Rebel Mermaid escrita por nekokill3r


Capítulo 12
A história da sereia




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A sonolência provocada pelo remédio me abandona ainda na metade da madrugada, fazendo com que eu encare o relógio novamente.

 Sou pega de surpresa quando a porta se abre, já escondo mais o rosto na coberta por achar que era o médico especial, mas tudo o que encontro são três pessoas que não conheço; uma moça com metade do cabelo raspado e uma tatuagem de desce por seu pescoço, um rapaz que não me parece muito velho com o cabelo bagunçado e o outro rapaz com o cabelo grande preso em um rabo de cavalo na metade da cabeça. Eu os olho com curiosidade, misturada com medo e insegurança por não saber o que faziam ali.

—– Olá, Krystal —– cumprimenta a moça, e me sento na cama apoiando os cotovelos nos joelhos. —– O que você acharia de dar uma volta conosco?

Eu nem os conheço, respondo mentalmente, nem mesmo sei por quê estão aqui.

—– Este aqui é Castor. —– Ela aponta para o de cabelo bagunçado que apenas faz um aceno de mão. —– Este é Pollux. —– O de cabelo grande sorri para mim. —– E eu sou Cressida. Somos a equipe de filmagem, responsáveis por muita coisa que estão conseguindo passar na Capital. E eu gostaria de ter o prazer de gravar a sua história.

Mas minha história não é nada impressionante, respondo para mim mesma novamente, achei que vocês já soubessem da trágica vida que um vitorioso leva.

De repente vejo Pollux falar em libras com Cressida. Embora eu não tivesse aprendido muito, sabia que ele tinha dito algo sobre "sol" e ela se vira para mim aumentando o sorriso.

—– Eu soube que você tem vontade de ver o sol —– diz ela me pegando no meu ponto fraco. —– Há um lugar aqui com uma floresta, e sei que agora deve estar fazendo um calor gigantesco.

Quando eu estava incapacitada de conversar e o médico especial começou a vir me visitar, ele me perguntava algo que eu tivesse muita vontade de fazer como antes. E eu sempre escrevia que era ver o sol da tarde, o mesmo que me guiava de volta para casa todos os dias depois da escola. Após tanto tempo sempre trancada de um lugar para outro minha pele até tomou um tom mais claro, por conta da falta de conseguir andar novamente debaixo de um céu de verdade e não o de uma arena.

Acabo concordando e depois de dar uma arrumada na cama e lavar meu rosto, eu os acompanho ainda sem dizer nenhuma palavra. Algo fica piscando na minha cabeça sobre Pollux... será que ele também é mudo como meu avô era? Ou será que poderia ter algum outro problema? Estou tentando não bancar a curiosa, mas é difícil não me intrigar com o fato de ele só falar por libras com todos e não abrir a boca para nada.

Descemos o elevador e vamos até um portão enorme, parecido com o do dia das bombas, e quando ele é aberto chego a ficar congelada com a visão que tenho; as árvores e a grama verde, o cheiro de natureza, o silêncio e, finalmente, o sol. Sem que eu possa evitar saio correndo até que os pequenos raios reflitam em mim, me dando um calor gostoso de sentir, e começo a rir não acreditando que isso é real. O céu estava azul sem nenhuma nuvem, quase tão claro quanto a minha peruca, me fazendo olhá-lo por alguns segundos e procurar pelo campo de força, encontrando apenas mais galhos das árvores.

Cressida e a equipe andam comigo por um tempo, percebo a câmera dela gravando cada passo que dou e apenas ignoro, falando para mim mesma que não há nenhum sistema aqui para ser atacado, que eu não estou na Capital para isso acontecer. Há um pequeno riacho ali e um banco velho de cimento, eu me sento nele enquanto os outros estão pegando água ou ocupados gravando outras coisas. Percebo que Cressida está procurando por um bom lugar para me gravar contando minha história.

—– Por que você me escolheu para fazer isso? —– pergunto pela primeira vez e ela até parece impressionada por ter ouvido minha voz.

—– Já gravei com Katniss e Gale no Distrito 12, com Finnick a alguns dias atrás, mas ainda faltava alguém —– responde ela olhando para mim. —– E eu tenho certeza de que quem usa uma peruca azul dessas, deve ter uma história surpreendente para me contar.

