Capítulo quatro — Passando a história a limpo.

Estava irritado, parecia até com um cão que havia contraído raiva. Os olhos dourados brilhavam com a determinação do garoto, iria perguntar diretamente e sem a bobeira das entrevistas que no fundo ele tinha certeza que nunca dariam certo.

O som da sala de dança estava alto, provavelmente estavam ensaiando, parou antes de chegar a sala, teria de ir com calma a partir daquele momento, não queria se expor ao ridículo na frente do clube de dança inteiro.

— Vamos com calma, você já sabe quem é, só vai tirar satisfação de forma civilizada — sussurrou para si, enquanto entrava na sala do clube.

Não pareciam estar ensaiando para alguma apresentação, o que fez o rapaz arquear a sobrancelha e cruzar os braços, enquanto encostava o corpo no batente da porta e observava a cena que acontecia dentro daquele cômodo.

A garota que ele procurava estava ali sim e estava sozinha, o que era bom para ele, já que queria tirar tudo a limpo sem fazer nenhum escândalo. Seus olhos se estreitaram ao ver ela dançando ao som de uma música que ele não conhecia.

Kagome estava dançando em cima de uma mesa, parecia se divertir sozinha e de forma despreocupada, até cantava junto e balançava os braços, até que se virou em direção a porta e seus olhos azuis se cruzaram com os dourados de Sesshoumaru.

Congelou em cima da mesa e ficou a encarar o outro por alguns minutos, piscando sem entender o que ele estaria fazendo ali. Sesshoumaru descruzou os braços e caminhou para dentro da sala, indo em direção ao aparelho que deixava a musica tocar alta.

Sua mão puxou o aparelho da tomada com força, fazendo um estrondo ecoar pela sala. Kagome por outro lado continuava em cima da mesa e sem entender nada que estava acontecendo ali.

— Desce, preciso falar com você — Pediu de forma seca, enquanto voltava a olhar para a garota.

— Sobre? — Perguntou curiosa, enquanto se colocava a descer da mesa.

Saltou da mesa e depois se encostou nela, seus olhos ficaram fixos nos de Sesshoumaru sem desviar dele nenhuma vez. Ele bufou irritado, para ele a garota estava se fazendo de cínica.

— Pode parar o “teatrinho” já sei que foi você e que atitude idiota, se queria se vingar conseguiu, eu não paro de pensar em você. Era isso que você queria Kagome? — Ele aumentava a voz enquanto dizia as palavras.

Kagome pareceu não entender nada do que ele falava, ela fechou os olhos e balançou as mãos em frente ao corpo, enquanto se colocava a se defender da acusação que estava sofrendo e nem sabia o contexto.

— Espera aí senhor esquentadinho! — Abriu os olhos e os estreitou — Como você chega aqui e vem me acusar de algo que eu nem faço ideia do que é? Pode pelo menos me explicar do que se trata? Porquê aí fica mais fácil para que eu possa entender o que está acontecendo.

— Você é louca? — Perguntou confuso — Você me beijou no baile de halloween, só pode ter sido você.

— Como? — Surpresa. Foi o que o rosto dela passou — Sherlock, como chegou a essa conclusão ridícula? — Agora quem cruzava os braços em frente ao corpo era ela e ele parecia cada vez mais sem paciência.

— Não é obvio? — Debochou — Eu te rejeitei, você usou a chance que apareceu para se vingar e mostrar que eu errei em te rejeitar e aqui estou, comprovando que estava certa. Ainda me disse que eu era esperto e que descobriria quem você era... bem, realmente descobri.

Kagome começou a rir, levando a mão a boca e a outra a barriga, enquanto ria alto, fazendo Sesshoumaru ficar uma pilha de nervos, apertando os punhos com força. Kagome limpou as lágrimas dos olhos e pediu um minuto para se recompor.

— Primeiro — começou ela, voltando ao normal — Quando você me rejeitou que eu não consigo lembrar? Segundo a pessoa que te beijou te superestimou, porquê esperto você não é, talvez goste de criar teorias, mas esperto? Desculpe, mas vir a mim, que nem sou uma conhecida sua e dizer essas bobeiras... como se realmente fosse a verdade única e incontestável, por favor... seja quem for, ela sim é inteligente, conseguiu te contornar e burlar muito bem, tanto que sua alternativa foi vir a mim que nem lembro de você ter me rejeitado.

— Que? — Perguntou revirando os olhos — Você me entregou uma cartinha e eu nem li, só joguei fora e disse que não queria nada com você.

— Foi isso? — Começou a rir de novo — Não era minha, se tivesse aberto aquela carta saberia... — Por um instante ela parou de rir, ficando pensativa — Saberia quem era a dona, ela sim foi rejeitada por você, talvez tenha sido ela — Abriu um sorriso enorme, enquanto parecia cantar vitória com os olhos.

Respirou fundo tentando se recompor do papel de idiota que estava fazendo. Voltamos a estaca zero? Perguntou para si em pensamentos, voltando os olhos me direção aos azuis de Kagome.

— Você foi fantasiada do que no baile? — Insistiu, não era possível que havia sido tão idiota ao ponto de ter montado a história perfeita em sua cabeça e agora ela ter vazado por seus dedos.

— Eu não fui ao baile — Rebateu ainda rindo — Você é muito convencido, acha realmente que eu me prestaria a tentar criar uma vingança por uma carta que você nem leu? Me poupe — Revirou os olhos — A gente nem se conhece.

Falou voltando a subir na mesa, enquanto amarrava os cabelos negros em um coque, voltou os olhos para Sesshoumaru e apontou o aparelho de som.

— Já que desligou, Sherlock, poderia ligar novamente? Eu estava ensaiando quando você chegou igual uma assombração e me assustou.

Pediu com um sorriso enorme nos lábios. Sesshoumaru bufou de ódio indo novamente ao aparelho e o ligando na tomada. Kagome tirou o celular do bolso e pareou ao aparelho novamente, enquanto procurava a música.

— Qual a chance de você me contar quem era a dona da carta? — Sesshoumaru não pediria desculpas, ainda estava convencido que era ela, só podia ser ela.

— Zero — Respondeu seca — Não tem porque eu te dar informação alguma depois do jeito que me abordou, não é esperto? Então descubra sozinho — Colocou a musica de novo e guardou o celular no bolso — Pode sair agora? Eu tenho uma coreografia ‘pra ensaiar.

— Por que eu ainda tenho certeza que é você? — Estreitou os olhos.

— Porque você é maluco — Respondeu voltando a se concentrar a repassar a coreografia.

Bufou irritado, caminhando em direção a saída daquela sala de dança. Impossível, tem de ser ela, até a cor dos olhos é idêntica. Pensava e contestava, não poderia estar errado. Ouviu então a voz dela se voltar para ele, com um som de deboche.

 — Até logo, Sherlock. — Se despediu ainda dançando.

Sesshoumaru bateu a porta da sala com força, fazendo Kagome voltar a rir do lado de dentro da sala.