Aquele pedido (Revisada) escrita por Gabriela


Capítulo 14
13


Notas iniciais do capítulo

Sorry!



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Seus saltos riscaram o chão a madeira enquanto descia da escada, enquanto seus olhos vislumbravam os espaços vazios. Agora, não havia mais cômodas, mesas, tapetes, poltrona, espalhadas pelo ambiente. Agora, só havia riscos no piso de madeira, antigamente imaculado, causado pela movimentação dos móveis, que deixavam progressivamente a casa. E logo, não restaria quase nada, apenas espaços e seus fantasmas. –Essa é a nossa nova casa, B. Ninguém te machucará enquanto estiver aqui. – Seu pai falou em suas memórias; enquanto, no presente, seu primo começava a descer as escadas com duas malas e com cuidado.

O sorriso dele era brilhante, mas triste. Veria finalmente sua noiva, mas deixaria para sempre ali. Era quase uma piada do destino, ou sua maldição. Pelo menos era isso que seu tio costumava a dizer, que estava preso em dois polos ao mesmo tempo. Um fato triste e desconfortável.

As malas deles caíram sobre o piso a centímetros dos chiques sapatos dela quando desceram aquela longa escadaria. –Tem certeza que não quer que eu fique até finalizar tudo? –Perguntou ao mesmo tempo que mexia seus dedos levemente dormentes.

As palavras deles saíram com um tom tão denso de preocupação, que quase causou nela uma careta. –Eu posso cuidar disso, Jon. E sem contar que em três dias estarei lá. Ainda não cheguei no nível de conseguir arruinar minha vida em três dias. – Piscou, puxando dele uma leve risada.

—Eu espero. Tem certeza que quer ir? Não precisa ir comigo. – Ela parecia tão cansada, tão desgastada que tinha a impressão que desmaiaria a qualquer momento. A morte do seu tio ainda refletia duramente nela.

—Tenho. E ficar nessa casa só... –A destruía. Há dias não dormia, há dias não comia direito, há dias não sentia nada além dessa sensação de solidão. Talvez fosse exatamente assim que seu pai se sentia quando não estava aqui. Sozinho.

—Eu sei. Também sinto isso em algum nível. –Como queria tirar isso dela.

Para Jon, estava se tornando seu pai. –Tem certeza que sua noiva não vai ligar? Quer dizer... sei que algumas mulheres não iriam gostar muito de uma prima morando com seu quase marido. –O quase o fez revirar os olhos.

—Ela ama você. Adoro seu espírito. Quando disse que você também iria, ficou extremamente feliz. –Aquela mulher era sua vida.

Homem sortudo. –Você não a merece. –Ambos concordavam com isso.

Mas, antes dele poder dizer algo, Art apareceu, já pronto para partir. –Tudo pronto. Quer que eu leve as malas?

—Não, Art. Eu levo. –O homem assentiu antes de retornar a entrada da casa. –Eu vou dar um abraço na tia e... –Se despedir de tudo.

Sabia notar quando uma pessoa pedia um pouco de espaço, por isso, sorriu antes de apertar levemente seu ombro. –Eu sei. Tome seu tempo primo. Vou esperar você lá fora. –O sorriso que se espalhou pelo rosto dele foi sem brilho e saudosista. É... o dia havia chegado.

Apertou novamente o ombro dele, antes de caminhar para a entrada principal da mansão, a qual tinha uma vista linda para um pequeno jardim, e para o tempo nublado. O verão levemente deixava aquela parte do mundo, e mais um inverno se aproximava. Aquele lugar se tornaria ainda mais frio.

Tocou levemente o ombro de Art, antes de descer os três lances de escada, que a separava do carro. E se não fosse pelo relinchar de um cavalo, teria entrado no carro. Não era o som de seu companheiro de caminhada, era outro que se aproximava pela estrada. Por um instante, quase mergulhou nas lembranças da emboscada, mas os olhos marrons e a calmaria de Art a acalmou.

O lindo corcel preto cavalgou em direção a entrada da sua casa, a ela, enquanto sua dona a olhava. Aquela mulher não parava de surpreendê-la. E como se fosse um polo negativo sendo atraído por um positivo, caminhou até o local onde Kate desmontou.

—Não sabia que tinha um cavalo... –E que ela sabia montar em um.

Suas palavras fizeram Kate respirar profundamente. Ainda estava com raiva. –Tem muita coisa que você não sabe sobre mim, Beatrice. –E vise versa.

—Verdade. –Concordou rapidamente. Não havia necessidade de prolongar a conversa.

A rapidez e honestidade pegaram Kate desprevenida. Não havia mais fogo nos olhos que aprendeu a admirar. –Está indo embora? –A pergunta quase machucou sua voz.

