The One escrita por LelahBallu


Capítulo 1
Capítulo Único


Notas iniciais do capítulo

Boa noite caros leitores!!
Eu estou de volta!!
Então, eu não demorar muito, só explicar que logo estarei voltando para minhas longs, essa one foi mais para dar uma aquecida, certo?!!
Obrigada pela paciência e boa leitura!!



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FELICITY SMOAK

Bebi meu café saboreando não só o sabor forte, como também me deliciando em usufruir de uma bebida quente em meio ao gélido e atípico clima de Star City nessa época do ano. Observei meus companheiros de mesa conversarem e rirem da péssima piada que Ray, meu namorado, havia tentando contar. Ray era um cara bom, doce e muitas vezes fofo, era adorável quando ele tentava enturmar com meus amigos dessa maneira, mas ele era um péssimo contador de piadas. Seu braço estava jogado de forma natural sobre meus ombros, seu rosto relaxado, enquanto encarava Caitlin e Tommy a nossa frente discutirem sobre a mais nova aquisição de Tommy. Um cachorro que ele havia encontrado na rua, não um filhote fofinho dentro de uma caixa, mas um enorme e já um pouco velhinho cachorro que tinha uma preferência indiscutível por roubar as meias de Caitlin e transforma-las em farrapos.

É um cachorro adorável, sem dúvida nenhuma. Carinhoso, meigo e muito carente, mas que para sua idade era dono de uma energia incrível. Tommy tentara sem muito sucesso lhe dar nomes como Totó, Lord ou Brutus, mas seu mais novo amigo estranhamente respondia apenas quando Caitlin o chamava de “Taz”, o inesquecível personagem demônio da Tazmania. Tommy é claro escolheu se dar por vencido.

Senti uma cutucada em meu braço direito e encarei Sara que inclinou sua cabeça apontando para fora da cafeteria, meus olhos caindo na figura masculina que tinha sua atenção totalmente voltada para mim. Do outro lado do vidro Oliver me sorriu, sua cabeça se inclinando em um claro convite. Usava uma touca azul, jaqueta de couro preta e camisa branca, suas mãos tocaram o vidro mostrando-me estarem cobertas por luvas e com uma piscada ele se virou, deixando-me saber que me esperava, ele sabia que eu ia ao seu encontro. Suspirei quando Sara abriu sua boca para trazer em palavras a presença de Oliver. Todos aqui conheciam Oliver, ele era o melhor amigo de Tommy e meu melhor amigo. Mas Sara tinha que trazer as coisas do seu próprio jeito.

— Seu segundo namorado está aqui. – Murmurou em tom debochado. Eu estava acostumada a ouvir Sara se referir a Oliver dessa maneira, então já havia desistido de corrigi-la, mas ela geralmente não fazia na frente de Ray. Deixei meu olhar cair em Ray que recolheu seu braço e a encarou com expressão neutra, em vez de se sentir envergonhada e pedir desculpas, Sara ergueu uma sobrancelha o desafiando a dizer algo. Eu também já havia me acostumado a isso, as constantes provocações de Sara para Ray, ela ficava inquieta em sua presença, sua personalidade tranquila e quase sempre inabalável a irritava e a desafiava ao mesmo tempo. Ela o chamava de Sr. Certinho e afirmava que algum defeito Ray devia ter. Ela também fez da missão de sua vida descobrir qual é.

Felizmente Ray sempre foi de uma paciência invejável.

— Por que ele não entra? – Caitlin perguntou franzindo o cenho, trazendo minha atenção a Oliver novamente. Dessa vez me irritando com a visão, Oliver havia tirado as luvas e se ocupava agora em acender um cigarro.  – Ah.

— Não acho que seja por isso. – Tommy murmurou de forma quase inaudível seu olhar saindo de Oliver para mim e então para Ray. Eu odiava a perspicácia silenciosa de Tommy Merlyn. Ele era o sempre divertido, engraçado e carinhoso Tommy, mas seu sorriso escondia mais sabedoria do que ele realmente gostava de mostrar.

Este não era o momento, nem o lugar para despejar alguma sabedoria irritante sobre mim.

— Eu volto já. – Murmurei para Ray antes de me levantar. Ele assentiu distraído, sua atenção ainda em Sara que se ocupava agora em flertar com o garçom que havia trazido seu café. Andei com passos rápidos, ignorando o fato de que podia sentir os olhares em mim.

Abrindo a porta fui recebida pelo ar gélido.

Parei um pouco tentando me acostumar com mudança abrupta.

— Você fez isso só para me irritar? – Perguntei após enfrentar o ar frio e andar alguns passos até Oliver. Ele deu de ombros, recuando de frente para mim e fazendo com que eu o seguisse.

— Eu não tenho ideia do que você está falando. – Murmurou com um sorriso inocente.

— Disso. – Murmurei tirando o cigarro de sua boca e jogando na lata do lixo próxima. Ele sabia que eu odiava aquele seu vício. Na maioria das vezes ele evitava fumar perto de mim. Então não havia dúvidas de que ele havia feito de propósito agora.

— É sua culpa, fiquei entediado após esperar tanto tempo. – Murmurou encostando-se a um carro qualquer. Oliver tinha esse jeito despreocupado e para alguém de fora, marrento e frio. Mas eu conhecia-o melhor do que qualquer um, exceto talvez do que Tommy. Eu conhecia o calor que havia em seus olhos quando ele realmente estava envolvido na conversa com alguém, conhecia seu sorriso, seu sincero e bonito sorriso. E conhecia-o o suficiente para saber quando algo o incomodava.

Como agora.

Olhei em volta percebendo que seus passos haviam nos afastado um pouco da vitrine da cafeteria. Dos olhos de Ray, Sara, Tommy e Caity. Permitindo-me um pouco de liberdade, encostei-me ao carro junto a ele. Nossos ombros se tocando. Coloquei minhas mãos nos bolsos da minha jaqueta, as protegendo do frio e o encarei.

O aguardando.

Oliver sendo Oliver, não se importou com o fato de que eu o encarava tão abertamente, ele apenas inclinou a cabeça e sorriu. Aquele tão odioso sorriso que me encantava, aquele tão odioso sorriso que conseguia mudar meu humor em tão poucos segundos.

O sorriso que fazia com que ele se livrasse de tudo.

Quase tudo.

— O que houve? – Perguntei dando alguns pequenos empurrões em seu ombro com o meu, deixando-o saber que dessa vez eu não seria distraída tão facilmente. Ele demorou alguns segundos em que optou por encarar os próprios pés. Em nenhum momento deixei de observa-lo.

Eu estava certa.

Algo o incomodava.

Baixei meus olhos caindo na tentação de encarar meus próprios pés.

— Laurel está grávida. – Murmurou fazendo com que minha própria atenção fugisse dos meus pés e voltasse para seu rosto. Ele demorou meio segundo para me encarar de volta, e perceber não só a surpresa, mas o medo em meus olhos. – Você está pensando que é meu? – Perguntou incrédulo. Dei de ombros ainda assustada com a possibilidade. – Céus, Felicity. – Exclamou atônito e parecendo até mesmo um pouco indignado. – Eu terminei com Laurel tem quase um ano. – Lembrou-me. Por exatos dois segundos segui o encarando de boca aberta, então sem sequer lhe dar uma oportunidade de fuga esmurrei seu ombro.

— Ei! – Protestou apertando o ombro. – Isso doí.

— Você perdeu a cabeça? – Murmurei ainda irritada. – Isso é forma de dizer?  O que queria que eu pensasse?

— Eu preciso realmente lembrar a você... De novo, que eu terminei com Laurel há quase um ano? – Repetiu.

— Eu tenho certeza que não preciso lembrar a um cara como você o conceito de recaída. – Murmurei indiferente. – E não faz muito tempo que ela saiu da cidade.

