Âmago da Meia-noite escrita por Shantalas


Capítulo 21
Busca e Magia


Notas iniciais do capítulo

Parte 2 de 2



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— Ah sim, eu já ia dizer – Tyron sorri gingando sua cabeça – Porque esse cara ta vestindo uma armadura menos legal que a sua. Sem querer ofender parceiro – O garoto mostra as mãos e oferece uma a Natan – Ai, prazer, sou Tyron.

— Prazer em conhecê-lo – Natan balança a mão do garoto.

— Diz aí, o que você quer saber, qual o seu nome mesmo? – Tyron pergunta apertando os olhos ao encarar Natan. – Sei que é você quer saber algo porque esse safado é pilantra demais pra vir aqui me ver só por saudade.

— Viemos saber sobre a princesa...

— Se você sabe algo do que aconteceu sobre a princesa – Natan corta o soldado Claus.

— Claro parceiro – Tyron Ginga a cabeça – A cidade inteira ficou sabendo. Nem vou cobrar por essa informação. Parece que a coisa tá feia, já está até em rumores de guerra. Dizem que o Rei ficou louco, vai sair por aí caçando uma bruxa, mas tá todo mundo preocupado porque ela é dona de um vira bicho. Parece que a coisa toda tá pegando fogo. Vão tomar essa cerveja?

Natan fez que não com a cabeça e Tyron entornou um copo. Claus tocou o Intendente por de trás do balcão e balançou a cabeça ligeiramente em direção a saída. Natan respondeu o olhar do soldado, então assentiu.

— Pode ir lá fora conosco? – Claus pediu.

— Claro parceiro, mas é melhor deixar o dinheiro da cerveja pro taverneiro. – Tyron dá a volta no balcão e vai saindo – Segura as pontas ai Chet.

O taverneiro nem se preocupou quando seu funcionário foi saindo. Natan deixou uma moeda de prata na mesa antes de partir. Os três saíram em silêncio deixando a música de flauta e corda para trás. Na entrada os outros quatro soldados aguardavam juntamente com os cavalos. Aquilo assustou um pouco Tyron que ficou desconfiado.

— O que tá acontecendo, parceiro?

O soldado Claus guia seu amigo até o meio deles deixando-o desconfortável. Todos os quatro cavaleiros eram homens sérios de traços duros que pareciam ter muita antipatia com o garoto magro e malvestido.

— Você viu uma dupla suspeita passando pelas redondezas? – Natan questiona.

— Dupla suspeita? – Tyron observa a todos com medo, fixando o olhar por último em Claus – O que tá acontecendo? Vocês estão me deixando no escuro aqui.

— É melhor contar logo - Wendell coloca uma mão na cruz da espada.

— Que droga é essa? – Tyron se espanta se afastando e tentando fugir do círculo.

— Não Wendell, o que você está fazendo? – Claus diz perturbado.

— Não é esse tipo de conversa? – Wendell pergunta confuso - Você trouxe ele pro meio da gente, eu achei que....

— É meu amigo de infância - Claus reclama puxando o braço de Wendell da espada – Qual o seu problema?

— Você sabe algo ou não? – Quis saber Natan.

— Duas pessoas suspeitas? Isso é muito vago. – Tyron diz olhando com medo para Wendell.

— Tudo bem vamos indo – Natan fala e faz menção de ir embora.

— Esperai aí parceiro, me dá uns detalhes.

— A princesa – Claus diz com inocente boa vontade.

Os olhos de Natan esbugalham e ele agarra Claus pelo peitoral de ferro da armadura então fala contendo a raiva:

— É confidencial!

— Desculpa – Claus diz fazendo uma careta.

— Levamos ele? – Wendell retoma seu tom ameaçador.

— Peraí parceiro, vocês acham que, em um castelo como aquele, podem esconder a informação de que a princesa Kalifa fugiu? Já sei dessa há tempos.

Natan larga o soldado e se aproxima com ferocidade de Tyron dizendo:

— Tem menos de duas horas!

— Sim, era a minha informação mais quente. – Tyron ginga a cabeça

— Quem te contou? – O conselheiro agarra o colarinho do rapaz.

— Não é sou eu não irmão, muita gente já sabe. Você quer saber se eu sei onde ela tá, não quer? Vou cobrar nada se me soltar. - Natan larga o rapaz magricela e contendo suas emoções ele aguarda até Tyron continuar – Meus parceiros disseram que uma dupla suspeita foi vista com corda e gancho, rumavam para o bairro da torre sudoeste.

— Essa não – Natanael se desespera. – Vamos nos adiantar

Ele sai correndo para seu cavalo, os outros fazem o mesmo. Wendell fica alguns segundos para trás. Natan faz sinal urgente para partirem e antes de subir na cela, Wendell diz a Tyron:

— Melhor você estar falando a verdade.

