Rebel Mermaid escrita por nekokill3r


Capítulo 10
A nova arena-relógio




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Telessequestro, esse é o nome do novo pesadelo. Telessequestrado, esse é o novo estado de Peeta. Descubro tais coisas logo pela manhã depois das poucas horas do meu sono perturbado, quando me chamaram para participar da reunião no quarto de Katniss —– agora mudamos os papéis e é ela quem não pode falar por enquanto, mas percebo que somos muito parecidas em não ter paciência até que a garganta decida melhorar. E os ouvindo falar sobre a possibilidade de Peeta nunca se curar do veneno das teleguiadas, percebo que com ele naquela situação e Johanna possivelmente ficando maluca igual a mim, só há uma pessoa que pode ajudar de alguma forma. E sou eu.

 Contar sobre as torturas pode ser a melhor coisa que eu poderia fazer já que quanto mais exigissem, mais eu adiava, por isso com esse pensamento volto para meu quarto e pego o caderno que eu costumava usar antes, escrevendo desde o dia em que acordamos lá até quando Gale conseguiu me resgatar. Ao terminar vou atrás de Coin, e ela está na mesma mesa de sempre, com a mesma expressão vazia no rosto.

—– O que é isso? —– pergunta ela assim que a entrego as folhas.

—– Como você deve saber, é difícil para mim falar sobre o que aconteceu na Capital —– respondo aos poucos, ainda meio envergonhada e com medo de que ela brigue comigo por não ter sido convidada. —– Então eu escrevi tudo o que passamos, todos os detalhes das torturas, dos Pacificadores, da estilista que foi nos ver, do dia que gravamos a propaganda que nunca foi exibida...

Ela parece tão surpresa quanto eu, dando uma olhada na primeira folha. Coin junta as sobrancelhas e fico me perguntando se fiz mal, mas depois sorri para mim.

—– Muito obrigada, Krystal —– agradece ela, me dando uma sensação enorme de alívio. —– Isso vai nos ajudar muito, e tenho certeza de que a Peeta também.

Eu apenas sorrio de volta, agora pensando que fiz a coisa certa.

E enquanto saio de volta para o corredor, me vem a vontade de visitar Peeta e Johanna, mas sei que os dois ainda estão em um estado muito precário para receber visitas, então sou obrigada a ir para o refeitório. Como são três da tarde ainda haviam pessoas almoçando atrasadas, e vou para perto da mesa quando encontro Finnick sentado com Annie. A melhora dele está estampada em seu rosto, que me parece com mais cor, apesar do pouco tempo que ela chegou; antes ele passava quase o dia todo dormindo e quando não estava fazendo isso, ficava chorando em seu quarto e eu não havia o visto nesse meio tempo, porém as enfermeiras que me visitavam tinham uma certa adoração em falar do estado deprimente dele.

—– Annie, essa é a minha amiga Krystal, ela me ajudou muito —– anuncia ele assim que me sento de frente aos dois, o que acho bobeira já que morávamos no mesmo distrito.

—– Oi, Annie —– cumprimento envergonhada. —– Ainda bem que você voltou, ninguém mais suportava esse garoto chorando pelos cantos.

Ela ri com a minha brincadeira e Finnick finge estar ofendido, mas começa a rir também segundos depois. Como Annie era ruiva, é difícil não me lembrar da Avox que vi morrer e escondo as mãos por baixo da mesa quando elas começam a tremer.

—– Sabe, Annie e eu temos um convite especial para você —– diz ele e eu fico calada, esperando para saber o que é. —– Vamos nos casar, aqui no Treze, e eu gostaria muito de que você estivesse presente.

Você quer se casar enquanto estamos em guerra, penso comigo mesma para não ser mal educada, dessa vez conseguiu se superar, Finnick.

—– Está bem, eu vou —– digo fingindo um sorriso. —– E quando é que vai ser?

