Rebel Mermaid escrita por nekokill3r


Capítulo 5
Os Avoxs




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No outro dia, o frio já levou todas as esperanças que eu havia reunido no meu coração. E muito além disso, recebo a visita de alguém que eu não imaginava que pudesse voltar. Com um chicote novo, com um sorriso gigantesco por saber que usaria ele mais vezes em mim.

 Mas nada me surpreende, como se eu tivesse me acostumado com a dor; nem quando o chicote com espinhos acaba com minhas costas que paro de contar depois de quarenta vezes, ou quando me jogam no tanque cheio de gelo e muito menos quando me colocam na cadeira com a voltagem mais forte do que da última vez.

—– Como você e Everdeen conseguiram sair da arena? Quem tinha o plano de destruí-la? Aonde ela está nesse momento? Quantos rebeldes a mais existem e em que distritos estão?

Já não faço mais questão de responder nem mentalmente, nem sabendo que nenhum grito saía da minha boca. Eu sabia que não sabia e nada do que eu fizesse, ainda que lhes mostrassem minhas memórias, faria com que acreditassem que eu estava dizendo a verdade. Então deixo que acabem com meu corpo, porque sei que ele não vai aguentar por muito tempo, porque sei que quero que ele não aguente.

Deitada no chão ouvindo os gritos de Peeta e Johanna ao mesmo tempo, como se quisessem que eu também fizesse o mesmo, percebo nas minhas unhas roxas e nos pêlos em pé. Sentia que estava começando a ficar doente e não era um simples resfriado, levando em conta que tinham estragado o ar condicionado de propósito e nos deixaram com as roupas íntimas e ainda tinham prazer de mandar algum Pacificador voltar e me jogar mais três vezes no tanque de gelo. Estava fraca, estava sem ânimo para lutar; cansada de esperar pelo resgate, cansada de achar que veríamos o sol mais uma vez.

Passo no mínimo mais dois dias insensível a qualquer tortura que tentem em mim, mas possivelmente devem ter achado que eu estaria fazendo aquilo como um comportamento de rebelde que lhes dizia que nenhuma arma conseguiria me ferir, porque em um momento as paredes brancas se tornam vidro novamente e na sela de Peeta tem um casal algemado. Embora repetissem as perguntas, era meio óbvio saber por quê a moça ruiva não conseguia responder quando ela abre a boca, pois lhe faltava a língua. Uma Avox. Nunca havia visto uma de perto, achava que a aparência deles fosse monstruosa, mas talvez eu esteja numa situação mais precária. O homem ao lado dela tentava falar conforme os Pacificadores perguntavam coisas sem nexo, porém também lhe faltava a língua.

Então de repente a cadeira foi tirada da minha sela e passada para a de Peeta com pressa, onde sentaram a moça ruiva nela enquanto ela gritava e colocaram a voltagem no último. Me espanto quando seu pescoço cai para o lado, mesmo ainda estando amarrada, e sei que seu coração já parou. O Pacificador das bandejas de comida estragada carrega o corpo dela e o joga perto de mim, me fazendo começar a entrar em desespero. Seus olhos ainda abertos como o primeiro Pacificador que vi morrer, seu rosto me perguntava por quê eu não havia ao menos levantado a voz para fazer eles pararem.

Leva mais dias ainda até que o homem que estava a acompanhando se liberte da vida, enquanto isso eu e a moça ruiva, que permanecia na minha sela me impedindo de conseguir dormir, assistimos os Pacificadores lhe perguntarem coisas que certamente ele não sabia e se não houvesse alguma resposta, mais uma parte de seu corpo era cortada com o machado. Quando ele finalmente morre, sinto um certo alívio por não conseguir mais ver seu sofrimento, mas a questão era: por que estavam fazendo isso? Por que deixaram as paredes como vidros para nos fazer assistir tais coisas? E por que não conseguíamos desviar o olhar em segundo algum?

Eu me sinto traumatizada, mais do que nunca estive antes, assim que rastejam o cadáver gelado da minha sela deixando o rastro de sangue. Nesses dias aprendi o que era não dormir, afinal cada vez que eu tentava fechar os olhos era acordada pelos gritos de desespero, me fazendo assistir a maldade da Capital. Johanna talvez não estivesse tão impressionada, pois acho que havia visto coisas piores. Já Peeta e eu, mas mais especialmente Peeta... ele nem parecia a mesma pessoa; não respondia quando eu chamava, não conseguia parar de olhar para onde o casal de Avoxs haviam acabado de sair, não se importava nem mesmo com o frio. Ele era o único que saía várias vezes todos os dias, mas estavam fazendo algo a mais, deviam estar o obrigando a falar alguma coisa, porque aquele garoto atordoado à minha frente não era o mesmo sorridente que encontrei no Massacre Quaternário.

Sou jogada bruscamente dentro do tanque de gelo que parecia ainda mais congelante, o que fazia meu corpo arder mais do que se estivesse pegando fogo.

Hoje não tive uma visita de Thread, mas de alguém muito mais especial e importante. Ele me analisa como se não acreditasse que eu ainda estivesse respirando, me encarando com seus olhos de cobra, me fazendo sentir o odor de sangue vem de sua direção. Era a primeira que ele estava ali, só que não fico muito surpresa. É claro que, assim como nos manda para os Jogos sem coragem de nos olhar direito, também mandava que seus Pacificadores fizessem o trabalho sujo por ele.

Snow está quase saindo pela porta, mas minha voz sai antes que eu consiga evitar.

—– Você matou meu avô, matou todos os tributos, me obrigou a pedir perdão como se a culpa por tudo isso fosse minha, sumiu com minha equipe de preparação, me mandou para o Massacre Quaternário e me tortura das maneiras mais possíveis que existem —– digo tentando não gaguejar tanto, sentindo meus dentes batendo. —– Você fez tudo para me destruir e me matar, mas eu continuo viva. Imagino que deve ser triste, não é? Ver que está perdendo o próprio jogo que criou.

Penso que ele não vai me dar ouvidos e simplesmente ir embora, mas se vira e fica tão perto do meu rosto que quase consigo imaginar ver sangue em sua barba.

—– Minha querida Sereia Rebelde... —– diz ele, me recordando do meu apelido que há muito já havia esquecido. —– Será que você pensaria isso estando presa em um caixão ainda viva nas profundezas do mar? Será que me diria tal coisa, quando seu encanto se transformasse em nada além de gritos abafados?

E sei que não está brincando comigo, mais especificamente pelo seu sorriso que aumenta pensando na hora em que vai poder fazer tal ideia se tornar realidade.


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