Banzai! escrita por DetRood, Crica


Capítulo 2
O Pequeno Senhor Chang




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CAPÍTULO 2: O PEQUENO SR. CHANG

Chinatown era um bairro extremamente peculiar dentro da sofisticada Nova York. Trazia a marca de abrigar todas as etnias vindas do Oriente, sempre orgulhosas de suas raízes e tradições. Ali tinha - se a nítida sensação de não se estar nos Estados Unidos...

- Tem certeza de que é aqui mesmo? –Sam questionou o irmão ao entrarem na avenida movimentada do bairro chinês.

- Claro que tenho. O tal Tanaka disse ao lado da loja de Tattoo, no beco da 3ª avenida. É aqui.

- Bem, o número que ele deu deve ficar entre aqueles dois prédios do outro lado da rua. - Samuel apontou - Olha lá, Dean! O cara da van está saindo.

Dean acelerou e enfiou o Impala na vaga antes que outro o fizesse. Encontrar vaga para estacionar em Chinatown era mais difícil que ganhar na loteria. Dia de sorte.

Os irmãos atravessaram a rua e caminharam em meio à multidão na direção do endereço fornecido pelo velho conhecido de seu pai.

Entraram no beco formado pelas paredes laterais de dois grandes prédios bastante antigos e seguiram por ele até o final. Lá atrás, uma casa cercada por um muro baixo e um belo jardim repleto de flores cuidadosamente organizadas destoavam completamente daquele ambiente caótico. Mais alguns degraus e ganharam a pequena varanda onde sinos de vento tilintavam tranqüilamente. Não fosse por isso, nem teriam notado a brisa que soprava. Vasos espalhavam - se ao longo de toda a mureta onde via - se uma variedade de ervas cultivadas.

Sam tocou a campainha mas ninguém respondeu. Dean andava pela varandinha experimentando os aromas das várias plantas e reconhecendo algumas delas pelo nome. O caçula insistia, agora batendo na madeira da porta e, vez por outra, tentava enxergar o interior da casa através do vidro da janela, mas em vão.

- Parece que não tem mesmo ninguém em casa, Dean. O que faremos agora?

- Desde quando uma porta trancada nos deteve, Sam? – o mais velho sacudiu o pequeno estojo onde guardava seus apetrechos para os

“ casos indesejáveis de portas trancadas”.

- Você está maluco?! –Sam tomou as ferramentas do irmão guardando - as no bolso do casaco e verificando se não estavam sendo observados - Não vamos arrombar a casa de ninguém!

- Está bem, está bem...Você manda, maninho. Mas depois não vá se arrepender se o cara estiver ferido ou morto aí dentro e a gente não tiver feito nada a respeito...

- Não tem ninguém aí. - Sam franziu o cenho e desceu as escadas.

- E como é que você sabe, garoto maravilha? Está recebendo algum sinal? –Dean bateu de leve na cabeça do irmão por trás.

- Sei lá. Acho que não tem ninguém em casa. Só isso.

Os jovens caminhavam lado a lado em direção à rua quando Dean estancou de repente, batendo com as costas da mão no peito do mais novo.

- Sam, está ouvindo isso? –inclinou ligeiramente a cabeça como que apurasse a audição.

- Cara, estou ouvindo muita coisa!

- Cadê a chave do carro ? - Dean procurava pelos bolsos.

- Está com você. Eu não dirigi, lembra?

- Ah! Achei! - o mais velho atirou o molho de chaves para o alto e agarrou - o no ar. Voltou a caminhar. – Cara, eu poderia jurar... - um ronco mais forte do motor - ...Que é o meu motor!

- Como você pode saber que... – Sam não conseguiu terminar a frase porque Dean já disparava em direção à rua. Meio confuso, Samuel seguiu - o.