— Nunca houve. – Murmurou em tom veemente. – Depois que terminei eu nunca cogitei em reatar.

— Estamos falando em sexo, Oliver. – Falei fingindo que a ideia dele se envolver com Laurel novamente dessa forma, não me dava ânsia de vômito. – Não disse que você queria se casar com ela. - Resmunguei. – S-E-X-O. – Soletrei.

— Estou familiarizado com a palavra. – Assentiu com um sorriso. – O ato em si não me foi apresentado ainda. – Brincou.

— Idiota. – Como se todo aquele conjunto de altura incrível, ombros fortes, olhos azuis e músculos por toda parte não tivesse o favorecido mais vezes do que eu realmente queria saber, nesse contexto. – Se o filho não é seu, pode me dizer por que estamos conversando sobre essa gravidez?

— Ela me pegou de surpresa. – Respondeu.

— A gravidez? Confesso que a mim também. – “Quem é o pai?” Estava coçando para sair em minha língua.

— Laurel. – Corrigiu-me. – Ela me ligou ontem a noite, aos prantos. Contando-me que estava grávida e parecendo realmente desesperada. Ela disse que o pai é algum babaca que conheceu no escritório, um erro de uma noite que não quer assumir. – Endireitou-se, parecendo querer avaliar minha reação as palavras seguintes. - Ela chamou-me para conversar.

—Olhe. – Murmurei me afastando do carro e virando-me para encara-lo. – Correndo o risco de ser uma vadia, e insensível aqui, mas eu preciso perguntar: O que diabos você tem a ver com isso?  - Abri minhas mãos. - Você não é o pai. Você é o ex-namorado, o cara que ela deixou escorrer por entre os dedos por sua paranoia e ciúmes, ela fazia cenas, fazia merda, se arrependia e então bebia. - O lembrei. – Laurel se aproveitava dessa fraqueza dela para manipular você e não descansou até colocar nós dois, um contra o outro por puro ciúmes. Laurel tende a drama e manipulação, e ela vai fazer uso dessa gravidez, se ela existe, para se aproximar de você novamente.  – Puxei meu fôlego após soltar tudo de uma vez. Ele assentiu após alguns momentos. Mas eu conhecia Oliver, eu ainda não o havia convencido.

— Ela disse que precisava de um amigo. – Falou recebendo um suspiro impaciente meu. – Ela disse que não sabe como trazer o assunto para a família, e que se sente um pouco perdida. Falou que sentia falta de nossa amizade. – Deu de ombros. – Eu meio que sinto pena.

— Você meio que é um idiota. – Retruquei ganhando um olhar aborrecido dele. – O quê? Laurel tem 30 anos Oliver. Não é uma gravidez na adolescência. Ela sabe quem é o pai e devo acrescentar: Ela é uma advogada. Ela sabe muito bem o que fazer, como fazer e melhor do que nós dois. Ela quer um amigo? A irmã dela está lá dentro, e tenho certeza que sem ter nem ideia de que vai ser titia. Então, ela não quer um amigo, ela quer você.

— Você não está sendo dura demais com ela? – Perguntou sondando-me. – Ela está grávida.

— Lembre-me de enviar um presente ao bebê. – Murmurei acidamente voltando a me encostar ao carro. Ele ignorou meu tom e continuou.

— Estou pensando em ir. – Eu não devia ter ficado surpresa. Oliver conhecia Laurel quase tanto tempo quanto a mim e a Tommy. Eles realmente foram amigos por um tempo antes de se tornarem namorados, ele conhecia sua família e ainda era bastante amigo de Sara. Eles namoraram por quase quatro anos. É claro que ele iria se sensibilizar com a rainha do drama. Suspirei novamente, mantendo-me em silêncio. Minha vontade era lhe dar as costas e deixa-lo com seus pensamentos idiotas.

— Diga. – Murmurou por fim. – Você está segurando, apenas solte.

— Ok. – Assenti. - Eu acho uma estupidez você ir até Central City visitar uma ex-namorada que é conhecida por tê-lo manipulado por metade do tempo em que namoraram. Que o envergonhou e a si mesma em inúmeras festas apenas para chamar sua atenção até ela. Alguém que é mesquinha, que se rebaixou ao ponto de pegar em minhas coisas uma carta que eu escrevi aos 15 anos em que eu me declarava para você. – Murmurei, a lembrança ainda me irritava e magoava. Sim, quando era mais nova eu acreditei estar apaixonada por Oliver. Por que eu ainda tinha essa carta mesmo após tantos anos não era algo que conseguiria explicar a mim mesma, ter Laurel erguendo a carta e entregando a Oliver com deboche e fazendo poucos do sentimento inocente que um dia tive, me deixou furiosa, afirmar que eu ainda o amava e fazia de tudo para afasta-la dele me fez revirar os olhos, e dizer que eu a provocava afirmando que Oliver sempre foi meu, apenas me fez rir. Neste dia eu apenas dei as costas aos dois e disse a Oliver que ele sempre seria bem vindo a minha casa, desde que ele viesse sem coleira. – Alguém que você finalmente conseguiu deixar para trás um ano atrás e que você tem estado bem melhor sem ela. Eu acho estúpido por isso, mas ei quem sou eu para lhe dizer o que fazer?

— Você é a única que pode fazer isso. – Murmurou virando de lado e afastando meu cabelo, seu dedo deslizando por meu rosto. – Eu preciso fazer isso.  – Murmurou em tom cálido e de desculpas. Às vezes eu podia entender por que confundiam meu relacionamento com Oliver. Em momentos assim, eu entendia. Às vezes eu achava que só não avançamos nessa direção por que nos amávamos demais para estragar isso. Servíamos melhor como melhores amigos do que como amantes. – Eu não conseguiria ignora-la. Antes de tudo, eu fui seu amigo. Eu jamais abandonaria você.

— Nós somos diferentes, Oliver. – Murmurei em tom baixo.  Era verdade, nós éramos. – Mas eu entendo, se você precisa desse encerramento, mesmo após um ano. Vá, mas, por favor, não a deixe usar essa gravidez e sua preocupação com ela como uma vantagem sobre você. – Pedi. Ele assentiu concordando.

— Não vou. – Afirmou com voz firme.

— Você vai aproveitar e visitar sua família? – Perguntei observando seu perfil. Só a menção a sua família o fez endurecer a mandíbula.

— Eu não gosto de visita-los. – Lembrou-me.

— Mas você gosta de Thea. – O recordei.  – Eu gosto de Thea.

— Minha irmã tem esse efeito. – Sorriu. Um verdadeiro sorriso. Oliver amava a irmã. Era por ela que ele visitava sua pretenciosa família.

— Quantos dias você vai ficar lá? – Perguntei segurando um tremor de frio. Eu queria chama-lo para dentro. A conversa sobre Laurel havia me ajudado a esquecer por um momento o frio, mas agora eu estava quase puxando o braço de Oliver e força-lo sentar conosco, gostando de Ray ou não.

— Alguns. – Deu de ombros. – Não sei quanto, mas não muito. – Falou me analisando. – Venha cá. – Chamou-me ao perceber minha falha em fingir não estar incomodada com o frio. Ele pegou minhas mãos nuas e esfregou com as suas antes de leva-las até suas costas por dentro de sua jaqueta, fazendo-me abraça-lo. Antes que pudesse me impedir apoiei meu queixo em seu ombro, encostando-me completamente a ele. Era por isso que Oliver evitava ficar comigo e meus namorados, não conseguia agir naturalmente na presença deles, não queria ser o motivo de uma briga de ciúmes. Oliver amava contato, eu era mais reservada, mas entedia que mesmo Ray com toda sua paciência não veria esse gesto com naturalidade.

— Então você veio me dizer que vai viajar? - Murmurei apreciando o calor do seu corpo contra o meu. O senti assentir em resposta. – Tommy sabe?

— Não. – Negou prontamente.

