— Kirishima... – ele murmurou surpreso. Na verdade, nem tão surpreso, pelo menos não pelo fato de Kirishima gostar de Bakugou. Entrar na frente do ataque daquele vilão que o fez atravessar sua parede de gelo era um verdadeiro ato de amor, afinal. O que realmente o surpreendia era o fato de Kirishima ter falado isso para ele.

— Eu não sei, me sinto tão impotente, sabe? – Kirishima continuou, parecendo a beira das lágrimas- Não fui homem o suficiente nem para me declarar nem para salvá-lo. E se eu nunca mais conseguir ver ele?

Aquelas palavras mexeram com Todoroki enquanto outra pessoa que não os dois vinha a cabeça dele. A pessoa em questão estava deitada no leito do hospital depois de três dias desacordado. Midorya.

Todoroki estava mais abalado por aquilo do que deveria estar. Nunca tinha ligado de verdade para aquele tipo de sentimento, mas pensar que poderia acontecer com Midorya o mesmo que aconteceu com Bakugou era demais para ele

Silêncio. Kirishima se calou, parecia estar pensando. Então ele ergueu os olhos para Todoroki, quase implorando com o olhar:

—Eu acho que ainda posso fazer alguma coisa. Eu tenho que ser um homem, certo? Vou salvar ele- Disse, determinado, enquanto Todoroki o olhava, sem palavras- Todoroki... Você me ajudaria?

De longe aquilo era uma loucura. Vilões estavam envolvidos, sem contar a segurança de Bakugou e de Kirishima que havia proposto seu resgate. 

Acima de tudo, Todoroki ainda possuía certa consciência, porém, ela o fazia colocar-se no lugar de Eijirou. Ele compreendia sua dor, sua angústia, seu receio. Repentinamente, imaginou Midoriya sendo levado ao invés do Bakugou. Como ele reagiria se esse fosse o caso? Com toda a certeza, não mediria esforços para salvá-lo.

Todoroki gostaria que Kirishima pudesse declarar-se ao Bakugou, admirava em segredo a coragem que ele possuía, diferente de si, que optava por ignorar seus sentimentos. 

Abandonando qualquer receio ou os menores resquícios de medo, Shoto respirou fundo e respondeu após alguns minutos de reflexão:

— Sim, Kirishima. Vamos salvar o Bakugou.

Kirishima arregalou os olhos, como se estivesse surpreso por ele ter aceitado tão facilmente. Em seguida, colocou um sorriso no rosto. 

—Certo!

O sorriso de Kirishima acendeu uma chama de esperança e determinação no coração de ambos. 

Os garotos elaboraram superficialmente o que iriam dizer para persuadir a 1-A durante o caminho até o quarto em que Midoriya repousava. 

Em frente a porta do cômodo, Todoroki sentiu seu corpo começar a tremer, estava apreensivo quanto ao estado de Midoriya. Ele estaria sentindo algum tipo de dor? Teria ficado com alguma seqüela? 

Seus pensamentos foram interrompidos pelo som da porta arrastando e Kirishima lhe chamando para entrar.

Kirishima e Todoroki adentraram o quarto juntamente ao resto da classe e aproximaram-se da cama em que Deku estava deitado. Shoto tentou evitar, porém, não deixou de notar os braços engessados e a testa enfaixada do rapaz, voltando a se perguntar se ele sentia dor.

— Todo mundo da turma A veio? - Midoriya perguntou com a voz rouca.

Enquanto Iida contava sobre o estado das garotas ausentes, Todoroki preocupou-se com a apatia no rosto do esverdeado e impulsivamente citou o nome do Bakugou após Uraraka informar que só havia 15 deles no quarto. 

O brilho no olhar de Midoriya veio acompanhado de uma expressão de surpresa. Subitamente, ele lembrou-se dos últimos momentos em que viu Bakugou sendo engolido pelo portal de um dos vilões. Não sendo capaz de suportar aquele peso em seu peito, o desabafo do esverdeado abriu brechas para as lágrimas pesadas que escorreram pelo canto de seus olhos.

Todoroki sentiu um aperto em seu coração ao fitar aqueles olhos marejados, vê-lo chorar e não tomar nenhuma atitude lhe quebrava pouco a pouco. Desejava ser capaz de dizer algo que o acalmasse ou fazer um simples gesto. 

Sua agonia foi cortada pela frase do ruivo ao seu lado:

— Então, vamos salvá-lo na próxima.

Não era aquilo que Todoroki e Kirishima haviam combinado de dizer, todavia, foi extremamente conveniente naquele momento.

Mas... Shoto apenas não havia se dado conta de que Izuku também participaria do resgate, ou seja, ele estaria correndo perigo novamente. O meio-a-meio engoliu em seco e pensou se não era tarde demais para voltar atrás. Sabendo da resposta, ele prometeu a si mesmo que protegeria Midoriya durante toda a operação, pois não suportaria perdê-lo ou vê-lo mais machucado.

Já em Kamino, logo depois de Momo e Iida se juntarem, foi sugerido que se disfarçassem na Donki, e assim fizeram.

Todoroki não poderia se sentir mais ridículo, mas aquela sensação foi aliviada quando viu o disfarce dos outros- Em especial, do garoto de cabelos verdes que tentava parecer um gangster. Todoroki conteu uma risada, ele simplesmente não sabia como fazer aquilo e era totalmente adorável. 

A graça aumentou enquanto Kirishima tentava ensinar Midorya como agir, e era visível o esforço dele em aprender, mas simplesmente não estava dando certo.

Midorya era inteligente, aquilo era inegável. Depois de contar todo o plano na frente da fábrica de nomus, Todoroki quase murmurou que esperava algo tão genial assim vindo dele. Porém, a preocupação era algo inevitável. Assim, enquanto criava o caminho de gelo e assistia Kirishima agarrar a mão de Bakugou, ele ficou realmente feliz pelos dois, mas só conseguia se concentrar na figura vestida de gangster que desapareceu junto com o casal e com Iida. E se acontecesse algo com eles no caminho?

Após conseguir fugir do terreno da fábrica de Nomus e estar em meio a civilização, o celular de Todoroki vibrou em seu bolso, fazendo seu coração falhar uma batida ao ver quem lhe ligava.

— Midoriya! - o bicolor disse ao atender. - Você está bem? - seu ritmo cardíaco se elevou.

Bakugou estava sob os cuidados de Kirishima, sendo assim, Todoroki sabia sobre o estado do até então seqüestrado e não se importou em ser direto quanto ao motivo de toda a sua preocupação.

— Sim! E vocês, conseguiriam fugir? - Midoriya exclamou do outro lado da linha.

Shoto sentiu-se aliviado ao escutar a voz do esverdeado e saber que ele estava bem, ele permitiu-se respirar calmamente para tentar estabelecer as batidas de seu coração. Sem querer, esboçou um pequeno sorriso e focou em encontrar Izuku e os outros no meio de toda aquela multidão.