“When you smile you knock me out, I fall apart. And I thought I was so smart.”

Querido Thomas,

Recebi a carta de sua mãe em que ela contava sobre o dia em que todos os Benedito foram para a cachoeira. Queria tanto ter estado com vocês! Sinto saudades do Vale do Café, dos Benedito, das conversas com seus tios, das brincadeiras com seus primos. Eu e sua mãe fomos muito felizes nesse Vale, foi onde tudo começou, mesmo antes de nós dois sabermos que havia começado. Então fico imensamente feliz que você também esteja vivendo momentos felizes nesse lugar encantado, que esteja criando vínculos e memórias.

Sua mãe me disse que sua coisa preferida era ver seu tio Rômulo pulando da cachoeira. Ela contou que você sorria toda vez, um riso infantil e gostoso, que dava a ela a vontade de morar no seu sorriso. E imediatamente eu entendi sua mãe. Porque quando você sorri, você me derruba, eu desmorono por completo, e rio junto, envolvido pela felicidade e inocência que fazem daquele o momento mais bonito de todos.

Antes de conhecer sua mãe eu era um homem sério, que não sabia reconhecer e valorizar os momentos bons. Quando sua mãe entrou na minha vida eu não parei mais de sorrir. E então você entrou nas nossas vidas e nós descobrimos que nosso riso poderia ser bem maior e mais completo. Você é o motivo do meu riso todos os dias. Eu rio quando penso na sua carinha expressiva - mais uma coisa que você puxou da sua mãe. Eu rio quando lembro da sua primeira palavra e do seu primeiro passinho, e das quedas que você dava até finalmente conseguir andar. Meu coração apertava e eu queria correr para lhe segurar, mas sua mãe me impedia, dizendo que você precisava aprender a cair antes de levantar. Sua mãe está sempre certa, meu filho. Mas a essa altura você já descobriu isso.

Prefiro lembrar dos seus sorrisos ao invés de pensar em todos aqueles que estou perdendo. Sei que muitos ainda virão, e eu não perderei mais nenhum, eu juro. Continue sorrindo, gargalhando, e envolvendo a todos na sua bolha de felicidade.

Quando eu olho para seu avô eu sinto que não demorarei mais a voltar para casa. É triste a despedida, mas sei que ela está chegando. Por outro lado, essa despedida me leva ao reencontro, e tenho a certeza de que irei me reerguer ao ter você e sua mãe em meus braços.

Com saudades do seu sorriso,

Papai.

A segunda carta de Darcy endereçada a Thomas chegou quase duas semanas depois, junto com uma carta para Elisabeta em que o marido contava sobre o verdadeiro estado de seu pai. Lorde Williamson não tinha mais muitos dias de vida, o médico falara algo sobre não chegar a dois meses, e Darcy estava devastado, ao mesmo tempo que tentava se apegar a ideia de rever sua família. Mais de uma vez ele lamentou não ter Elisa por perto, porque era ela quem lhe dava a força necessária, mas estava fazendo o seu melhor para manter-se firme.

Naquele fim de noite Elisabeta ninava Thomas na cadeira de balanço do terraço. A lua nova enfeitava o céu e o vento bagunçava os cabelos do bebê que dormia tranquilo. Acariciou o rostinho do filho e pensou em Darcy. A saudade que sentia dele era esmagadora em momentos como aquele. Todas as noites sem Darcy eram solitárias, mas aquela em especial era mais. Elisa sentiu vontade de chorar e finalmente se entregou às lágrimas. Sabia que precisava contar a Darcy, sentia com cada célula de seu corpo, mas não queria fazer por uma carta que demoraria para chegar até ele, e mais ainda para a sua resposta chegar até ela. Não queria que o conteúdo antecipasse sua volta, principalmente diante dos últimos dias do Lorde. Mas a senhora Williamson sabia que estava sendo injusta, Darcy merecia saber. Sentia como se tivesse traindo o marido ao guardar um segredo como aquele. Dona Ofélia já estava desconfiando e Cecília quase deu com a língua nos dentes mais de uma vez. Em breve não teria mais como esconder.

Elisabeta levantou com o filho no colo e o colocou em sua cama. Beijou sua testa e sussurrou em seu ouvido. Quando as letras começaram a surgir no papel, Elisa soube que sua vida estava prestes a mudar, mais uma vez.

Querido Darcy,

Eu sinto muito por seu pai. Espero que essa carta o encontre em paz, independente do que aconteça E não importa qual seja o sentimento que lhe preenche nesse momento, eu o sinto daqui. Eu estou com você. Segurando sua mão, massageando seus ombros para dissipar a tensão. O que você sente, eu sinto. E sei que é recíproco. E é por isso que sinto que preciso lhe contar algo. Eu guardei isso para mim por muito tempo, porque não queria que antecipasse sua volta ou nublasse qualquer circunstância que se fizesse presente aí em sua casa. Mas eu não consigo mais guardar isso de você.

Meu amor, temos outro bebê a caminho. Eu descobri algumas semanas após a sua partida e guardei esse segredo comigo até quinze dias atrás, quando Cecília desconfiou e me fez falar com Rômulo. O bebê de Mariana está para nascer e dona Ofélia não cansa de repetir que logo teremos outro nascimento na família porque “alguém” já está providenciando. Na verdade está bem óbvio e sei que no fundo todos já perceberam, mas eles entendem que eu preciso desse espaço. Eu queria que você fosse o primeiro a saber, mas as circunstâncias dificultaram o andamento do plano. Então eles decidiram respeitar o meu tempo, e tenho certeza de que todos irão fingir surpresa quando eu contar amanhã após o almoço. Menos Lídia, ela realmente não notou nada.

Eu preciso de você aqui, para contarmos juntos a Thomas. Eu jamais faria isso sem você. Então quando a barriga começar a crescer demais eu acho que simplesmente vou dizer que engoli uma melancia, mesmo sabendo que ele não aceitará fácil essa explicação, nosso filho é inteligente demais.

Não se preocupe, ele tem cuidado muitíssimo bem de mim. E tenho certeza de que cuidará ainda mais depois que souber que tem um irmãozinho a caminho. Ele já está correndo, você irá perceber assim que chegar e ele literalmente correr para seus braços. Novas palavras também compõem o vocabulário agora e ele não dorme sem que eu fale de você.

Nós sentimos a sua falta. Nós três. Volta logo para casa, meu amor. Eu tenho um filho nosso nos braços e outro no ventre e ainda assim não me sinto completa, está faltando um pedaço.

Espero que essa notícia ajude a melhorar seu dia e lhe dê a força que você precisa no momento. Amamos você, papai.

Sempre sua,

Elisabeta B. Williamson