— Por que você não entra e conta a ele? – Sugeri. Já estava muito tempo fora com Oliver. Podia apenas imaginar como estava o clima lá dentro, sem minha presença para deixa-lo mais a vontade, Ray não devia mais estar descontraído, e certamente Sara devia estar levando-o a loucura.

— Eu não vou sentir falta dele. – Respondeu sem hesitar. Segurei uma risada.

— Sim, você vai. – Murmurei recuando apenas o suficiente para encara-lo. Essa não era o real motivo, ele não queria ser julgado pela decisão que havia tomado. – E do velhote. – Velhote era como eu chamava Taz.

— Alguns dias longe daquele cachorro é motivo para agradecimento. – Respondeu. Oliver dividia o apartamento com Tommy. E assim como Caity mentia sem muito sucesso sobre seus sentimentos com relação ao cachorro.

— Entre um pouco, Oliver.  – Chamei me afastando por completo.

— Melhor não. – Negou.

— Oliver. – O chamei hesitante. – Você gosta de Ray?

— É importante para você que eu goste? – Perguntou após alguns momentos.

— Você sabe que sim.

— Então eu gosto. – Murmurou após alguns segundos. O encarei descrente. – É sério. – Murmurou. - De todos os babacas com quem você já namorou, ele parece ser o único que tenta entender nós dois, ou ao menos respeitar. – Deu de ombros. Então um sorriso sacana brincou em seus lábios. – É claro que é porque ele não sabe que fui seu primeiro beijo. – O encarei com desdém. Ele não precisava me lembrar disso. Com mais ousadia do que eu esperava dele, ele se aproximou, sua respiração aquecendo minha orelha e infelizmente para mim, outras partes do meu corpo também com o que disse. – Que eu fui o seu primeiro.

Corei como voltando a ser uma adolescente quando o disse. Abri minha boca como um peixe fora d’agua e por fim encontrei palavras coerentes.

— Nem foi grande coisa. – Desmereci.

— Foi muito bom. – Murmurou sem se abalar.

— Foi doloroso. – Dei de ombros.

— Eu ouvi dizer que a primeira vez de uma mulher costuma ser. – Respondeu irônico. – Mas eu posso estar enganado. – Concluiu brincalhão. – Eu não sou uma mulher.

— Mesmo? – Perguntei com falso ar de confusão. – Você quase me enganou.

— Não mude de assunto, Smoak. – Sorriu. – Você está pensando não está?

— Foi apenas uma vez. – Virei meu rosto na direção oposta, ansiosa por escapar dessa conversa.

— Eu sei. – O escutei dizer, naquele tom que ele sabia eu achava irritante. Eu não precisava encara-lo para saber que estava sorrindo.

— Você prometeu que nunca contaria a ninguém. – Murmurei desnecessariamente.

— Só estamos eu e você aqui. – Riu.

— E que nunca falaria nisso novamente. – Acrescentei finalmente o encarando.

— Nunca disse isso. – Meneou a cabeça, eu estava certa, o maldito sorriso ainda estava lá.

— Pois deveria. - Retruquei. – Diga agora. – Exigi, ainda me direcionando seu sorriso travesso, ele meneou a cabeça em negativa.

— Você está corada, eu não vou me negar esse prazer. – Murmurou me irritando. – Eu tenho que ir. – Murmurou beijando meu rosto de repente, não me dando oportunidade alguma de protestar. Automaticamente envolvi meus braços em seus ombros o abraçando. – Nos vemos em breve, Smoak.

— Até mais, Queen. – Falei dando-me por vencida enquanto o via se afastar. Minha mente voltando brevemente para aquele dia, em que muito nervosa eu abordei Oliver, de forma lógica o expliquei por que desejava que ele fosse meu primeiro, e após parecer hesitar e até mesmo começando uma negativa, ele parou e aceitou. Não da forma que eu imaginei que seria, como um acordo de interesse de ambas as partes, Oliver me beijou de forma apaixonada e não importava quantos anos passassem eu era incapaz de esquecer aquele beijo, tão diferente do nosso primeiro beijo, mas tão especial quanto. Não pude me esquecer dos beijos que vieram a seguir, das carícias e da ternura, e mesmo que sim, tenha sido um pouco doloroso, ele transformou aquilo que eu havia imaginado em algo bem melhor. Eu estava nervosa e de certa forma com medo. Oliver me acalmou e eu acho que eu já sabia só seria dessa forma se fosse com ele, por isso fui até ele.

Depois de alguns dias temendo se isso havia mudado nossa amizade, e questionando-me de que forma. Ele mostrou-se o mesmo de sempre, e eu pude finalmente ficar a vontade com sua presença de novo.

Entrei na cafeteria sacudindo internamente os pensamentos de Oliver e eu, e tentei a todo custo não me preocupar com ele indo até Laurel. Para mim isso tudo era apenas mais uma cilada, Laurel era bem capaz de usar uma gravidez com outro cara para fazer Oliver desejar protege-la.

Era patético demais.

Mas essa era Laurel.

— Você já está indo? – Murmurei ao perceber que Ray estava em pé e colocando sua jaqueta, ele me encarou brevemente antes de me dar um sorriso de desculpas.

— Algo surgiu. – Respondeu. – Preciso ir à empresa e verificar algumas coisas. Você precisa de carona? – Perguntou preocupado.

— Eu a levo. – Tommy ergueu uma mão com um sorriso doce.

— Você está a pé. – Ray retrucou confuso.

— Eu acho que nós dois precisamos de um pouco de caminhada. – Tommy falou dando de ombro. – Eu notei que Felicity está acima do peso.

— Como é que é? – Perguntei indignada.

— Você está perfeita. – Ray se apressou a me acalmar.

— Claro que você diria isso. – Sara murmurou com um sorriso irônico.

— Você também acha que eu engordei? – Perguntei a Sara.

— Não. – Caity respondeu lançando um olhar crítico a Sara e Ray. – Vocês dois comportem-se. Tommy pela primeira vez estava tentando ser discreto...

— Eu sou discreto. – Tommy interveio.

— Chamando-me de gorda? – Perguntei o encarando duramente.

—... E tentava chamar Felicity para conversar sem nossos ouvidos curiosos por perto. – Caitlin completou com um suspiro cansado. – Então, Ray... – O chamou fazendo com Ray a encarasse de imediato. – Sara e eu gostaríamos dessa carona.

— Eu não. – Sara negou rapidamente. – Prefiro pegar o metrô.

— Quando você irá parar de rosnar para mim? – Ray perguntou aborrecido.

— Não fale como se eu fosse uma cadela. – Sara murmurou perplexa.

— Não haja como uma. – Ray murmurou perdendo sua compostura e deixando todos nós atônitos. Sara inclinou a cabeça o encarando com certa admiração.

— Ok. – Murmurou para Caitlin. – Eu poderia fazer uso de uma carona.

— Sara, eu... – Ray murmurou começando um pedido de desculpas.

— Não faça isso, Sr. Certinho, eu estava começando a gostar de você. – Murmurou se erguendo e vestindo seu casaco. – Tommy pague a conta. – Exigiu.

— Por que eu que tenho que pagar a conta? – Perguntou indignado.

— Você tem uma empresa. – Deu de ombros.

— Ray também. – Retrucou.

— Ray vai nos dar carona. – Caitlin deu de ombros.

— O que aconteceu com mulheres independentes que pagam as próprias contas? -Tommy perguntou erguendo uma sobrancelha.

— Não estamos em um encontro, Tommy. – Murmurei me juntando as garotas. – E Sara está apenas te importunando, porque você a fez pegar suas roupas na lavanderia na semana passada.

— Ela estava no caminho. – Ergueu uma mão. – Ela disse que estava tudo bem.

— Antes de saber a fortuna que era cobrada para lavar esses seus ternos cheios de pompa. – Sara murmurou enganchando seu braço no de Caity e chamando Ray com um aceno de cabeça. – Vamos superman, eu preciso dar um jeito no meu apartamento, recebo visitas hoje.

