Oceans escrita por Lady Nara


Capítulo 3
Capítulo 3 - Nothing else matters


Notas iniciais do capítulo

Finalmeeeeente o/

Então mores, ficou beeem fluf e tal, mas espero que gostem! Boa leitura.

Texto em itálico é sonho ou pensamento e os " * " são passagem de tempo.



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Shikamaru P.O.V.

Quarta-feira era o dia oficial de reunião do Ino-Shika-Cho, como nós gostávamos de chamar nosso pequeno e desengonçado grupo. Hoje, particularmente, estávamos almoçando juntos somente nós três. Em dois dias seria o noivado de Ino e por isso, ela exigiu que estivéssemos sozinhos, como nos velhos tempos.

Olhando para os dois amigos na minha frente, tão opostos um do outro, eu ficava feliz e também um pouco angustiado. De certo modo, eu tinha ficado para trás. Ino estaria noiva em dois dias e Chouji estava cada vez mais sério com a namorada, eu era o único ainda com... Medo.

O celular vibrou e Ino revirou os olhos.

— É ela outra vez? – Chouji se inclinou sobre a mesa para conseguir ver a foto no visor e acenou positivamente em reposta. – É a terceira mensagem em meia hora!

— Ela queria vir. – eu me limitei a responder e desliguei o celular. Tayuya não tinha aceitado muito bem não ter sido convidada para o almoço.

— Adivinhem quem pediu para ir à minha festa?! – Ino mudou de assunto e eu e Chouji nos entreolhamos. – Uchiha Itachi. – ela respondeu a própria pergunta com a expressão surpresa.

— Vocês são amigos? – eu questionei, pois, sabia que ela desejava chegar a algum lugar com aquele assunto.

— Não. – ela deu de ombros. – Ele é cunhado da Sakura e comentou com ela que estava interessado em ir.

— Em que ele estaria interessado na sua festa? – Chouji questionou genuinamente curioso, e Ino se aproveitou disso para pegar o último pedaço de carne.

— Eu não faço ideia. – ela respondeu de boca cheia enquanto Chouji já chamava o garçom novamente.

Contudo, eu sabia em quem ele estava interessado.  Olhei para Ino e ela sorria docemente, como um anjo. Ela também sabia.

— Já apresentou sua namorada para tia Yoshino? – Chouji voltou a falar. Eu meneei a cabeça em negação.

— Por quê? – Ino quis saber. – Está hesitando?

Suspirei e olhei o céu pela janela do restaurante. Eu estava. – Não, eu estou certo da decisão que tomei. – Meus dois amigos se entreolharam, mas não disseram nada.

*

Finalmente tinha chegado o dia da festa de noivado de Ino. Eu esperava que ela não percebesse, contudo, não estava tão empolgado. A última semana tinha sido verdadeiramente problemática.

Tayuya se mostrou um tanto grudenta, principalmente quando eu estava perto de um dos meus amigos e minha mãe não tinha gostado dela, notei isso assim que Tayuya foi embora e ela não fez nenhum comentário.

— Ai está você! - Ino se aproximou acompanhada de Sai, abriu um largo sorriso e me abraçou.

— Eu não deixaria de vir. – cumprimentei Sai também. – Eu fico feliz por vocês.

— Obrigado. – Ele respondeu. – Eu pensei que o encontraríamos com Chouji.

— Chouji já está aqui? – ela meneou a cabeça em afirmação. – Eu ainda não o encontrei.

— O que você estava fazendo? Procurando uma garota em particular? – ela disse com a voz tendenciosa.

— Na verdade, eu vim acompanhado. – falei e desviei meus olhos em direção à Tayuya, que vinha em nossa direção. A expressão de Ino foi de maliciosa a irritada.

— O quê? Eu pensei que Temari ia vir com você. – ela cruzou os braços.

— Ela me disse que nos encontraríamos aqui. – eu respondi.

— Quem nos encontraria aqui? – Tayuya perguntou. – Ah, parabéns Ino! Vocês dois fazem um belo casal. – ela sorriu e Ino semicerrou os olhos, meio que nos estudando.

— Temari. – Sai respondeu com um sorriso singelo.

— Vamos dançar? – Tayuya chamou ignorando a resposta de Sai. – Eu adoro essa música. – eu apenas assenti.

— Até logo, Ino. – disse antes que minha namorada me arrastasse completamente para a pista de dança.