Eu apenas sorrio agradecendo em silêncio o que penso ter sido um elogio, mas sei que a tal peruca tem surgido um efeito contrário nas pessoas do 13. Percebo que elas me olham estranho, como se usar aquilo fosse algo de outro mundo —– no caso, o outro mundo que eles pensam que eu vim para fazer isso é a Capital. Mas tento não ligar, até porque não quero mais usar o meu cabelo natural solto justamente por nunca ter gostado da cor dele, que é castanho um pouco claro, e também por aproveitar a peruca que não preciso lavar todos os dias na hora de tomar banho.

Cressida decide que quer gravar comigo sentada, aproveitando que o sol havia mudado de direção e nos dado uma sombra muito fresca. Pollux e Castor se posicionam, e respiro fundo para reunir mais coragem de contar tudo.

—– Lembre-se, Krystal: precisa dizer que está no 13, à salvo e bem —– relembra Cressida e afirmo com a cabeça. —– Se quiser pode fazer algumas pausas, mas seria melhor se falasse sem parar.

—– E se eu errar? —– pergunto com medo de que aconteça, porque me conheço bem o suficiente para saber que há uma enorme possibilidade disso.

—– É só esperar uns vinte segundos e repetir, assim vai ficar mais fácil para cortar a parte errada e editar —– responde ela, sorrindo. —– Não fique nervosa, não estamos fazendo isso por mal. E não quero obrigá-la a nada, então em qualquer momento que quiser parar é só dizer que desligaremos as câmeras no mesmo segundo.

Ouvir a resposta dela me faz suspirar aliviada, pois realmente pensei que se eu me recusasse a falar eles iriam me matar e me deixar ali mesmo. Então eu me ajeito no banco, cruzo as pernas e dou um sinal para Cressida começar a gravar. Olho direto para a câmera e deixo que as palavras saiam da forma que desejarem.

