— Epílogo —

Começos

Kirishima costumava ser atento quanto às pessoas ao seu redor, em especial, seu amigos. Ele sempre notava quando alguma das garotas estava usando maquiagem ou havia cortado a ponta dos cabelos, quando Bakugou estava usando um perfume diferente ou quando Iida havia trocado a armação dos óculos por uma ligeiramente similar. Era apenas como ele era, e como se importava com seus amigos, se tornava algo natural para ele.

Por isso, foi fácil notar o que havia acontecido com dois deles, naquela manhã. Midoriya havia acordado mais cedo do que o usual, porque quando Kirishima desceu, ele já estava preparando seu café no refeitório, cantarolando baixinho o que ele podia apostar que era The All Might Theme que os programas de TV sobre heróis viviam tocando nas vinhetas. Havia um sorriso curiosamente peculiar no seu rosto, enquanto ele se movia entre os armários quase como se estivesse literalmente saltitando e dançando ao invés de caminhar.

Midoriya era usualmente uma pessoa animada, empolgada e brilhante, mas na visão de Kirishima, ele parecia praticamente reluzir. Detalhes – Kirishima precisava saber imediatamente dos detalhes. Porém, seus planos para uma muito bem executada sessão de interrogatório foi severamente adiada, quando a porta do corredor principal se abriu, e dela surgiu um Todoroki especialmente desalinhado, com os cabelos mais despenteados que Kirishima já tivera a honra de testemunhar, roupas casuais que pareciam ter sido vestidas as pressas, e tênis de corrida.

Ele andou rapidamente na direção do refeitório, ignorando completamente a presença de Kirishima e de qualquer outro que ali estivesse, e pasmem, moveu os lábios em um sorriso ao se deparar com Midoriya distraído, escorado no armário, olhando para o nada e sem se mover há quase dois minutos já.

Bakugou se tornaria um monge budista antes de ser possível que aquilo não significasse que realmente havia acontecido algo com esses dois desde o encontro do qual ele não sabia nada sobre o resultado. Os dois haviam voltado a andar juntos normalmente naquela última semana, mas isso já era o usual entre eles, não havia como ter certeza. Até agora. Ugh, Kirishima estava morrendo para saber mais, mas se manteria discreto e isolado no seu canto, enquanto acompanhava de longe o desenrolar daquela cena.

Todoroki se aproximou de Midoriya, que estava de costas ainda e – de forma vergonhosa para alguém da classe de heróis, francamente, Midoriya! – ainda não havia percebido sua presença. Sorrateiramente, ele se posicionou atrás de Midoriya, e em um gesto ágil e completamente espontâneo, apertou sua cintura com ambas as mãos. Kirishima não esperava por aquilo. Midoriya obviamente também não, já que com um pulo, girou para trás em posição de ataque, completamente surpreso. Passado o choque, seu rosto se coloriu e ele sorriu abertamente. Os dois ficaram se encarando daquele jeito de quem não prestava atenção a mais nada ao redor, mesmo que um meteoro caísse no campus naquele exato segundo ou Bakugou entrasse no salão gritando palavrões e explodindo coisas no ar.

Ah, cara, eles eram tão fofos juntos. Kirishima se mantinha dividido entre a felicidade pelos dois amigos, e aquela invejinha boba de quem tinha certeza de que não conseguiria nada do tipo tão cedo na vida. O primeiro sentimento era bem maior, então ele decidiu deixar os dois à sós por pelos mais uns minutos, antes que os outros descessem e estragassem aquele momento genuíno para os dois.

— O que aqueles dois nerds tem que não saem da porra do caminho?

Foi a vez de Kirishima se assustar com uma aproximação não calculada, mas consideravelmente menos silenciosa. Bakugou encarava a mesma direção que ele, com os braços cruzados e o cenho franzido. 

— Eles só estão conversando – Kirishima deu de ombros, não querendo que ninguém, muito menos Bakugou, estragasse o breve momento de calmaria naquela manhã ensolarada de sábado. Se ele se colocou em defensiva automaticamente, foi por reflexo. Além do mais, os dois não estavam exatamente conversando. Estava mais para uma troca de olhares silenciosa, enquanto continuavam a preparar a vitamina de frutas que Midoriya esteve fazendo desde antes.

— Eles estão juntos? Tipo, juntos-juntos? – Bakugou indagou, claramente intrigado, com a nota de desprezo usual do seu tom de voz. Seu rosto ainda se retorcia em uma careta indecifrável, enquanto continuava a observar o (possível) casal que prosseguia em suas atividades, alheios ao fato de que estavam sendo alvos de uma análise tão atenta.

— E se estiverem, qual é o problema? – Kirishima virou-se completamente para Bakugou, dessa vez fitando-o diretamente, desafiando-o a falar qualquer coisa ofensiva sobre isso. Bakugou não pareceu perceber a óbvia posição protetora que Kirishima havia adotado.

— Já não era sem tempo. – Bakugou bufou, revirando os olhos e dando meia volta – Vamos tomar café no refeitório, esses dois lerdos não vão se mover dali tão cedo.

Sem nem esperar, o loiro já foi seguindo seu caminho, deixando Kirishima sem palavras por alguns segundos, processando o fato de que Bakugou havia acabado de indiretamente convidá-lo para tomarem café juntos.