Eu estava dançando com Tayuya, quando notei que ela começou a desviar os olhos várias vezes para o mesmo lugar. Seguir a direção do seu olhar até que meus olhos focalizaram a mulher que chegara ao salão; eu a conhecia bem. Até mais que a mim mesmo, eu diria. A mulher que dançava comigo pigarreou, fazendo-me notar que eu parara de dançar. Eu havia ficado petrificado, hipnotizado perante a imagem dela. 

Que droga, ela era minha melhor amiga, então porque eu não conseguia desviar os olhos dela? E, céus, o que era aquilo que eu estava sentindo?

Quando a música acabou, Tayuya me puxou para um canto do salão de festas bem longe da recém-chegada.

— Vou buscar algo para beber, você quer? – ela negou.

Agradeci mentalmente Tayuya não ter me acompanhado, pois alguns de nossos amigos mais próximos estavam ao lado da mesa de bebidas e discutiam sobre alguém que a irritaria.

— Você acha que alguém aqui tem chance? – Kiba perguntou. A voz dele denunciava o quanto havia bebido; e a festa estava apenas começando.

— Do que você está falando? – perguntei olhando para o mesmo lugar que ele. Antes de ele responder, eu já sabia a resposta.

— Do que mais seria? – ele respondeu entre risos. – Eu não sou o único olhando para ela. – Eu não precisei olhar o lugar outra vez, eu já havia percebido isso.

Temari estava atraindo muitos olhares hoje, inclusive dos meus amigos e de mim. Culpa daquele vestido.

— Você não respondeu. – Kiba voltou a falar.

— Não. – tentei ser o mais ríspido possível.

— Calma ai garotão, você já não está com a Tayuya? – ele riu e eu franzi o cenho.

— É surpreendente, mas, parece que você estava errado Shikamaru. – Chouji sussurrou indicando Temari. Sakura havia deixado ela sozinha por dois segundos e agora Itachi Uchiha conversava com ela. – Você ainda não tinha se dado conta?

Olhei para Chouji extremamente confuso, do que ele estava falando? Karui se aproximou de nós e começou a arrastá-lo para a pista de dança novamente.

Tayuya apareceu em meu campo de visão e antes que ela pudesse me ver eu me despedi dos meus amigos que continuavam ali e fui em direção a uma das varandas.

Acendi um cigarro e me permitir ficar alguns minutos apreciando o silêncio.

— E então? – virei-me rapidamente ao reconhecer a voz. – Finalmente consegui chegar perto de você. – ela riu debochada. – Isso aqui tá lotado.

— É problemático. – pela primeira vez eu me sentia realmente à vontade. – Tem tanta gente olhando para você que eu quase me sinto incomodado. – segredei e ela arqueou a sobrancelha.

— Seria uma surpresa. – irônica, é claro. – Nenhum deles é realmente interessante.

— E há alguém interessante o suficiente para você? – ela tomou todo o conteúdo de seu copo de uma vez antes de responder.

— Você não faz ideia. – ela riu e eu revirei os olhos lembrando-me de como ela estava rindo com o Uchiha. – Você devia se esforçar um pouco mais aqui, você conseguiria...

— Eu sei, mas isso é muito problemático. – disfarcei um bocejo e ela franziu o cenho.

— E quanto aquilo... Como é que está indo?

— Como está indo o quê? – a voz de Tayuya me impediu de responder. A expressão de Temari se tornou séria.

— Nada que você precise se preocupar. – ela respondeu e olhou para mim. – Sua mãe acabou de chegar aqui, alias.

Virei novamente em direção à entrada e a vi me procurando. Acenei levemente e ela sorriu, andando de encontro a mim. Eu e Tayuya ficamos observando enquanto minha mãe abraçava Temari.

— Você está linda. – ela olhou para mim e sorriu minimamente. – Você também.

— Obrigada. – Temari respondeu com as maçãs do rosto rosadas, eu quase poderia dizer que ela estava envergonhada. Tayuya cutucou levemente meu braço e eu suspirei.

Minha mãe virou novamente para mim. – Como vai? – ela cumprimentou Tayuya. – Eu tenho que ir falar com a Ino ainda, você me acompanha Temari? – e as duas saíram de braços dados. Achei que Tayuya iria reclamar, porém ela apenas me puxou para um abraço.

— Finalmente sozinhos.