—– Meu nome é Krystal Lewis, estou no Distrito 13 à salvo e bem. Atualmente tenho dezessete anos, mas tinha quinze quando ganhei os Jogos Vorazes —– começo devagar para que nada falhe. —– Sempre morei junto do meu avô, um homem já decadente e muito deprimido, que raramente sorria ou me buscava na escola, não gostava de sair da cama e nem mesmo meus desenhos que eu fazia de nós dois parecia animá-lo. Ele era mudo, desde que consigo me lembrar nunca havia o visto abrir a boca a não ser para se alimentar, por isso nossas conversas se resumiam em olhares e gestos. Gostavam de fazer brincadeiras de mal gosto comigo quanto à ele, me falavam que meu avô era, na verdade, um Avox e que deveria ter feito algo muito errado, então a Capital lhe deu um castigo o deixando naquele estado. Até aquele ponto da minha infância e inocência, eu sabia que os Avoxs não falavam, mas jamais imaginava que cortavam as suas línguas. —– Dou uma olhada em Pollux embaixo de seu capacete nessa parte. —– E toda essa brincadeira durou por anos e anos até o começo da minha adolescência, o que fez com que eu tomasse uma certa raiva em relação à Capital. Foi nesse meio tempo em que comecei a perceber o quanto toda aquela exigência era anormal e os Jogos, que antes pareciam uma coisa comum, passaram a se tornar pesadelos constantes. Não somente isso, mas também comecei a desobedecer ordens como pedidos de Idealizadores, intimidações para ir à academia treinar por anos e mais outras regras que eu antes jamais recusaria. —– Respiro fundo mais uma vez por saber que estou prestes a contar como todo o pesadelo começou. —– Então chegou um ano e eu fui sorteada, tive a grande honra de ter minha morte televisionada para todo o país, tendo de deixar meu avô mais solitário do que já estivera antes mesmo com a minha companhia e eu não conseguia afastar a ideia de que os superiores houvessem visto o meu mal comportamento e me mandado para a arena, para assim eu não acabar espalhando um pouco de consciência aos outros. Assim que vi a Capital pela primeira vez, a chance de acabar com a reputação da vida perfeita se posicionou dentro de mim e, aproveitando a noite das entrevistas, falei que ninguém daquele lugar poderia nos machucar já que nos obrigavam a fazer isso isolados em um determinado lugar. Aquilo foi realmente o ápice. Os Idealizadores não sabiam mais o que fazer comigo, visto que eu sempre que tinha uma oportunidade tinha prazer em detonar com o paraíso falso deles. Mas o que eu tinha a perder? No máximo me dariam uma enorme bronca me ordenando calar a boca ou me mandariam para a prisão, afinal eu estava com metade do caminho andado para o meu sepulcro. Me apelidaram de Sereia Rebelde. E, embora me avisassem que eu estava indo longe demais, eu sabia que estava fazendo uma diferença, estava representando todos os oprimidos dos outros distritos, todos aqueles que não tinham a coragem de enfrentá-los de frente. —– Balanço o pé um pouco, sentindo que há dois anos atrás eu era a pessoa mais estúpida do mundo por essas atitudes. —– Quando fomos para a arena eu já tinha um plano junto de meu parceiro de distrito, Josh, que era um ano mais velho; desde que nos vimos pela primeira vez tínhamos confirmado em fazer uma aliança apenas entre nós dois, sem se importar com a possibilidade de um matar o outro. Graças ao meu comportamento de rebelde e a beleza dele, ganhamos muitos patrocinadores e eles mandavam tantas coisas que comida era o que nunca faltava. Foi nesse instante que pensei em provocá-los mais uma vez. Passei a dar comida aos tributos que eu sabia que me ajudariam e fiz linhas com fogo por onde os Carreiristas passavam, para que os outros pudessem ficar longe. Os Tributos Carreiristas foram os primeiros a morrer por bestantes por causa disso, dando chance para pessoas melhores. —– É preciso uma pausa de alguns segundos, pois falar de Josh faz eu querer chorar. —– Então as semanas passavam e nunca acabavam, parecia que estávamos confinados a meses. As imagens não apareciam mais no céu à noite, mais ninguém corria ou gritava desesperado nem durante o dia. Eu e Josh nos encontrávamos sem comida e água, mas não por ter dado tudo e sim pelo tempo que não parecia passar. Para mim era fácil passar fome ou sede, já que meu avô às vezes ficava semanas sem fazer nada além de dormir e permanecer na cama e com o tempo fui me acostumando com o estômago doendo e a boca seca, porém o meu aliado não era assim e dava para ver o quanto ele estava ficando cada vez mais desidratado. A dias sem acontecer nada, foi então que recebemos um presente, especialmente dele... o presidente Snow. —– Sinto os olhos ardendo e as lágrimas se juntando, mas decido seguir mesmo assim. —– Estava dia, começo de tarde, quando ouvimos um barulho muito alto de algo rolando e começamos a correr quando vimos as enormes rochas que esmagariam qualquer um a sua frente. Todos