Ordem e Liberdade - As Primeiras Memórias escrita por Lady Chiris


Capítulo 1
O Começo de uma Vida Perfeita?


Notas iniciais do capítulo

Olá para você que caiu de paraquedas!
Sinceramente, estou buscando palavras para escrever aqui, mas não tenho nenhuma, por isso não foi enrolar aqui.
Desejo que você curta a história e siga comigo nessa aventura.



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                E aqui estou eu, deitado e rodeado de pessoas, no emprego no qual eu considerava o melhor do mundo. Agora, depois de ouvir as instruções tenho minhas dúvidas sobre isso. Na verdade eu começo a me questionar se eu não havia caído em uma armadilha ou se estou fazendo algo ilegal no qual poderia ser preso. E tudo isso começou de uma maneira ingênua, na busca de um emprego e a vaga dos sonhos.

                Encetou na busca de um emprego. Confesso que sinceramente é uma busca difícil, pois todos os empregos parecem entediantes, braçais ou inteligentes de mais para mim. Eu sei, sou um cara complexo. Ou, quem sabe, eu seja um cara fora do meu tempo. Hoje a ciência e tecnologia dominam praticamente todos as áreas. Entenda, não tenho nada contra a tecnologia, muito pelo contrário, acho muito útil. Conectar suas músicas do celular para o carro via bluetooth, traduzir textos tirando uma foto e ter todos os seus arquivos virtuais em uma nuvem são coisas incríveis e o cara que pensou e fez tudo isso é um verdadeiro gênio. Contudo, com toda certeza, eu não sou o tipo de cara que pensa ou cria esse tipo de coisa.

                Então se não for isso, também existe a classe operária, o que também não é pra mim. Novamente, nada contra aos trabalhadores de braços fortes, mas para mim é um trabalho sem grande objetivo ou expectativa, apesar da minha mãe insistir de que o importante é a expectativa e sim ter o dinheiro no final do mês.

                No meio da minha adolescência, naquele período onde você começa a se preocupar o que quer ser no futuro, desejei ser escalador. Isso sim eu faço muito bem. Verdade seja dita, meu sonho de vida é ter uma vanzinha e viajar pelo mundo escalando todos os lugares possíveis. É claro que minha mãe foi totalmente contra. “-Talvez mais tarde, quando você tiver dinheiro para bancar suas aventuras.”. Fracamente, na realidade que vivemos hoje, nesse mundo competitivo, quando eu conseguir essa grana, já serei muito velho para escalar o mundo a fora. Isso se eu conseguir juntar essa grana. De qualquer forma, decidi ir pelo mundo dos esportes como carreira de vida. Tenho que te dizer, não há nada que eu ame mais que escalar. Me pendurar em qualquer coisa que puder agarrar. Nenhum telhado é tão alto que eu não possa alcançar, nenhuma parede é tão íngreme ou reta demais para ser subido. Nenhuma montanha é tão selvagem que não possa ser domada.  Quando tive idade, peguei bicos em supermercados, padarias e postos de gasolina para fazer cursos de guia, escalada em rochas e acessos por corda. Gostaria de ter feito escalada na neve, mas isso requer que eu saia da minha região, já que aqui não neva. Depois de completado os cursos e com muito custo consegui trabalho de guia turístico em um parque nacional perto de minha cidade. O trabalho consistia de as vezes apenas levar os turistas pelas trilhas para chegar em alguma paisagem, como uma cachoeira por exemplo ou ser instrutor de escaladas nas pedras.  Não era ainda meu trabalho dos sonhos, mas era legal e dava uma graninha em certas temporadas. “ – Mas você não pode ter temporadas de dinheiro, David, precisa ter dinheiro o todo o ano.” – como minha mãe gosta de dizer e com passar de alguns anos eu vi que ela tinha razão. Eu já estava chegando aos 30 anos e mesmo depois de todos esses anos não ganhei nada além de uns trocados e um pouco de diversão. Foi ai que decide procurar um emprego de verdade, como a minha mãe vive repetindo. Mas quais chances eu poderia ter, alguém que não sabia nada além de subir pedras e paredes? Eu não tinha muitas expectativas.

                Foi ai que encontrei a grande vaga, a vaga dos sonhos. A oportunidade de ouro. A Haramovinik Corp. estava contratando para uma vaga experimental como auxiliar de pesquisa. Hanamovinik, simplesmente a maior empresa de tecnologia e pesquisa que conheço. Não há nada no ramo da ciência e tecnologia que eles não pesquisem. Parece que eles querem descobrir todos os segredos que existam no mundo, descobrindo curas e novas tecnologias. Eles, com certeza, eram a empresa que evoluiu o mundo aos empurrões e pontapés. Isso, obviamente, não trazia apenas admiradores, mas também opositores ideológicos, concorrência e muitas e muitas teorias da conspiração. A corrida pelo saber da empresa incomodava até mesmo os religiosos que argumentavam que certos segredos deveriam ser mantidos ou que ninguém deve brincar de deus como Hanamovinik gostava de fazer. Isso surgiu quando saiu algumas teses de como o mundo foi feito, os primeiros seres humanos e essas coisas. Alguns outros alertavam sobre a falta de escrúpulos que a empresa tinha em suas pesquisas, onde ela não poupava recursos, até mesmo os naturais, animais e humanos para seus experimentos. Uma vez ou outra sempre saia notícia sobre pesquisas e experimentos hediondos, absurdos ao meu ver, envolvendo a empresa. Apesar de nada ter sido de fato comprovado.