—– Amanhã, às 19 horas —– informa ele também com um sorriso, porém o dele era de verdade. —– Pedi para que Peeta decore o bolo, porque não quero que ele fique apenas naquele quarto amarrado.

—– Você conseguiu falar com ele? —– pergunto esperançosa para saber se ele podia receber visitas assim.

—– Não diretamente, foi preciso que eu falasse através do vidro —– explique Finnick, suspirando. —– Ele ainda está muito violento, mas se lembra de mim. E ele perguntou sobre você, sabia?

—– Verdade? —– Meus olhos quase se enchem de lágrimas. —– O que ele perguntou?

—– Se você estava aqui também, se estava bem e à salvo —– responde ele, passando o braço nos ombros de Annie e encostando a cabeça dela em seu queixo. —– Acho que só mexeram nas lembranças que ele tinha em relação à Katniss, porque ele só fica nervoso e começa a gritar quando mencionam sobre ela, tirando isso Peeta continua o mesmo garoto que conhecemos.

Aperto meus dedos uns nos outros após tudo o que diz e não posso julgá-lo por achar que Peeta poderia continuar o mesmo, afinal não esteve no mesmo lugar que nós e não viu as mesmas maldades que fomos obrigados a ver. E decidindo deixar todo aquele papo de Capital eu mudo o assunto, escutando com atenção Finnick contando como se apaixonou por Annie e ela também arrisca dizer por quê o amava tanto, e vendo os dois sorrindo e se abraçando à minha frente, penso em como as pessoas parecem ser destinadas a ficarem juntas.

Depois de algumas horas de conversas decido voltar para o meu quarto, com a certeza de não sair mais até o outro dia. Me jogo na cama com o rosto afundado no travesseiro, tentando não deixar os pensamentos tomarem conta de mim —– segundo o médico especial eu sofro de um transtorno de ansiedade muito generalizado, o que me provoca tais coisas, só que tenho vontade de dizer que ansiedade nenhuma é mais forte do que ir para uma arena e voltar com vida.

Como tenho tomado os remédios como está prescrito em uma folha da mesinha perto da cama e por ter acordado muito cedo, vejo que estou quase dormindo quando a porta se abre rapidamente batendo na parede me assustando. Olho para a direção do barulho encontrando Haymitch Abernathy, também assustado com a possibilidade de ter estragado alguma coisa.

Ele vem até perto da minha cama e por ainda estar insegura pela visita inesperada, me encosto na cabeceira da mesma.

—– Oi, bonitinha —– cumprimenta ele e acabo não conseguindo esconder a raiva pela intimidade que eu não havia lhe dado. —– Bem, seus textos ajudaram muito, tanto que até mudamos o tratamento de Johanna porque o antigo a fazia entrar em pânico e não sabíamos a razão disso.

Eu continuo sem reação, mas fico feliz por dentro por saber que havia ajudado de verdade. Talvez ter escrito sobre os acontecimentos sangrentos foi a única coisa útil que fiz desde que cheguei aqui.

—– Então, como recompensa, vamos deixar que visite o Peeta —– anuncia Haymitch, e deixo claro demais a alegria. —– Mas antes de irmos quero que saiba que ele ainda está muito atordoado e confuso por tudo que aconteceu, nem mesmo sabe se está vivo de verdade. Prometa que vai sair de lá, caso ele tente te machucar.

E a alegria se esvai. Eu pretendia abraçá-lo, dizer que estávamos bem e que agora, mesmo com um perigo constante, não seríamos mais torturados. Não me importava com a possibilidade de ele acabar conseguindo me estrangular como havia tentando com Katniss, pelo contrário, eu até ficaria agradecida se me fizesse esse favor.

—– Está bem —– minto descaradamente, e Haymitch me olha como se não acreditasse em mim. —– Okay, eu prometo. Sairei de lá no mesmo segundo se ele começar a ficar estranho.