os tributos corriam juntos, sem pensar em matar algum, naquele instante nossa única intenção era apenas salvar nossas vidas. As rochas sempre viam em minha direção e nunca me acertavam realmente, mas eu via as pessoas morrendo ao meu lado gritando pelo meu apelido, pelo meu real nome, clamando a minha ajuda, implorando para que eu as salvasse. As pernas tremendo de tanto correr, o sangue de todas elas me molhando como uma chuva eterna. Tudo só se acalmou quando eu e Josh paramos na Cornucópia, aonde havia uma mesa com um pequeno banquete, coisas que precisávamos de verdade. Ele viu a água, seu rosto se encheu de alegria e sorrindo, a abriu como se aquilo fosse sua última esperança. Me lembro de sentir um cheiro estranho vindo da garrafa, algo que eu identifiquei de imediato pois meu avô já havia ameaçado tomar a mesma coisa um dia que voltei a escola. Aquilo era veneno. Embora eu tentasse fazê-lo cuspir ou vomitar tudo, era tarde demais. E também o vi morrer diante de meus olhos, enquanto seu rosto antes tão bonito se desfazia conforme o sangue se derramava cada vez mais. O canhão soou repetidas vezes e então o hino da Capital, anunciando que eu era a mais nova vencedora. —– As lágrimas escorrem em parar e a minha voz fica horrível. —– Quando voltei para casa, ainda muito atormentada e horrorizada pelas coisas que havia presenciado, tive a notícia de que meu avô havia morrido, mais especificamente na noite em que eu havia dito que a Capital não tinha como nos machucar. Mas não tive tempo para ficar de luto nem para aproveitar o luxo, pois na mesma madrugada saí para a Turnê da Vitória, tendo de decorar falsas palavras de consolo e escondendo minha dor. Eu havia ganhado uma roupa toda preta que fora outro presente especial do próprio presidente Snow, que só de ouvir sobre ele fazia os pêlos dos meus braços se arrepiarem de medo. No começo não compreendi por quê ele perderia tempo me dando algo assim, mas quando me ajoelhei e encostei a testa no chão do palco do Distrito 12, implorando por perdão, exatamente como ele havia me obrigado a fazer como se a culpa pelas mortes e pelos Jogos fosse minha, foi que senti sua diversão em torturar os sobreviventes; agulhas se enfiavam até o fundo da minha pele cada vez que eu inclinava o corpo para frente e tive de fazer isso até o último distrito, sempre sentindo a dor saindo e entrando, saindo e entrando, me lembrando de que aquele era o preço da minha rebeldia, o preço por achar que eu poderia ser livre deles só por ter coragem de de dizer algumas verdades... —– Minha garganta dói pelos nós que preciso engolir. —– Após a tortura passar, consegui voltar para a minha nova casa e comecei a morar sozinha, sempre evitando dar passeios ou me envolver com alguém que pudesse se machucar por minha causa. Só recebia a visita da minha equipe de preparação que amava me arrumar e me fazer acreditar que eu teria um "belo, belo, belo" dia pela frente, mas depois de dois meses eles pararam de vir. Foi muito óbvio imaginar o que poderia ter acontecido com eles. E eu me transformei em meu avô, tão deprimida e vazia quanto ele, tão calada e solitária quanto ele, tão desesperançada e desolada quanto ele. Sem nenhum amigo, sem nenhum parente que ainda pudesse estar vivo, sem ninguém que pudesse realmente confiar. Trancada dentro do próprio terror, com as janelas e portas de casa sempre com cadeados gigantes. Nos programas da Capital às vezes mencionavam o meu apelido, passavam imagens minhas ajudando outras pessoas e depois as deixando morrer sem poder fazer nada, perguntavam por onde eu andava, me dando como a vitoriosa mais desaparecida dos últimos tempos, quase dada como morta. Passei um tempo dessa forma, o presidente Snow me deixou de lado pois eu já não era mais importante e por quê sabia que não tinha ninguém para machucar que me afetasse. A paz recomeçava aos poucos a voltar, de vez em quando até conseguia me levantar e ver a chuva pela janela aberta sem achar que havia uma arma apontada para minha cabeça. Mas, é claro, não durou tanto assim. —– Uma pausa para respirar fundo, a pior parte está por vir. —– O Massacre Quaternário fora anunciado e eu era a única com um pouco de sanidade e um físico bom para aguentar a morte mais uma vez, junto de Finnick, meu eterno mentor. Fui pega pela Capital por me confundirem com Katniss Everdeen, porém não tiveram nenhuma piedade por isso. Todo dia sem banho, sem água ou comida, torturas constantes, cadáveres apareciam e me faziam companhia na minha sela... —– Mais uma pausa para não deixar os acontecimentos me vencerem de falar. —– Com muito esforço, conseguiram me resgatar. Agora estou aqui, perto da maior revolução que poderia ver. De alguma forma, o Tordo me lembra de como eu era há alguns anos atrás. Só espero que ela não tenha o mesmo fim que a Sereia Rebelde, que morreu sem ter o direito de realmente fazê-lo.

