Antes de irmos para casa, Jack resolveu passar no shopping, segundo ela, para comprarmos alguma roupa que não me deixasse com cara de freira. Eu sinceramente não estava com a menor vontade de ir para essa festa.

Chegamos ao shopping pouco depois do horário do almoço, então a movimentação não era grande, decidimos almoçar antes de ficar a tarde toda andando. Optamos por comida japonesa, fizemos nossos pedidos e aguardamos. Enquanto isso Jack respondia as suas mensagens e eu olhava ao redor da praça de alimentação do shopping, tinha pelo menos mais dez restaurantes, todos com comidas variadas, tinha também quiosque de sobremesas, sovertes, pipoca dos mais variados sabores. Eu com certeza iria comprar uma de queijo quando terminasse de almoçar. Nossa senha é anunciada e nos levantamos para buscar nosso almoço. Jack finalmente larga seu telefone e conversa comigo.

— Então, já decidiu como vai querer se vestir hoje à noite? – pergunta curiosa.

— Já sim, vou escolher a camisola mais macia que encontrar e se fizer frio, meu cobertor de flores vai ser minha jaqueta – Jack não aguenta a minha ironia e cai na gargalhada. Balanço a cabeça negativamente, essa minha amiga não tinha jeito mesmo. Sinto que eu sendo observada e olho ao redor, não vejo nada de diferente, dou de ombros, pego meu almoço e voltamos a nossa mesa.

— Sério isso Alice? Você sabe que eu te amo, não sabe? – assinto, colocando um sushi na boca – E como você sabe disso, não vai ficar brava comigo se eu disser que ir para essa festa é culpa sua? – paro de mastigar e olho para ela com cara de poucos amigos – Ei, não me olhe assim, você me ama lembra?

— Acho que vou ter que repensar na minha resposta.

— Tarde demais para isso. Agora, sério, já pensou em algum modelo para hoje à noite? – suspirei, eu já tinha pensado em um.

— Já sim – respondi – Na verdade eu vi um conjunto assim que entramos no shopping, não sei se você vai gostar, mas eu adorei. – Jack não seu aguentava de tanta felicidade, e eu não pude deixar de notar o quanto minha amiga fica linda sorrindo.

Ao contrário de mim, Jack tem a pele morena, olhos castanhos, cabelos negros e ondulados. Sua beleza brasileira chama atenção por onde passa, enquanto eu pareço uma vela. Eu fui adotada em uma viajem que minha família fez para os Estados Unidos, ganhei a nacionalidade brasileira logo depois da adoção. Como eu não tinha mais nenhum parente vivo, a conclusão da adoção aconteceu bem mais depressa. Meus pais resolveram adotar uma criança de qualquer outra nacionalidade, eles iram viajar por 5 países diferentes em busca da criança certa. Graças a Deus eles foram primeiro aos Estados Unidos. Nos primeiros meses, já em solo brasileiro, eu não conseguia me encaixar, e parecia que tudo piorava quando as pessoas descobriam que eu não sabia falar português. Só não ficava pior graças a Jack, era ela quem me defendia dos outros, as outras crianças da escola e até mesmo da rua de casa, não falavam comigo porque eu não sabia falar português, então para elas, falar comigo era perda de tempo. Jack um dia chegou até dá um soco da cara de uma menina que fazia questão de falar que meu lugar não era naquela escola. Passei a amar minha best, desde então somos inseparáveis.

Já tínhamos entrado em umas 5 lojas diferentes, Jack dizia que nada do que tinha experimentado ficava bom. Ainda estava com a sensação de estar sendo observada, mas sempre que olhava para trás não via nada de incomum. Estávamos indo na loja Finna, onde eu tinha visto o conjunto para usar essa noite, quando ela deu um gritinho. Olhei para a onde estava olhando e fiquei surpresa. A mesma menina que eu tinha visto no estacionamento hoje mais cedo estava nos encarando a poucos metros. E novamente, tão rápido como veio, ela se foi. Olhei para Jack, que ainda olhava para onde a menina tinha estado a pouco.

— Você a conhece? – perguntei pra Jack.

— Não exatamente, digamos apenas que ela é uma conhecida da minha família – dando de ombros, voltou a caminhar me puxando pelo braço. – Vamos amiga, tenho certeza que essa noite vai ser inesquecível para nós.

Deixei que ela me guiasse até sua loja favorita, mostrei para ela o look que eu tinha em mente e ela adorou, uma calça jeans básica, uma blusa com alças largas mas de tecido fino, alguns detalhes de pedrinhas davam modelo a blusa e combinavam com os brincos, um salto altíssimo aberto também com detalhes de pedrinhas pratas, um bracelete preto com dourado e um anel preto em forma de gota, e para completar o visual uma jaqueta preta, graças ao clima da cidade, eu não iria precisar dela, mas completava perfeitamente o look.

Sorri ao olhar-me no espelho do provador, o conjunto tinha ficado perfeito, olhei pela fresta do provador para onde Jack tinha ficado me esperando, queria sua ajuda para a aprovação, mas a mesma não estava à vista. Perguntei da vendedora se ela tinha visto minha amiga.

— Com licença – olhei em seu crachá e vi que se chamava Patricia - Você viu a moça que veio me acompanhando?

— Infelizmente não a vi senhorita, mas se precisar de alguma ajuda estou à disposição – eu queria a Jack aqui, mas na sua ausência eu vou usar Patricia um pouquinho.

— Bom, já que minha amiga resolveu sumir... – saio do provador. Patricia me olha de cima a baixo, seus olhos de vendedora, provavelmente atrás de algo que não se encaixava no look. – Então, o que achou?

— Senhorita, devo admitir que muitas jovens já vieram experimentar esse look, mas infelizmente sempre tinha algo que não complementava o conjunto, algumas eram mais altas, outras mais baixas, em outras o tom da pele não combinava. – fez um gesto de giro com o dedo indicador e eu girei, voltei a ficar de frente para ela – Mas em você, ficou perfeito.

— Jura?

— Sim, não tenha dúvidas.... Eu sou gerente desta loja há 2 anos, posso lhe garantir isso – chamou uma vendedora que estava passando perto de nós - Esse conjunto é especial, por favor, assim que a senhorita for se trocar quero que o embrulhe com muito cuidado, ele foi desenhado e costurado pela melhor costureira somente para estar neste corpo.

— Sim senhora – respondeu a vendedora.

— Obrigada por me ajudar Patricia!

— Não fiz mais do que minha obrigação.

— Mesmo assim, você já tem muito trabalho tendo que comandar a loja, ajudar uma mulher a encontrar o look perfeito deve der nada.

— É algo sim, nós mulheres temos que ser unidas. Bom, eu já vou indo, tenho muitas atividades a realizar em tão pouco tempo, fiquei realmente muito feliz em lhe ajudar senhorita.

— Eu quem devo agradecer – lhe abracei fortemente. – Obrigada! – ela me deu uma piscadela e se foi. Eu voltei para o provador e troquei de roupa. A vendedora que a pouco estava falando com Patricia aparece e pega o conjunto para embrulhar, pago e saio da loja. Pela primeira vez em 10 anos, me sinto feliz de verdade. Estava indo de encontro ao meu futuro, nada e nem ninguém poderia me atrapalhar.