Cap 1

 

Medidas para as últimas horas.

 

 

 

Chovia.Enquanto escutava o que o médico a sua frente dizia,o rapaz de cabelos negros e rebeldes observava a janela da sua cadeira,sem necessáriamente estar olhando para nada.As gotas de chuva que escorriam pelo vidro lembravam lágrimas.

 

Mas no seu rosto não havia nada.Somente o olhar seco e vazio.

 

- Quanto tempo eu tenho?

 

- Isso é muito relativo,Uchiha-san.Conseguir um transplante pode ser demorado devido as compatibilidades entre os órgãos mas com o tratamento...

 

- Qual o tempo máximo sem o tratamento?

 

- O tratamento é fundamental para...

 

- Quanto tempo? – interrompeu seco,deixando bem claro que não era a opinião dele que contava ali.

 

- Um ano e meio talvez..pelo estado avançado...

 

Ele desviou o olhar pra janela novamente.Não porque não tinha coragem de sustentar o olhar do médico diante daquela trágica notícia,muito menos porque queria chorar,olhou apenas por olhar,por que a chuva lá fora talvez chamasse mais atenção do que aquela conversa.Por dentro,ele não sentia nada.Talvez estivesse chocado,ainda entorpecido,ainda não tivesse acordado para o fato.O médico,sensível,notou sua frieza e o chamou.

 

- Uchiha-san?

 

O rapaz voltou a olhar pra ele.Não havia nenhum sinal de aflição no seu rosto.Isso o assustava.Em casos assim,as piores reações eram essas.

 

- O senhor está bem?

 

- É claro. – disse levantando-se.O médico o acompanhou com o olhar,procurando confirmar a resposta no seu olhar.

 

- Sinto muito,Uchiha-San.

 

- Obrigada Dr. Otori. – ele respondeu,ignorando as últimas palavras dele.Fez uma educada reverencia e saiu da sala,tão mudo e frio quanto entrou.

 

Ao sair,notou que a chuva caia mais forte do que parecia dentro da sala.Abriu um guarda-chuva preto,que combinava impecavelmente com sua roupa,o terno preto e o casaco que ele por sorte usava.Caminhou até o carro e dirigiu silenciosamente até em casa.

 

Mais tarde,quando sentou-se no escritório olhou novamente os exames que tinha feito.Não entendeu nada.Mas entendeu bem quando o médico disse que ele ia morrer.

 

Era estranho que ele lidasse com aquilo com tanta frieza,era estranho que não conseguisse se desesperar,nem mesmo chorar.

 

- É o fim da linha pra você Sasuke. - ironizou,dobrando os exames de qualquer jeito.

 

O tom sarcástico e cínico dele talvez revelasse que ele estava sim sentindo alguma coisa.Mas tal coisa não era medo.Ele sentia mesmo era raiva.Uma vida toda em que ele nunca tinha perdido pra nada nem pra ninguém,e agora ele tinha que se conformar em perder pra morte.Era muito pouco pra ele.

 

Guardou a papelada rapidamente,assim que pode ouvir Sakura cantarolar seu nome,anunciando de modo nada discreto que tinha chegado.Ela logo apareceu na porta,sorridente.Sasuke gostava de ver ela sorrindo.

 

- Sasuke-kun,amor ! – exclamou,eufórica.Parecia que eles não se viam a anos,quando tinham se encontrado na noite anterior. – Senti saudade...

 

Ela se aproximou disposta a lhe presentear com infinitos beijos,mas Sasuke escorregou,desviando.Estava estressado demais.Gostava de quando ela sorria,aturava quando ela falava demais,sentia-se por vezes responsável por Sakura.Mas não amava ela.

 

 

Mas Sakura o amava tanto,e sua paixão era tão firme e desenfreada que ela fingia não notar nada disso e amava pelos dois.O que era um tanto conveniente pra Sasuke,um homem com uma mulher fiel é semre muito bem visto no ramo em que ele trabalhava.Era conveniente também porque ,acredite ou não,ele tinha mais espaço estando os dois juntos do que quando estavam separados e ela nunca se cansava das investidas.

