Horas mais tarde e já era o fim do dia. Todos na Torre dos Magos estavam dormindo, todos menos Aron. O garoto estava deitado em seu beliche com uma vela em uma mão e o Livro Branco em outra. O garoto lia o livro como se sua vida dependesse disso.

No beliche de cima estava Lopus, que tentava dormir, mas não conseguia, pois, a vela de seu irmão o incomodava. Entretanto tudo que Lopus precisava fazer era pedir para seu irmão apagá-la, mas ele não iria pedir, já que fazia um dia que ele não falava com Aron.

Alguns segundos mais tarde, Aron se levantou de sua cama e seguiu caminho para o banheiro. Sendo assim ele saiu de seu quarto com a vela e o livro, e ao sair Lopus agradeceu.

O menino atravessou o curto corredor até o banheiro masculino, a única luz que vinha do corredor era a de sua vela. O garoto entrou no banheiro e saiu após alguns segundos. Ele então atravessou o corredor novamente, só que dessa vez em sentido de seu quarto. Era normal naquele horário o corredor estar silencioso, além do mais, todos da Torre estavam dormindo, mas no caminho Aron escutou alguns sussurros. O menino nunca foi do tipo corajoso, pelo contrário Aron era o que as crianças chamavam de medroso, e bastou os sussurros do corredor para o menino ficar desconfiado, mesmo assim ele não mudou o passo e continuou seguindo em frente.

Foi quando uma forte ventania atravessou todo corredor, o vento que passou era frio e fez a espinha do menino tremer e a sua vela apagar. Quando Aron se deu conta ele estava sozinho em um corredor e sem nenhum tipo de luz. Não demorou para a cabeça dele o deixar paranoico, imaginando monstros o seguindo. O menino passou a deixar de ficar desconfiado para ficar assustado. Mesmo assim ele continuou a andar reto na escuridão sem ver muito a sua frente, se guiando apenas alisando as mãos nas paredes.

Aron andava desejando ouvir alguma coisa que não fosse os sussurros que o deixavam tão inquieto, e, quase que num passe de mágica, o desejo de Aron se realizou, os sussurros sumiram, mas o seu substituto não o agradou. Um grito alto e agudo surgiu do fim do corredor. Aquilo foi o estopim para o garoto, ele saiu correndo para o seu quarto assustado.

No meio do caminho, o garoto percebeu a porta de seu quarto aberta com um grande facho de luz saindo dela.

—Lopus está acordado? — Ele se perguntou.

O garoto então correu até parar em frente à porta, e ao olhar para dentro de seu quarto Aron se apavorou.

Dentro do quarto estava um homem todo vestido de preto avançando para cima de seu irmão.

O homem jogava Lopus contra a parede, até se enfurecer e jogá-lo no chão. Lopus ao ver seu irmão paralisado em sua frente gritou com o pouco de força que lhe restava.

— ARON, CORRA!

Aron não pensou duas vezes, ele largou sua vela se virou e começou a correr.

O menino correu, e enquanto corria se perguntava o que acabara de ocorrer em seu quarto, todos esses anos na Torre dos Magos Aron nunca tinha visto nada como aquilo. Um adulto atacando tão ferozmente uma criança em seu próprio quarto, aquilo não era normal. Decidido que aquele homem não era um mago, Aron Iria correr até os portões da Torre para pedir ajuda aos vários guardas que lá vigiavam dia e noite.

Foi quando uma mulher alta de cabelo e olhos escuros surgiu na frente de Aron, essa mulher vestia a mesma roupa que o homem que estava com Lopus. Por causa da escuridão do corredor Aron não viu a mulher e acabou por passar correndo do lado dela, mas antes que Aron passa-se reto a mulher o agarrou pela argola da camisa e o puxou para trás.

—Você vem comigo! — Disse ela.

