Definitivamente um encontro escrita por llucida


Capítulo 2
Família


Notas iniciais do capítulo

Amanheci vendo uma fanart linda da Eri e logo pensei que as luvas foram certamente coisa da Joke



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"Vamos, Eri-chan, mostra o que tem aí".

A garota se inclinou mais sobre a folha encadernada.

"É um segredo, senhorita Joke".

"Que você poderia me mostrar", Emi insistiu.

Eri abanou a cabeça, "O senhor Aizawa disse que segredos devem ser" ela colocou um dedo no lábio com uma expressão severa. Joke não pode evitar rir consigo mesma. Se fosse filha não seria mais parecido.

"Assim que se fala, Eri-chan" Mirio trocou uma folha com a menor.

"Isso é algum tipo de complô? Eu já mostrei pra vocês meus desenhos".

"Indecifráveis", Aizawa pontuou do outro lado do carpete.

O pequeno grupo havia ido ao shopping comprar algumas roupas de inverno pra Eri, e diante das primeiras roupas hilárias que o professor da 1-A havia comprado pra garota, Emi quis ter certeza que estaria presente para proteger a menina do gosto duvidoso dele – Sem contar que queria rir muito.

Após comprarem roupas quentes o suficiente para todo o inverno, eles decidiram passar na livraria, para comprar contos e livros de colorir, os quais Eri rapidamente se interessou, sentando rapidamente no espaço recreativo para desenhar e pintar. Logo Emi e Mirio transformaram a atividade em um jogo de adivinhação, onde trocavam dicas até desvendar o que estava sendo desenhado.

Eri mordiscou o lábio e virou a folha que desenhava. Havia uma árvore e algo que parecia um gato.

 "Pátio", Mirio sugeriu.

"Parque" Emi tentou diante da negativa.

"Escola", Aizawa tentou e Eri sorriu fazendo mais um desenho. Parecia um cachorro.

Emi viu que era sua vez de tentar "Um zoológico?"

Eri fez o esboço de algo parecido com um leão e um coelho.

"Um abrigo?"

"Mais ou menos" Eri chacoalhou a mão pensativa "Não é um lugar".

Os três mais velhos se entreolharam curiosos, foi quando Emi notou sobre o ombro uma senhora de cabelos loiros no caixa

Ela logo desviou o olhar.

Essa não.

Em um tilintar de segundos, Joke sentiu uma mão em seu ombro.

"Filha", a senhora de cabelos loiros e feições aristocráticas cumprimentou.

"Mãe", Emi sorriu nervosa. "A senhora aqui?".

A sra. Fukukado arqueou uma sobrancelha, recusando-se a responder a obviedade da constatação.

"Ok, pessoal, essa é minha mãe, e mãe, esse é o Mirio", ela indicou o garoto loiro ao lado. "O Aizawa, e a Eri-chan, que está sobre os cuidados de nosso pequeno esquadrão".

"Aizawa", A sra. Fukukado mastigou com certo desgosto o nome do herói profissional.

Aizawa não perdeu esse momento.

"Fico feliz em conhece-los, minha filha tem falado muito de vocês", o olhar frio da mulher não parecia concordar.

Ela então se abaixou ao nível de Eri, "Ela é mesmo adorável. Deveriam leva-la para jantar lá em casa esse feriado".

Emi tossiu, "O quê? Não, o Aizawa deve estar ocupado. Sabe, um pai solteiro está sempre atribulado", riu desconcertada.

A senhora olhou para filha com desagrado, "Claro." E como se não soubesse o que dizer ela ofereceu um sorriso gélido, "Estou de saída. Pensem sobre aceitar o convite"

Aizawa observou Emi esperar a saída da mãe com ombros tensos, e então sorrir abertamente para a menina de cabelos brancos.

"Vamos arrumar as coisas Eri-chan?", podemos continuar a brincar mais tarde.

A menina assentiu e guardou o caderno, recolhendo também os lápis coloridos e livros que havia ganhado.

"O que aconteceu aqui?", Shouta indagou em um sussurro para ela.

"Todo um drama familiar, você não ia querer ouvir".

"Explique, mistérios não são bem o seu forte", o herói apontou.

Ele e Emi estavam saindo há praticamente dois meses. Logo que começaram, Aizawa quis que ter ao menos algumas semanas de privacidade antes que se tornasse conhecido que estavam juntos. Joke e MIC conseguiram espalhar a notícia em todo seu círculo social antes que ele dobrasse a esquina da casa dela no primeiro encontro.

Joke repuxou os lábios de modo forçado, "Basicamente meus pais te odeiam".

Um vinco se abriu na testa do homem, "O quê?" Ele nem os conhecia! Não que se importasse, claro. Não podia se importar menos com quem quer que gostasse ou não dele, mas se viu imediatamente interessado em saber o motivo.