 

 

Ele tinha sido vencido pelo cansaço.Eles “namoravam” há quase 3 anos,e ele só usava essa palavra por não encontrar outra pra designar o relacionamento deles.Ela estranhou a atitude dele.Estranhou demais,e logo a preocupação se instalou em seu peito.

 

- O que aconteceu?  -perguntou ,indo atrás dele.

 

- Nada. - ele respondeu tranquilamente

 

- Você me evitou. – retrucou,inclinando a cabeça pra tentar fazê-lo olhar pra ela.

 

- E daí?

 

Ela segurou a mão dele quando ele foi pegar o drink que tinha preparado,forçando-o a olhar pra ela.Ele odiava discutir relação,e ela sabia,portanto ele não entendia porque ela estava insistindo naquilo.

 

- Hoje não Sakura. – tirou as mãos dela do copo,com a voz cansada.

 

Geralmente era o suficiente pra que ela se calasse.Sakura evitava ao máximo irritar Sasuke,porque era ela quem mais sofria em estar longe dele.Mas naquele dia alguma coisa estava estranha .

 

- Só me fala se aconteceu alguma coisa.

 

- Não aconteceu nada.

 

- Sasuke...

 

- Mas que droga!Quer me deixar em paz?!Pelo menos uma vez.

 

Ele se arrependeu no mesmo momento.Quando os olhos verdes dela se arregalaram daquele jeito que ela fazia quando ela dava um fora mais pesado nela.Mas não tinha mais volta,e mesmo se tivesse,ele tinha certeza de que faria a mesma coisa,então não estava tão arrependido assim.Mesmo assim não era justo.Ele estava estressado e não tinha o direito de descontar nela.Evitou olhar enquanto ela ficou parada remoendo a situação.

 

- Eu vou deixar você sozinho. – ela disse,baixo.provavelmente tentando disfarçar a voz embargada.

 

Sakura saiu assim que seus olhos encheram demais de lágrimas.E Sasuke ficou como queria.Sozinho.

 

Ela tinha ido,e era melhor assim.Depois de tanto tempo ele tinha se acostumado com a presença dela,e não queria ver ela sofrendo.Imaginou também como ela ficaria no seu pé caso soubesse o que estava acontecendo.Sakura não deveria saber.

 

Mas não se animou.Ela voltaria.Porque ela sempre voltava.Sasuke pensou na melhor maneira de fazer isso acontecer de modo indolor para todos.Não veio a sua cabeça nenhum método melhor de evitar que ela soubesse senão se afastar.

 

Afinal de contas,ele estava decidido.Ninguém deveria saber.Ele morreria assim

como viveu.Sozinho.

 

---/---

 

- Quero a vaga Kakashi.

 

Ele levantou o rosto do livro que lia confortavelmente.Tinha uma aparência sempre cansada,apesar de a maioria das vezes estar mais disposto do que qualquer um.Analisou Sasuke por alguns segundos,dando a impressão de que ele não tinha notado a entrada dele na sala.

 

- Como é ?

 

- Quero a vaga. – Sasuke repetiu decidido. – para a transferência.

 

Kakashi se acomodou melhor na cadeira,procurando uma resposta boa o suficiente.Sasuke não deixou de encara-lo nem um minuto.

 

- Olha,eu não estava pensando em dar essa vaga a você.

 

- Porque não? –indagou,tentando não transparecer o aborrecimento por ter recebido uma resposta negativa. – Sou o melhor daqui.

 

Justamente.Bom demais pra se perder.Preciso de você aqui,ok? – ele disse,voltando a ler o livro,um sinal de que tinha dado o assunto por encerado.

 

Ele se concentrou no livro esperando que assim Sasuke saísse,mas o rapaz continuou em pé na sua frente,como um soldado em frente a seu comandante.Passado algum tempo em que Kakashi não mudou de idéia,Sasuke se debruçou na mesa,e puxou o livro das mãos do homem,deixando claro que a conversa não tinha terminado e que ele estava disposto a brigar pela vaga.

 

- Kakashi eu não estou brincando.Quero a vaga.Preciso dela.

 

- Porque?qual seu grande interesse nela,não é melhor que seu emprego aqui.Quero um bom motivo.