*

Eu pus minha mão sobre a dela, que levantou o rosto fazendo com que nossos olhos se encontrassem, e como sempre eu me vi perdido naqueles olhos verdes. Os lábios dela estavam entreabertos e a sua respiração levemente irregular. Ela nunca esteve mais linda aos meus olhos.

Naquele momento percebi o quanto deixava de lado minha racionalidade quando estava com ela. E pude ter certeza disso, pois no momento seguinte estava beijando-a.

Abri os olhos devagar e respirei profundamente. Havia sido um sonho. Meu corpo estava suado e... Quente. Minha mente recusando-se a esquecer de cada detalhe. Era quase como se eu ainda pudesse sentir a mão dela sob a minha, o toque dos lábios dela, que eu ainda não conhecia.

Consciente do rumo de meus pensamentos, eu resolvi levantar, de nada adiantaria continuar na cama, eu não voltaria a dormir essa noite.

Olhei para o lado e observei a mulher que estava deitada ao meu lado dormir tranquilamente, completamente alheia a minha agitação e ânsia pelo toque de outra. Suspirei. Que situação problemática.

Será que ela também ainda estava acordada?

Temari POV

Era impressionante eu nunca ter notado o quanto aquele lugar me recordava Shikamaru. Talvez porque eu dificilmente ficava ali sem ele. Já era madrugada, contudo eu estava sem sono. Os acontecimentos de hoje não me permitiam dormir, na verdade.

O vento frio tocava minha pele e balançava meus cabelos soltos, mas o frio não me incomodava. Ele havia escolhido alguém afinal. E eu o havia ajudado.

Peguei o celular há algum tempo esquecido sobre a mesinha e disquei o número já tão conhecido, incerta se deveria ligar ou não. Felizmente, Tenten não demorou a atender.

— O que aconteceu? – a pergunta veio logo que ela atendeu e denotava preocupação.

— Desculpe por ligar esse horário. – Eu sabia que ela odiava ser acordada no meio da noite. – Eu precisava conversar.

Ouvi um suspiro de alívio do outro lado da linha. – Está tudo bem. Eu não estava dormindo, Neji ainda está aqui.

— Oh, por favor, poupe-me dos detalhes sórdidos. – Nós duas rimos.

— O que aconteceu? – Ela voltou a perguntar.

— Você viu? – perguntei baixo, o silêncio que se seguiu me disse que sim.

— Eu não sei o que dizer. – Eu também não sabia. Pelo menos eu não ouviria um “Eu te avisei.” – Achei que no fim, você estaria certa e ele se daria conta.

Senti vontade de lhe dizer que eu mesma mal me dera conta. Ouvir aquelas palavras de Tenten só me convencia de que eu estivera me enganando todo aquele tempo.

— Talvez você devesse dar o primeiro passo. – Ela voltou a falar. Ela sabia que eu era orgulhosa, e que eu não me rendia. Ela estava apelando para meu lado obstinado, contudo, minhas defesas estavam abaladas.

— Eu... Estou muito atrasada Tenten. – Suspirei. – E ele também.

— Pensa bem. – Ela pediu.

— Até amanhã. - E encerrei a ligação. Aquilo não tinha me ajudado. A verdade é que eu não havia lutado por ele em momento nenhum. Eu sou alguém que ia atrás do que queria, então por que não fui atrás dele? Eu apenas estava deixando que ele continuasse em frente.

Senti o celular vibrando e atendi sem olhar quem era Tenten provavelmente não tinha desistido de tentar me convencer.

— Eu te acordei? – a voz rouca do outro lado fez um arrepio subir pela minha coluna.

— Não. – o ouvi suspirar e ficamos alguns minutos em silêncio sem saber o que dizer. – E por que você não está dormindo?

— Não tenho sono. – mas ele bocejou. – Ei, problemática? O Uchiha te chamou pra sair? – franzi o cenho.

— Chamou.

— E você aceitou?

— Que diferença faz Shikamaru? – ele ficou em silêncio por um longo tempo.

— Você ‘tá na varanda do quarto de hospedes? – ele mudou de assunto.

— O vento aqui sempre é mais forte. – respondi e ele concordou.

— Tem uma coisa que eu não entendo... Não sei se consigo chegar ao fim desse jogo. – todas aquelas palavras não ditas.

— Você sempre chega.

— Você não vai me ajudar dessa vez? – ele estava nervoso.

— Eu sempre salvo você, não é?

*

Já faz dois dias desde aquela ligação e eu não tive mais contato com Shikamaru, talvez ele finalmente terminou o jogo afinal, seja como for eu estava mudando a minha estratégia agora.

