Mariposas escrita por Lorita de M


Capítulo 8
Cartaz


Notas iniciais do capítulo

fatos curiosos: nomes têm significado



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Anja balançou a mão enfaticamente, o indicador esticado apontando para o cartaz colorido pregado no mural. Os olhos estavam bem aberto e brilhavam, divertidos. Dina estava parada com os braços cruzados, com uma expressão quase infantil de aborrecimento, e Tom olhava de uma para outra claramente achando a situação muito engraçada.

— Por mim! — insistiu Anja. O cartaz consistia em vários quadrados coloridos sobrepostos, com uma grande inscrição em preto no meio que indicava que no próximo fim de semana haveria uma festa de início da primavera. Dina evitava encarar o cartaz, como se ele pudesse deixar de existir se ela simplesmente o ignorasse, mas a outra garota continuava balançando o indicador. Quanto mais uma parecia resistir, emburrada, mais a outra abria o sorriso e pedia — Vai ser minha primeira festa aqui! Pense em mim. Nunca mais vou poder ir às festas universitárias em Essen. Vai ser divertido!

— Devo admitir que estou surpreso — brincou Tom — Se eu estivesse pedindo, ela provavelmente já teria simplesmente caminhado para longe. Mas ainda está aqui de pé! É promissor, no mínimo.

— Vamos, Dina!

— Essas festas são ridículas! Um monte de universitários idiotas e bêbados reunidos, música alta demais, péssimos salgadinhos, gente jogada no chão em coma alcoólico! O que poderia ter de divertido nisso?

— Vamos estar os três juntos! Dançar, se esbanjar de péssimos salgadinhos e beber até você perceber o quão divertido é ser um universitário idiota e bêbado. Estou te garantindo que vai ser incrível!

— Como pode me garantir? Você mesma admitiu que essa seria sua primeira festa por aqui. Tenho certeza de que são muito piores que as de Essen.

— Eu estou sentindo — Anja ergueu os braços para o ar dramaticamente. Observou a outra garota com o rabo do olho. A verdade é que a princípio nem estava tão interessada em ir à festa, mas a repulsa da nova amiga fora tão imediata e contundente que despertara sua curiosidade. A festa podia ser boa, ruim, não importava realmente.  Ela estava certa de que podia fazer com que fosse incrível.

— Ah, certo, está sentindo. Agora você me convenceu.

— Vamos, Dina! É minha amiga há anos e nunca fomos a uma festa juntos — Tom ajudou, rindo. Ela grunhiu em protesto e escondeu o rosto nas mãos, produzindo algum ruído indistinguível. Os olhos do garoto se arregalaram e ele olhou para Anja — Está ouvindo isso? Ela está seriamente considerando a possibilidade de ir.

— Eu nunca disse que...

— Vamos! Vai ser incrível! — Anja não a deixou terminar e piscou, cúmplice, para Tom. Nesse momento um garoto passando ao lado do trio deteve-se ali e encarou as duas garotas de baixo para cima, com um sorriso de canto arrogante.

— Tenho certeza de que vai ser incrível. É da festa que estão falando?

— Não te interessa do que estamos falando, Dérange — Dina foi bruta em sua resposta e o encarou diretamente, com um ar desafiador que surpreendeu Anja. Por um instante, ela não pareceu a garota tímida de sempre, e seus olhos brilharam com uma força imensa.

— Sempre tão agressiva sem necessidade, Papillon — o garoto respondeu com um sorriso amarelo, erguendo as duas mãos em defesa própria. O olhar de Dina não vacilou. Dérange voltou-se para Anja e a analisou descaradamente — Você eu não conhecia. Está em que curso?

— Em Arquitetura — ela respondeu, tranquilamente.

— Está vendo — Dérange indicou-a com um gesto de mão — É assim que se fala como uma pessoa normal e não como alguém instável, Papillon.

— Acho que devia pedir desculpas a Dina — Anja disse, com a mesma tranquilidade de antes. O garoto se voltou e ergueu uma sobrancelha. Deu uma cotovelada em Tom, como se procurasse um cúmplice, mas este apenas desviou o olhar, evidentemente incomodado.

— Desculpas? E por que exatamente?

— Porque acabou de ser um completo imbecil para com ela — ela respondeu, erguendo uma sobrancelha indicando que o que havia dito devia ser óbvio — E na verdade devia pedir desculpas para as duas por olhar para nós como se fôssemos pedaços de carne.

— Então você também é dessas — Dérange riu com desprezo e apontou para o cartaz — Dois shots na tal festa e quero ver se ainda vai falar comigo desse jeito. Não vai nem conseguir falar, já que vai estar... — ele se aproximou e deslizou as mãos por entre os cabelos de Anja — ocupada.

A garota tomou a mão dele com uma força inesperada e a arrancou dali, encarando-o fixamente e ainda com um ar de tranquilidade, mas agora um pouco mais contundente. O garoto retribuiu o olhar com um misto de ódio e estupefação.

— Você não vai tocar no meu cabelo quando eu não quiser que toque no meu cabelo — ela disse, sem levantar o tom de voz — Entendeu?

Dérange se desvencilhou e resmungou algum xingamento, ao qual ela não deu ouvidos. Dina ainda o encarava com o mesmo ódio resoluto de antes. Ele começou a se afastar quando Tom finalmente ergueu o rosto, sem conseguir se controlar:

— Idiota!

Foi em questão de instantes. Dérange se voltou e desferiu um soco no maxilar de Tom. Foi repelido rapidamente pelas duas garotas e por mais algumas pessoas que estavam próximas à cena, e desapareceu praguejando no corredor. O garoto atingido tinha caído sentado no chão, um fio de sangue escorrendo pelo canto direito da boca e os olhos arregalados de susto. Dina e Anja se abaixaram.

— Tom! Está bem?

Ele abriu um sorriso sem graça.

— Só mordi um pouco a língua. Mas um pouco de gelo e tudo passa.

Anja balançou a cabeça.

— Parte de mim ainda tinha esperança de que os babacas tivessem ficado em Essen.

— Está aí — Dina disse, com um ar vitorioso — Não vamos à festa para encontrar esse babaca de novo.

— Não! — os outros dois exclamaram ao mesmo tempo.

— Agora é que vamos mesmo — Anja levantou-se — Porque babaca nenhum vai se colocar no caminho da nossa diversão. Eu já havia dito: nós vamos e vai ser incrível!


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