 

O rapaz desviou o olhar e se afastou da mesa.Passou a mão pelos cabelos,nervoso.Kakashi estranhou,conhecia ele a muito tempo pra saber que poucas coisas deixavam Sasuke naquele estado de nervos.

 

Ele percorreu alguns círculos dentro da espaçosa sala,despertando curiosidade dos funcionários do lado de fora.Fechou violentamente as persianas,assustando quem estava do outro lado.

 

- Toma. – retrucou,jogando sobre a mesa um papel dobrado que tinha tirado do bolso interno do paletó.

 

- O que é isso? – Kakashi perguntou,enquanto ainda analisava superficialmente.

 

-São exames.Meus exames.  –  disse.Kakashi o encarou buscando uma explicação mais detalhada sobre. – Aí diz que eu vou morrer.Por isso quero a transferência.

 

Franzindo o cenho,ele analisou novamente o exame.Uma série de termos desconhecidos,com uma série de números e medidas que só um médico entende.Olhou novamente pra Sasuke,que agora tinha parado numa estante perto da mesa.Tentou ver se ele mentia,mas seu olhar não revelava nada que indicasse que era uma brincadeira de mau gosto.

 

- Você está falando sério? – perguntou,atordoado.Sasuke lançou um olhar aborrecido de esguelha como resposta.

 

Ele voltou a olhar o exame.

 

- O que você tem?

 

- Parece que é uma insuficiencia  – disse sem muita emoção.

 

- Mas e tratamento?Você deveria consultar outro médico.Falou com a Sakura...ela pode ajudar e...

 

- Não há tratamento eficaz.E  eu não quero que Sakura saiba.Essa conversa fica aqui. – ele disse,apontando para o chão. – Ninguém  deve saber.

 

 

Kakashi ficou infinitos segundos encarando o exame.Naquele momento era difícil acreditar que era verdade.Conhecia Sasuke há anos,tinha se afeiçoado a ele.Acostumado com seu jeito sério,era dificl ver alguém que você conheceu adolescente morrer assim,de uma hora pra outra.

 

 

E mais incômodo ainda era ver como Sasuke lidava com a situação.Com a costumeira frieza no olhar.não entendia como ele podia estar tão conformado com uma morte anunciada.

 

 

Ergueu os olhos do exame pra encarar o rapaz,que tinha caminhado até o outro lado da sala e olhava placidamente a paisagem lá fora.

 

- Sasuke...

 

- Só quero a transferência. – interrompeu,imaginando o que ele diria.Achou que não iria suportar sem uma explosão outro “Sinto muito” – não quero sua piedade ou algo assim.

 

- Você quer fugir?Da Sakura é isso?

 

- Eu só quero morrer em paz.E sozinho.

 

Kakashi respirou fundo.Dobrou novamente o exame e o entregou a sala.Depois pensou mais alguns segundos e concluiu.

 

- Tudo bem.vou respeitar a sua vontade.

 

Sasuke saiu da sala satisfeito.Conseguindo a transferência já era meio caminho andado pra o que ele pretendia fazer.Naquele mesmo dia,sozinho no silêncio da noite,ele planejou todos os passos a caminho de sua morte,já que ela era mesmo inevitável.Fez isso com uma frieza ímpar,o que pode assustar a muitos,mas não conseguia assustar a ele próprio.

 

O primeiro passo era conseguir a transferência. Assim,ninguém saberia do seu estado,as pessoas tendem a ficar curiosas se um companheiro de trabalho passa a faltar com freqüência.Em uma cidade nova,ele podia perfeitamente se passar por um funcionário folgado,que faltava horrores.

 

A cidade pra qual a vaga era oferecida nem de longe era tão grande quanto essa.Definitivamente,não fazia o estilo dele,e as pessoas que eram transferidas pra lá eram,geralmente,funcionários que queriam um pouco menos de estresse,e que a companhia mandava pra lá para evitar a aposentadoria.

 

Mas o cargo era o mesmo e o salário era bom.Era isso que verdadeiramente importava.Aceita a proposta ele matava vários coelhos com uma cajadada só.