Então, eu tinha finalmente cedido aos galanteios do Uchiha e aceitado sair com ele. E o mínimo para começar a descrever aquele encontro era interessante. Eu estava numa boate, cercada por roqueiros enlouquecidos que tinham vindo assistir a banda de Itachi tocar.

— Eu não sabia que você tocava numa banda! – eu gritei para soar mais alta que a música.

— Quase ninguém sabe. – ele deu de ombros. Muito bonito. Inteligente. Naturalmente sedutor. Divertido. – Se continuar me olhando assim eu vou acabar agarrando você. Direto.

Eu sorri e me inclinei no banco para falar ao lado de sua orelha. – Ou talvez eu agarre você.

— Eu gostaria disso. – ele respondeu já com uma das mãos em minha perna.

 Ele virou o rosto devagar e esperou que eu o beijasse. A mão fazendo caricias leves em minha perna enquanto a outra segurava uma garrafa de bebida. E eu o fiz. Itachi Uchiha era quente e intenso. Aquilo seria bom.

 - Eu sempre achei que você e o Nara iam acabar ficando juntos. – ele murmurou contra meu pescoço e eu travei. – Que bom que estava errado.

— O quê?

— Você nunca me deu uma chance por causa dele, não? – agora ele tinha o cenho franzido. Que hora terrível para falar do Shikamaru. Bufei.

— E acha que eu estou te dando uma chance agora? – arqueei a sobrancelha.

— Ele não tem nada haver com isso?

— Eu não fico com uma pessoa para esquecer outra, se é o que quer dizer. – cruzei os braços, aquela conversa tinha me deixado irritada.

— Eu tinha que ter certeza. – a única coisa que conseguiu foi trazer Shikamaru para minha mente.

— Aceitei esse encontro porque você é divertido, e beijei você por que me deu vontade. Não seja um idiota.

— Desculpe, recompensarei você por isso. – ele sorriu e beijou minha mão. –Quanto as minhas chances, podemos falar sobre elas amanhã?

— O que o faz achar que eu mudaria de ideia tão rápido?

— Não quero parecer pretencioso, mas, tenho certeza que depois de hoje minhas chances estarão bem altas. – ele voltou a me beijar depois de dizer isso.

Shikamaru POV

Toda noite de sexta, nosso grupo de amigos se reúne. Hoje estávamos na casa do Neji. Tayuya não quis vir hoje, acho que ela já percebeu que nós dois não combinamos.

Há uma semana temos nos falado por e-mail e mensagens de texto, contraditoriamente, Temari e eu quase não trocamos palavras desde que ela chegou.

Tenten, Ino e Sakura tinham ficado aos sussurros e risinhos com ela por um bom tempo e depois Sasuke tinha engatado uma conversa com ela sobre uma banda de rock qualquer; eles dois quase nunca conversavam. 

— Que filme vai ser hoje? – Sakura perguntou.

— Que tal o último filme da franquia Star Trek? – Naruto sugeriu e vi Sasuke, Tenten e Hinata concordarem.

— Já assistimos esse. – Temari apontou dela para mim e Naruto riu maldoso.

— No dia em que estavam trabalhando? – ela revirou os olhos.

— Escolha outro, eu vou pegar a pipoca.

Quando ela saiu começaram uma votação para escolher outro filme e eu levantei discretamente, indo atrás dela.

— Você vai falar comigo hoje, mulher? – ela suspirou e olhou para mim por cima do ombro.

— O quê? – ela perguntou antes de voltar a dividir a pipoca em três baldes médios. Quando eu não respondi ela largou a pipoca e se virou. – O que você quer?

— Minha melhor amiga de volta. – ironizei.

— Sério? – ela colocou as duas mãos na cintura. – Eu gostaria do meu melhor amigo incrivelmente inteligente e nada bundão de volta, também!

— Eu não sou bundão. – senti meu rosto esquentar e ela riu, o clima se amenizou entre nós. – Você está me evitando?

— Não estou. – ela deu de ombros e voltou a se agarrar as pipocas.

— Porque está saindo com o Itachi? – Temari era muito problemática, mas, ela não perdia o controle por pouca coisa; aparentemente aquilo tinha sido muito, percebi pela forma como me olhou.

— Eu saí com ele, não que você realmente se importe, porque ele é divertido. – ela aumentou o tom da voz. – E porque ele sabe o que quer! Muito diferente de você!

