Continuava andando pelo shopping em busca de Jack, ela não atendia as minhas ligações e não respondia as minhas mensagens. Já faz mais de uma hora que aquela louca não dá sinal de vida. Resolvo ligar novamente, desta vez ela atende.

— Alô!

— Alô? Alô é o cacete, eu juro que vou te matar quando a encontrar Jaqueline! – ela não fala nada – Cadê você caramba? Faz mais de uma hora que estou tentando te encontrar – nada – Jaqueline você está me ouvindo?

— Sim!

— Só isso? Isso é tudo o que tem para me dizer?

— No momento sim Alice! – que merda é essa? – Amiga me escuta, eu tenho que desligar agora, estou resolvendo um problema pessoal, assim que possível eu te ligo de volta.

— Jaqueline, você está bem? Onde você está? – ela desliga. Saio em disparada atrás da minha amiga, talvez ela estivesse em perigo. Ao mesmo tempo que procurava por ela, procurava algum segurança, talvez eles pudessem me deixar olhar as câmeras de segurança para ver o que tinha acontecido com minha amiga, por incrível que pareça, não encontro nenhum dos dois.

Já estava a ponto de entrar em desespero quando vejo Jack entrando em uma loja. Não era exatamente o tipo de loja que chamava atenção da minha amiga. Ando em sua direção o mais rápido possível. Paro quando vejo a menina ruiva que nos seguia desde a manhã no estacionamento da faculdade também entrar na loja. A passos largos chego em frente à loja WIZ, mas o que raios é WIZ? Adentrando na loja, vejo que a mesma vendia artigos variados, tinha desde mascaras de filmes de terror à artigos de bruxos, vários caldeirões, varinhas, chapéus pontudos, faziam a decoração do lugar. Tinha também uma máscara dos personagens Jason e Halloween, assim como uma serra-elétrica do filme o Massacre da Serra Elétrica. Adentro um pouco mais na loja e vejo Jack do outro lado da loja conversando com a menina ruiva, tento me aproximar sem chamar a atenção das duas, queria saber o que elas estavam conversando.

— Ainda é muito cedo senhora – fala Jack. Senhora? Aquela menina não devia ter mais de 11 anos. – Eles não estão prontos... E meus pais ainda não retornaram de sua viajem.

— Eu sinto muito minha cara – a voz da menina ruiva era doce, melodiosa, fascinante – Nós estamos em perigo, recentemente tivemos um desfalque na segurança, ocorreu um ataque surpresa e ficamos sem os guardiões Capa Vermelha. Não temos mais como mantê-los aqui, é muito perigoso, seus pais precisam retornar o quanto antes de sua viagem.

— Eu entendo senhora, não irei contradize-la novamente, ligarei hoje mesmo para eles, informarei que o sinal vermelho foi dado, eles irão entender e voltarão o quanto antes.

— Perfeito! Agora, eu tenho que ir, sei que Alice está em boas mãos com você. Não posso dizer o mesmo de Igor.

— Ele está em perigo? – perguntou Jack preocupada.

— Não exatamente, eu só não confio no guardião Pedro.

— Eu também não confio nele senhora. Hoje mesmo eu e Alice iremos a uma festa que Pedro está dando para comemorar nossa formatura.

— Eu sabia que seria um erro mandar Pedro para acompanhar Igor. Ele ainda não está preparado para tal atividade.

— Em todo caso senhora, Igor criou um vínculo muito forte com o Pedro. Creio eu que será quase impossível eles se separarem. Mas a senhora tem que ir e eu não vou lhe atrasar. – Jack olhou em seu relógio e frangendo a testa olhou diretamente para onde eu estava. Opa – Acho melhor nos despedimos aqui Senhora, assim que entrar em contato com os meus pais, lhe mandarei um chamado.

— Sem problema minha cara, até logo!

— Até logo senhora – Jack pegou a mão da menina e depositou em beijo ali. E assim ambas saíram da loja sem olhar para trás.