 

Matava inclusive seu relacionamento com Sakura.

 

- Alô!?Sasuke!?Adoro quando você me liga! – exclamou,apontando para o próprio telefone enquanto ria desdenhosa pra amiga a frente,que revirou os olhos diante da provocação.

 

- Onde está?  - perguntou do outro lado da linha,sem corresponder a animação dela.

 

- No hospital,onde mais?

 

Sakura era residente.E isso ajudava um pouco.Com tanto tempo gasto com os estudos e o trabalho,ela não tinha o tempo todo livre pra ficar com ele.Ficava muito mais fácil namorar ela assim.

 

- Você vai sair em que horário?

 

O sorriso dela,estampado no rosto desde que ele tinha visto quem ligava,foi diminuindo aos poucos.

 

- Aconteceu alguma coisa?

 

- Não.Porque.

 

- Você nunca me liga esse horário.

 

Sasuke fez uma careta do outro lado.Olhava a foto que ela tinha dado a ele de aniversário de namoro enquanto falava com ela.Ficou alguns minutos pensando em como diblar a sentença dela.Era verdade.Ele nunca ligava mesmo naquele horário.Mas nunca achou que ela fosse notar.

 

- Só tive tempo agora. – respondeu imparcial,tomando cuidado pra não parecer impaciente.  – Então que horas você sai?

 

- As nove,eu acho.

 

- Pode me ligar quando for liberada?Quero falar com você.Vamos jantar.

 

- Claro.Onde vamos jantar? – perguntou,tentando despertar atenção da amiga novamente.

 

- No lugar de sempre.

 

- Tudo bem então! – cantarolou,mais feliz do que queria manifestar. – Até logo amor.

 

Sasuke não estranhou o “amor” porque sabia que ela sempre fazia isso quando estava perto de Ino.As vezes Sakura podia ser bem infantil.

 

- Nós vamos jantar.

 

- Eu ouvi. – a moça retrucou,engolindo outra porção. – não precisa ficar repetindo.

 

Sakura sorriu,os olhos verdes brilhando.

 

- Não me leve a mal,Ino-chan.Gosto de ver você com inveja de mim e do meu – fez uma pausa dramática. – sólido relacionamento com o Sasuke.

 

Ino largou tudo que estava fazendo.Inclinou um pouco a cabeça apoiando o rosto bonito nas costas das mãos.Tinha os olhos azuis,o rosto bonito e uma vasta cabeleira loira presa num rabo de cavalo,com exceção da franja,que caiu nos seus olhos quando ela inclinou a cabeça pra encarar Sakura.

 

- Relacionamento sólido?! – ela repetiu cheia de ironia. – Você sabe o que eu penso sobre o Sasuke e você.

 

- Pensa isso porque queria estar com ele e veja só.Quem está sou eu.

 

- Quero alguém que me ame,Sakura e o Sasuke não ama ninguém.

 

Sakura amarrou a cara.Não gostava que ela falasse do seu relacionamento daquele modo.Ela obviamente não entendia Sasuke,ele era apenas...reservado.

 

- Sabe que eu não me importo com o que você diz não é?

 

Ino deu de ombros,e qualquer um que passasse pela mesa pensaria que elas se detestavam.Mas Sakura e Ino mantinham uma saudável relação de amor e ódio.Mais ódio que amor.

 

No entanto,o amor é assim.Pode ser manifestado de diversas formas,tanto na amizade quanto no amor.

 

Sasuke amava Sakura.Tinha pela noção da sua estima por ela.Ela esteve com ele sempre,quando ele precisava ou não.Muitas vezes,ela tinha sido a única coisa que segurava a sua antipatia com o mundo.Ao menos ela era a única que conseguia fazer com que ele se sentisse culpado.

 

Ele olhou de novo a foto.Gostava dela.De verdade.Mas como explicar isso?Sakura não o fazia vibrar.Ele não conseguia deixar de pensar que quando estava com ela,estava com alguém que considerava uma amiga.Uma fonte de proteção.Ele se preocupava com ela,mas amor mesmo.Daquele que leva as pessoas a fazerem loucuras...desse jeito ele não amava Sakura.