— Eu sei o que eu quero! – bufei. – Eu não acredito que nós estamos discutindo...

— Então acorda e faz alguma coisa! – ela me interrompeu.

Automaticamente meu corpo sabia o que fazer e eu fiz. Minhas pernas rapidamente cobriram o espaço entre nós e meus braços a puxaram e apertaram contra meu corpo. As pipocas foram ao chão no mesmo momento em que nossos lábios se tocaram.

E, apesar do meu visível desespero e urgência era um beijo lento, como se nenhum de nós dois quisesse que o momento acabasse. Entretanto, ele acabou com a mão dela no meu rosto, e uma bela bofetada.

— Não! – ela me empurrou com força para trás.

— Desculpe-me. – olhei para meus pés, incapaz de encarar aqueles olhos agora. – Eu não...

— Não vai se repetir. – a voz firme, contrastando com o corpo trêmulo. – Eu não aceito esse tipo de coisa, Shikamaru, achei que você me conhecesse. – ela estava decepcionada.

— Você não entendeu. – olhei-a nos olhos para que soubesse que eu dizia a verdade. – Eu não penso isso de você! Eu apenas não... Não sei o que fazer. – ela abriu a boca surpresa.

— Seja o que for não é isso. – ela baixou o tom de voz e desviou os olhos. – Eu achei que podíamos confiar e contar um com o outro, não é assim também.

— O que? – ela não estava falando sério.

— Limpe a bagunça. – ela sentenciou e saiu da cozinha.

Eu sabia que nossos amigos tinham nos ouvido, pois nenhum som vinha da sala, provavelmente eles estavam a encarando agora; todos tão surpresos e constrangidos quanto nós mesmos.

O que eu estava fazendo?

— Você quer ajuda? – a voz de Ino fez com que eu desse um pequeno pulo para trás. Ela tinha um mínimo sorriso nos lábios, os braços cruzados na frente do corpo.

Eu sorri antes de assentir e ela entrou.

*

Uma semana, nós não conversamos há uma semana. Ela vai ao meu apartamento ver minha mãe e não espera eu chegar; me evita na empresa o máximo que consegue e sinceramente, parece que Tsunade está ajudando ela com isso.

E francamente, como eu pude supor que aquele namoro não seria problemático demais? Dei um encontrão em alguém e quase cai.

— Gaara! Eu ouvi dizer que você estava na cidade. – nos cumprimentamos brevemente com um aperto de mãos. – De férias? – perguntei.

— Quase isso. – Ele olhou para dentro do pequeno estabelecimento e apontou. – Me acompanha? – Assenti, eu estava indo exatamente para aquele lugar.

— Já se encontraram? – Não citei nomes, mas não era preciso. Eu tinha certeza que ela ia adorar ver o irmão depois de tanto tempo. Ele balançou a cabeça levemente num sim.

— Cheguei ontem. – Ele fez um pedido à garçonete que veio nos atender. – Ela foi me buscar no aeroporto, achei que soubesse.

— Não. – respondi após fazer meu pedido e dispensar a garçonete. – Eu ouvi de sua chegada por Ino. – arrependi-me de ter falado imediatamente, contraditoriamente ele pareceu não se importar.

— Entendo. – ele fez um breve silêncio, em que eu tentei descobri se aquilo era algo bom ou ruim.  – E como ela está?

— Bem. – talvez eu devesse ter dito que ela estava noiva, porém, não seria justo. - E...

— Temari me disse que ela está noiva. – Ele deu um singelo sorriso. Eu não o respondi. – As pessoas seguem em frente Shikamaru. – disse como se para me confortar. – Eu também segui.

Dito isto, pela primeira vez eu notei a aliança de compromisso no dedo anelar direito do ruivo. Agora eu estava verdadeiramente surpreso.

— Não faz muito tempo, mas, eu sei que é a pessoa certa. – nesse momento ele me pareceu genuinamente feliz. – Assim como Sai é a pessoa certa para Ino.

— Eu fico feliz por você. – fui sincero.

 Apesar de ser quem apresentou Gaara e Ino no passado eu não achava que seu relacionamento amoroso duraria. E não durou. Os dois acabaram machucados. Era bom ver que não haviam ficado cicatrizes.

— O que mais Temari lhe contou? – perguntei para que continuássemos a conversa.

— Sobre seu namoro. Devo dizer parabéns? – ele perguntou e eu quase achei que ele estava se divertindo.