                Decidi ir pelo maldito emprego. Hanamovinik sempre contratou pesquisadores, médicos, físicos, químicos, todos de renome e com extensa formação, mas desta vez a oportunidade era para qualquer pessoa, independentemente da sua formação ou experiência. Sem dúvida a vaga de ouro, para quem a conseguisse. Quando compartilhei aquilo com a minha mãe, achei que aquela senhora pularia estalando seus chinelos no chão e quicando seus quilinhos a mais debaixo daquela roupa velhinha que ela gostava de usar para fazer faxina, recebendo uns beijinhos quentes na bochecha e testa que só uma mãe sabe dar. Para minha decepção ela me olhou incrédula.

                - Hanamovinik Corp.?

                - Sim, a grande Hanamovinik Corp. Pelo amor de Deus, mãe, a senhora tem que ter ouvido falar deles.

                - Mas é claro que já ouvi, o que está pensando? – perguntou num tom ríspido e depois foi para o tom preocupado. – Mas, querido, você já ouviu todas as acusações que já fizeram sobre essa empresa. Filho, eles não me passam confiança. Essa gente cheia de dinheiro, aquelas notícias...

                - Nossa, mãe! Você acredita em tudo que escuta! Você queria que eu arranjasse um emprego de verdade, não é? Ai está, uma vaga de verdade, numa empresa de verdade, com um salário de verdade.

                Minha mãe não parecia convencida. Aliás, parecia um pouco atordoada. Sinceramente eu não entendia aquela mulher. Mesmo assim eu tenho muito carinho por essa senhora e tentei tranquiliza-la.

                - Mãe, olha, isso aqui ainda é só uma vaga e ainda tenho que fazer uma entrevista. Pra uma vaga como essa, pra uma oportunidade como está, será bem disputada.

                Se minha mãe torceu para que eu não conseguisse a vaga, olha, ela fez isso com todas as suas forças porquê de fato muita gente foi para aquela entrevista.

                A entrevista foi em uma sede da própria Hanamovinik, um prédio contemporâneo de formato irregular, de paredes espelhadas de cor fumê. Em volta do prédio um extenso gramado verde com arvores e bancos com arco de plantas trepadeiras e flores criando uma proteção natural para o sol. Já dentro do prédio tudo era tão branco e limpo que chegava a doer os olhos. As paredes, que por fora eram apenas espelhos, dentro dava a visão de todo o lado de fora. Todos, do faxineiro até qualquer um daqueles caras que usavam jalecos ou ternos finos eram tão educados e pareciam tão felizes de estarem trabalhando ali que dava vontade de fazer parte de tudo aquilo ali. No mínimo havia umas 100 pessoas ali para serem entrevistadas. Ainda não sabíamos a quantidade de vagas ou exatamente o tipo de serviço que faríamos. Fomos todos reunidos num auditório circular onde a cada fileira de cadeiras ficavam um degrau mais alto em relação ao púlpito e ao quadro branco. Uma linda mulher alta e pele clara usava um jaleco que provavelmente fora feito sobre medida, pois contornava perfeitamente suas curvas do dorso. Por baixo do jaleco usava uma camisa social branca, saia lápis preta e sapatos scarpin da mesma cor. Mantinha uma postura ereta e elegante que a tornava ainda mais sedutora. Seu rosto tinha traços lindos, pequenos olhos verdes por trás das lentes do óculos, nariz e boca pequenos, sendo pintado com um batom rosa claro que realçava ainda mais seus olhos. Foi ela quem explicou o que era a vaga e como seria o processo seletivo. Em resumo, a vaga era um novo processo criado pela própria empresa de identificar novos talentos ainda não descobertos. Eles acreditam que grandes pessoas passam por essa terra e morrem sem ao menos conhecerem seu potencial, seja por falta de incentivo, falta de conhecimento, experiência ou educação. Todos ali passariam por um exame neurológico onde nossas mentes receberiam estímulos auditivos e as ondas cerebrais mostrariam se ele é um talento em potencial. Claro que ela explicou de maneira científica, de como o cérebro funciona e essas coisas, mas sinceramente não decorei nada daquilo. Os que passassem no exame iria para a segunda etapa do processo que é uma fase de adaptação a empresa e seu funcionamento. As vagas eram ilimitadas, todos que passassem por esses requisitos seriam contratados. Bem, aquilo era bom. Aquelas 100 pessoas e não sei mais lá quantas já vieram e os que ainda virão não poderia tirar minha vaga, tudo dependia de mim e apenas de mim. Mas o que eu poderia fazer? Como era dar o melhor naquela situação? Teria como criar a onda neural que eles buscam? Obviamente era algo impossível. Depois de explicado, um documento foi passado para que nós assinássemos. Era uma autorização da nossa parte que estávamos de acordo de fazer aquele tipo de exame.