Aron no momento que foi puxado segurou o livro com suas duas mãos e, levado pela adrenalina do momento, ao vira-se, bateu com toda sua força no braço da mulher, que acabou por largá-lo. Aron estava tão assustado que não pararia enquanto não estivesse atrás de um guarda da Torre.

Uma vez solto o garoto correu desesperadamente até alcançar as escadas, mas antes que ele colocasse seu pé no primeiro degrau, uma rocha do tamanho de sua cabeça atingiu suas costas. A rocha foi lançada em feitiço da mulher de preto.

O golpe o jogo degrau abaixo, o garoto rolo entre as escadas, por sorte ele teve tempo de cobrir sua cabeça com os braços. Ele rolou até parar no primeiro andar da Torre, onde estavam os portões.

Ao parar Aron ficou alguns segundos atordoado, a cabeça dele continuava a girar. Somente depois ele se deu conta de que estava no primeiro andar, sendo assim o garoto se recompões e fez toda a força do mundo para se levantar, mas ao se esforçar ele sentiu uma imensa dor na perna, logo ele percebeu que ela estava quebrada, mas o garoto não tinha tempo a perder, se ele não corresse a perna quebrada seria a menor das suas preocupações. Então Aron juntou o pouco de força que ainda lhe restava e se arrastou para frente dos portões.

O garoto segurava o Livro Branco com uma de suas mãos e com a outra mão ele puxava o seu corpo. Aron sentia espasmos de dor toda vez que fazia força, e um suor frio percorriam pelo seu rosto, não demorou muito para que ele ficasse exausto. Mas antes que Aron se desse por vencido um de seus professores apareceu por trás. E colocando a mão de Aron sobre o ombro dele, o professor o ergueu.

Ao se levantar o garoto pode ver que o professor era Adamastor.

Adamastor levou o menino e o livro até um pilar onde Aron se apoiou enquanto o professor fazia um curativo em sua perna.

—O que está acontecendo?! —Perguntou Adamastor confuso e assustado —Todos aqueles gritos... Era você?!

— Não. —Respondeu ele com dor até ao falar — uma mulher vestida de preto me atacou. Eu acabei caindo escada abaixo.

Adamastor virou seu rosto para o lado com uma expressão apavorada.

—Era verdade.... Eles voltaram... —cochichou ele como se estivesse conversando consigo mesmo.

—Quem voltou?! — Perguntou o garoto espantado.

Ao ouvir o garoto o professor voltou seu rosto e mudou sua expressão de apavorado para sério. Certamente ele não queria que Aron tivesse o ouvido cochichando.

—Escute Aron, eu quero que você saia correndo agora pelo portão, e só volte ao amanhecer!

— Ma-mas... Por quê?

—Essa mulher... Ela veio sequestrar as crianças da Torre.

—Para que?

—Ela pretende fazer experiências em vocês, transformá-los em... magos negros...

De repente um grito furioso surgiu de não muito longe.

—Rápido, não temos tempo! — Afirmou Adamastor erguendo o garoto.

Aron se levantou com pressa, o garoto não teve tempo para processar tudo que acontecia, mas ao se levantar Aron se apoiou em seu pé dolorido, isso o fez sentir uma dor terrível.

—Tente não o forçar. —Disse o professor olhando para a perna dele — sua perna esta trincada, ela ficara bem, mas por enquanto tente usar isso como apoio.

O professor pegou um galho longo jogado no chão, e deu para Aron.

—Ande depressa, precisamos sair o mais rápido possível daqui. —Disse Adamastor erguendo o garoto para fora do portão.

—Ma-mas enquanto ao meu irmão...

De repente uma pedra acertou a parede ao lado de Aron, o garoto olhou para trás e viu a imagem da mulher de preto.

—Corra! — Gritou o professor se colocava a frente.

Aron se apoiou no galho com uma mão e com a outra agarrou o livro, e saltitando o mais rápido possível, ele correu para fora dos portões da Torre dos Magos para nunca mais voltar.