"Não se preocupe, eles também não gostam muito de mim".

"Você é filha", ele sibilou.

"Sim, e eles me amam, mas não muda muito a figura".

"Por quê?", Aizawa quis conter a pergunta, mas ela já escapava de sua boca.

"Talvez eles tenham levado a sério demais minhas piadas sobre estarmos juntos. Digamos que eles não têm meu senso de humor ".

Aizawa parou abismado. Emi contava piadas sobre uma torpe paixão entre os dois há anos, "Desde aquela época?"

"Mais ou menos, talvez há uns seis, oito anos".

Ótimo, os pais de Emi o odiavam por uma piada insistentemente repetida ao longo dos anos

"Oito?" Shouta enrugou o nariz, "Eles acham que sou um corruptor de menores então?"

Emi riu nervosa, "Seis, seis", ela tentou afirmar tentando soar convincente.  A diferença de idade entre eles sempre foi mínima, mas no início possuía alguma relevância pelas leis japonesa, "Na verdade recente preocupação de meus pais dizem respeito a você só agora ter descoberto que tem uma filha".

Que tipo de imagem irresponsável Emi vinha pintando dele para os pais? Estava prestes a questionar quando flagrou uma linha de humor na expressão dela.

"Joke..."

Ela inverteu as mãos.

"Deu trabalho convencê-los disso. Tenho problemas até para me convencer, " ela lhe ofereceu a língua e pegou as sacolas de Eri assim que a menina acabou de arrumar os presentes.

A caminhada pra casa de Aizawa fora cheia de paradas durante o caminho. Haviam parado na praça de alimentação do shopping, e no parque que ficava no caminho para Eri brincar nos escorregadores. Com o avançar anoitecer, Mirio se despediu dos dois na estação do metrô e então sobrou apenas os dois levando uma sonolenta Eri para a casa.

Quando chegaram no apartamento, Emi constatou, sem surpresa alguma, que continuava tão pequeno e escassamente mobiliado quanto lembrava. Tivera lá poucas vezes, especialmente em visitas semi-indesejada com Mic e Midnight, a maioria quando   ele se machucava mais seriamente em algum trabalho.

Emi ajudou Eri a tomar banho e após ler, juntamente com Shouta, alguns dos contos dos livros novos, os quais a menina se mostrava especialmente ansiosa em ouvir, ala adormeceu em seu colo. A respiração suave contra seu pescoço e o retumbar ritmado do pequeno coração da garotinha a acalmava de um modo que ela sentia a rara necessidade de apreciar o momento em silêncio.

"Você deu um ar aconchegante", ela observou após um tempo com a pequena no colo.

O quarto era ainda muito simples, mas só o fato de ser pintado com cores mais claras já contrastava com os outros cômodos da casa. Além do fato de haver um urso gigante e creme na cabeceira da cama.

"Às vezes eu preciso resolver coisas por aqui, queria que a Eri ficasse confortável", ele falou como se para se justificar.

Emi se levantou e colocou Eri na cama, oferendo uma carícia suave nas mechas platinadas, "Fez um bom trabalho", ela sorriu para a menina dormindo tranquilamente.

Quando Emi acenou para saírem, já rumo a porta, Shouta deu uma última olhadela na garota e ajustou os cobertores. Ela sempre gostava de ser coberta até um pouco abaixo dos ombros. Havia um papel ao lado da cômoda e ele deu uma olhada desejando poder ignorar o que via. Um imperceptível sorriso nasceu de seu rosto antes de se desvanecer. Claro que ele sabia o que ela desenhara, talvez soubesse no fundo logo na primeira dica, só era covarde demais para admitir. Então ele pressionou o interruptor esperando que ela tivesse bons sonhos.

....

"Fico comovida com esses momentos pai e filha", Emi falou assim que ele saiu no corredor.

"Não crie histórias."

"Deixarei passar, agora estou interessada em conhecer sua cama".

Aizawa engasgou, "Não me parece uma boa ideia, eu quase não venho aqui", ele ia dizendo, mas Emi já disparava pela única porta à esquerda.

"Eu sei, você prefere aqueles sacos estranhos".

"Não é uma preferência", ele murmurou e acompanhou o passo de Emi.

"Então é aqui que minhas fantasias masoquistas se realizarão", ela falou assim que entrou. "Parece tão opressor e sombrio quanto pensava", ela correu para as janelas puxando as persianas escuras. A luz dos demais prédios a noite era uma bela visão através da película da vidraria.

"Cuidado", ele pediu quando viu Emi chegar próximo ao único objeto que estimava no quarto. Um rádio antigo tocado de LP.