                Depois daquela sala fomos encaminhados para um outra bem maior. Na verdade ali mais parecia uma sala de pesquisas. Por toda a sala havia camas como essa que estou deitado agora, uma cama ortopédica onde fazia curvas para melhor encaixar o corpo de alumínio escovado tão bem polido que o menor toque de luz refletia como uma lanterna. No centro da cama, parecido com o formato de uma pessoa, o material não era de alumínio e sim de vidro com 6  furos, em duas filas paralelas onde sensores ligado nas máquinas na base da cama. Não havia camas para todos, por isso os testes foram feitos em pequenos grupos numa duração de 15 minutos. Se não me engano fui o segundo ou terceiro grupo a ir fazer o teste. Deitei naquela cama fria, que talvez pelas ondas ortopédicas não a tornava desconfortável, e ligaram alguns eletrodos em minha cabeça, principalmente na testa, abaixo e atrás das orelhas, nuca e o topo da cabeça. Antes de me colocarem os fones, foi explicado a única coisa que de fato eu teria que fazer durante o exame: Do fone sairia alguns tipos de sons comuns do dia a dia, da natureza e coisas do tipo e nós teríamos apenas que nos deixar levar pela imaginação. Muito parecido como aqueles relaxamentos que fazem por ai. Colocaram fones nos meus ouvidos e poucos segundo depois os sons começaram a entrar por eles. O primeiro foi o som do mar, das ondas que quebravam e batiam nas pedras. Nos primeiros segundos eu não havia percebido, porém havia um som a mais por trás do som do mar. Era um som de uma frequência, uma estática talvez, um ruidinho bem lá no fundo. Não era de ser estranhar, de fato, afinal o teste era para influenciar o cérebro de alguma forma. Por fim relaxei e fiquei prestando atenção no som do mar. Há quanto tempo não via o mar? Mal conseguia me lembrar. Agora mais relaxado, quase esquecendo que na verdade aquilo era um teste para uma vaga de emprego, nem ouvia mais o som daquela baixinha frequência. Agora só ouvia e existia o som o mar, das ondas batendo nos cacos do meu navio. Um vento forte batia em suas velas que se debatiam enfurecidas. A tripulação batia suas botas no chão de madeira, correndo de um lado para o outro, puxando cordas, descendo até os canhões, gritando xingamentos e promessas de morte. Minhas mãos, doídas e calejadas, giravam o grande leme de madeira, lutando contra as ondas raivosas, colocando o navio na melhor posição para atingir o inimigo. Aquele outro navio, de velas brancas e um grande símbolo vermelho me causava tanta ira e uma vontade ensandecida de faze-los em pedaços.

                Aos poucos o som do mar ficava cada vez mais baixo, dando espaço a som de pássaros cantando. Não sabia identificar exatamente qual ou quais espécies estavam cantando em meus ouvidos, porém era um canto muito parecido dos pássaros que vivem em áreas urbanas que enchiam os telhados da cidade. Eu sempre tomava cuidado para não espantar o bando de pássaros, afinal, se eu não quisesse chamar a atenção dos guardas eu preciso ser o mais silencioso possível. Quando eu ficava ali, olhando a cidade por cima, os telhados vermelhos, o mar ao longe no horizonte, as ruas de ladrilhos e as pessoas passeando despreocupa por elas, me abismava de como as pessoas não tinha o costume de olhar para cima, por isso ali, nos telhados, era sempre o melhor lugar para caminhar despercebido. Eu olhei para os grandes portões da cidade e desejava desesperadamente poder ver seu cavalo chegar na cidade, assim como no primeiro dia que nos encontramos.

                O canto dos pássaros foi abafado pelo som das pessoas, conversando e rindo pelas ruas. Apesar dos telhados ser um lugar mais distância dos guardas e dos curiosos, havia uma beleza em andar no meio das pessoas. Nas ruas apinhadas, dos pés calejados calçados nas sandálias  empoeiradas das ruas da Cidade Branca, muito além da pobreza e sofrimento daquela gente, eu era capaz de ver a fragilidade daquelas pessoas. Caso quisesse me misturar na multidão e enfiar minha adaga escondida debaixo da minha manga no ponto certo em suas costas, seria uma morte instantânea, sem sofrimento, sem tempo de dar um grito de dor e as pessoas só perceberiam aquela morte alguns segundos depois com o corpo já no chão envolto em uma poça de sangue. Mas caso não quisesse ser discreto, poderia puxar a espada de minha cintura e cortar do pescoço a perna. Mas eu não faria aquilo, pelo menos não com as pessoas comuns. Mas com eles e com os guardas comprados da cidade, não havia dó e nem poderia pensar duas vezes, pois um momento de hesitação pode ser o meu último. Eu tenho o dom da morte em minhas mãos, mas escolhi proteger essas pessoas da opressão e do controle e mesmo assim elas não tem noção de nada disso. Se as pessoas me verem subindo e escalando paredes, suas reações são tão diversas que podem variar entre o espanto, admiração, medo ou raiva. Fazer essas coisas é chamar a atenção e, para uma pessoa como eu, a última coisa que quero é chamar a atenção. Eu sou o escudo dessas pessoas, mas também elas são meu escudo quando preciso me esconder, me misturar entre eles para despistar qualquer perseguidor.