— Visitas? – Perguntei confusa. Ela assentiu.

— Minha mãe e meu pai precisam ter certeza de que ainda estou viva, que não transformei meu apartamento em uma caverna escura e que eu ainda tenho um emprego para ir quando o sol aparecesse. – Suspirou desanimada. – Se não é uma advogada brilhante como a perfeita Laurel, você precisa ser checada todo mês.

— Laurel não vem? – Sondei.

— Eu não acho que sobreviveria aos três juntos. – Negou. Então seu olhar voltou-se para Ray que estava ao meu lado. – O quê? Ainda não pegou sua capa? – Ray suspirou e meneou a cabeça.

— Falo com você mais tarde. – Murmurou para mim.

— Claro. – Concordei. Ele se inclinou para um beijo rápido de despedida. Sorri o observando ir até a porta e abrir para a passagem de Sara que revirou os olhos com aquilo. Caitlin recuou para, sem mais nenhuma palavra e apenas um olhar avaliativo, beijar Tommy. Eles se afastaram com um sorriso compartilhado, Tommy tocou seu nariz com a ponta do dedo e piscou para ela. Uma promessa no olhar.

Era bonito.

Como os dois se comunicavam sem muitas palavras.

— Você quer conversar aqui, ou no caminho mesmo? – Perguntei quando eles finalmente se foram. Como resposta Tommy deixou algumas notas sobre a mesa e me ofereceu seu braço.

— Eu realmente acho que você precisa muito de uma caminhada. – Respondeu fazendo com que eu lhe desse uma cotovelada no estômago. – Ai!

— Como eu posso te conhecer por toda uma vida e ainda assim ficar surpresa com quão idiota você consegue ser? – Perguntei passando pela porta junto a ele. Meu apartamento não era muito longe, só precisávamos atravessar algumas quadras e logo estaríamos lá.

— Eu sou um cara cheio de surpresas. – Sorriu. Meneei minha cabeça e encostei meu rosto rapidamente ao seu ombro abraçando seu braço, eu amava Tommy, por mais que ele me irrita-se, ele sempre conseguia tirar um sorriso do meu rosto. – Agora você vai me dizer o que Oliver queria.

— Dizer que vai sair da cidade. – Respondi. – Vai para Central City. – Tommy franziu o cenho parecendo preocupado.

— Aconteceu algo com Thea? – Perguntou diminuindo o passo.

— Não. – Neguei rapidamente. – Ela está bem, ele vai visita-la e ficar por alguns dias, mas volta logo. – Eu acho.  Tommy retornou a andar, mais lento e estranhamente calado.

— Tem algo mais. – Murmurou após um tempo. – Eu conheço você, eu conheço Oliver. E por mais apegados que sejam, ele poderia ter dito por telefone, ele foi ao seu café favorito, te tirou de uma conversa e vocês dois passaram muito tempo fora. O que você não está me contando? E por que manter isso de mim? – Perguntou chateado.

— Laurel está grávida. – Murmurei fazendo com que com ele tropeçasse. – E não, Oliver não é o pai. Eu acho que ela está usando essa gravidez para se fazer de coitada, ela ligou para ele toda chorosa dizendo que precisava dele. – Falei. – Como idiota que ele é, ele foi. Eu acho que ele não contou para você por que Sara não sabe, e por mais que você não falasse diretamente ia ficar tão puto que provavelmente soltaria algum comentário mordaz.

— Você tem que estar brincando. – Tommy murmurou meneando a cabeça.  – E você diz que eu que sou idiota.

— Eu sempre disse que os dois são. – Brinquei. Invés de uma réplica mordaz ou um revirar de olhos, eu notei que Tommy parecia mais descontente e preocupado. – Tommy. – O chamei segurando seu braço e fazendo-o parar. – Eu também não gosto da ideia de Oliver indo até Laurel assim que ela chama, eu odiei na verdade, mas é Oliver. Ele tem essa mania de querer proteger todos, exceto a si mesmo, eu pedi que ele tivesse cuidado, eu espero que ele faça isso, não quero ouvir algo como “Laurel e eu voltamos” saindo da sua boca, eu odiaria que isso acontecesse.

— Você precisa evitar que isso aconteça.  – Falou sério.

— E o que posso fazer? – Perguntei divertida. – Prendê-lo em minha casa até esse complexo super-herói passar?

— Diga a ele que o ama. – Murmurou me surpreendendo.

— Ele sabe que o amo. – Falei rapidamente. – Não sei no que falar o óbvio mudaria.

— Felicity, você sabe do que eu estou falando. – Tommy murmurou descontente.

— Não, eu não sei. – Neguei cruzando meus braços. – Eu amo Oliver, e Oliver me ama, nunca fizemos segredo sobre isso, porque eu amo você também, e Oliver o ama, amar alguém não significa ter um romance com essa pessoa.

— Oliver não apenas a ama. – Meneou a cabeça. – Ele está apaixonado por você, esteve por um longo tempo e vive constantemente abafando isso, porque ele quer que você seja feliz, e o idiota não percebe que ele te faz feliz. E você... – Apontou para mim. – Você está apaixonada por ele também. Vocês dois são idiotas, que preferem se torturarem ao longo dos anos namorando com outras pessoas, quando poderiam muito bem estar juntos.

— Eu admito que já estive apaixonada por Oliver, como uma adolescente que está descobrindo pela primeira vez a atração pelos garotos e sempre esteve cercada dos dois garotos mais bonitos da escola. – Murmurei com um sorriso. – Aos 12 anos eu achei que estava apaixonada por você. Escrevi meu nome com o seu sobrenome em alguma árvore idiota até. – Era tão estranho pensar nisso agora. Mesmo contra sua vontade, Tommy sorriu divertido com a ideia.

— É diferente. – Falou.

— Como pode ser? – Perguntei começando a ficar irritada.

— Você não tem nenhum problema em falar comigo sobre isso, e nenhum de vocês dois conseguem até hoje falar daquela carta que a venenosa da Laurel o mostrou. – Fechei minha cara com o que disse.

— Sou eu que estou te falando isso, porque é de minha vontade, estamos levando com diversão. – Dei de ombros. – O que Laurel fez foi para me humilhar.

— Você nunca teria contado a Oliver. – Retrucou. – Como está me dizendo agora. – Continuou. – E quer saber o quê mais? Eu te abraço toda hora, eu brinco com você, a beijo no rosto e andamos de braços dados, e ninguém, nunca sequer cogitou nos confundir com um casal. – Lembrou-me. – Você e Oliver são tidos como um só. Sempre foi assim. Oliver não consegue ficar na presença de um namorado seu, apenas nos idiotas que ele não confiava em lhe deixar sozinha, como Cooper. A propósito todas as suas escolhas de namorados foram péssimas, terríveis. Como se desejasse a todo custo que Oliver a arrancasse dos braços daqueles idiotas.

— Ray...

— É o único cara decente que você namorou. – Interrompeu-me. – E você sequer lhe dá atenção direito.

— Isso é mentira. – Minha voz se ergueu. Eu nunca tinha recebido um sermão de Tommy, e parecia que era exatamente isso que ele estava fazendo. E que mal havia começado. – Nós dois...

— Tem zero química. – Interrompeu-me cruzando os braços. – Os beijos de vocês são sem graça, triste de se ver, ele é atraente, ele é bom, ele tem dinheiro e...

— Você quer que eu lhe dê seu número para vocês marcarem um encontro? – Foi minha vez de interrompê-lo.

—... E você parece que está com ele pela simples necessidade de se ter alguém. – Continuou. – Você nem ao menos tem a decência de sentir ciúmes de Sara!

— Por que eu...