Antes que os rapazes pudessem alcançá - lo, o carro descia a avenida em meio ao trânsito desordenado. Dean passou a persegui - lo a pé, agitando as mãos alucinadamente no ar e aos berros na tentativa inútil de chamar a atenção. As pessoas que passavam pareciam não tomar conhecimento do acontecido: como se fosse muito normal dois homens numa correria desabalada no meio da rua atrás de um carro antigo daquele tamanho!

- Filho da p...! – Dean xingou já meio sem fôlego quando o Impala dobrou a esquina desaparecendo em meio às vielas.

- Dean! - Sam seguia o irmão ofegante - Você viu para onde ele foi? Nós o perdemos?!

- Cara, acho que estou ficando doido – limpou o suor da testa com a manga da camisa - Mas não tinha ninguém guiando!

- O quê?!!! - continuou caminhando e verificando as infindáveis ruelas estreitas.

- É sério, Sammy. - Dean estava transtornado e irado - Não consegui ver quem guiava. Ou um anão roubou o carro ou o Chevy estava possuído.

- Qual é Dean? – Sam continuava a andar rápido atrás do irmão sem tirar os olhos das ruas na esperança de avistar o carro. - Isso não tem graça.

- Sam, eu não faço graça... - Dean parou e quase foi atropelado pelo irmão – Principalmente quando o assunto é o meu carro que, por sinal, foi roubado bem debaixo dos nossos narizes! – Voltou a andar rápido.

- Dean... – Um objeto no chão chamou a atenção de Samuel. –DEAN!!!

- O que é agora?! –Dean respondeu gritando já a alguma distância do irmão.

Sam entrou num beco e abaixou - se junto ao objeto que lhe chamara a atenção.Era o diário de seu pai. Logo em seguida, Dean aproximou - se e ao ver o que havia nas mãos do caçula, sacou sua arma e passou a vistoriar o local com cautela. Sam empunhou sua pistola também e pôs - se a vasculhar o lugar.Ambos caminhavam lentamente, junto à parede e em silêncio. Seguiram até o final da viela que terminava num portão de garagem. Dean posicionou - se de modo a surpreender o ladrão caso ele ainda estivesse por ali. Sam tomou a dianteira e levantou o portão com cuidado, mas era impossível não fazer barulho quando aquela velharia se enrolava no alto do vão da entrada.

Lá dentro, cercado de caixas de papelão e sob uma cobertura de lona, estava o tão amado Chevrolet, intocado, pra o alívio dos rapazes.Ambos deram uma vistoria no galpão mas não havia sinal de viva alma. Quem quer que aprontou aquela arte já não estava mais por ali.

Dean sentou - se no banco dianteiro e debruçou - se sobre o volante, respirando fundo.

Sam contornou o carro e, num lampejo, decidiu verificar o porta - malas.

- Dean, temos um probleminha aqui...

- Qual é, Sammy? Ainda nem me recuperei do susto e você já vai me arrumar idéia? – Dean ia saindo do carro quando percebeu o porta - malas aberto e a expressão preocupada de seu irmão. - Mas que merda!!!

Todo o arsenal havia desaparecido: pistolas, rifles, punhais, adagas e até a shotgun.Tudo.

- Olha só isso... O sujeito cortou o cadeado. - Sam apertava os lábios finos - Dean, precisamos recuperar as armas. Precisamos mesmo.

- Eu sei disso. - Dean bateu a tampa do porta - malas com fúria - Se eu pego o desgraçado...

- A questão é: como vamos achar um cara que sequer sabemos que aparência tem ?

- E nesse formigueiro.

- E, Dean... – encarou o irmão apoiado no capô – nós não podemos ir à polícia.

- Oh, brilhante observação Sammy...

O mais jovem deu um suspiro, abriu a porta do carona e sentou - se no banco. Tinha a preocupação estampada no rosto. Seus olhos corriam o interior do automóvel e, ao esticar as pernas, algo bateu –lhe sob os pés.

- Mas que diabos é isso?! - Sam exclamou atraindo a atenção do irmão. - Acho que a sua teoria do anão não é tão louca, afinal. - ergueu um par de T’s de madeira presos à tiras de panos.