 

 

Sinceramente ele não sabia o que era amor.

 

Jogou a foto dentro da mala semi pronta e esperou que ela ligasse.Já estava decidido,e como tinha combinado partiria na semana seguinte e ficaria lá até que as coisas fossem oficializadas.Sakura ligou assim que saiu do trabalho,e depois novamente,alegando que precisava de mais tempo pra se arrumar.

 

Em casa,ela delineou os olhos verdes,que tinham um ar constantemente atrevido.Ajeitou o corte moderno que usava nos cabelos rosas,curtos e bem fácil de usar.Vestiu quase todas as roupas do guarda roupa até se decidir pór um vestido preto.Sem decote.Como ela mesma dizia : “não tinha muito peito.”

 

- Como estou? – perguntou animada quando finalmente se encontrou com Sasuke.

 

- Bem.

 

Ela não manifestou o quanto não gostou da resposta.Sabia que Sasuke não era do tipo que se derretia em elogios antes mesmo de começarem a namorar.

 

Sasuke achou melhor não falar logo de cara,então eles jantaram e falaram sobre coisas do dia a dia.Quer dizer,ela falou muito mais.Quando o jantar já tinha sido servido e ela estava na sobremesa,ele achou que não deveria mais enrolar.E achou a brecha perfeita quando eles ficaram em silêncio,depois de ter esgotado os assuntos.

 

- Sakura eu fui transferido. – ele começou,direto,despertando a atenção dela.  - Para outra cidade.

 

Ela pareceu instantaneamente chocada.A boca ficou entreaberta e a colher flutuando na sua mão.

 

- Como assim?Porque?

 

- Kakashi me tranferiu ontem.Vou daqui a dois dias.

 

- Pra onde?! – ela exclamou,o tom de voz se tornando nervosa.

 

- É uma cidade pequena...longe daqui.

 

Sakura encarou a sobremesa,derretendo.Desolada,ela parecia não encontrar palavras pra dizer.

 

- Eu ...posso tentar conseguir uma transferência também.

 

Sasuke suspirou,deixando Sakura visivelmente preocupada.Sentiu seus olhos começarem a arder ao imaginar o rumo que a conversa ia tomar.

 

- Eu prefiro que fique aqui Sakura.Não quero ser motivo de você largar o emprego.

 

Sakura olhou nos olhos negros do namorado procurando entender o que estava acontecendo.Sasuke sustentou o olhar,como sempre era,e ela não pode deduzir muita coisa olhando pra ele.Talvez alguma coisa.

 

- Sabe que eu largaria tudo por você.

 

- Não quero que largue as coisas por mim. – ele retrucou. – Sabe que não gosto disso.

 

Ela voltou a encarar o prato.

 

- É por muito tempo?Porque ...eu conheço muitos casais que mantém relacionamentos a distância...

 

- Sakura. – ele chamou,e ela se calou imediatamente.Não gostou do tom dele,daquela frieza incomum que ele tinha hoje.

 

No fundo ela já sabia que o estava acontecendo.Ficou óbvio quando ele não quis que ela fosse com ele.No seu íntimo,pra falar a verdade,ela sabia que tinha até demorado demais.Quando abaixou o rosto de novo,uma lágrima caiu.

 

- Vai terminar comigo não é Sasuke?

 

O silêncio foi o sim perfeito.O que doía mais nela é que ele nem ao menos parecia abalado.Só faltava o clássico “não é você,sou eu.”

 

- Vai ser melhor assim Sakura.

 

- Porque?Eu achei que...depois desse tempo todo você me amasse..

 

- Eu nunca menti pra você sobre como realmente me sentia.

 

Ela encarou ele cheia de lágrimas e amargura.Não se importou em chorar.

 

Mas ela sabia que era verdade.Nesse caso,nunca tinha sido ela,e sim ele.Por ela,eles seriam um casal feliz e eternamente apaixonados.Tinha insistido na relação,porque achava que com o tempo ia dar certo.Achou que o tempo daria um jeito e estava errada.

 

As lágrimas caíram silenciosas,apesar da enorme vontade que ela tinha de fazer um escândalo pra que ele não a deixasse.Descontava todo o sofrimento nas mãos que apertavam o vestido.