Não acreditava no que tinha acontecido aqui, quem era aquela menina com quem Jack conversava? Porque minha amiga mentia para mim? Será que seus pais também estavam mentindo? Será que em todos esses 10 anos que vivi com eles a nossa relação foi baseada em mentiras? Limpei uma lagrima solitária que ousou cair no meu rosto. Continuei andando sem rumo pelo shopping, acho que já tinha dados 3 voltas pelo mesmo corredor, eu tinha que ir para casa, mas não queria ir com Jack, não estava com vontade de olhar para ela nesse momento, e como eu sou muita amada pelo universo, esbarro em alguém e peço desculpa, quando olho para ver quem era a pessoa dou de cara com minha amiga.

— Alice, eu... – não conseguiu terminar.

— Tudo bem Jack, eu só quero ir para casa tomar um banho bem demorado. Quem sabe depois que eu voltar do treino a gente conversa.

— Sim, nós temos que conversar amiga – amiga, sei. Apenas concordei – Meus pais acabaram de ligar, falaram que estão voltando ainda hoje para casa – meus pais? Jack sempre falava que eram nossos pais, e mesmo sabendo que ela estava certa, aquilo me magoo.

Caminhamos lado-a-lado em direção ao estacionamento, a sua companhia estava me deixando desconfortável, não imaginava que a pessoa por quem eu tenho tanto apreço faria isso comigo. Já estávamos na porta quando alguém chama nossos nomes, olhando para trás vi Igor juntamente com Pedro. Lembrei das palavras da menina ruiva: “eu só não confio no guardião Pedro”. Eles se aproximavam rapidamente, senti um incomodo no estomago, provavelmente por ficar perto de pessoas que eu achava que confiava, até algumas horas atrás.

— Olha o que o vento trouxe para mim – disse Igor.

— Acredito que as trouxeram para mim meu amigo – respondeu Pedro olhando para Jack, a mesma apenas revirou os olhos, já tinha visto os dois se estranharem, agora sei o motivo.

— Os dois estão enganados, viemos para fazer compras e aproveitar um pouco da companhia uma da outra. - é mesmo Jaqueline? Fizemos mesmo isso?

— Jura? Pensei que tinham vindo para se encontrar com a gente. – falou Pedro

— Pensou errado, meu querido – me indicando com a cabeça, falou – A Alice não tinha roupa para usar hoje à noite, por isso resolvemos vir as compras. 

— Vamos Jaqueline, eu quero ir para casa – não conseguia ficar ali. Sem me despedir, dei meia volta e fui embora, nem me dei ao trabalho de olhar para trás. Não estava com a menor vontade de ficar conversando com ninguém.

Ouvi passos atrás de mim, imaginei que Jack iria me acompanhar, continuei caminhando a passos firmes até chegar no carro. Esperei Jack destravar o carro, mas ela não o fez. Olhei em sua direção para pedir que destravasse o carro, mas não vi ninguém atrás de mim, olhei para todos os lados pensando que ela poderia estar brincando de se esconder, mas além de mim, não tinha ninguém no estacionamento. Olhei novamente para frente e dei de cara com uma cabeleira ruiva.

A menina ruiva estava parada a poucos metros do carro de Jack, estava usando um vestido azul escuro rodado e sem mangas, na cintura um cinto verde com uma fivela dourada, seus cabelos cor de fogo estavam soltos e caiam em ondas pelas laterais de seu corpo, usava uma sandália rasteirinha prateada com pedrinhas também prata. Sua pele, clara como a neve estava avermelhada, provavelmente por causa do calor da cidade. Seus olhos verdes se faziam refletir graças a sua cor natural. Linda, a menina é simplesmente linda.

Andando em minha direção a menina vinha com a cabeça levantada e um sorriso tímido nos lábios. Quando chegou perto o suficiente, ela fez uma leve reverência.

— Olá princesa Alice!