- Grande! Vamos caçar um idiota que precisa de pernas - de - pau pra alcançar os pedais. – Dean tomou os utensílios do irmão e atirou - os longe.

Um ruído na porta metálica da garagem colocou - os novamente em alerta.

- Parece que o rato está voltando pra toca... - Dean sussurrou sorrindo, colocou o indicador diante da boca solicitando silêncio e puxou o outro pela camisa.

Ambos abaixaram - se atrás da dianteira do carro de forma a não serem vistos pelo meliante.

Alguns segundos depois, a porta ergueu - se um pouco e o som de passos denunciou a presença de alguém. De onde estavam, não podiam ver quem se aproximava, mas continuaram assim até que os passos chegaram perto o suficiente para que pudessem atacar sem que, no entanto, corressem o risco de perder o sujeito de vista.

Ouviram o ranger da porta traseira e, num movimento rápido, Dean já havia posto o suspeito de encontro à lataria sob a mira da pistola. Do outro lado do carro, o caçula também já estava em guarda.

- Dean, é um garoto! – Sam abaixou a arma.

- Estou vendo. E daí?

- Cara, tira essa arma de cima do menino!

- De jeito nenhum! – o mais velho encarava o menino franzino de olhos puxados.

- Está ficando doido? – Samuel bateu no braço do irmão,fazendo - o mirar noutra direção - É só uma criança, Dean. Você o está assustando!

O garoto percebeu uma possibilidade de saída daquela encrenca no rapaz de olhos meigos e cara de anjo. Rapidamente colocou no rosto sua mais inocente expressão de pânico, simulando até o brilho de uma lágrima solitária.

- Escuta aqui, Sammy, esse peste roubou o meu carro e você ainda o defende?!

- Como você pode ter certeza de que foi ele mesmo? Ham? Você disse há pouco que não conseguiu ver o ladrão...

- Cara, raciocina: pernas - de - pau, a porta da garagem, o cadeado arrombado... - Dean tomou uma pequena serra do garoto e sacudiu - a diante do irmão - ... Tirando a mochila do banco traseiro...Está ligando as coisas ou quer que eu desenhe?

- Pode até ser, mas... - O mais jovem voltou - se para a criança (que caprichou ainda mais na cara de desamparado), ajoelhou - se na sua frente ficando na altura de seus olhos, encarando - o. – Olha só, garoto, se alguém está te usando para tomar conta do carro, você precisa nos contar, certo? Nós podemos ajudá - lo, entende?

O pequeno infrator levantou as sobrancelhas.

- Dean, acho que ele não fala a nossa língua.

“A estratégia do ‘I don’t speak english’ sempre funciona”, pensou o menino.

- A sua eu não sei - empurrou o irmão para o lado - Mas a minha eu garanto que ele vai entender.

Dean aproximou - se do garoto, virou - lhe o boné da NBA para trás revelando - lhe os olhos miúdos e segurou - o pela gola da camisa.

- Saca só, moleque: Você tem 30 segundos pra dizer onde colocou as nossas coisas ou vai voltar pra China voando sem gastar um tostão com passagem aérea!

- Eu...eu.... é... - o olhar do rapaz não deixava dúvidas sobre a ameaça - Estão bem...É.. Quero dizer...Aqui perto... - Respirou aliviado quando o homem invocado o largou.

- Está vendo, Madre Tereza?! Método de aprendizado relâmpago de idiomas Dean Winchester, nunca falha! Vou patentear esse troço!

O garoto lançou um olhar desesperado para Sam.

- Já chega, Dean! – Sam colocou - se outra vez entre o irmão e o menino - Deixa que agora eu falo com ele.

- Você é quem sabe, maninho. Mas cuidado com a ferinha.

Samuel levou o garoto pelo braço a uma distância segura do irmão que já estava sentado no banco do motorista revirando as estações de rádio. Não tardou e o mais jovem surgiu na janela do Chevy trazendo o pequeno a tiracolo.