— Pode apostar. – O servente tinha as palavras na ponta da língua.

O soldado segue por último os outros cinco guiando seu cavalo a galope rápido. Tyron aguarda um tempo, até eles sumirem de vista. Então sorri. A mulher gorda lança um olhar de curiosidade, mas é ignorada. Ele entra na taverna estalando os dedos e assoviando o som da flauta, se aproxima do velho e da garota e encena uma dança ridícula, gingando a cabeça em um vai e vem.

— O que foi? – A flautista pergunta no intervalo de uma música para outra.

— Eu tenho uma informação que seu chefe vai amar.

...

O vento farfalhava os galhos das árvores na clareira da cabana. O sol rumava lentamente para seu auge gravando no chão poderosas sombras no sossego das copas. Uma fumaça subia do topo da moradia e uma mulher velha, feia e corcunda maculava a porta com sua existência torpe e vil.

Feia era uma expressão gentil para descrever a desagradável aparência da mulher. Ela havia perdido altura devido a uma gigantesca corcunda em suas costas e metade de seu cabelo branco se perdeu. Seu nariz grande e inchado parecia uma pedra porosa. Sua face possuía incontáveis verrugas que começavam a limitar sua visão e sua testa estava longa e achatada.

Distraidamente, ela entona uma canção com sua voz aguda e desagradável.

" Uma criancinha se perdeu na floresta

Veio uma cobra e a devorou!

Mas a sua mãe veio correndo na floresta

E achou a cobra libertando a criancinha!

Mas a criancinha se perdeu na floresta

E uma aranha veio logo e a prendeu!

Mas a sua mãe veio correndo na floresta

E a sua vida em troca ela deu!

Só que a criança se perdeu na floresta

E uma bruxa horrível logo a achou!

Só que a criancinha não tinha um zelador

E a bruxa horrível a devorou! "

— O que diabos você esta assando? Sua bruxa asquerosa. Posso sentir o cheiro horrível de carne queimando à distância.

A voz irrompeu da lateral da cabana. Era grave e autoritária, com um timbre similar a um animal feroz. A bruxa se virou para ver quem lhe visitava e um humanoide de mais de dois metros aparece segurando uma espada grande e larga só com uma mão.

— Estava cansada demais para tirar a pele, esquartejar uma criança só com um braço é mais difícil do que parece.

Yulma move delicadamente seu braço direito totalmente enfaixado em linho. Ela sorri, apenas um dente negro lhe restava na boca. Sua gengiva estava inchada e vermelha.

— Mesmo entre as criaturas vis e cruéis existe algum tipo de decência e honra. Me poupe de seus detalhes sórdidos. – Algumas palavras não se completavam direito na boca da criatura, pois quatro dentes afiados brotavam para fora do alcance de seus lábios.

— Você fala igual uma donzela, como pode ser o cruel líder de uma centena de Goblins, Grande Zorpe?

— Setenta e seis Goblins da última vez em que conferi. Onde estão os dezesseis que lhe emprestei? – Havia um tom de ameaça iminente na voz de Zorpe.

— Estão todos mortos, somente dois idiotas sobreviveram. – Yulma responde completamente displicente.

Zorpe enfia sua espada com tudo na parede de madeira da cabana, por alguns centímetros não cortou a anormal testa obtusa da bruxa. Ele urra de raiva balançando suas longas tranças na cabeça, cada uma delas com meia dúzia de minúsculas placas de pele endurecida.

— Tem muita coragem bruxinha, de dizer na minha cara que mandou meus soldados para a morte!

— E vou precisar dos outros Goblins. – Yulma diz casual.

— Está louca? Acha que vou emprestar o resto do meu exército à você? – Zorpe se inclina para olhar no rosto de Yulma, seus olhos eram vermelhos e de pupila achatada. Ele retira sua espada do buraco que fez na madeira e segura de forma ameaçadora.

A criatura era puramente músculos embaixo de uma pele esverdeada e com pelos cinza. Usava retalhos de armaduras de aço com uma surrada cota de malha por baixo. Sua orelha era grande e pontuda, o lado esquerdo era repleto de aros e o lado direito era mutilado até a metade. Portava nas costas um escudo grande com duas esporas juntas na lateral superior direita.

— É claro que vai querido – Yulma tenta acariciar o queixo de Zorpe, mas ele retoma sua postura, afastando-se dela.

A bruxa guia Zorpe até o interior da residência. Dentro do simples cômodo o caldeirão estava de lado no chão e em seu lugar uma pilha de pedaços humanos cortados de qualquer jeito queimavam negros e horripilantes por cima de grandes pilhas de lenha.

Yulma para curvada em frente ao fogo, próxima o suficiente para que o calor a incomodasse. Zorpe ergue sua espada por traz dela se perguntando se não era a melhor opção simplesmente varrer aquela mulher da existência.

