Stella escrita por Gil Haruno


Capítulo 47
Como deveria ser...


Notas iniciais do capítulo

Mais um cap. Beijos!



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Esperei por William explodindo de ansiedade. Andando de um lado a outro, uni as mãos que se entrelaçavam com descontrole e urgência.

—Consegui fazer com que ele passe a noite aqui.

William sacudiu a chave do carro de Bryan e a guardou no bolso.

—Como ele está?

Antes de responder à pergunta, meu pai achou que já era hora de acalmar os ânimos.

—Bryan é muito contido. É difícil identificar suas emoções, no entanto, ele parece está muito agitado. – Contou abrindo a garrafa de whisky. –Tenho que monitorá-lo essa noite.

—Faça isso. – Incentivei estendendo um copo para que ele me servisse.

—O quê? Você quer beber isso?

—Por que não? – Estranhei seu espanto. –Estou ansiosa.

—Nada de bebida alcóolica na adolescência. Isso pode influenciá-la ao vício. – Fez seu discurso desnecessário tirando o copo da minha mão. –Eva!

—Sim, senhor! – Eva apareceu do nada.

—Traga um chá de camomila.

Eva fez um aceno com a cabeça e se retirou às pressas para fazer o chá.

—Como você descobriu tudo isso? – Perguntei conformada com o chá de camomila que logo chegaria.

—Sempre achei que existia um detalhe importante no passado da Kristen que ela nunca me contou. – Sentamo-nos no amplo sofá. –Na última conversa que tivemos, ela foi bastante contraditória quando a sondei. – Ele parecia lembrar exatamente o que havia conversado com a ex mulher. –Ela disse que Bryan estava em casa quando o marido a espancou, anteriormente, ela havia dito que Bryan chegara e flagrou a briga entre os pais. – Ele deu de ombros. –São detalhes que não podem ter erros.

—Uh. – Murmurei divertida. –Não existe crime perfeito, certo?

Ele assentiu. Eva chegou com o chá.

—Stella...

—Uh. – Murmurei enquanto bebericava o chá quente.

—Stephany me contou o que houve na universidade. – Olhe-o um pouco surpresa. –Sinto-me envergonhado por não ter dado atenção a você naquela época, embora eu tivesse um pouco de certeza de que Stephany estivesse mentindo.

Como uma injustiçada, eu não soube como reagir de imediato. Na verdade, eu não estava acostumada a receber aquela atenção especial.

—Tudo bem. Isso não tem mais importância.

Eu queria dizer mais coisas, no entanto, achei que não valia mais a pena falar sobre meus atritos com Stephany, no entanto, ainda tinha algo que eu queria resolver.

—Preciso que você faça uma coisa para mim.

—O que é?

William aguardou meu pedido.

—Você conhece o Jhonnie, o namorado da Stephany. – William fez um aceno afirmativo. –Ele tem um grupo de idiotas na universidade que faz tudo o que ele quer, de bullings até mesmo agressão física. – Deixei a xícara de lado. –Ele me hostilizou diante de muitas pessoas. Ele fez com que muitas pessoas me odiassem sem nem mesmo saber quem eu era.

Enquanto parecia aguardar mais relato, William coçou o queixo. Ele analisava a situação da queixa.

—O que você quer que eu faça?

Foi claramente uma pergunta, mas havia uma grande pré-disposição de certeza de acerto de contas nela.

—Bem... – Pigarreei embasbacada. –Quero que ele e os amigos sejam expulsos da Universidade de New York. – Mantive-me enrijecida no sofá. Eu nunca havia pedido um favor tão baixo.

William tamborilou as pontas dos dedos na perna.

—Para que isso ocorra, temos que ter provas do comportamento inadequado do Jhonnie e sua turma.

—Isso não será difícil provar. Ele é do tipo de pessoa que faz merdas o tempo todo sem se preocupar com as consequências.

—Uh. – William concordou. –Resolverei isso em alguns dias. Pode esperar um pouco?

—Claro que sim. – Ouvi-lo falar parecia que tudo era fácil de ser solucionado. Quando comecei a depositar tanta confiança nele?

—Katherine está muito preocupada com você. – William não disfarçava o desagrado ao ter que falar sobre a mãe.

—Falou com ela?

—Por alguns minutos. – Houve uma longa pausa no diálogo que estava começando a ficar complexo. –A Kimberly também ligou.

Eu realmente não esperava que a minha mãe entrasse em contato com William.

—Esqueci completamente que ela está vindo para New York! – Cocei as têmporas. –Provavelmente ela chegará nesse fim de semana. Preciso fazer reservas...

—Tomei a liberdade de convidá-los a se hospedar aqui. – Ele estava meio sem jeito, porém certo do que estava fazendo.

—Você não ficará incomodado?

Minha pergunta sincera atingiu William inesperadamente.