                O barulho das pessoas deu lugar novamente para os sons da natureza, desta vez o mais agressivo em minha opinião: o fogo. Era um som de crepitar como de uma fogueira, queimando e estalando a madeira. Eu estava correndo, meu corpo quente. Tenho que escolher com cuidado onde vou subir e me pendurar, pois toda a estrutura estava comprometida. O bafo quente dentro daquele prédio, o fogo queimando as estruturas de madeira, o arcabouço caindo e a fumaça dificultando a minha respiração. Mas nada daquilo importava. O homem, meu alvo, o alvo de minha toda minha raiva estava logo ali a frente. Eu só precisava ir um pouco mais rápido ou uma boa visão para a mira da minha pistola. Se eu o deixar fugir, todo o esforço de uma vida estará perdido. Foi para aquele momento que eu fugi, que busquei e implorei por treinamento. Foi para aquilo que fui treinado e se eu perdesse aquela oportunidade, tudo teria sido em vão.

                E enfim tudo escureceu. O barulho de terra soterrou nossa única saída daquele lugar. Sabíamos que não seria uma tarefa fácil. Aquele lugar estava em ruínas há décadas. Os poucos feixes de luz que entravam entre as pedras e terra sobre nossas cabeças iluminava apenas um buraco de poucos metros com algumas tabuas e ripas de madeiras que havia caído da estrutura acima. Olhei para ela depois do susto preocupado se ela havia se machucado. Aparentemente estava bem, batendo em suas roupas e cabelo para tirar o excesso de terra. Ficaríamos presos ali por no mínimo duas horas até que alguém do grupo percebesse nossa falta. Ah, como eu a amo. Desde a primeira vez que te vi, quando era apenas um adolescente travesso, você apareceu como uma deusa em cima do seu cavalo, com suas madeixas castanhas compridas presas em uma trança. Naquele dia você me deu um sorriso, mas logo o desfez e olhou com espanto. O que você viu em meu rosto que lhe assustou? É a mesma coisa que você vê e que te faz me rejeitar até hoje, sete anos depois? Seu rosto que parece não ter envelhecido um dia sequer. Você está me olhando agora. O que houve? Seu olhar está tão suplicante e ao mesmo tempo hesitante. O que houve? Você também me deseja, não é? É hoje, aqui nesse buraco, que você decidiu se entregar? Eu te amo tanto, tanto... O que houve? Você me ama, não é?

                Eu sinto tantas saudades de você. Eu não sabia que alguém era capaz de sentir tanta falta de alguém assim. Minha alma sempre está gritando por você. Por isso, fique comigo. Independentemente de quem eu seja agora, me encontre. Não fuja de mim. Fique. Podemos dar um jeito. Venha, corra, me encontre. Cumpra essa promessa. Me deixe ficar com você. Eu te amo.

                Eu não me lembro quando foi exatamente que o fone ficou em silêncio. Só dei por mim quando um dos instrutores do exame tirou meu fone e me olhava de forma preocupada.

                - Está se sentido bem? – ele me perguntou.

                - Eu? – perguntei de forma confusa e foi tentando focar o rosto do instrutor que me dei conta que eu estava chorando. Enxuguei as lágrimas o mais rápido possível e olhei ao redor para ver se mais alguém estava olhando para mim. Para minha surpresa todos já estavam de pé e se retirando da sala de exames. – Me desculpe, acho que relaxei demais. – não sei se isso colou, mas foi a única coisa que pensei naquele momento.

                A verdade é que eu não tinha ideia do porque eu estava chorando e, parando melhor para pensar sobre aquele exame que eu havia acabo de passar, todas aquelas coisas que pensou não fazia sentido para ele. Aquela frequência bem baixinha, quase imperceptível, havia feito aquilo, mas como? Era tudo tão vívido que pareciam lembranças minhas, porém a cada troca de som parecia se tratar das memórias de uma pessoa diferente. Pensando sobre isso agora, será que eu não fui uma cobaia desde este momento? Naquele instante eu não havia pensado em nada disso, eu só estava atordoado com a intensidade que aquilo me sobreveio.

                Com a quantidade de gente que estava naquele dia eu acreditei que a resposta do exame demoraria um pouco, mas para a minha surpresa no dia seguinte eu recebi uma ligação solicitando que eu retornasse a sede para discutirmos sobre os resultados. Dois dias depois da “entrevista” eu estava lá de volta, mas desta vez estava no escritório do senhor Sans, um homem pelos seus 45 anos, alto e moreno. Vestia um terno preto acetinado de aparência cara, gravata violeta e sapatos marrons que, pela textura, parecia couro de crocodilo. O homem tinha cabelos negros brilhantes penteados para trás com a pontas arrepiadas. O cara tinha aquele jeitão de granfino, sorrisão no rosto e carismático. Mas seus olhos castanhos eram firmes e objetivos. Ele mantinha o olhar sempre nos olhos parecendo analisar qualquer fala, movimento ou tique que eu desse.