- Dean, nosso amiguinho concordou em nos levar até o local onde estão as nossas...Err...Você sabe o quê.

- Sei. Que estão com as nossas digitais, não é ?

- Isso mesmo.

- Então, o que estamos esperando? – bateu a porta.

Sam ajeitou o rapazinho no banco de trás, levantou um pouco mais a porta da garagem e, quando o carro passou, fechou - a novamente. Tomou seu lugar e indicou a direção ao irmão.

Algumas ruas depois, Samuel apontou uma lanchonete. Dean lançou - lhe um olhar intrigado ao que o outro respondeu com uma expressão facial de “faz o que eu digo e não enche o saco”. Estacionaram e seguiram para dentro. Cada qual fez seu pedido e, instalados numa mesa minúscula, por sinal, a única desocupada naquela hora, Dean rompeu o silêncio:

- Está passando mal, Sammy?

- Eu? Não! Por quê? - Samuel mordiscava suas batatas fritas.

- Parando pra comer antes do serviço.Esse não é você, cara...

- O garoto estava com fome – Indicou a criança com o olhar.

- Eu sabia! Isso não podia ser coisa sua mesmo!

- Não enche, Dean. São só dez minutos, ok? Já vamos resolver o nosso problema.

Enquanto comiam, os irmãos analisavam, cada qual à sua maneira, a pequena criatura à frente deles: Sam via uma criança abandonada vestida numa camisa muito maior que o seu tamanho, falando meias palavras, sem motivos para confiar em quem quer que fosse, principalmente em dois adultos estranhos que lhes haviam colocado uma nove milímetros entre os olhos. Já Dean, percebia em seu íntimo que algo muito errado rondava aquele moleque. Sim, moleque, trombadinha, trambiqueiro, pentelho, pirralho - sem - vergonha, porque já o havia rotulado sem sequer saber seu verdadeiro nome. Podia apostar que o garoto estava mentindo. Podia sentir em seus ossos e não confiava nele, assim como sabia que não lhe tinham conquistado a confiança apesar dos esforços de seu irmão.

Do outro lado da mesa, o menino esfomeado também fazia as suas considerações: Espantava - lhe a bondade do rapaz mais alto. Ou seria apenas ingenuidade de um grande otário? Alguma coisa despertara sua simpatia por aquele gigantão com cara de cachorro vira - lata. Já o outro...Este, definitivamente não era de confiança...”Os iguais se reconhecem”, pensou. Precisava ficar de olho nele e tomar muito, muito cuidado.

- Eu sou Sam. - o rapaz estendeu a mão pra o menino - Como é o seu nome?

- Eu sou... - Engoliu o tarugo de hambúrguer e limpou a mão na camisa, devolvendo o cumprimento - ...George Washington Chang.

Dean não se conteve e quase engasgou com o lanche no meio da gargalhada.

- Muito prazer - Samuel deu um cutucão no mais velho - e esse poço de simpatia aqui é meu irmão Dean.

- O que é ?! – Com a boca cheia - Você enche a pança do trombadinha e ainda quer que eu diga que tenho prazer em conhecê - lo ? Sem essa, São Francisco. Você é quem recolhe e cuida dos animaizinhos. Eu só pago a conta.

Terminada a refeição e já de volta à calçada movimentada, os três caminharam rua acima. No mesmo quarteirão, entraram num prédio em escombros, inundado por um cheiro pútrido e nauseante. Subiram os três andares da escadaria, passando por cima de caixotes, lixo e um outro tanto de coisas que só Deus sabia o que eram. No último andar, GW (N/A - George Washington, pra facilitar) estrancou uma porta e entrou. Foi seguido pelos irmãos através de um cômodo mofado, sujo e empoeirado onde havia, num canto, um colchão velho e várias embalagens abertas de comida. Se é que salgadinhos, refrigerantes e chocolate podem ser chamados de comida. O caçula dos Winchesters estava penalizado.