E isso a fez suspirar. –Hoje não. Hoje, meu primo que vai.

Havia ouvido boatos que a casa estava sendo esvaziada, mas ter a confirmação era pior do que os boatos. –Por que não falou que seu pai morreu? – E só ela sabe quanto os boatos tiraram dela.

—Honestamente, eu não sei. –Olhou para as árvores da propriedade, mas ainda sentia o olhar dela sobre si. – Acho que eu queria algo para sentir raiva. Acho que eu não queria aceitar... e pirraçar era muito mais fácil. Mentir era mais fácil. – Só quando concluiu fixou seu olhar nela novamente. – Me desculpe. – E sorriu tentando diminuir sua fragilidade.

Quando saiu de casa, Kate estava pronta para lutar, Beatrice nunca foi uma mulher de se render fácil, mas, quando chegou, encontrou uma bandeira branca, e um olhar quase destruído. E isso a abalou. Não esperava por aquilo e agora estava presa na vontade de abraçá-la, e protegê-la. O que estava acontecendo com ela? – Eu teria feito o mesmo. – E teria.

As palavras amigáveis só a fizeram mais desconfortável. Só queria que ela fosse embora. – Por que está aqui? –Falou após um longo suspiro.

Porque precisava vê-la. – Foi você que me tirou da cadeia. –Afirmou, e isso a fez se aproximar dela, antes de acariciar seu belo cavalo.

—Ele te contou? –Leonard sempre um fofoqueiro.

Tão fácil assim? –Ele meio que deixou implícito. E vamos ser realistas... um banqueiro aparecer do nada querendo ajudar e pronto para pagar tudo aquilo... só em fantasias. –Ou só quando ela está envolvida. –Por que fez aquilo?

—Porque você estava certa. –Soltou tirando aquela verdade de dentro dela. –Eu lutei antes e vi o que dava certo ou errado. E eu quis impor isso a vocês. – Havia sido uma babaca. –E eu coloquei vocês no exato ponto onde eu parei. – Seus dedos acariciaram o pelo grosso do cavalo enquanto ele se movimentava um pouco. Precisava daquilo para continuar. – Eu esqueci em algum ponto da minha vida que não existe modo certo ou errado de lutar. E esse era o modo de vocês, e funcionava. E tirar você dá cadeia era o mínimo que eu podia fazer para corrigir meu erro. Você não merece o mesmo caminho que eu trilhei porque eu te induzi a isso. – Seus olhos queimaram os dela, e tudo o que pesava em seus ombros se foram. Estava finalmente livre.

Aquele olhar parecia puxá-la, e no fundo, queria mergulhar nele. Ele era tão honesto, mas havia algo nele. –Por que, quando você diz tudo, ainda não disse tudo? –Os olhos verdes brilharam, fazendo seu coração pular. Como sentiu falta daquele brilho lotado de desafio.

—Kate? –A voz de Jon puxou as duas daquela batalha, e só nesse momento notaram o homem parado na entrada da casa com duas malas nas mãos. –Tudo bem?

—Agora sim, Jon. –Jon sorriu com gentileza, antes de olhar para Beatrice. Ele estava preocupado. –Desculpa atrapalhar a sua partida. –Falou rapidamente.

—Que isso. Sei que tem muito a resolver com minha prima. –Falou enquanto descia as escadas e entregava as malas para Art. –Beatrice, se quiser posso ir...

Péssima hora para vir aqui. –Não. Eu vou com você. Só me dê mais alguns minutos. –Só precisava disso e tudo acabava.

—Ok. Vou esperar dentro do carro. –Piscou antes de abrir a porta. –E Kate... fico feliz que saiu da cadeia. –Sorriu gentilmente enquanto entrava no carro.

E antes da porta bater, respondeu. –Obrigada. –Então, ela bateu, dando certa privacidade as duas. –Seu primo parece ser um amor.

Ele era, mas isso era outra coisa. -Não mude de assunto. –Isso já se prolongou demais. –O que você quer, Kate?

—A verdade. –Afirmou enquanto se aproximava ainda mais dela. –Quero que me diga toda a verdade? –Não chegou até ali para conseguir a metade.

—Por quê? –Seu corpo andou para trás em alto defesa, enquanto sua personalidade renascia. –Para ter a certeza que todos os boatos não eram verdades? Para você confiar em mim? –O que ela queria dela?

—Eu confio em você. –Em algum nível, confiava.

—Claro... por isso estava no restaurante. –Provocou.

E lá estavam elas de novo. -Eu não estaria nele se tivesse dito a verdade. Mas, não. Você queria fazer disso seu jogo. –Definitivamente, não entendia aquela mulher.

