três figuras acabadas de chegar. Uma rapariga elegante e bem constituída com cabelos cor de mel lisos pelos ombros e olhos azuis-acinzentados. Um rapaz mais novo com cabelo castanho desgrenhado e olhos como os da rapariga. E um rapaz alto, bem definido, de cabelos escuros como o carvão cortados rente á cabeça e, em contraste, olhos cor de avelã com lascas douradas e aurélias amendoadas. Uma aura de intocáveis, poderosos e de mistério envolvia-os. Os dois primeiros passaram por ela sem sequer a olharem, mas o terceiro prendeu-lhe o olhar observando-a. Ela fez-lhe o mesmo. Face quadrada, sobrancelhas cerradas mas arranjadas, pestanas longas e finas, nariz entre o arrebitado e o redondo, lábios carnudos mas finos e suaves, pele morena. Fixaram o olhar. Uma imagem formava-se na sua mente, eles os dois nos braços um do outro a beijarem-se ferverosamente. Os seus lábios decerto pareceriam veludo ao toque. O seu beijo deveria ser um sonho. Um misto de sedução e força que nos prende. Quando ele passou e quebrou o quer que aquilo tivesse sido, ela voltou à realidade. Mas que raio era o que estava a pensar? Abanou a cabeça tentando livrar-se dos pensamentos; mas a imagem assombrar-lhe-ia até os mais inesperados sonhos.

Seguiu-o com o olhar e viu que ele se juntava aos outros dois que já discutiam algo inaudivelmente, numa mesa do fundo. Reparou que Sandra a olhava semicerradamente. Virou-se e saiu.

Enquanto atravessava o parque de estacionamento, agora alagado, e colocava o capuz na cabeça, tentando inutilmente proteger-se da chuva que aumentara a sua força naqueles poucos minutos, perguntou-se de onde viria aquela estranha sensação de que ela e aquele rapaz já se tinham encontrado antes.


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