- É aqui que você mora?

- Muito bem, garoto. - Dean interferiu - Vamos ao que interessa: onde estão as nossas coisas?

O pequeno afastou o tampo de uma mesa de madeira que estava recostado à parede do fundo. Por trás dele, um enorme buraco no revestimento de gesso. Pôs meio corpo para dentro da parede e puxou a pesada bolsa de lona que os rapazes conheciam muito bem.

- Pronto. Está tudo aí. Vocês vão me deixar em paz agora? – apontou o chão enquanto espanava a poeira que cobria o cabelo liso e negro.

- Muito bom, amigo. –Sam sorriu.

- Calminha aí, parceiro. – Dean percebeu a falta de uma coisinha na mochila e fitou GW com cara de poucos amigos.

- Olha só, George, agora que nos conhecemos e somos amigos podemos confiar um no outro, certo? Então, que tal mostrar onde colocou o que está faltando?

O pequeno Sr. Chang levantou a camiseta e tirou o punhal sarraceno da cintura, entregando ao rapaz.

- Viu? Sem violência. – lançou ao mais velho um olhar reprovador.

Dean não respondeu. Precisava reconhecer que andara exagerando na dose, mas afinal, foi com o seu toque “sutil” que acabaram recuperando os seus pertences. Pegou a bagagem no chão e foi saindo. Ateve - se no corredor quando percebeu que o irmão ficara para trás e voltou:

- Como é, Sam! Você vem ou não?! Já perdemos o dia com esse aí e precisamos encontrar o tal do Tanaka.

- Tanaka San? – O menino vislumbrou uma oportunidade.

- Você conhece o Sr. Tanaka? - Samuel deu corda.

- Sim, senhor! - o menor abandonou seus ares melancólicos e sorriu com um brilho no olhar que deixou Dean arrepiado. – Posso levá - los até ele agora mesmo.

- Ótimo! –Sam ergueu - se e já ia em direção à porta.

- E isso só vai lhes custar vinte dólares!

- Vinte o quê?!!! - Dean deixou a bolsa cair e foi impedido de avançar pela mão do irmão espalmada em seu peito.

- Calma, Dean! O que são vinte pratas se a gente economizar horas de busca e uma grana de subornos, hein? Afinal, o garoto tem que sobreviver. E aí? - acenou para que o menino os seguisse.

O mais velho respirou fundo, passou a mão pelo rosto, apanhou as coisas do chão e desceu atrás dos dois resmungando.

De volta ao Chevy, a tarde findava e a confusão de gente, sons, aromas e cores ganhava agora a iluminação dos letreiros decorados por lâmpadas coloridas.

Mais uma vez, seguiram a orientação do menino até uma esquina onde havia um herbário ao lado de uma pequena loja de antiguidades orientais.

Sam saltou e seguiu na direção da loja,deixando seu irmão e o garoto no carro.

- Vocês são mesmo irmãos? – o garoto arriscou uma pergunta.

- Somos. – Lacônico, Dean respondeu.

- Do mesmo pai e da mesma mãe?

- Claro! - Dean observava agora a criança pelo espelho retrovisor – Por que a pergunta?

- Nada... Só que vocês são muito diferentes. Não parecem irmãos. - Entrou numa falação desenfreada - Pensei que irmãos fossem parecidos. Pelo menos os que eu conheço são. Não só fisicamente, mas ...

- Claro, você está acostumado com esse monte de chineses que, como você, são todos iguais, então...

- Eu sou coreano, senhor. Coreano, não chinês ou japonês.

- Ah...Grande diferença! – o rapaz debruçou o braço no banco voltando - se para o garoto.

- Tem muita diferença, se quer saber! – O menino mostrou - se indignado.

- Todos têm olhos puxadinhos e esse cabelinho liso. É tudo igual...