— Não finja que não percebeu que Ray e Sara estão fortemente atraídos um pelo outro.  – Ergueu um dedo. – É tão óbvio que Sara tenta odiá-lo, porque ele é seu namorado, e ele gosta de você, realmente, ele quer se manter fiel ao que sente. Mas honestamente? Toda a química que falta entre vocês dois, existem entre Ray e Sara.

— Não estávamos falando de Laurel e Oliver? – Perguntei desconfortável.

— Sim, estávamos pensando em um jeito de você evitar que haja um “Laurel e Oliver” novamente. – Sorriu. – Você primeiro precisa terminar com Ray e dar o número dele para Sara, depois você precisa mudar esse seu olhar carrancudo e dizer a Oliver que o ama, do jeito que uma mulher ama um homem com quem quer passar o resto da sua vida...

— Eu...

—... Transando. – Completou deixando claro que sabia o que eu ia dizer a seguir. O encarei perplexa, o que fez o idiota sorrir.

O estúpido sorriu.

Eu estava cercada por homens com sorriso de meninos.

Balancei a cabeça tentando tirar a imagem que veio a minha mente devido ao que ele falou. Não era hora de pensar em sexo, e não com Oliver.

Nunca.

— Não é assim entre nós dois. – Neguei segurando um suspiro. Eu sabia que as intenções de Tommy eram boas. Mas por que uma mulher não pode amar um homem, ser amiga dele, sem que acabe de alguma forma transando com ele? – Somos amigos. Eu amo Oliver, realmente amo, eu faria qualquer coisa por ele, para ajuda-lo, mas acho que nos envolvermos de outra maneira, romanticamente, apenas estragaria algo que foi construído quando éramos apenas crianças, nós três.

— Aconteceu uma vez. – Falou me surpreendendo. – Vocês já dormiram juntos. – Abri minha boca devido a surpresa, raiva me dominando.

— Aquele filho da puta! – Exclamei irritada. – É claro que como um macho arrogante que era, tinha que dizer a você que nós transamos. – Meneei minha cabeça e passei a me afastar com passos largos, eu ia matar Oliver Queen. Mata-lo? Não. Eu ia tortura-lo, limpar sua conta no banco, força-lo a assistir Dirty Dancing comigo 10 vezes e então eu ia mata-lo. Dei apenas mais alguns passos antes que meu braço fosse segurado e Tommy me puxou para o seu lado impedindo-me de continuar.

— Ele não me contou nada. – Jurou. – Largue seus planos maliciosos de vingança. Oliver jamais quebraria uma promessa feita a você. Tenha dó Felicity, vocês são meus melhores amigos, você achou que eu não perceberia o que aconteceu? Vocês passaram uma semana inteira agindo como dois desconhecidos, falando com polidez um com o outro. Não foi preciso de muito para perceber que havia acontecido algo.

— Então você percebe por que não podemos cruzar essa linha novamente? – Perguntei com um suspiro.

— Eu percebo porque vocês nunca deveriam ter recuado. – Falou sincero. – Eu sou seu melhor amigo, Felicity. Assim como Oliver também é. A diferença entre nós dois, é que ele também é o amor de sua vida.

— Eu... – Interrompi-me sem saber o que diria a seguir. Encarei Tommy com incerteza. – Por que mudar algo que já é perfeito?

— Para torna-lo ainda mais perfeito. – Respondeu com um sorriso doce.

Deus, tão irritante.

Desviei meus olhos do dele antes de assumir.

— Eu o amo Tommy.

— Eu sei. – Seu tom era sério, ele não estava brincando mais, ele estava me dando suporte.

— Eu posso lidar com a dor de vê-lo com outra pessoa. – Falei triste. Já aconteceu. Várias vezes. – Mas eu não consigo lidar com a possibilidade de perdê-lo. – Tommy me encarou decepcionado, imaginando previamente como acabaria minha decisão. - Se tudo der errado, eu vou perdê-lo. Não de imediato, mas ainda assim eu vou. E eu não quero isso. E eu não quero perder meu melhor amigo.

Senti seu olhar em mim por mais alguns momentos, seus olhos me avaliando. Então um pequeno sorriso veio aos seus lábios, seu braço se esticou e sua mão pousou sobre meu ombro, meus olhos baixaram, mas eu pude sentir o peso do seu olhar, buscando os meus. Ele se aproximou, tive que erguer minha cabeça e encontrar por fim seus olhos.

— Hey. – Murmurou suavemente. – Você tem a mim. – Sorri diante a simplicidade com que disse. Como se fosse uma verdade absoluta, que ninguém poderia contestar. Inalterável, imutável e tão real. – E Oliver. – Acrescentou. – E eu tenho certeza que não importa o que aconteça, você sempre terá a Oliver. Bem agora, você tem dois melhores amigos que fariam de tudo por você. Não há nada que você possa pedir a um de nós dois que seria negado, somos capazes de tudo por você, você sabe disso. E eu acho que, que você pode muito bem se contentar em ter apenas um melhor amigo. – Murmurou apontando para si mesmo várias vezes seguidas e fazendo-me rir. – Diga a Ollie que o ama, diga a verdade e então você poderá mudar o status dele para algo diferente de melhor amigo, quem sabe você poderia realmente começar a chama-lo de namorado?

— Você parece esquecer que Oliver acabou de ir para Central City apenas porque sua ex-namorada pediu. – Observei.

— Deixei-o encerrar esse capítulo. – Suspirou parecendo chateado e vencido ao mesmo tempo. – Eu tenho certeza que Laurel vai acabar o afastando nesses poucos dias que ele vai ficar lá, e que reatar com Laurel nunca esteve nos planos de Oliver quando decidiu ir.

— Eu espero que sim. – Murmurei não podendo deixar de fazer uma careta. – Você me deu seu conselho, e eu prometo pensar sobre. – Provavelmente pensar nisso seria a única coisa que eu conseguiria fazer até a volta de Oliver. – Agora podemos voltar a andar? Está frio, Tommy. – Reclamei. Ele riu e assentiu, voltando a me oferecer seu braço, o abracei lembrando-me do que havia dito sobre nunca terem nos confundido como casal, Caity nunca demostrou ciúmes com relação a minha proximidade com Tommy, mas então Caity foi minha amiga antes de virar a namorada de Tommy, eu os apresentei e ela teve muito de nós dois e nossa dinâmica para observar. Laurel nos conhece desde o último ano do colegial, ela teve anos de convivência, com nós três e ainda assim, quando começou a namorar Oliver esperou que ele simplesmente cortasse nossa relação. Talvez ela sempre se viu ameaçada por mim.

— Felicity? – Tommy chamou-me quando estávamos quase alcançando a entrada do meu prédio, subindo alguns degraus e eu encontraria o nosso bom e velho porteiro.

— Sim? – Perguntei parando no primeiro degrau e voltando-me para encara-lo.

— Você acha que nós ainda conseguiríamos achar aquela árvore? – Inclinei minha cabeça para trás não podendo segurar meu riso em resposta.  – Felicity Merlyn. – Murmurou ainda me observando, enquanto eu ainda tentava ocultar meu sorriso. – Não soa mal.

— Não. – Concordei.

— Mas eu ainda prefiro Felicity Queen. – Piscou.

— Você é um idiota. – Revirei meus olhos.

— Eu sei. – Concordou.

— Bem, eu acho que devo confessar que eu prefiro Caitlin Merlyn também. – Brinquei.

— Oh ela não vai mudar seu nome. – Murmurou me surpreendendo. – Você sabe como são os médicos. Eles gostam de manter sua fama.

— Vocês conversaram sobre casamento? – Indaguei maravilhada. – Tommy, você a pediu em casamento?

— Eu não lhe contei nada. – Piscou antes de dar as costas e me deixar com um sorriso bobo na cara.

Eu só esperava que Caitlin não fosse o tipo de noiva que forçava as madrinhas usarem vestidos rosa.