                - Bom dia, senhor David Almassy. Meu nome é Diego Sans e sou o chefe do projeto Terveisth. Nome estranho, não? Mas não se assuste com o nome. Acredite, Hanamovinik faz tantos projetos e pesquisas que fica cada vez mais difícil inventar um nome para elas. Há alguns que adoram colocar números e letras sem sentido. Sinceramente acredito que uma palavra é muito mais fácil de decorar, não?

                Ele fez uma pausa. Acho que ele esperava que eu desse alguma resposta. Sinceramente já nem me lembrava mais o nome do projeto. Teviti?

                - Bem, David, - Sans abriu a pasta que estava em cima de sua mesa – estou com seus resultados aqui e, tenho que admitir, são impressionantes.

                Olhei para os papeis que ele folheava e eu tentava entender o que estava escrito ali. Tinham imagens que pareciam um gráfico com linhas coloridas e tremidas que subiam e desciam de forma irregular. Tinha uma com cinco linhas pela rápida olhada que eu consegui dar e cada uma delas eram diferentes um das outras. Eu supus que se tratavam das linhas elétricas do meu cérebro e, talvez, cada uma delas era de uma área dele.

                - O que achou do processo seletivo? Digo, das mesas neurais e do teste em si? – perguntou ele voltando o olhar para mim.

                - Devo admitir que foi bem interessante. Sei que vocês são umas das empresas mais avançadas tecnologicamente, mas quando me inscrevi para a vaga achei que o processo seletivo seria mais tradicional.

                - Não somos uma das empresas mais tecnológicas, nós somos a empresa mais tecnologia. – ele soltou um riso vaidoso. – E fazer as coisas de um jeito tradição me soa muito tedioso. A mesa neurológica foi uma criação do nosso projeto e esse processo seletivo foi uma boa oportunidade de vê-lo em prática.

                - Então fomos cobaias da sua criação?

                Diego sorriu de um jeito descontraído.

                - Na verdade foi um teste definitivo. Acredite, estamos há muitos anos nesse projeto e sabemos que ele funciona, mas de fato foi a primeira vez que ele foi usado de maneira profissional e não como teste. Estava ansioso de vê-lo realmente em ação e, veja só, ele encontrou você. Acredito que o exame, de certa forma, já está te dando uma experiência do que ainda está por vir quando você aceitar o trabalho.   

                - Estou bastante ansioso para começar e saber exatamente qual será minha função.

                - Sim, vamos nos focar nos nossos próximos passos, ok? – Sans ficou com um semblante sério, que deve ser a cara dele quando está falando sobre negócios. – Senhor Almassy, você é o nosso primeiro contratado pelo sistema Terveisth. Sabemos através da ciência de que você é uma pessoa de grande potencial se bem trabalhado e isso requer um investimento da parte da Hamanovinik e uma total entrega de sua parte, afinal você precisa querer atingir esse potencial. Também não podemos gastar nossos recursos com alguém que não se interessa. Você está disposto a fazer parte disso?

                Devo confessar que todo aquele discurso de “grande potencial” fazia uma massagem incrível no ego. Então todo aquele papo de mãe que “você pode ser tudo o que quiser, é só se dedicar” é verdadeiro? Bem, pro meu caso parecia que era. Porém eu não me sentia uma pessoa de grande potencial e sinceramente ainda não havia entendido o que exatamente eu iria fazer.

                - Quem poderia dizer não para a Hanamovinik, não é mesmo? Só que ainda estou curioso para saber o que vou fazer, afinal.

                - Pode parecer confuso no começo, pois a nossa sociedade está costumada a servir para receber algo em troca. O salário é o pagamento pelos seus serviços prestados. Mas, no projeto Terveisth, queremos que nossos colaboradores sejam parceiros leais a empresa e para isso precisamos dar a eles a segurança e o conforto que eles precisam para darem o melhor de si para a corporação. Você tem casa própria, David?

                - Eu moro com a minha mãe.

                Ele fez uma cara de decepcionado.

                - Um homem como você nos 28 anos com certeza já quer ter o próprio espaço, não? Vamos lhe dar um apartamento e um carro com motorista particular. – ele começou a mexer nos papeis da pasta, indo para as últimas folhas. – Quero que faça as malas, pois depois de conhecer seu novo apartamento você fará uma viagem até a praia. Quero que passe uma semana e volte a empresa com todas as suas energias ao máximo, pois, acredite, o trabalho será bem puxado.

                Tive dificuldade de articular minhas próximas palavras. Eu estava buscando a vaga dos sonhos apenas pensando nas folgas nos finais de semana e feriados e num salário gordo no final do mês. Agora eu sairia com um apartamento, carro com motorista e, para me motivar, passaria uma semana na praia.

                - Tem alguma dúvida? – Sans perguntou de forma tão natural que eu quem parecia o estranho de estar embasbacado. – Toda a sua viagem será paga pela empresa, se isso te preocupa. – ele colocou os papeis na minha frente e uma caneta. – Aqui está o seu contrato. Depois de ler, faça uma rubrica em todas as páginas e assine na última no lugar correspondente. Leve o tempo que for preciso. Volto daqui a pouco. – ele levantou-se e ajeitou o terno antes de sair do escritório.   

