— Bom, é a vida — eu respondi, tentando não parecer completamente abalada pelo que ele dissera. — Obrigada pela carona! — e saí do carro.

— Como assim, “é a vida”? — ele também desceu, correndo atrás de mim. — Eu te digo que aquele cara deve achar que eu sou seu namorado e você diz que “é a vida”? — ele deu risada. — Que tipo de resposta é essa?

— Que as pessoas tiram conclusões sobre as situações, sem estarem com todos os fatos e informações o tempo todo!

— Bom, você não está errada.

— Eu sei que não estou errada — eu queria desesperadamente acabar aquela conversa, pra poder entrar em casa e fingir que meu dia não tinha acontecido.

— E o que você vai fazer se ele te perguntar se eu sou seu namorado?

— Nada.

— Nada? — ele pareceu surpreso.

— Nada, porque eu vou fugir dele o suficiente pra não ter como ele me perguntar nada — esclareci e tive a impressão de que ele ficara desapontado com a minha resposta. Talvez, fosse a minha imaginação.

— Acho que essa é uma maneira de lidar com a situação — ele deu de ombros. — Mas é uma bem cansativa! Não é um campus muito grande pra se esconder…

— Eu tenho que tentar! É minha única opção — respondi, arrependida de ter pedido a ajuda dele ou lhe contado sobre tudo.

— Não é não. Eu disse que era uma das maneiras de lidar com a situação…

— Bom, eu não quero mesmo conversar com ele, em hipótese alguma, então…

— A gente podia deixar ele realmente entender que eu sou seu namorado! — ele respondeu, petulante e a ideia era tão absurda que eu nem fiquei eufórica com ela.

— Por quê?

— Porque se ele te ver namorando um cara mais velho, bonitão e romântico como eu, nunca vai pensar que te traumatizou pra sempre!

— Eu não fiquei traumatizada! — disse, ofendida e ele me olhou, cético. — Eu só não quis nada com ninguém, mas não teve nada a ver com ele…

— Tá, foi errado ter dito isso. Mas a ideia não é de se jogar fora, vai!

— O que você vai ganhar com isso? — perguntei, desconfiada.

— Ouch, Chi-chan! Eu só quero te ajudar — ele disse, inocentemente e pareceu ainda mais suspeito.

— Dar carona até em casa ou carregar meus livros é “me ajudar”! Isso é…

— Espera! Imagina só como seria — ele tentou me acalmar, pra visualizar a sua insanidade de plano ridículo. — Nós dois chegaríamos juntos e iríamos embora juntos, na hora do intervalo nós ficaríamos juntos…

— Muito lindo! O que você quer ganhar com isso? — cruzei os braços, intrigada e ele parou, na defensiva.

— Ei, eu só quero te ajudar de verdade! Eu sou um cara legal desse jeito!

— Tá aí, duas coisas que eu não acredito: pessoas que “só querem ajudar” e em caras que se auto-proclamam “legais desse jeito”!

— Se eu te contar, você considera meu plano? — ele se rendeu e eu franzi o cenho, mas assenti. Takanori respirou profundamente. — Eu não quero tirar vantagem de você, não é isso! É que é bem ridículo, mas… Todos os meus amigos já se formaram, só que eu sempre andei com o pessoal mais velho e esse ano estou sozinho. As pessoas ainda me olham como o cara que anda com os veteranos, mas isso vai perder a força muito rápido se eu não tiver uma coisa só minha de verdade, entende?

— Você quer manter seu status — eu concluí e ele assentiu. — E uma namorada vai te garantir isso?

— Com certeza! — eu realmente não entendia como funcionava as leis da “selva”. Pra mim, tudo soava completamente absurdo e infantil… Mas, por mais idiota que aquela ideia fosse, eu não podia fingir que não poderia dar certo!

— Mas não seria melhor… Sei lá, você arranjar uma namorada de verdade? — aquela pergunta não foi bem recebida por ele.

— Eu não tenho tempo pra arranjar uma namorada de verdade, Carolina! Nenhum de nós dois tem! Amanhã, seu amigo pode estar te esperando antes da aula, pra te pegar sozinha e destruir o seu coração de novo…

— Não falei de mim, eu não conseguiria um namorado de verdade a essa altura nem se eu soubesse o que estou fazendo! — ele pareceu vacilar àquelas palavras.

— Então, diga sim!

— Sim — eu disse e me arrependi no mesmo segundo. — Nós vamos fingir que estamos juntos na faculdade.

— Calma, nós precisamos ser convincentes — ele franziu o cenho, pensativo. — Não pode ser só na faculdade, Chi-chan…

— Vamos começar parando com isso — pontuei. — Chega de me chamar de “Chi-chan”, eu não quero outras pessoas me chamando assim…

— Mas eu sou seu namorado. Eu tenho que ter alguns privilégios…

— Pensa em outra coisa, então. Chi-chan não!

— Ok. Mas você vai ter de ser minha namorada em outros lugares fora da faculdade, ou ninguém vai acreditar que nós estamos juntos!

— Que tipo de outros lugares? — perguntei, desconfiada.

— No shopping, no parque, em festas…

— Nem pensar! Shopping e parque eu até vou, mas em festas? Negativo!

— Mas eu preciso ir à festas! E, como minha namorada, eu preciso que esteja junto!

— Não!

— E se o seu amigo estiver numa festa e me vê lá sozinho? Você não acha que ele vai desmascarar nosso plano rapidinho?

Eu já estava mais do que arrependida por ter dito sim àquela idiotice. Takanori parecia saber jogar aquele jogo muito melhor do que eu… Será que realmente valia à pena manter Suichiro longe de mim, me metendo na roubada mais burra da história?