 

Sabia que não tinha volta.E discutir só faria que ela sofresse mais.

 

- Eu vou pra casa.

 

- Levo você

 

- Não.Vou pegar um táxi.

 

Ao levantar,ela esbarrou com tal força na mesa que derrubou uma das taças.Não pediu desculpas nem olhou pra trás.Parecia desorientada e sentia as pernas bambearem.Quando finalmente deixou o restaurante,soltou o choro.

 

As lágrimas tinham tirado sua visão do foco e ela fez um sinal em vão para um táxi.Sasuke suspirou.Pediu a conta assim que Sakura levantou,mas a demora no atendimento o atrasou e impediu que ele fosse atrás dela.Não era sensato deixar que ela fosse embora parecendo uma barata tonta como estava.

 

Mas quando conseguiu sair ela já tinha sumido por completo.

 

- Alôô? – disse uma voz arrastada.

 

- Sakura chegou em casa?

 

- Hã? – ela disse do outro lado,aumentando o tom de voz arrastado - Quem é? 

 

- Ino sou eu.

 

Ino passou a mão pela cabeleira loira antes de realmente entender quem era o eu.

 

- Aaah.. Sasuke-kun,você sabe que horas são?Eu estava dormindo.

 

- Me desculpe.

 

- Só desculpo porque é você... – disse,dando uma risadinha abafada. – quer falar comigo?

 

- Quero saber se a Sakura chegou em casa.Bem. – acrescentou.

 

- Ela esta viva,se é o que você quer saber.Mas não posso dizer se ela está bem. – Ino respondeu,levantando a cabeça pra ver se a luz do corredor ainda estava acesa. – o que você fez dessa vez?

 

- Era só isso que eu queria saber. – disse ignorando a pergunta dela. – Obrigado.

 

Ele desligou,mesmo ouvindo Ino protestar do outro lado.A moça ficou encarando o telefone aborrecida,como se estivesse vendo o rapaz.

 

- Ele me acorda do meu sono de beleza e ainda desliga na minha cara.Eu heim.

 

---/---

 

 

Assim,com tudo planejado,na semana seguinte Sasuke partiu rumo a nova cidade.A sua impressão,ele confessa,não foram as melhores.Pequena demais,parada demais.Mas ele estava ali a trabalho.E se fosse uma cidadela pequena com certeza não teria trabalho pra ele.Os projetos de engenharia da empresa dele nunca eram peixes pequenos.

 

Acomodou-se no seu novo apartamento,que não era tão grande quanto o outro,mas pra ele estava de bom tamanho.Pra que ele ia precisar de um apartamento enorme se ia morrer?Era uma idéia ilógica.Arrumou quase tudo no mesmo dia,já que o apartamento vinha mobiliado.Não teria tempo no dia seguinte,tinha agendado uma visita só pra conhecer onde iria trabalhar.Tinha se preparado mentalmente pra enfrentar toda a sorte de gente do mundo.

 

Mas aparentemente seu corpo não estava tão preparado quanto.Mal levantou da cama e sentiu o mundo rodar a seu redor,a tontura,acompanhada de uma dificuldade leve de respirar.

 

Fechou os olhos e tentou sentir quando o mundo retornou ao foco.Ao abrir novamente viu que nada rodava,mas ele ainda sentia uma ligeira e incomoda dor de cabeça.

 

 

- Uchiha Sasuke,prazer. – ele disse,fazendo uma leve reverência.

 

- Eu não imaginei que fosse tão jovem. – o senhor de meia-idade respondeu,dando um sorriso divertido.Era um pouco mais baixo que ele e levemente acima do peso.Parecia ser uma pessoa muito gentil.Sasuke não soube o que responder,e o senhor tratou de se desculpar. – Bom,vou apresenta-lo a todos.

 

Sasuke o acompanhou até uma sala repleta de rostos concentrados nos seus trabalhos.Mais uma vez todos os olhares se voltaram pra ele.Se apresentou formalmente e depois deixou o senhor conduzir a conversa.