                Eu peguei aquelas folhas e fiquei olhando para elas. Depois comecei a ler. Parecia apenas um contrato de trabalho normal. Uma das folhas, no entanto, tinha algo interessante: uma cláusula de confidencialidade e sigilo. Em suma, eu não poderia falar sobre nada que acontecia dentro das paredes da Hanamovinik, sobre as pesquisas, de qualquer coisa relacionado a corporação que já não estivesse pronto para ser publicado. Bem, fazia sentido. Outra coisa também, claro, é o rechonchudo pagamento no final do mês que ele sozinho era maior que o trampo de 6 meses como guia.

                Como dizer não a aquela proposta? Sans não escondera que seria um trabalho duro que necessitava de empenho. Provavelmente todo o esforço seria bem recompensado.

                No mesmo dia fiz minha mala para me mudar ao meu novo apartamento. Sans instruiu de que eu não levasse móveis ou coisas do tipo. Todo o apartamento já estava montado e só precisava dos meus pertences pessoais. De fato a parte mais difícil daquela mudança era explicar para a minha mãe que eu estava indo embora. Em todo o momento enquanto eu enchia minha mala, minha mãe me questionava sobre tudo aquilo. Ela não achava aquilo normal, nenhuma empresa é tão boa assim e porque assim tão de repente? Sim, mãe, eu pensava, você tem razão sobre tudo isso. Eles não faziam aquilo apenas por serem legais. Eu era uma cobaia de um novo sistema de contratação. Eles queriam mais produtividade, novas descobertas, ficar sempre a frente no mundo tecnológico. Eles estavam investindo no que eles chamavam de “grande pessoa”, mesmo eu ainda não entendendo como isso funcionaria. Por mais que eu tentasse explicar isso a minha mãe, ela não conseguia entender. Quando finalmente eu fechei a mala, olhei para aquela senhora que ainda não havia desistido de me convencer do contrário e estava visivelmente triste. Ela me abraçou e eu garanti a ela que eu não sumiria e que eu a ajudaria financeiramente.  

                O apartamento era localizado em um bairro de classe média alta. O espaço por dentro não era muito grande, mas considerando que apenas eu moraria ali era do tamanho o suficiente. O lugar era confortável e pelo estilo da decoração ele foi escolhido a dedo por alguém decorador profissional. Os móveis eram tão novos que, quem tivesse morado aqui antes era muito cuidadoso ou não ficou tempo suficiente para fazer algum estrago.

                Dois dias depois estava a caminho de minha viagem. Logicamente não contei a minha mãe que estava recebendo férias antecipadas. Inventei qualquer coisa sobre curso de capacitação. Para minha surpresa eu não fiz aquela viagem sozinho. Verônica, a instrutora que explicou como seria o processo do exame, também tiraria uns dias de férias. Ela me explicou que tinha muitos dias de folga atrasados e, como os trabalhos só voltariam quando eu me juntasse a equipe, ela tinha recebido a proposta de se juntar a mim como pagamento desses dias. No começo a presença dela me deixou um pouco deslocado. Não se engane, não tenho medo de mulher, mas Verônica, eu ainda não sabia direito quem era ela na empresa. Não sabia se ela era minha chefe ou se ocupava uma vaga superior a minha e por isso não sabia como me direcionar a ela.

Verônica sem dúvida era uma mulher elegante, educada e sedutora, característica nas quais ela havia deixado claro desde a primeira vez que a vi. Porém descobri que ela era uma pessoa mais acessível do que eu imaginava. Ela tentou todo o tempo quebrar o gelo, me estimulando a conversar e fazer perguntas sobre a empresa e ao projeto. O projeto Terveisth era sobretudo sobre desvendar o cérebro, ou como a palavra que ela repetiu muitas vezes, traduzir o cérebro. O projeto consistia entende os processos químicos, as ondas elétricas, as combinações neurais para entender o que se passa com ele, o que ele quer dizer e no que você está pensando. Assim doenças como câncer no cérebro, Alzheimer, Parkinson, epilepsia e depressão podem ser encontradas com mais antecedência e podem ser curadas estimulando as áreas afetadas.  O projeto ia além da área da medicina. O projeto poderá materializar um pensamento, dando forma algo que ainda era abstrato.

— Vamos supor que você pense num objeto totalmente novo, que ainda não exista. – sua voz era suave e doce. Falava com tanta empolgação que eu ficava empolgado só de ouvir. Ela era tão linda. – Quem sabe uma obra de arte, uma pintura. Você poderia reproduzir essa pintura transferindo seu pensamento para um computador que traduzirá as informações do seu cérebro e, voalá, sua pintura está lá na tela do computador sem ter encostado num pincel. Isso se expande a qualquer coisa que você estiver pensando. Imagine que você quer escrever uma história e, sabemos que escrever pode ser um processo demorado. E se você pudesse ir pensando na sua história, criando o texto em sua mente que será captada e transferida para um computador. Em minutos você terá páginas escritas no que levaria horas escrevendo. Ou quem sabe, se comunicar com a mente e ter um computador que reproduza sua voz sem abrir a boca.

— Isso é espantoso! Isso realmente é possível?