—Pelo contrário. Eu nunca estaria lá se você não tivesse me pedido. –Soltou sem importar com seu tom elevado. Não se importava mais com nada. –Mas, confesso que eu queria me vingar daquele desgraçado pela maneira que me tratou na festa. Mas, claro você nunca tentou pensar por esse lado. Não! Mas, fácil desconfiar de mim. –Descarregou sem ocultar toda sua frustação.

O que ele fez na festa? – Se você não havia notado, eu não estava na festa. Eu não ouço seus pensamentos. –A raiva borbulhou em sua pele, fazendo levantar os braços em frustação, enquanto dava um passo para frente. –Sabe... eu odeio quando você faz isso... quando acha que todos devem seguir o seu plano. –Apontou de forma exasperada. Sabia que teria uma batalha com ela.

Não era a única que odiava coisas. –Eu odeio quando acha que suas ideias são as melhores e mesmo tendo outras boas você descarta elas imediatamente. –Jogou enquanto dava um passo par frente. – Odeio quando acha que é a dona da razão.

—Odeio seus vestidos. – Como odiava. -Odeio quando você levanta o rosto e fica nessa sua pose de superioridade. –Como estava agora.

—Não é uma pose de superioridade. –Cortou os golpes bruscamente. –É a forma que eu encontrei de aguentar tudo. Quando eu ergo a cabeça, não é para colocar ninguém para baixo, e para eu não cair quando levar o golpe. – Que sempre vem. – Não vamos sair disso nunca. Você sabe. –Suspirou alto, deixando ela ver o que escondia. –O que quer, Kate? O que quer que eu diga?

O olhar a fez se aproximar dela, e calou toda a sua personalidade explosiva. – Toda a verdade. –Seu olhar se perdeu no dela, enquanto seu coração corria.

—Qual? –Sorriu e, em seus olhos, lágrimas brilharam. –Que eu me apaixonei por você no momento que eu te vi naquela festa a quase dois anos. Que eu só quero te tirar da minha cabeça desde então... – Estava condenada.

Kate nunca imaginou ouvir aquilo. Nunca colocou um nome para aquilo que sentia. Nunca pensou na dimensão daquilo. Mas, não ligava. Tudo o que ligava era aquele olhar, e aquelas palavras. –Você estava linda naquela festa. –Suspirou enquanto se aproximava ainda mais dela. –Eu quero tanto...

—Não. –Falou, antes de encostar sua testa na dela. –Não. Por favor, não torne mais difícil do que já é. Apenas me deixe ir. –Pediu enquanto olhava no fundo dos seus olhos.

—Ok. - Era tudo o que precisava ouvir.

—Adeus, Kate. –Seu corpo se distanciou do dela, e seguiu em direção ao carro, ao seu primo. Mas, antes da distância se torna irreversível, uma mão agarrou seu braço. Um movimento que a fez virar, e ficar cara a cara com Kate, antes de ser beijada.

Quando seus lábios se encontraram, toda sua pose se desfez, e seu corpo se derreteu –não podia evitar. Todos seus sentidos estavam obedecendo a aquele sentimento, doce e gentil. Por isso, beijou com tudo o que tinha e, quando Kate aprofundou o beijo, a deixou pegar tudo o que tinha, enquanto segurava suas bochechas delicadamente. E por um segundo, não houve mais tempo.

Mas, um clique fez Kate perceber o que fazia, o quanto egoísta estava sendo. Precisava parar.

Seus lábios se separaram e, quase ao mesmo tempo, disseram. –Me desculpe.

—Não deveria ter feito isso.

E foi seu olhar que fez Kate montar no cavalo e ir embora. Ela não deveria ter feito isso. Sem ver, entrou no carro e tocou seus lábios em reflexo. –Você está bem? –Seu primo, que estava do seu lado, perguntou.

Nunca estaria. –Eu vou sobreviver. –Por que ela fez aquilo?

A pergunta foi um pensamento que saiu sussurrado, e a qual fez seu primo segurar sua mão até o trem. E ele quase não soltou quando o trem apitou anunciando o último momento para o embarque. –Tem certeza que não quer que eu fique?

A preocupação dele a fez sorrir e abraçá-lo. –Eu vou ficar bem. –Sussurrou enquanto tentava puxar dele um pouco de força. –Agora vá. –Falou antes de liberá-lo. Esse não era um adeus.

Ele sorriu, e assim que entrou, um novo som soou da grande máquina. Estava na hora de partir. E pontualmente, a fera de ferro começou a andar e a deixá-la para trás enquanto chorava por alguém que não deveria chorar.


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Notas finais do capítulo

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