 

- Espero que todos dêem o melhor de si para causar uma boa impressão da filial da empresa ao recém chegado.

 

Alguns funcionários responderam silenciosos “sim”,já outros ignoraram completamente a afirmação do senhor.Sasuke admiti.Até gostou de ver algumas caras intimidadas com ele.

 

- Sasuke-san vou apresentar ao supervisor desse setor.

 

Sasuke tornou a seguir o homem corredores,onde foi alvejado por olhares curiosos por onde passava.Não ligou.Estava acostumado a chamar atenção.O senhor entrou parou numa porta e bateu de leve antes de abrir.

 

- Neji-san.Veja quem chegou.

 

Sasuke ficou curioso pra ver o tal Neji.O tal Neji escancarou a porta,assim eles se encararam pela primeira vez.

 

Neji era alto,com um ar arrogante,parecia estar sempre olhando o mundo de cima.Tinha os cabelos escuros e compridos e olhos claros.Muito claros.Era estranho.Tinha aparentemente a mesma idade que ele.E parecia ser muito educado.Não sorriu,mas aparentemente esse era o jeito dele.

 

- Hyuuga Neji. – ele disse ,fazendo uma reverencia. – prazer.Você deve ser Uchiha Sasuke. – Ele confirmou com a cabeça.

 

- Eu vou deixar vocês conversarem. – o senhor disse animado. – tenho uma reunião.

 

Neji esperou que ele dobrasse o corredor pra abrir a porta,convidando Sasuke pra entrar num gesto mudo.

 

- Estudei o esquema daqui antes de vim. – Sasuke disse,só pra iniciar a conversa.

 

- Eu imaginei.Ouvi falar das suas proezas. – sua voz saiu irônica,mesmo que aparentemente ele não quisesse passar essa impressão.

 

Entenda que,a primeira vista Neji era tão brilhante quanto ele.Era chefe e muito jovem.Era sério e controlado,e,pelo menos a primeira vista,tinha um jeito muito parecido com o dele.Essas coisas despertam todo o tipo de interesse...rivalidade,curiosidade,admiração.

 

- Não imaginei que ia querer concorrer a essa vaga.

 

Quando Neji abriu a boca ele sentiu o espírito da rivalidade queimando no seu interior.

 

- Estava cansado de trabalhar em Tóquio. – mentiu. – não tinha porque ficar lá se posso participar de projetos maiores aqui.

 

- Mas a maioria prefere ficar lá menos assim.Você sabe,o salário....

 

- Não sou como a maioria... – respondeu,soando arrogante,mesmo que aparentemente ele também não quisesse manifestar isso. – o dinheiro não importa tanto assim.

 

Neji arqueou de leve uma sobrancelha.

 

- É sempre bom ter funcionários interessados.

 

Foi nesse tom formal,com pitadas de espetadas no ego do outro,que eles tiveram o resto da conversa.Neji mostrou a sala de Sasuke e as outras dependências da empresa,conheceu todo o resto do corpo de trabalho do lugar e finalmente foi liberado pra se organizar na nova cidade.

 

 

A essa altura já estava enxergando tudo dobrado,não sabia ao certo o que era,mas sabia que precisava ir pra casa.Ele nem tinha entendido como tinha conseguido ficar em pé.Sua cabeça parecia estar a um passo de explodir.Assim que atravessou a porta da empresa,apertou o passo pra a o carro.Quanto mais rápido chegasse em casa melhor.Mas quando começou a correr,sentiu seu corpo ficar mole e não conseguiu dar passos rápidos.

 

A dor de cabeça a apertou quando ele chegou ao carro.Doia tanto que ele mal podia ficar de olhos abertos.

 

- Merda...aqui não...aqui não. – repetiu em vão,logo constatando que não conseguiria dirigir.

 

Cambaleou até a rua e chamou por um táxi.A verdade é que ele estava fazendo sinal pra qualquer coisa a essa altura.A dor era tão intensa que tinha escurecido a sua vista.Sasuke ficou apavorado.Ele viu uma sombra de um carro parando,mas quando deu o primeiro passo pra entrar,sua vista fechou quando desligamos uma televisão.Ele só sentiu que caia.