— Ora, David, - ela abriu um sorriso lindo, mostrando seus dentes brancos e perfeitos. – Você é o fruto desta pesquisa. Nunca teríamos te achado se não fosse por isso.

Verônica tinha muita certeza que a máquina não tinha errado. Eu não tinha tanta certeza disso.

Por ser baixa temporada, a praia de Trinity estava quase deserta e toda a semana foi de sol. Trinity é uma cidade pequena exclusivamente turística e muito protegida pelos seus habitantes e órgãos responsáveis pela vida ecológica do local. Os habitantes dali tinha todo aquele jeito hippie e limpando sempre a sujeira de algum turista desleixado. Num mundo tão tecnológico no qual vivemos hoje, era estranho ver um lugar tão desprendido do caos das cidades grandes e vivendo mais conectado a natureza. Trinity tinha praias de águas límpidas, areias brancas e um verde estonteante. O hotel no qual ficamos era um dos mais refinados que aquela região poderia oferecer com uma linda vista para o mar. Verônica ficou no quarto ao lado e fizemos praticamente tudo junto. Tomávamos o café no hotel e íamos direto a praia. Ela era tão branquinha que no segundo dia já dava para ver o quanto ela já havia queimado a pele. No almoço íamos a cada dia num restaurante diferente, experimentando vários tipos de pratos diferentes. Na parte da tarde, em alguns dias, voltávamos para a praia ou visitávamos o centro vendo as lojas e comprando algumas lembrancinhas. A noite aproveitávamos o que Trinity oferecia de vida noturna: bares temáticos, corais na praça da igreja, flautistas nativos  ou festas em iates. Durante todo esse tempo que estivemos juntos não nos limitamos a conversar apenas sobre o projeto. Verônica falou muito sobre ela, uma garota que nasceu de uma família rica e que investiu muito em sua educação para que ela seguisse a boa reputação da família. Seus pais, no entanto, nunca forçaram uma carreira em especial no tanto que fosse algo que lhe desse bons status para a família. Ela não contava isso com raiva, no entanto. Felizmente ela se identificava com a neurologia e psicologia o que a fez ser uma candidata perfeita para a Hanamovinik. Ela acreditava que a corporação trazia o próximo passo da humanidade na evolução e que estava feliz em fazer parte de tudo aquilo. Eu, entretanto, não tinha nada tão incrível para contar a ela. Minha vida tinha sido muito normal. Bem, é verdade que meu pai havia morrido em um acidente de barco quando eu era muito jovem e minha mãe foi tudo o que eu tive. Ela deixou que eu vivesse minha infância e minha adolescência, mas depois que terminei os estudos ela começou a pegar muito no meu pé para arranjar um emprego e essas coisas. Contei a minha paixão pelas escaladas, dos meus antigos empregos e do porque eu decidi tentar a vaga na Hanamovinik. Das coisas que contei, a escalada foi o que mais lhe chamou a atenção. Quando contei a ela sobre os prédios da cidade que eu já havia escalado, a noite, sem ajuda de cordas e, as vezes, sem os equipamentos de segurança, ela ficou maravilhada e parecia ter uma pontinha de inveja. Ela me disse que nunca na vida tinha feito algo arriscado. Tudo na vida dela sempre foi bem calculado e não podia se dar um luxo de desviar um pouquinho para viver uma aventurazinha mesmo depois de já não estar mais na aba dos pais e ter conquistado a sua independência

— Acho que cai na rotina, sabe? Minha vida sempre seguiu uma formula certa, sem alterações e pouquíssimas exceções. Acho que me habituei e sem perceber vivi num molde que não precisava ser tão rígido se eu não quisesse.

— Bem, o que você faz é algo extraordinário e importante. Podemos dizer que sua vida é empolgando e desafiadora, de uma maneira diferente. O que acha de tirar um dia para escalar comigo? Prometo que não subiremos prédios sem cordas e equipamentos.

Ela sorriu e aceitou com entusiasmo. Depois que percebi que eu a havia chamado para sair. Tudo bem que era uma saída inocente, mas de qualquer forma era um encontro. Fiquei preocupado pensando como isso havia soado a ela até que a noite ela me chamou para o seu quarto para tomarmos uma taça de vinho e, depois de algumas taças terminamos na cama dela.

Os dois últimos dias de férias foram incríveis. Eu até agora não entendo como havíamos chegado naquele momento, mas pode-se dizer que vivi intensamente um amor de verão que nunca havia me acontecido na adolescência. Se já estávamos próximos antes, agora parecíamos um casal de namorados apaixonados. Ela é maravilhosa, gentil, carinhosa, sorridente e inteligente. Eu pensava, quando a olhava, que não tinha tanto a oferecer a ela, entretanto ela não parecia se importar. Ela parecia gostar de mim exatamente como eu era. Passou pelo minha cabeça que ela só estava curtindo o momento, que ela só queria um cara para curtir as férias e extravasar o estresse. Porém, quando estávamos no aeroporto esperando para embarcar de volta pra nossa cidade, ela me segurou pelo braço. Sua expressão era de timidez e preocupação.

— O que tivemos... quero dizer, tivemos algo, não é?