- A diferença, senhor, está na origem, nos costumes, nas tradições, entende? – O pequeno Chang decidiu parar sua palestra sobre as diferenças étnicas e culturais ao perceber a cara de desinteresse do mais velho. – Não. É claro que não entende... – voltou a ajeitar - se no fundo do banco, cruzando os braços sobre o peito.

- Está bem, Sr. George Washington Chang Coreano, não precisa ficar chateado. Só não me prendo muito nesses detalhes.

Silêncio. Dean ajeitou o corpo no banco do carro e parecia incomodado. Virou - se e revirou - se algumas vezes. Sentia - se imensamente desconfortável no abismo daquele silêncio que se fez dentro do Impala.

Logo adiante, na esquina, Samuel verificou que o antiquário estava fechado e decidiu entrar na pequena loja ao lado e tentar obter informações. Havia centenas de ramos de ervas e flores secas amarrados por todos os cantos. Uma enorme estante de madeira cobria toda a parede do fundo, exibindo uma infinidade de frascos de variadas formas, cores e tamanhos. Num canto da loja havia uma porta estreita com uma cortina de cristais coloridos que não permitia uma boa visão do outro cômodo, mas alguém lá dentro percebeu sua chegada. Um rapazote oriental, usando uma camiseta preta dessas de bandas de rock apareceu e saudou - o com um sorriso simpático.

Alguns minutos mais tarde, o jovem Winchester retornou ao carro trazendo consigo um pequeno embrulho. Entrou e passou a desembrulhar o pacote que o Sr. Tanaka havia deixado para eles há dois ou três dias. Dean observava o irmão sem entender muito bem o que se passava. Dentro do pacote, uma caixinha com flores - de - lótus secas e um frasco com uma espécie de óleo. Sam retirou a rolha e cheirou o conteúdo.

- É óleo de sândalo. – encarou o irmão – Mas por que o homem nos deixaria flores - de - lótus e óleo de sândalo?

- Não olhe pra mim, nem o conheço! - Dean pegou o vidrinho do irmão e aproximou - o das narinas - O que o cara disse?

- Que o Sr. Tanaka não aparece por aqui há dois dias, pelo menos. - Colocou o frasco de volta na caixa.

- E onde anda esse Tanaka, afinal?

- Parece que ninguém sabe... - Samuel levantou os ombros - O funcionário da loja ao lado tem as chaves e está acostumado a abrir todos os dias para fazer a limpeza. Disse também que, às vezes, o Sr. Tanaka sai para meditar e fica fora alguns dias.

- Mas se o sujeito estava pensando em sair de férias, por que nos chamar, então? E pra quê ? Não entendi...

- Bem, - Chang tomou a palavra - Se me derem as minhas vinte pratas, vou cuidar da vida. Acho que não há mais nada pra eu fazer aqui, certo?

- Pague o garoto, Dean.

- Eu? Você fez o trato com ele. Pague você!

- Eu estou sem nenhum, Dean... Pague o garoto e deixe de ser chato.

Dean retirou a carteira do bolso e entregou duas notas de dez ao menino.

- Se precisarem de um guia ou um intérprete – O garoto voltou - se para o caçula - Sabem onde me encontrar. – Saiu e bateu a porta do carro - Mas isso vai lhes custar mais vinte paus.

Sam sorriu e sacudiu a cabeça, dando esperanças ao pequeno de um reencontro em breve.

Dentro do automóvel, à beira da calçada, ambos os irmãos estavam meio sem rumo, cansados da viagem e do dia estafante. Decidiram consultar o mapa da localidade e encontrar um lugar para ficar. Porém, antes, precisavam voltar à casa do Sr. Tanaka e verificar se ele realmente não estava lá. Por um instante, o comentário que Dean fizera pela manhã não saía do pensamento de Samuel: e se o homem estivesse lá preso, ferido, ou pior, morto? A angústia da dúvida crescia no mais jovem enquanto tomavam o caminho de volta ao início daquele dia tumultuado.

***


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