— Não foi a melhor das minhas decisões. – Eu respondi a contra gosto. – Eu ainda estou resolvendo.

— Por que você simplesmente não pediu que Temari fosse sua namorada? – a tranquilidade dele era quase palpável. Enquanto isso, onde havia ido parar minha serenidade?

Fizemos um pequeno momento de silêncio, pois a garçonete veio deixar nossos pedidos e franzi o cenho ao notar que ele tinha pedido chá.

— Eu... Eu só não poderia fazer isso. – Ele levantou os olhos para me observar e eu baixei meu olhar para minha vitamina. Era difícil considerar aquela hipótese com minha melhor amiga.

— E por que não? – Ele me pegou desprevenido. - Acaso não gosta dela?

— O - o quê? – resmunguei em minha defesa. – O que ocorre é que eu não poderia envolvê-la do jeito que as coisas estavam para mim; não seria justo com ela.

— Como assim? - Ele voltou a tomar seu chá como se aquela fosse uma conversa banal qualquer. Não havia uma única emoção em sua face para denunciar seus pensamentos.

— Eu não estava no meu melhor momento quando decidi isso tudo; e eu não podia arriscar que ela saísse de minha vida depois de algo como isso. – assim como ele tinha saído da vida de Ino eu quis dizer, mais uma vez ele se interrompeu para me observar. – Ela é minha melhor amiga.

— Bom, de certa forma, você já o fez. – sim, eu sabia disso. – Vocês deveriam conversar.

— Gaara... Você não me disse o que veio fazer aqui. – Eu não tinha um bom pressentimento sobre isso.

— Vim pedir a Temari para assumir a vice-presidência das Indústrias Sabaku. Oficialmente. – isso me surpreendeu.

— Não sabia que pretendia trazer a empresa para cá. – falei entusiasmado.

— Eu não vou. – Eu entendi o que ele quis dizer apenas pelo seu tom de voz. Entretanto, eu não poderia ter entendido certo. Isso significa que ela iria embora definitivamente?

Terminamos de comer em silêncio e depois fomos caminhando até o hotel em que ele estava hospedado que era próximo dali. E também próximo do prédio em que ela morava. Gaara disse que não iria encontrar com ela para jantar e me deixou sozinho. Não era uma escolha difícil. Depois de um longo suspiro eu continuei minha caminhada.

Subi sem avisar e toquei a campainha. Esperei um pouco até que ela veio atender. Pela sua expressão de surpresa a me ver eu já sabia a resposta antes de fazer a pergunta. Temari me deu passagem e eu entrei no apartamento, ambos em silêncio.

— Eu encontrei com Gaara há pouco. – disse baixo.

— Ele falou. – Ela deduziu.

— Você pretende ir com ele? – nessa altura estávamos um de frente ao outro. Ela desviou os olhos.

— Eu ainda não sei. – suspirou. – Eu sinto saudade dos meus irmãos e tecnicamente assumi esse cargo nos últimos dois meses. Por outro lado, meus amigos estão aqui e... – ela se interrompeu.

— E? – a incentivei a continuar.

— E eu já tenho um trabalho. – Ela falou abruptamente. Eu sabia que não era isso que ela pretendia falar. E ela sabia disso. – É algo que eu tenho que pensar.

— Eu não quero que você vá. – aquelas palavras pegaram a nós dois de surpresa. Ela baixou os olhos.

— Você já decidiu o que fazer em relação ao seu namoro com a Tayuya? – Ela mudou de assunto. E deu a volta na mesa da sala sentando-se no sofá.

Segui-a e deitei a cabeça em seu colo. – Sim. – suspirei. – Você não devia ter me deixado fazer isso. – em resposta ela revirou os olhos.

— Apenas não comece a chorar agora. – foi minha vez de revirar os olhos.

— Nós somos amigos? – nossos olhos se encontraram e ela sorriu.

Naquele momento meus problemas anteriores eram insignificantes, tudo que me preocupava era pensar que ela poderia ir embora definitivamente. Passava um filme qualquer na TV e eu acabei adormecendo ali.

Quando acordei, ela havia saído. Um pequeno bilhete dizia que estaria com Gaara. Indo contra minha razão, fui até seu quarto e constatei que nenhuma mala havia sido feita. Suas coisas estavam como sempre.

Mais tranquilo com o que tinha visto, tranquei o apartamento dela e fui para o meu próprio. Minha mãe deveria estar preocupada.