OLIVER QUEEN

Abri a porta do apartamento de Felicity hesitante. Não por estar entrando em sua casa usando a chave reserva que ela havia me dado apenas para emergência, eu estava acostumado a entrar em sua casa com essa chave sempre que me dava na telha, o seu porteiro nem se preocupava mais em verificar se ela queria me receber, mas porque a mensagem que Tommy havia me mandado era desanimadora e preocupante.

“Assim que voltar para Star City vá para Felicity. Ela está doente, solteira e irritada com você. Seu idiota.”

Simples assim.

Eu estava preocupado por ela estar doente, desanimado por ser alvo de sua irritação e curioso pela necessidade de Tommy em dizer que Felicity estava solteira. Tommy nunca soube ser muito discreto e no geral era mais direto no que dizia.

Felicity estava solteira, e dai?

Ela esteve solteira antes, e isso nunca teve o poder de mudar nossa relação.

Infelizmente.

— Querida cheguei! – Ergui minha voz esperando que a brincadeira melhorasse seu humor. Qualquer que fosse.

— Vá para o inferno! – A resposta veio através do corredor guiando-me para seu quarto. Com ombros encolhidos segurei uma resposta até chegar lá, porque parecia que dessa vez Tommy não havia exagerado. Então o melhor que eu podia fazer era entrar da forma mais humilde possível e escutar tudo o que ela com certeza ia soltar sobre mim. Parei em frente a sua porta entreaberta e respirei fundo tentando tomar coragem. Eu não gostava da ideia de ter irritado seriamente Felicity. Porque fora nossas brincadeiras e birras constantes, ela raramente ficava zangada comigo, e ter isso significava que de alguma forma eu havia a magoado, e eu jamais estaria bem com isso.

Hesitante dei leve pancadas em sua porta.

Ela virou-se para me encarar.

— Posso entrar? – Perguntei suavemente.

— Se eu disser não? – Retrucou.

— Então eu vou embora. – Respondi prontamente. – Mas voltarei amanhã.  – Falei em tom firme. – Posso entrar? – Repeti. Ela suspirou antes de assentir e então se virou, voltando a ficar de costa para mim. Tentando não jogar a oportunidade fora entrei com passos vagarosos, e após sondar se deveria contornar a cama e me deitar ao seu lado, optei por ficar aos pés da cama, com as mãos nos bolsos do meu casaco, eu aguardei.

Não levou muito tempo e ela mexeu-se inquieta na cama, sua cabeça voltando-se em minha direção.

— O quê? – Perguntou parecendo irritada.  – Você veio para ficar me encarando?

— E se foi? – Murmurei apenas para ver em que direção seu mau humor tomaria.

— Nesse caso tire uma foto e vá embora. – Falou rispidamente.

— Não. – Meneei a cabeça com diversão. – Eu prefiro ver você ao vivo e a cores.

— O que você quer, Oliver? – Perguntou me dirigindo um olhar de ódio.

— Eu quero deitar aí. – Apontei com o queixo o espaço vago ao seu lado. – Mas temo que embaixo dessas cobertas possa haver uma faca me aguardando. – Ela franziu o cenho diante minha resposta.

— O que exatamente Tommy disse? – Perguntou se erguendo o lençol caindo revelando que usava aquele pijama ridículo que a fazia parecer uma criança.

— Basicamente que você está doente, solteira e homicida. – A observei com atenção. – Você não me parece doente.

— Por que eu não estou. – Respondeu voltando a se jogar para trás. – Vá embora, por que o restante é verdadeiro, e minhas tendências homicidas estão todas direcionadas a você.

— Você vai me dizer por que terminou com Ray? – Questionei tentando parecer delicado ou preocupado com isso, só não tentaria parecer triste, por que eu não podia. – Eu devo visita-lo? Mostrar um pouco da minha cordialidade?

— Você quer dizer apresentar a ele seus punhos, em nome da minha honra? – Perguntou erguendo as sobrancelhas.

— Algo do tipo. – Assenti.

— Bem, deixe-o em paz. – Falou em tom firme. – Ele não fez nada, e não fui eu quem terminou, por que você pensou isso?

— Não foi você. – Repeti descrente. – É sempre você. Por que ele terminou com você? Ele pensou que consegue melhor?

— Como é que é?

— Você entendeu, era para ter sido um elogio. – Dei de ombros.

— Por que você não leva você e seus elogios para fora desse quarto? – Questionou-me virando-se de bruços. Respirei fundo tentando dominar minha impaciência, foi preciso mais alguns segundos em que desisti e me aproximei mais da cama, sem muito tato a puxei pelos pés e a virei aproximando-a da borda da cama. O grito em protesto só não me fez rir devido a pura auto preservação.

— Você disse que eu podia ficar, suas chances de ter um momento sozinha foram embora no instante que assentiu concordando. – Falei a encarando de perto. – Eu fico fora por alguns dias e quando volto, o metido a superman te largou, você me odeia e Tommy está noivo? – Perguntei incrédulo.

— Eu não te odeio. – Negou. – Você sabe que eu jamais te odiaria, no momento te detesto, e odeio Tommy, quem eu não vou dar a mão da minha melhor amiga. – Murmurou colocando as mãos em meu peito e tentando me empurrar. – Ray não me largou, tivemos uma conversa civilizada, o que adultos fazem, eu estava negligenciando nosso relacionamento. Você ficou uma semana fora e agora eu quero o que alguns conhecem como espaço pessoal.

— Sou eu. – A lembrei. – Desde quando você precisa disso comigo? – Estranhei. – Eu sou seu melhor amigo.

— Eu sei disso, Oliver. – Murmurou voltando a me empurrar. – Se afaste, por favor. – A encarei confuso e recuei, nunca antes ela precisou me pedir para que me afastasse, nunca foi preciso.

— Felicity? – A chamei preocupado. – O que está errado?

— Nada. – Negou. – Tudo está perfeito, ao menos estava.

— Felicity. – Murmurei seu nome sem ter certeza de como conseguiria acalma-la, eu não conseguia ter certeza do por que ela estar tão chateada. – É por causa de Laurel? – A questionei sentando-me na cama. – Eu pensei que você havia compreendido.

— Oh. Laurel. – Repetiu. – Como terminou essa história?

— Você havia se esquecido de Laurel? – Perguntei surpreso.

— Alguém precisa fazê-lo. – Forçou um sorriso irônico.

— Você...

— Eu não esqueci. – Cortou-me. – Foi o começo de tudo, eu só a empurrei de lado. – Deu de ombros.

— Começo de tudo. – Repeti. – De quê? – Estreitei meus olhos tentando chegar em algo que fizesse coerência. – Você disse que estava com raiva de Tommy, por quê?

— Você vai me responder? – Cortou-me. Suspirei não querendo dar essa resposta.

— Ela realmente está grávida. – Respondi. Felicity ergueu as sobrancelhas deixando claro que isso não era o bastante. – E ela realmente estava tentando me manipular com isso, eu conheci o pai não foi só uma noite, não é um cafajeste e quer participar de tudo na vida do bebê. O conheci quando estava saindo da casa dela e ele chegando, ele me reconheceu e convidou-me para uma bebida. Eu não queria acreditar na conversa de um desconhecido, mas logo ficou claro que ela estava fazendo com ele, tudo o que fez comigo.  – Dei de ombros tentando ocultar minha decepção. Felicity apenas me encarou antes de assentir.

— Ok. Vá embora. – Repetiu.

— Não vou. – Falei. – Você sequer vai usar o “Eu te avisei?”. – Felicity não era de fazer isso, mas eu precisava chegar ao fundo no que estava acontecendo com ela. - Algo estava errado?

— Oliver. – Chamou-me segurando meu antebraço. – Eu estou uma bagunça, estou sentindo coisas que eu jurava ter deixado para trás, nada do que eu disser irá fazer sentindo para você, por que eu não estou pronta para ser honesta. Então, por mais que eu tenha perdido minha chance de ficar sozinha, eu estou pedindo para você me deixar só.