—Por que eu me incomodaria? – Ele mesmo teria que responder aquela pergunta, então o encarei persistente. –Pode parecer estranho... a Kimberly... o marido... todos aqui, na minha casa, mas... – Ele catou as palavras certas. –O passado não importa mais.

Ouvi-lo fazer aquela confissão era como sair daquela conversa com as mãos abanando, depois de tanto tempo caçando a verdade. Eu não poderia, jamais, me conformar com aquela conversa carente de detalhes.

—Você e a mamãe são bem parecidos quando falam sobre o passado. Escuto os dois dizerem que tudo que aconteceu entre vocês ficou no passado e isso é muito estranho para mim. – Falei me sentindo exausta. Eu nunca conseguiria fazê-los falar abertamente sobre seus sentimentos, mesmo que eles só representassem história. –É muito desagradável ver seus pais se odiarem profundamente.

—Stella, eu não odeio a sua mãe. – Levantei a cabeça devagar, olhando-o desajeitada. –Cheguei a odiá-la profundamente na juventude, confesso, mas não guardei esse sentimento. – Ele respirou fundo. –Admiro a Kimberly pela pessoa brilhante que ela era e a mulher forte que ela se tornou.

Não era o que eu queria ouvir, então me tornei um tanto inquieta.

—Você não sente mais nada por ela?

William foi pego de surpresa pela pergunta muito pessoal. Ele agiu como alguém que queria se esquivar da minha sondagem, mas, àquela altura, não dava mais para continuar respondendo o básico. Esperançosa, aguardei uma resposta que me desse um pouco ânimo em relação ao meus pais. Obviamente, eu não estava ali para ouvir uma confissão tardia vinda de William, mas, desesperadamente, eu tinha a necessidade de explorar emoções que nunca foram permitidas vê-las e senti-las de perto.

—Eu amava muito a sua mãe. – Começou ele, vagando novamente no passado. –Talvez, eu tenha mantido um pouco daquele sentimento de anos atrás, porém como uma lembrança perdida. – Ele, pacificamente, observava um ponto confuso naquela sala imensa. –Às vezes me perguntava qual seria minha reação ao ver a Kimberly de novo. – Ele suspirou alto. –Quando a vi novamente, foi como se aquela garota tímida não existisse mais. Foi como... como conhecer outra pessoa.

Um silêncio aterrador se instalou entre nós. Naquele momento, um turbilhão de sentimentos confusos atingia William em cheio!

—Eu gostaria de lhe dá uma resposta agradável, mas...

—Tudo bem. – Respirei, pesadamente. –Não é que eu queira vê-los juntos, eu só... – Uni as mãos, timidamente. –Você consegue me entender, certo?

—Claro que sim. – Gentilmente ele passou a mão no topo da minha cabeça. –Acho que está na hora de você ir para a cama. – Olhou o relógio confiante do que dizia.

—Você mais mesmo me tratar assim, como uma criança? – Zombei dele, sorrindo à toa.

—Perdão. Preciso me conter em alguns detalhes. – Justificou, muito envergonhado.

—Não precisa ficar sem jeito. – Segurei seu braço, algo que estava virando um hábito. –Só não quero que você seja careta na frente de outras pessoas, principalmente meus amigos.

—Eu sou careta?

—Quem manda uma filha de dezoito anos ir para a cama, William?

—Não vejo problema nisso.

Rolei os olhos. –Você vai me dá muito trabalho, cara! Estou sentindo!

Inesperadamente, William riu alto. Ele estava mesmo achando divertido tratar a filha como uma criança, eu, no entanto, estava vendo um grande desafio.

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O sol já estava alto quando acordei.
Como se algo incrivelmente espetacular fosse acontecer naquela manhã, fui apressada ao tomar banho e me vestir. O dia só estava começando e eu queria aproveitar cada segundo dele.

—Bom dia, senhorita.

Dei de cara com Eva no corredor iluminado. Todas as cortinas estavam abertas. O dia estava agradavelmente ensolarado.

—Bom dia, Eva. William já tomou café?

—Ele saiu muito cedo. Pediu para que ninguém incomodasse o seu sono. – Ela chegou a sorrir, achando graça dos modos exagerados do patrão. –Vou agora mesmo preparar o seu café.

—Eva! – Chamei-a antes que ela se enfiasse na cozinha. –O Bryan... – Fiquei desajeitada. –Bryan já saiu?

—Ah! O senhor Bryan está na quadra de tênis. Faz umas duas horas que ele está.

Eu queria, e muito, ignorar aquela informação, mas fui vencida pela ingenuidade.
Minutos depois estava eu indo ao encontro de Bryan. De longe, era possível ouvir e ver a bravura da raquete contra as bolas arremessadas.
De passos curtos, mãos enviadas dentro dos bolsos da calça e postura determinada, me aproximei da grade. A concentração de Bryan não o permitiu me enxergar ali, um pouco atrás dele. Em silêncio absoluto, fiquei a observá-lo, cada parte dos braços musculosos se contraírem. Em algum momento cheguei a respirar fundo, engasgada com a visão do homem contemplado com tanta beleza, embora ele agisse como se não tivesse conhecimento de sua perfeição.