 

Temari P.O.V.

Fiquei horas dando voltas com Gaara até ser tarde o suficiente para Shikamaru já ter ido embora. Eu o amava, sabia disso agora, não obstante, eu não aceitaria alguém que não tivesse cem por cento nisso como eu estava.

Por isso, liguei para ele de manhã cedo e pedi que ele viesse até meu apartamento. Quando a campainha tocou, Gaara levantou em silêncio e se trancou no quarto de hospedes.

— Oi. – disse assim que abri a porta. Ele assentiu e eu deixei que ele entrasse.

Nada de abraços, por que não éramos de demonstrações de afeto e porque nenhum de nós queria repetir a cena da cozinha de Neji.

— O que você decidiu? – ele quis saber.

— Vou voltar com o Gaara. – ele suspirou. – Hoje à noite.

 - Tema... E o que vai ser da gente, problemática?

— Eu e você continuaremos amigos, não importa que rumo nossas vidas tomem. – Eu disse e sorri. Era o que sentia; não importava quão longe eu ficasse dele, meus sentimentos não mudariam.

— Como as coisas chegaram nesse ponto? – Ele perguntou e deu um passo em minha direção. – Está tudo de cabeça para baixo.

Ele tinha razão. Tudo havia mudado. Entristeceu-me que ele ainda não entendesse o motivo.

— Isso é apenas porque estamos nervosos. – Eu disse tentando soar convicta. – É um grande passo para nós dois. – Referi-me a ele ter voltado atrás com sua decisão e terminado o namoro. Ele desviou os olhos dos meus e encarou minhas malas. – Iremos sobreviver. – Ele voltou a olhar para mim, agora como se eu houvesse dito a pior das ofensas.

— Sobreviver? – ele fez uma careta. – Eu... – Ele hesitou e antes que pudesse continuar eu o interrompi.

— Vai acabar se atrasando. – Quarta era dia oficial de almoço com Ino e Chouji. Ele franziu o cenho. Quanto tempo eu resistiria ao ímpeto de acabar com a distância entre nós e fazê-lo meu?

— Eu não quero que você vá. – ele me olhou decidido, todo vestígio de hesitação de outrora desaparecendo.

Caminhou até mim e segurou meu rosto entre suas mãos. Poderia apostar que nem mesmo ele entendia suas ações agora. Estávamos tão próximos que eu podia sentir sua respiração e podia jurar que ele conseguia escutar meu coração.

— Não me diga que vai chorar quando eu for. – falei rápido, usando todas as minhas forças para resistir à vontade de beija-lo. Questionei-me se havia sido irônica o suficiente quando ele fechou os olhos e suspirou.

Mesmo que eu quisesse aquilo, e eu queria desesperadamente, eu não aceitaria naquelas condições.

— Problemática. – Ele falou com um sorriso, depositou um beijo em minha testa e depois se afastou. – Acho melhor eu ir.

Assenti e o seguir com o olhar até a porta e depois escorreguei até o chão. Ele ia me beijar. Shikamaru ia mesmo me beijar outra vez.

Ele me correspondeu ou só fez aquilo porque está confuso com tudo o que está acontecendo? Por que tudo tinha que ser tão complicado se tratando de nós dois? Tínhamos percebido tarde demais, algo que estava tão explícito por todo esse tempo.

— Tem certeza disso, Tema? – Gaara saiu do quarto quando ouviu a porta bater. Eu assenti. Já estava decidida.

Algumas coisas, por mais dolorosas que sejam, são inevitáveis. Eu não negaria mais a mim mesma os sentimentos que nutria por ele. Eu sabia que o amava. Sabia que sempre amaria. Mas, não poderia amá-lo mais que tudo, mais que a mim mesma. E nós nem chegamos a tentar verdadeiramente. Nós nem sabemos o que seria isto. Eu não esperei que fosse acabar desse modo. Eu não fiz nada para que acabasse diferente.

Era muito pedir que ele me entendesse quando eu nada dizia. Eu não lhe falei uma única vez. Eu havia desistido antes de tentar, ele nem ao menos conhecia este jogo.

Shikamaru POV

Do apartamento de Temari eu fui direto ao restaurante que sempre almoçava com Chouji e Ino. Karui e Sai não tinham vindo hoje, ao que agradeci. A loira estava falando algo sobre Tenten e Neji terem decidido morar juntos e abruptamente mudou de assunto.