No caminho decido fazer uma trança na peruca que apenas uso sempre solta, observando Haymitch de costas. Eu lembro de vê-lo na televisão algumas vezes, gostavam muito de reprisar os Jogos que ele participou, mas costumavam dizer que se um vitorioso do 12 não fizesse uma entrevista depois de uns dois meses era provável que tivesse morrido de fome, porque a recompensa para eles em dinheiro era menor, então depois de tanto tempo pensei que ele estivesse em um caixão.

Logo nos encontramos com Plutarch, que observava Peeta pela janela, e ele me dá um breve aceno e pede para que eu entre devagar. O nervosismo do que poderia acontecer me invade assim que me vejo dentro do quarto, me aproximando de sua cama. Ele vira o rosto e me encontra ali, e quase é capaz de sorrir.

—– Oi, Peeta —– cumprimento me sentando perto dele, percebendo na força das amarras em seu pulsos. —– Finalmente consegui falar com você. Como está se sentindo?

—– Horrível —– responde ele sem ânimo, e de repente sua expressão muda. —– Quando acordei no outro dia e vi o sangue no chão, pensei que tivessem te matado.

Eu abaixo a cabeça por não saber mais o que dizer, afinal estava esperando encontar o Peeta alegre e esperançoso, mesmo quando estava destruído por dentro. E ter de encará-lo desse jeito dói mais do que imaginava.

—– Pensei que tivesse me deixado —– continua ele e ergo os olhos para seu rosto, cheio de hematomas. —– Pensei que tivesse me abandonado para morrer.

—– Não, Peeta, eu jamais faria uma coisa assim —– digo depressa, quase desesperada para que acredite em mim. —– Se eu pudesse teria feito eles te resgatarem primeiro, eu não achava que isso fosse acontecer.

Nesse momento me ajeito no colchão e a trança cai sobre meu ombro a deixando visível, e Peeta muda a expressão mais uma vez.

—– Você me deixou lá por causa dela —– murmura ele olhando para a peruca. —– Você me abandonou para morrer por causa delaEla conseguiu enganar você. E agora você está ao lado dela também!

—– Não, não é nada disso! —– exclamo e me levanto ao ver o azul de seus olhos desaparecer, percebendo na íris preta se aumentando. —– Eu não estou ao lado de ninguém, ninguém conseguiu me enganar, eu não abandonei você para morrer!

—– Katniss pediu para que você me dissesse isso?! —– grita ele tentando tirar o que prende suas mãos. —– Você vai estar ao lado dela até ver a bestante ela é, até ela tentar te matar como fez comigo!

Não sei dizer por qual razão é o choro dele, mas as lágrimas escorrem de seu rosto conforme ele continua gritando que Katniss é uma bestante, uma aberração criada pela Capital para nos destruir. Estou quase falando mais coisas quando alguém me puxa pelo braço, trancando a porta do quarto dele.

—– Achei que você houvesse me prometido que sairia de lá se ele ameaçasse te machucar —– diz Haymitch.

—– Você é o mentor dele, passou muito mais tempo junto dele, deve até conhecê-lo melhor do que eu e me diz isso?! —– retruco irritada. —– Como se você fosse entrar ali e aceitar o fato de Peeta estar naquele estado!

E antes que possa me dizer alguma coisa, volto marchando para o meu quarto e tenho a liberdade de trancar a porta. Desabando mais uma vez na cama, começo a chorar pela situação de Peeta enquanto continuo sentindo o cadáver da moça ruiva me encarando do chão. Simplesmente não consigo dormir, então depois de chorar um mar maior do que o que existe no meu distrito, fico encarando a parede e sentindo o frio me arrebentar, muito embora eu esteja debaixo das cobertas.

Peeta está sofrendo e não há nada que eu possa fazer, penso comigo mesma encarando a parede, e era eu quem merecia estar daquele jeito. Talvez a morte seja mesmo a melhor opção, talvez todos se alegrariam de verdade me encontrassem sem vida...


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