— Você me pediu um encantamento para sua espada – A velha diz sinistra, com sua voz aguda – Vou lhe dar algo melhor.

— É bom que seja algo melhor do que os catorze Goblins que mandou para a morte. – Zorpe grunhe enraivecido e baixa a espada

A bruxa mostra o vão escuro em sua boca, com um único dente. Então estende seu enfraquecido braço direito na fogueira. De início, nada acontece, mas logo as ataduras começam a pegar fogo. A velha expressa intensa dor, seu maxilar entra no crânio mais do que deveria pela falta de dente.

— Omun salanak arien tanra.

Um súbito frio se espalha pela sala, o fogo flameja verde e já não queima mais o braço de Yulma, mas continua a se espalhar subindo até o ombro. Por outro lado, a fogueira onde estavam os restos mortais começa a queimar absurdamente mais rápido. O ar condensa quando Zorpe solta a respiração surpreso.

— Você não está com ele – A velha se vira encarando Zorpe, o braço em volto de chamas esmeralda – Mas ele está com você.

Yulma levanta a mão esquerda e uma força invisível guia gentilmente o braço direito de Zorpe até a frente, ficando entre os dois. A espada grande levita com delicadeza e repousa com a lâmina para baixo encostada na parede.

— De quem diabos você está falando? – Zorpe pergunta observando impressionado os feitos da bruxa.

— Omun, seu robgoblin tolo!

A velha pousa sua mão no pulso de Zorpe, as chamas são transferidas a ele que puxa a mão espantado. Então a pele começa a enegrecer na medida que o fogo se espalha. Ele ergue seu braço para cima e libera um grito de dor e angústia. Yulma se afasta com sua careta de felicidade.

— Em seu cabelo você prende com orgulho uma parte da pele se suas vítimas. – Ela diz estridente, quase berrando para se fazer ouvir através dos gritos e gemidos de dor de Zorpe.

Toda a mão e o antebraço dele se tornam enegrecidos e secam, a criatura temível se dobra sobre os joelhos. O fogo sobe rápido para o braço. Sem aviso prévio, as peles secas presas como enfeite no cabelo de Zorpe voam. Mais de cinquenta peças dançam no ar ao redor do robgoblin. Yulma move ambas as mãos como um maestro, coordenando tudo.

— Eles querem fazer parte disso também.

Quando todo o braço arde em chamas de cor esmeralda e seca, completamente débil e escuro, sendo sustentado somente pelos ossos, as peças de pele voam rápido se encaixando como um quebra cabeça ao redor do membro de Zorpe criando uma nova pele de carne queimada, como escamas.

No decorrer da execução de tudo isso, a aparência de Yulma muda, com um ruído terrível de osso se partindo, sua corcova se divide em dois grandes volumes abaixo dos ombros. A pele de seu rosto atinge o mesmo patamar do nariz, ficando repleto de verrugas ao ponto de se assemelhar a uma segunda pele. Era como uma máscara de pedra horrenda.

A bruxa estende sua mão esquerda na direção da fogueira, todo o corpo do garoto havia se tornado pó dentro do fogo verde. Com um gesto de mão as chamas flutuam até o braço, juntamente com todo o pó, se infiltrando pelos retalhos de couro e encorpando o membro, fazendo-o ficar maior e mais forte do que era originalmente.

— Sim – A velha bruxa cai de joelhos enfraquecida, mas muito satisfeita.

O fogo se dissipa e junto dele a temperatura volta ao normal convidando o ar quente para dentro da cabana. O braço deixa cair um pouco de cinzas ao se mover. Zorpe se levanta admirando sua nova aquisição, abrindo e fechando o punho lentamente. Os dedos estavam alongados e pontudos, parecendo garras. Com um sorriso, sentindo o poder fluir, ele agarra a ombreira do braço direito, mostrando seu ombro desigualmente grande e negro.

Zorpe passa a ombreira para sua nova mão direita e amassa a placa de aço como se fosse papel. A criatura sorri satisfeita, mostrando o restante de seus dentes pontiagudos, porém, menores que os quatro caninos.

— Você vai me emprestar sua tropa – Diz Yulma, séria, quase como uma ordem.

Zorpe a observa de cima, ela estava cansada e parecendo frágil. Ele sorriu com desdém e agarrou o braço direito da bruxa. Então o quebrou com um aperto, sem esforço, em um crack bastante audível.

— O que infernos significa isso? – Yulma diz sombria. Seus olhos pareciam escondidos na pele inchada, dando um vislumbre assustador deles.

— Tudo bem – Zorpe larga a velha. Da as costas e vai até sua espada, pegando-a e embainhando – Mas ainda me deve o encantamento da espada.


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