Eu não sabia o que responder a ela. O que podia dizer? Que ela era a mulher mais linda e encantadora que tive nos braços? Que eu a achava tão incrível que não entendia porque ela havia se interessado por mim?

— Você quer deixar aqui o que aconteceu ou podemos levar isso adiante?

Eu sorri e acariciei seu rosto com gentileza.

— É claro que quero levar isso adiante. – e lhe dei um beijo.

Tinha o emprego de ouro, o salário dos sonhos, tive as férias mais maravilhosa e agora tinha uma namorada.

No avião, Verônica avisou que Sans deu mais um dia de folga para que descansássemos da viagem e que éramos para estar as sete da manhã do dia seguinte.

Cheguei meia hora antes. Nunca estive tão animado para começar em um trabalho, ainda mais um que eu nunca imaginei me interessar, mesmo ainda não sabendo direito o que eu faria. Foi Verônica quem me recebeu na recepção com um sorriso afável e uma piscadela. Na empresa não podíamos ter relações mais intimas do que aquilo. E também não seria legal expor para os outros esse namoro tão recente antes de termos certeza se iria dar certo. Ela me conduziu até uma sala onde seria feito eram feitas as pesquisas do projeto. A sala era, como a maior parte do prédio, toda branca com a parede para o exterior toda em vidro. Não era muito grande, continha apenas uma mesa oval comprida, branca, com oito cadeiras. Depois da mesa, havia uma daquelas camas, a mesa neural e a dois metros de distância, sendo ligados por fios, uma mesa contendo um computador robusto, com vários gabinetes grande e três monitores enormes. Perto desse computador, ou máquina, estava Sans conversando com um cara que eu ainda não conhecia. Devia estar por volta dos 30 anos com uns quilinhos acima do peso, alto e pele morena pálida, o que dizia que o rapaz não tomava um sol há algum tempo. Seu rosto redondo parecia cansado, com profundas olheiras nos olhos castanhos por detrás dos óculos redondos de aro fino. Reforçado com o cabelo castanho desarrumado e o jaleco amassado, transmitia um aspecto de cansado, desleixado ou, quem sabe, só havia acordado tarde. Quando se deram conta da minha presença, Sans abriu um sorriso e veio em minha direção. Já o outro parecia nervoso e com um movimento desajeitado, ajeitou os óculos e sentou diante dos monitores.

— Olá, senhor Almassy, pronto para o primeiro dia de trabalho? – Sans estendeu a mão para mim e quando o cumprimentei recebi um aperto firme.

— Sim, estou bem empolgado.

— Isso é bom, muito bom. – Sans apontou para o rapaz. – Aquele é Eik Souzones, - Eik deu com acenos rápido com a mão e logo voltou a sua atenção aos monitores. – ele é o nosso TI responsável pelo funcionamento dos nossos aparelhos. A Verônica, que você já conheceu, é uma das responsáveis pela pesquisa e eu sou o diretor. Para essa etapa do projeto, essa será a nossa equipe.

Achei evidentemente uma equipe bem pequena. Sempre imaginei que esses projetos envolvesse uma grande quantidade de pesquisadores. E eu havia entendido a função de todos, bem, quase todos, faltava a minha.

— Venha comigo, senhor Almassy. – Sans andou até a mesa neural. – Você já conhece essa mesa, não é mesmo? Aqui é o centro de nosso trabalho. Deite-se aqui, por favor.

Então eu ia voltar para aquela mesa? O que era tudo aquilo, afinal?

Caminhei até a mesa e encarei Sans, confuso, esperando alguma resposta. Porém ele limitou-se a me encarar com um sorriso largo nos lábios, esperando que eu cumprisse seu pedido. Olhei para Verônica e sua expressão era tranquila. Comecei a me senti meio idiota por estar preocupado. Deitei como ele havia me pedido e ouvi o salto de Verônica batendo em minha direção até que a voz de Sans interrompeu:

— Você já sabe como funciona, não é mesmo? Vamos colocar os fones em seus ouvidos e preciso que você feche os olhos e relaxe. Nada difícil, não é verdade?

Antes que eu pudesse protestar, Verônica colocou o fone nos meus ouvidos e me deu um sorriso caloroso. Aquele pequeno gesto me passou tranquilidade. Fechei os olhos e esperei os sons chegarem pelo fone. Contudo, diferente da outra vez, não ouvi os sons da natureza ou de pessoas conversando. Ouvi apenas o ruído, o mesmo ruído que eu havia escutado encoberto pelos outros sons no teste passado. Os sons eram um pouco incômodos, não eram os mais adequados para um relaxamento. Tentei não me concentrar tanto neles e a relaxar. Pensei na praia de Trinity, do sol radiante, da voz aveludada de Verônica em meu ouvido, daquela loura em meus braços. Porém esses pensamentos vinham em minha mente e desapareciam, como se estivesse sendo sugados de minha mente. Em frações de segundo eu meio que esquecia que estava pensado naquilo e puxava o pensamento novamente só para passar alguns segundos e esquece-los novamente. Aquilo foi acontecendo até que a fração de tempo de que eu puxava a memória e ela desaparecia ia ficando menor até que tudo escureceu e eu não conseguia pensar em nada.


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Notas finais do capítulo

Até a próxima!



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