Não gostei do que senti, não gostei da impotência que suas palavras me trouxeram.

— Você tem razão.  – Assenti. – Nada do que você está dizendo faz sentindo, eu só quero ajudar você. – Respirei fundo antes de me erguer. – Mas eu não posso se você continua a me afastar.

— Desculpe. – Sussurrou, seus olhos encontrando os meus.

— Por que eu sinto que eu deveria estar pedindo desculpas? – Questionei.

— Por que você não consegue ficar sem tentar consertar algo. – Respondeu. – O que você não pode fazer agora, então...

— Ok. – Assenti. – Eu vou, mas antes...

— Antes... – Repetiu.

— Nada, eu estava dando uma chance para você se arrepender e pedir para eu ficar. – Sorri. O que pareceu irrita-la ainda mais, Felicity meneou a cabeça exalou.

— Como eu posso odiar tanto um sorriso e ainda assim ansiar por ele? – Franzi meu cenho não compreendendo de tudo o que dizia, mas ainda assim fui incapaz de deixar de sorrir, por que ela estava toda emburrada vestindo aquele pijama ridículo.

— Você disse que é incapaz de me odiar. – A lembrei.

— Isso não quer dizer que eu não tente. – Respondeu com um suspiro. – Você não vai embora, não é mesmo?

— Não até você ser sincera comigo e me dizer o que a está incomodando. – Falei sério. Sem muita margem de escolha, Felicity bateu na cama duas vezes, indicando-me que eu poderia me aproximar. Não perdi tempo, subi na cama e a atraí para mim.

— Eu não disse que podia me abraçar. – Protestou, embora encostasse sua cabeça em meu peito.

— Você não pode me negar isso. – Falei. – Vai me dizer o que está errado?

— Dê-me apenas alguns minutos. – Pediu.

— Felicity...

— 30 segundos. – Seu braço deslizou por minha cintura até minhas costas, seus dedos tracejando padrões invisíveis.

Sempre adorei seu toque.

Sempre fiquei ansioso por qualquer contato, ainda que pequeno, entre nossas peles.

E a única vez em que pude tê-la de uma forma diferente de “melhores amigos”, eu guardei em minha mente, e me via incapaz de esquecer, ainda que me esforçasse. Mas agora, algo parecia estar errado, e eu podia sentir isso apenas a abraçando. Recuei tentando observar seu rosto.

— Felicity? – A chamei mais uma vez, ela respirou fundo, e sua mão foi até meu rosto, seus dedos acariciando-me levemente. Era em momentos assim que eu me via envolvendo sua mão, não para afasta-la, mas para entrelaçar seus dedos aos meus, eu me via inclinar e tomar seus lábios em um beijo que talvez, apenas talvez a faria mudar de ideia, que veria nosso relacionamento como eu queria que fosse.

Eu amava Felicity e sabia que ela me amava.

Eu não achava que havia nada de mal em sermos apenas amigos.

Mas eu via o quão grande poderia ser se fossemos mais do que isso.

Mas eu jamais conseguia me ver fazendo algo que fosse afasta-la de mim, que me fizesse perde-la.

Então, eu deixo sua mão no lugar. A deixo tomar seu tempo e quase como fiz em toda minha vida, eu a espero.

Felicity me encara com um sorriso triste, sua mão finalmente parando.

— Eu tenho algo para você. – Falou por fim.

— Não é aquela faca, é? – Brinquei.

— Dependendo da reação pode machucar tanto quanto. – Murmurou me deixando confuso, mas antes que eu pudesse dizer qualquer coisa a mais ela se afastou, saindo da cama ela caminhou até seu guarda roupa e após mexer por alguns momentos em uma das gavetas, ela retornou. Em sua mão eu podia ver um envelope florido e foi nesse momento que eu senti meu coração acelerar de forma brusca, eu já tinha o visto antes, apenas de relance nas mãos de Laurel, eu fui incapaz de escutar completamente o que ela dizia, por que Felicity foi rápida em tirar de suas mãos.

Isso não calou Laurel, mas eu não conseguia assimilar uma palavra do que ela dizia, não quando eu conseguia ver o quanto aquilo havia magoado Felicity.

Aquela era a carta que Felicity havia feito para mim quinze anos antes. Nunca fiquei tão irritado pela existência de uma carta, por que ela representava uma chance perdida, um amor correspondido que teve seu tempo perdido.

Felicity parou em minha frente, e só então eu percebi que havia me sentando na borda da cama, e que a encarava cauteloso.

— Isso é seu. – Falou me entregando. Por algum motivo me vi incapaz de erguer minha mão e aceitar o envelope. – Nunca falamos sobre isso, e só agora percebi que havia sido um erro.

— Você não quis que eu lesse antes. – Murmurei observando o envelope. – Não quero que se sinta forçada a me mostrar algo tão pessoal. – Continuei. – Principalmente sem me dizer o porquê.

— Apenas leia, Oliver. – Murmurou. – Ou não leia. – Falou se sentando ao meu lado. – Mas é sua. Sempre foi sua, eu só demorei muito tempo para me permitir entregar.

— Você tem certeza? – Perguntei ainda em dúvida. Ela se limitou a assentir. – Preciso ler agora?

— Não. – Negou rapidamente. – Mas não sei se conseguirei conversar com você até que tenha lido.

Sem pressão.

— Ok. – Assenti concordando. – Então eu acho que eu só vou... – Murmurei deixando a frase no ar enquanto me concentrava em abrir o envelope e puxar a carta que ali havia dentro.

A primeira coisa que notei foram os rabiscos e manchas de tinta. Sorri ao imagina-la escrevendo. Felicity ao contrário das outras garotas com quem fiquei não era conhecida por delicadeza, ela não tinha uma escrita elegante ou paciência para deixar sua letra bonita. Que ela houvesse se sentado para escrever uma carta já me dizia muito. Eu a conhecia bem o suficiente para perceber que essa não havia sido a primeira carta, houve outras que deve ter jogado fora antes de ter perdido a paciência e ter deixado essa como está. Percebendo que eu estava mais uma vez adiando o inevitável, me concentrei na carta em si.

A encarei apenas mais uma vez antes de começar a lê-la.

Querido Oliver,

Olá razão da minha agonia, eu não sei ao certo por que o chamei de querido, sempre achei esse cumprimento ridículo em uma carta, e exagerado, então eu tive que excluí-lo dessa carta, por que bem, não combina comigo. Você grande idiota deve está se perguntando por que o chamei de razão de minha agonia, peço desculpas com relação a isso, mas a culpa é inteiramente sua. Eu não deveria está aqui fazendo rascunhos de cartas, não para você, nem para ninguém, mas eu não sei como dizer o que tenho que dizer em frente a você, cartas sempre foram tão romanticamente bonitas e covardes que eu deixei meu preconceito de lado e resolvi escrever essa para você.