"Eu tenho discos de Fred Astaire", ela defendeu sua perícia com a antiguidade.

"Previsível", ele respondeu, sentando-se em uma cadeira que fazia conjunto com a mesa de canto em que costumava organizar as missões como profissional.

"É o que eu diria dessa discografia", ela observou os discos na estante de madeira. "Mas vamos ao que importa", ela foi até sua cama e se jogou, os cabelos turquesa caíram emaranhado sobre o colchão. "É mais normal do que pensava", ela testou pressionando as costas contra o colchão.

"O que esperava?", ele apoiou as mãos no joelho, observando o perfil simétrico de Emi em conjunto com os lábios rosados entreaberto.

"Não sei, um colchão d´agua que dá massagens e faz todas aquelas coisas high tec, como suas mochilas".

"Pode-se dizer que gosto de dormir apropriadamente quando tenho a oportunidade."

"Faz sentido", ela falou já fechando os olhos. "É uma boa cama. Ficaria melhor se viesse se deitar comigo", ela murmurou.

Aizawa apoiou o queixo sobre as mãos inclinando-se na cadeira. Emi sempre falava, e falava. Não tinha filtros com ela. Ele observou novamente os lábios que tão constantemente se abriam revelando um sorriso acolhedor descansarem semicerrados e rosados. Chamativos.

Ele se levantou, movendo-se até ela.

Uma onda nervosa percorreu seu peito e Emi abriu os olhos consciente da proximidade que ele estava. Ela envolveu as mãos no pescoço masculino e deslizou os dedos por entre as mechas livres do coque preso na nuca. Aizawa então reclamou seu beijo.

Ela apreciou a sensação dos lábios dele, apropriando-se do calor que a envolvia. Shouta deslizou as mãos pelo corpo macio sabendo que ela estava lhe condenando. Então a mão de Emi envolveu a sua, puxando seu corpo para cima. Ela se apoiou em seu peito.

"Isso foi covarde, Eraser", ela falou ao se acomodar, "Eu tenho plantão daqui a três horas".

"De sua parte, você diz", ele a apertou em seus braços, deslizando a mão inconscientemente sobre ela.

Ela sorriu e plantou um beijo no canto de seus lábios.

Após algum tempo onde o único som ouvido era o soprar do vento na janela do décimo segundo andar, Aizawa perguntou "Porque você nunca desfez o mal entendido?"

Emi o encarou, "Era conveniente, ou continuaria fazendo carreira em encontros a cegas até hoje", ela se lembrou da insistência dos pais, que sempre organizavam encontros esperando que ela achasse um homem que, em suas palavras, lhe desse juízo.

"E porque ia?", Emi não era o tipo de pessoa que fazia coisas que não queria.

Ela o fitou pensativa, "Eu quase nunca faço eles sorrirem. Acho que queria agradá-los. Mas isso já faz tempo." Ela sabia que os pais a amavam, só não apreciavam muito seu jeito exagerado.  Havia sempre um  tom de repreensão em sus atos e olhares  na maior parte do tempo. 

 "Soa como se eles fossem muito severos".

"Eles são bem tradicionais. Coitados, só queria uma filha normal, mas ao invés disso ganharam a versão mais espalhafatosa", ela sorriu colando o nariz ao dele.

Aizawa passou os dedos pela franja turquesa, "E radiante", complementou em tom suave.

Ela assentiu e ele permaneceu abraçado a ele por mais um par a mais de minutos até murmurar seu nome sonolenta.

"O quê?"

"Eu nunca pensei que pensaria em dormir na primeira vez que deito em sua cama".

Ele então se permitiu rir da situação, sabendo que ela não veria, "Durma, a chamarei antes do seu plantão".

Ela aquiesceu em um gesto quase tardio, já se perdendo para o próprio sono.

Ele a puxou para mais perto. Por mais de dez anos sua vida fora praticamente a mesma. Todos os dias tinham apenas uma rotina que envolvia trabalho, escassas horas de sono e raros momentos entre amigos. Em um curto período de meses tudo que não havia acontecido em uma década pareceu ter resolvido acontecer. Havia uma criança sobre sua responsabilidade e uma mulher em sua cama. Havia sentimentos que ele costumava não se importar tamborilando em seu peito descoordenadamente.

Shouta encarou a mulher em seus braços e sentiu que jamais poderia deixar ir qualquer uma dessas coisas.


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Notas finais do capítulo

Acabei imaginando que seria engraçado se a família da Emi fosse toda séria e estoica e levasse a sério algumas piadas. Pelo que observo, filhas engraçadinhas quase sempre acabam sendo meio que "repreendida" pelos pai, acho que é porque a sociedade sempre espera que meninas sejam doces e delicadas, aí qualquer uma garota loud como Emi acaba sendo um noossa..



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