—Stella? – Bryan, subitamente, parou de se movimentar.

—Oi. – Cumprimentei-o bobamente. –Eu... ouvi o som das bolas. – Nossa! O que eu estava fazendo ali? –Quer dizer, o barulho na quadra.

—Espero não ter te acordado.

—Não! Nem dá para ouvir de lá, é que... – Para minha total fragilidade, ele se aproximou da grade. O corpo musculoso pingando de suor. Indiscutivelmente, ele estava mais forte. Seu corpo exibia uma áurea masculina perigosa.

—Quer jogar um pouco? – Convidou fixando seus olhos nos meus.

—Não. Obrigada. Nem tomei café ainda.

Bryan olhou as horas no relógio no pulso. –Eu também não.

—Uh. – Fui impulsiva ao convidá-lo para tomarmos café juntos. –Posso espera-lo para tomarmos café juntos. – Faze o quê? O café da manhã não nos mataria. Ou será que sim? –Assim a Eva não precisa organizar a mesa duas vezes. – Justifiquei, parecendo que era o correto a dizer, entretanto, só foi uma desculpa besta.

—Ok. Não vou demorar no banho.

Tempo depois estávamos na companhia um do outro, afundados em pensamentos que, provavelmente nunca revelaríamos um ao outro.

—Stella, eu... – Depois de muito silêncio Bryan decidiu se pronunciar. –Preciso te pedir perdão por todas as coisas que a minha mãe e a minha irmã te fizeram passar, inclusive eu. – Seus olhos me intimidaram covardemente, por isso desviei o olhar. –Você tentou abrir os meus olhos, várias vezes. – Ele estava se corroendo por dentro.

—Não sei se é o momento certo para falarmos sobre isso. – Olhei-o de relance. –Por hora, quero acreditar que tudo ficará bem, sem Kristen e Stephany na minha vida.

Bryan concordou. –Quanto a isso, você não precisa se preocupar. É minha responsabilidade mantê-las longe dessa casa.

—Uh. – Murmurei pensativa. –Você vai à polícia? – Indaguei sem muito pensar. –Sabe que é o certo a fazer, não é? – Bryan se manteve quieto. –Você é um bom filho, mas, julgar a sua mãe não vai tornar você uma pessoa ruim, apenas estará fazendo o que é certo. Além do mais, Kristen não te valoriza como tal, ela sequer teve remorso de te deixar assumir tanta responsabilidade tão jovem. Você poderia ter enlouquecido. Eu, provavelmente, teria enlouquecido. – Pigarreei ao fim do meu desabafo incontido. –Então, por favor, faça o que é certo.

Bryan, por alguma razão, manteve o olhar fixo no meu. Gesto que me deixou desajeitada.

—Você não mudou em nada. – Ele sorriu, timidamente.

—Você fala como se não nos víssemos há muitos anos.

—Para mim, foi muito tempo. – A confissão veio junto com a melancolia. Foi perceptível o desabafo naquela simples frase. –William está muito feliz com a relação de vocês agora.

—Ah! – Ele mudou de assunto abruptamente. –Você acredita que ele está me tratando como criança?

—Ele está recuperando o tempo perdido. Você terá que ter muita paciência de agora em diante. – Era um bom conselho. –Ele está muito ansioso para lhe mostrar o mundo. Tem ideia de como isso será muito importante para vocês?

—Claro que sim. – Bryan, em nenhum momento, se incluiu naquelas novas expectativas. –Você... O que você pretende fazer agora?

Ele não demonstrou entusiasmo com a pergunta.

—Ah, Stella! – Ele respirou profundamente. –Desculpe, mas... não tenho nenhuma resposta digna para a sua pergunta.

Bryan se sentia perdido, claramente, mas não tinha coragem para falar sobre os seus temores e futuro abertamente. Era como vê-lo ser guiado pela correnteza, sem nenhum plano de ação.

—William não quer que você se afaste. – Uma onda de incentivos me inundou. –Seria uma pena ver um relacionamento verdadeiro se afundar em um caos que você não provocou.

Bryan me encarava. O que se passava em sua mente?

—E quanto a você? Como seria convivermos juntos depois de... – Ele freou as próprias palavras.

—Eu...

—Desculpe incomodar, mas o senhor Dylan está aqui.

Bryan instantaneamente fechou a cara com o aviso de Eva. Quando abri a boca para dizer algo, Dylan cessou minha intenção. Sem nenhum resquício de educação, Bryan e Dylan se entreolharam fixamente, esquecendo-se que não havia somente eles naquele lugar.

 


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