Primeiro eu tenho que lhe alertar que apesar de tudo o que escrevi até agora indicar o contrário, essa é uma carta de amor. Sim, eu amo você, e não da forma que eu queria, mas do tipo de amor que me faz pensar em você todo tempo, mesmo quando eu deveria estar estudando eu percebo que de alguma forma você entrou em minha cabeça, o que me lembra de que se eu tirar nota baixa por sua culpa Oliver Queen considere-se morto! Eu não sei como exatamente aconteceu, você é meu melhor amigo, é natural ama-lo certo? Eu estava bem com esse sentimento até que eu percebi que meu amor é egoísta, ama-lo como apenas amiga deveria ser puramente altruísta, eu acho. Eu tenho ciúmes de você, eu me pego querendo-o só para mim, e às vezes eu até mesmo percebo que vê-lo com outras garotas não apenas me irrita, me machuca. Eu me preocupo com você, fisicamente, emocionalmente... Eu só quero você. Eu culpo você, por sempre prestar atenção em mim, por saber o que sinto antes mesmo que eu possa falar sobre isso, por ter me abraçado tantas vezes e escondido minhas lágrimas ao fazê-lo, por ter me feito rir e me irritado ao extremo, por ter estado sempre ao meu lado e me feito sentir mais de uma vez como seu fosse a única. Tudo é culpa sua, pois você sem sequer me dar uma escolha, fez com que me apaixonasse por você. Culpo seu maldito sorriso, seu jeito protetor, carinhoso e doce. Eu não exijo esse sentimento de volta, Oliver, meu amor não é egoísta a esse ponto, eu só precisava falar como me sentia, por que talvez assim eu possa permitir que esses sentimentos aos poucos voltem a ser como eram antes, hoje eu posso dizer com toda firmeza que eu te amo, e eu sinto que isso não irá apenas sumir, mas eu também posso prometer que jamais deixaria isso interferir em nossa amizade, por que você e Tommy são muito importantes para mim. Então, eu cumpri minha promessa que fiz a mim mesma, eu disse. Eu disse que te amava e obrigada por ter me permitido isso, pois é importante para mim que você saiba que embora escrever uma carta não combine comigo, não há dúvida que você, Oliver, meu amigo... Você é a pessoa que mais combina comigo.

Sempre sua, e apenas sua,

Felicity.”

Respirei fundo enquanto dobrava o papel cuidadosamente e o colocava de volta ao envelope.

Eu podia sentir seu olhar sobre mim, podia perceber que aguardava minha reação. Conhecendo Felicity como eu conhecia, eu sabia que no momento ela mais do ansiar por minha resposta, ela a temia. Eu deveria dizer algo, cortar o silêncio esmagador e acabar sua aflição, mas eu também estava aflito, eu não sabia o que dizer.

Foda.

A garota que eu sempre amei me entregou uma carta de amor, estávamos mais velhos e nossa ligação nunca foi quebrada, mas havíamos mudado, ela mudou. Eu podia muito bem saber o que estava em sua mente quinze anos antes, mas agora? Eu não tinha ideia do que isso significava, não sabia se ela me entregando apenas para ter um fechamento, não sabia se era sua maneira de dizer que havia há muito tempo deixado tudo para trás.

Eu me sentia... Perdido.

— Oliver? – Sua voz parecia vir de um ponto distante, mas eu sabia que ela ainda estava ao meu lado, me encarando, aguardando. Virei meu rosto para encara-la também, e o que vi ali me assustou. Ela parecia tão... Frágil.

— Por que agora? – Perguntei por fim. – Por que esperou tanto tempo e resolveu me entregar agora? – Tive medo de sua resposta, de que o que eu suspeitava fosse o certo. Ela estava concluindo tudo. Ela me encarou incerta, então parecendo reunir coragem segurou minha mão e entrelaçou seus dedos aos meus.

— Por que Tommy colocou dúvidas em minha cabeça. – Confessou. – Dúvidas que até então eu havia ignorado e não tinha percebido o quanto precisava tê-las. Ele disse que éramos idiotas que ninguém acreditava que o que sentíamos resumia-se a amizade. Você conhece Tommy, sabe que ele é insistente e irritante. – Sorriu. – E o que ele falou ficou em minha cabeça, não ter você por perto ajudou a acentuar essas dúvidas, eu acho que se você estivesse perto o suficiente, há apenas uma ligação, eu voltaria a ignora-las, me convencer do contrário.

— Convencer do que? – Perguntei ainda confuso.

— Eu peguei essa carta. – Falou soltando-me e se levantando. – Eu não lia há anos. Desde que eu a escrevi, eu acho. – Virou-se para olhar para mim. – Eu esperava que ao lê-la eu perceberia que havia sido apenas uma paixonite de uma garota no colegial que confundiu seus sentimentos pelo melhor amigo, mas então eu vi, eu li e percebi que cada palavra ali escrita era inalterável. Eu percebi que os anos se passaram e eu não fui capaz de abafar aquele sentimento, ignora-lo talvez, mas jamais esquecê-lo.

— Felicity...

— Eu te amo. – Murmurou calando-me. – Não da forma que eu queria, mas da maneira que eu sempre quis ser amada por alguém. Por você. E os anos não foram capazes de deixar esse amor mais altruísta, apenas cego e desonesto. Por que eu odiei cada um de seus relacionamentos, e escondi não apenas de você, mas de mim. Mas assim como antes eu não exijo reciprocidade, eu apenas precisava dizê-lo, e não para me sentir mais tranquila, mas por que eu não conseguia pensar que poderia existir a pequena chance de você sentir o mesmo, e não tentar.

A observei por um longo tempo, meus olhos concentrados principalmente nos seus. Ela ainda estava ansiosa, inquieta e eu... Eu estava desnorteado.

Maravilhado.

Como éramos patéticos nós dois.

— Oliver?  - Tornou a me chamar. – Eu estraguei tudo entre nós dois?  - Indagou com preocupação. - Nossa amizade? – Diante sua pergunta feita carregada com um tremor cuja origem só poderia ser do medo, eu ergui minha mão, ela ainda que hesitante a segurou e lentamente a puxei para mim a colocando entre meus joelhos.

— Nada seria capaz de destruir nossa amizade. – Falei. – E muito menos o amor que sentimos um pelo outro. – Ela exalou, soltando junto com o ar toda a tensão acumulada. E então pareceu finalmente perceber o que eu havia dito. – Eu nunca disse antes, Felicity, por que não queria parecer inseguro perto de você, mas você foi meu primeiro beijo também. – Ela me encarou surpresa. – Você foi minha primeira transa. Eu era novo não queria parecer tão... Patético, ridículo eu sei. Honestamente eu não acho que você não tenha percebido, mas de qualquer maneira, eu preciso dizer. Você foi minha primeira também. – Esclareci.  – E para mim, não importando todas as garotas que vieram depois, meus relacionamentos, seus relacionamentos... Você foi à única. A única que realmente amei.

Felicity me encarou ainda atônita com o que eu havia dito. Aguardei que assimilasse minhas palavras e sorri quando ela piscou parecendo despertar de um sono profundo. Calma e lentamente suas mãos se moveram para meus ombros e guiadas por sua própria vontade as minhas subiram para sua cintura, a puxando ainda mais para mim. Felicity tomou seu tempo acariciando meu pescoço e então subindo para meu rosto, respirei fundo tendo controlar a onda de desejo que apenas aquele toque, um toque tão inocente fez comigo.

Uma parte muito masculina minha e menos educada queria sua atenção.

Ela sorriu parecendo perceber a direção dos meus pensamentos.

— Você está excitado.

— Eu estou em uma cama e você está me tocando. Sua cama. – Apontei o óbvio.

— Nós ainda nem nos beijamos. – Lembrou-me.

— Eu não preciso de muito para isso. – Murmurei fazendo com que ela sorrisse divertida. – Mas eu definitivamente preciso corrigir esse lance de beijo. – Murmurei antes de gira-la a surpreendendo e deita-la na cama, abafei seu grito de surpresa com minha boca e senti mais que escutei seu gemido em resposta.

Todas nossas primeiras vezes foram desajeitadas e a princípio estranhas, mas foram especiais para mim. Porque era Felicity, e agora este não era meu primeiro beijo, e estava longe de ser minha primeira transa, mas era a primeira vez que eu a tocava sabendo que me amava, e inferno, nada poderia ter um gosto melhor do que os lábios da pessoa que você ama. Nada poderia ser melhor do que ser tocado por ela. Nada se compararia a ser amado por ela.

Minha Felicity.

A única para mim.


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Notas finais do capítulo

Acabou!!
Eu espero que tenha agradado a todos, e agradeço a atenção... Como sempre fico no aguardo do feedback de vocês!!
Xoxo, LelahBallu.



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