— Você e Temari se resolveram? 

— Eu estou apaixonado por ela. – Chouji sorriu e Ino deu pulinhos de alegria.

— Finalmente! – ela bateu palminhas. – Você é tão lento, francamente.

— O que houve? – Chouji quis saber, quando eu não me mostrei tão contente quanto eles.

— Ela vai voltar para a cidade dos irmãos.

— Ela o quê? – Ino se irritou. – Agora que você finalmente percebeu!

— E o que você vai fazer? – Chouji perguntou, mais uma vez tranquilamente. Ino olhou para mim com expectativa.

— Eu fui atrás dela antes de vir aqui.

— E você vai desistir? – ela franziu o cenho.

— Então ela deve estar certa, afinal. – foi Chouji quem falou. – Eu não acredito nisso, no entanto.

Um sentimento de gratidão e alivio preencheram meu peito, eu tinha os melhores amigos do mundo.

*

Minha velha estava sentada no sofá, pernas e braços cruzados, preparada para me dar aquele sermão por ter chegado tarde, porém, quando me viu sua expressão suavizou e ela bateu no sofá para que eu sentasse ao seu lado.

— Você fez o que tinha que fazer? – sua voz era suave. Sabendo que ela estava se referindo a Tayuya, assenti. – Ainda tem algo preocupando você? – eu desviei os olhos e ela suspirou.

Observei-a levantar, pegar o tabuleiro de xadrez e trazê-lo até mim. – Seu pai sempre pensava melhor quando estava jogando. – e sorrindo, ela me deixou sozinho. 

E ela tinha razão.

*

Se um dia me dissessem que eu conheceria minha melhor amiga e a mulher por quem eu seria loucamente apaixonado numa disputa por estágio, eu diria ‘problemático’.

Temari era uma dos poucos universitários concorrendo. Loira, alta, e demasiadamente confiante. Apenas a postura dela já estava assustando alguns concorrentes, e ela tão somente falava ao celular. E então ela riu, era um riso assustador e incrível e eu achei que combinava com ela.

Ao fim do dia, na última etapa da seleção, só eu e a garota loira concorríamos à vaga de estágio, era uma situação prática de raciocínio lógico, um contra o outro; eu havia pensado em vinte formas de contornar a situação em que ela me colocou, no entanto, aquela maldito sorriso confiante me fez mudar de ideia e eu desisti. No outro dia, eu recebi uma ligação dizendo que tinha ficado com a vaga, mesmo assim.

Eu não achei que encontraria com ela outra vez, até entrar na faculdade no mês seguinte e descobri que ela estava no comitê de boas vindas do meu curso. Quando ela me reconheceu achei que fosse querer me matar, contudo, ela simplesmente deu de ombros e me ajudou com o que eu precisava saber. Ela se formou dois anos antes de mim, e voltou para a sua cidade. Meses depois nós nos reencontraríamos trabalhando juntos. Já fazia seis anos desde então.

Seis anos e eu nunca tinha percebido. Que tipo de idiota eu era? Ali naquele aeroporto, desesperado para encontra-la eu finalmente entendia.

Eu poderia negar e fugir desse sentimento, mas é algo inevitável. Eu não consigo e eu não quero esquece-la. E não me importa que nós sejamos opostos, eu tinha realmente me apaixonado por ela.

Eu poderia citar incontáveis motivos para isso, porém eu sabia que nós não precisávamos de palavras. Ela já sabia. Eu só precisava que ela soubesse que eu tinha finalmente me dado conta também.

Mesmo assim, repassei mais uma vez o discurso que tinha feito: “Eu quero acordar todos os dias e saber que eu tenho você; quero olhar nos seus olhos e ver o brilho e confiança, tão característicos que eles transmitem. Quero acordar vendo o teu sorriso e me sentir a pessoa mais sortuda do mundo por isso”.

— Temari! – gritei quando a vi e ela virou na minha direção. Fui até ela devagar.

Em minha cabeça eu continuava repetindo o discurso que havia feito: “Eu quero que você me deixe amar você, mas tudo que vou pedir é que você fique. Quero que fique, porque quer ficar. E quero que você queira isso, por que sente o mesmo por mim”.

Mas, tudo que saiu de meus lábios foram: – Você quer sair comigo?

Ela sorriu. Aquele sorriso que ela só dava para mim. – Como um encontro?

Feh... Nem assim ela deixa de provocar. – Sim.


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