Assim que paro de falar e vejo a luz da câmera desligar aos poucos, percebo que todos os três parecem espantados, talvez até arrependidos por terem me incentivado a fazer isso. Eu enxugo o rosto com as mãos, os vendo olhando para mim congelados e finjo um sorriso.

—– É isso, essa é a minha história —– digo, sentindo o vento bagunçar com os fios soltos da peruca.

—– Krystal... —– chama Cressida e ela se senta ao meu lado, estende um cantil com água e eu bebo devagar, percebendo que minhas mãos estavam tremendo. —– Muito obrigada por nos compartilhar tudo isso, sentimos de verdade que tais coisas tenham te acontecido. —– Afirmo com a cabeça, tentando continuar com o sorriso. —– Todos nós também estamos enfrentando uma luta diária com o que já nos ocorreu. Você sabe que não está sozinha, não sabe? —– Afirmo com a cabeça de novo, embora que mesmo com todo o apoio eu me sinta meio solitária e isolada. —– Se quiser podemos andar mais um pouco, ainda temos alguns minutos para ficar aqui.

Olho para o riacho a minha frente, refaço o rabo de cavalo mais alto por conta do suor que estava na minha nuca, puxo as mangas do uniforme dos braços e das pernas, retirando a bota e ficando descalço. Com a ajuda de Pollux que segura na minha mão, eu consigo descer e me sentar nas pedras, colocando os pés na água gelada. Não consigo explicar o quão boa é a sensação, mas fico ali sorrindo enquanto Cressida continua me gravando —– era meio incômodo e me deixava envergonhada, contudo tento não me importar e algumas vezes até dou umas olhadas para a câmera.

A grande pulseira de Cressida apita quando eu, Pollux e Castor estamos brincando de jogar água um no outro, anunciando que deveríamos voltar. Dou uma última olhada para a floresta, respirando o ar puro que vem dela e sigo para dentro, sentindo uma certa dor no coração por ter de ir. Embora não tivéssemos ficado muito tempo, me ajudou com a minha ansiedade e me esqueci um pouco sobre tudo, mesmo depois de ter contado sobre a minha vida. E talvez até pode ser verdade o que o médico especial diz, sobre eu me sentir melhor se conversar e me enturmar mais com as pessoas.

Eu os agradeço pelo passeio quando estou na porta do meu quarto, resisto a tentação de saber o que fariam com a minha filmagem, e desabo na cama suspirando cansada.

(...)

Depois de tomar um banho, decido descer para jantar no refeitório. Não fui com expectativa de encontrar ninguém, na verdade queira poder me sentar perto de desconhecidos, mas logo ao chegar encontro quase todos que conheço sentados em uma mesa juntos. Pego a bandeja sentindo o aroma bom que vem da sopa, e dou uma olhada de relance para os outros; eu ainda não estava animada o suficiente para me enturmar, e olhar para aqueles que estive junto em uma arena me fazia um certo mal. Estou dando um jeito de fugir junto com o amontoado da fila, porém Finnick me vê e grita meu nome, não me deixando escolha.

—– Encontramos uma sereia fora da água —– brinca ele, se levantando para me abraçar sem soltar a mão de Annie.

Cumprimento todos me encaixando no único lugar que era perto de Katniss, a última pessoa que eu gostaria de sentir o braço encostando no meu. Não ligando para isso, começo a comer devagar enquanto os ouço conversando, meio desanimados, sendo que por outro lado Finnick transborda alegria grudado com Annie, e eu tento não olhar para o rosto dela por puro medo.

—– De que distrito a equipe de filmagem veio? —– pergunto quando estão calados, apenas movimentando as colheres.

—– De nenhum, porque eles são da Capital —– responde Gale ainda comendo, e eu fico bastante impressionada.

—– A situação deve estar feia mesmo pra essa gente chique vir implorar por abrigo nesse fim de mundo —– diz Johanna rindo irônica. Até tento ignorar, só que não consigo porque eles foram tão gentis comigo.

—– Não é só porque moravam na Capital que isso significa que a vida deles era perfeita —– retruco tentando não ser tão mal educada. —– E, aliás, duvido que eles te julgariam dessa forma.

—– Ah, sim, eles levam uma vida bem difícil mesmo! Deixe-me pensar... —– Johanna coloca a mão no queixo e olha para o teto. —– Eles todos os anos são obrigados a ir para os Jogos matar pessoas e vê-las morrendo, não é?

Até penso em continuar respondendo, mas prefiro não fazer nada porque não quero que ela fique com raiva e acabe passando mal, ainda não aceitando o fato de ela falar dessa forma sobre eles. Eu jamais adivinharia que fossem da Capital, tudo bem que a aparência fosse um pouco diferente, só que nem isso é capaz de entregá-los. Para quebrar o clima pesado que ficou Finnick começa a contar histórias engraçadas de quando ele era pequeno e inexperiente em pescar, o que em segundos faz todos começarem a rir e esquecer a minha mini-briga com Johanna.

Enquanto eu ria percebo como ninguém nunca toca no nome de Peeta, talvez por causa de Katniss, mas eu gostaria que falassem que esperam uma notícia que ele está melhor, que queriam que ele estivesse comendo conosco ou que esperam poder fazê-lo uma visita, entretanto às vezes vejo que as pessoas não ligam muito para ele, o que me faz ficar triste.

Volto para o meu quarto e me aconchego na cama, sentindo uma dor boa nos joelhos por ter andado. Decido tomar um remédio para dormir que, junto ao cansaço e a alegria do passeio inesperado, me fazem adormecer sem ter nenhum pesadelo.


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