Predestinado escrita por GabusDramaticus


Capítulo 1
Capítulo Um


Notas iniciais do capítulo

As indicações já foram feitas.

Amo vocês.



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Nada foi muito claro para mim, mesmo no começo.

Aos dez anos de idade, eu não tinha certeza de quem eu era. Mas como poderia quando se está cercado de jogos e doces à vontade? Nunca me importou tanto de onde eu vim, ou o porquê de eu estar ali, não quando eu poderia passar o dia todo jogando Space Invaders e Castelvania, me lambuzando de apfelstrudel, stollens e pudim de pêssego.

O lugar se parecia com um cassino juvenil, o que quer que isso fosse. Minha primeira memória é de acordar no quarto 42337. A cama tinha um colchão d'água, uma TV de última geração, roupas limpas e o melhor de tudo: eu não tinha que pagar nada. Apenas uns pedaços de plástico que chamavam de cartão lótus. Toda a comida que eu pudesse comer e todos os jogos que eu quisesse jogar.

Queria poder dizer que foi uma ótima parte da minha vida. Mas ela não pareceu ter durado mais de três ou quatro semanas. E se desintegrou tão rapidamente que eu não sei dizer se foi cômico ou trágico.

Era um dia aparentemente normal. Uma sexta-feira, talvez. Ou quem sabe uma terça-feira. Era engraçado como o tempo passava devagar naquele paraíso.
A competição do dia girou em volta de Resident Evil - que, sem querer me gabar, eu sou muito bom - e eu e mais meia dúzia de crianças estávamos observando Kyle Lucas detonar todos os zumbis com maestria. As regras eram simples: você morre, você está fora (do jogo, é claro), e o próximo da fila assumiria. Kyle era bom, claro, mas estava exausto e sem ervas de cura sobrando contra um Potro Tyrant.
Parece injusto, sim, mas ele estava jogando por quatro horas desde que se sentou na cadeira, e eu era o próximo, então é evidente que eu queria que o Tyrant arrancasse a cabeça dele de uma vez.
A luta foi desgastante. Atacando de longe até que as balas acabassem ou que o monstro sucumbisse. Logo, logo ele teria que tentar um combate corpo a corpo.

—Eu mereço uma chance a mais se eu derrotar esse, no mínimo. - Kyle comentou, gotas de suor fazendo seu rosto escuro brilhar com a luz da tela. As lentes dos óculos dele estavam engorduradas e a armação escorregando pela ponte de seu nariz, fazendo ele parecer um senhor de idade tentando ler o jornal logo de manhã. Antes que eu pudesse fazer um comentário, um forte arrepio desceu minha coluna. Um arrepio frio e agudo, que fez os pelos da minha nuca se eriçarem.

Eugene— uma voz chamou num sotaque carregado. Uma voz de mulher.

Eu me virei devagar para olhá-la, mas quem quer que tivesse falado, não estava mais ali.

—Eugene? - sussurrei para mim mesmo. Quem estava chamando? O nome me era familiar, como se eu devesse conhecer. Me virei para os outros -Algum de vocês é Eugene?

Ninguém respondeu, estavam muito ocupados observando Kyle Lucas xingar a tela do computador quando Chris morreu com um tapa do Tyrant.
As crianças agora estavam dando tapinhas nas costas de Kyle, que suspirou e olhou com desgosto para um garoto loiro que passava por ali.

—Espero que não dure dois minutos, King. - murmurou, se levantando da cadeira enquanto o tal King olhava em volta com um pouco de confusão no olhar. Ele encarou a tela do computador e sua expressão abrandou, como se subitamente tivesse lembrado do porquê estava ali.

—É. Eu sou o rei. - falou com um sorriso afetado enquanto sentava na cadeira, as outras crianças o cercaram e bateram palmas de incentivo, bradando seu nome com tanto gosto que quase ignorei o fato de eu estar na fila por mais de... quantas horas?

—Ei, era minha vez. - falei, tocando o ombro do garoto sentado. -Lucas, você só pode estar de brincadeira.
Kyle deu um longo gole numa lata que dizia Cherry Coke e semicerrou os olhos para mim.

—Quem é você?

A pergunta me pegou de surpresa. Uma surpresa nada agradável. Já estava pronto para dar um soco naquele cretino trapaceiro e falar com todas as letras quem estava ali na frente dele.

Foi quando eu percebi, como um choque, como uma vertigem, como se eu tivesse acabado de acordar. Eu não sabia meu nome. Nunca me importei em saber.
Mas como? Como era possível alguém não saber o próprio nome? Como fui tão alienado a ponto de nunca me perguntar um detalhe tão crucial? Quem eu era? Que lugar era aquele? Por que eu estava ali?

—Então...? - Kyle Lucas perguntou mais uma vez, parecia aborrecido por eu estar atrapalhando seu Cherry Coke. -Coloque seu nome na lista de participantes para jogar. Deve ser um novato, não é?

NÃO, quis gritar. Estou aqui há semanas!
Ninguém mais parecia estar dando atenção. Os barulhos eletrônicos e funcionários passando com travessas que empestavam os corredores com cheiro de comida recém pronta os puxavam de volta para a diversão. Queriam me puxar também.

Então de alguma forma eu entendi: O lugar realmente queria hipnotizar todos. Deixava todos vidrados.
Não faz sentido, uma parte da minha cabeça tentou me convencer. Torta de amoras e Donkey Kong. Você é o melhor jogador do mundo.

 Era uma armadilha. Eu tinha que sair dali.


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Notas finais do capítulo

o/



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