Charlotte a Herdeira da Trapaça escrita por MJ Triluna


Capítulo 13
Capítulo XII -




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— Pronta para o que? — perguntou-se olhando para seu braço, onde como se fosse uma tatuagem uma figura começava a se mostrar sobre sua pele, ela não conseguia identificar formato em algo tão desbotado.

Havia chegado em casa há tempos, aquela raposa tinha desaparecido tão rápido quanto apareceu dentre as pessoas. Mas o que queria dizer, afinal? Não conseguiu entender nada daquilo, não era a primeira raposa do além que encontrava.

Agora que tinha um pouco mais de respostas, tinha chego à conclusão de que a primeira raposa que tinha encontrado, enorme e assustadora, se tratava de um teste de seu pai e só por ela ter tido o disparate de pular d’uma árvore para outra ele considerou algo cumprido, o que exatamente ela não tinha ideia. Entendia a maioria das coisas sobre ele por serem tão parecidos em personalidade.

Assim como o homem maltrapilho da rua havia dito. Era muito parecida com ele e, gostava como isso a fazia se sentir bem perto dele, assim como não era estúpida de não notar a diferença de como ele ficava à vontade quando estava com ela.

Não sabia muita coisa dele, na verdade não sabia nada, mas por serem tão parecidos que isso não incomodava. Ela não era um livro aberto e se alguém a forçar muito para falar sobre o passado o resultado é ruim, mesmo sem ter pressionado ou sequer indagado sobre, tinha noção que ele também reagiria assim.

“Filho de peixe, peixinho é” ponderou suspirando, tinha terminado um trabalho da escola sem nem prestar atenção nele.

Sábado a noite, a maioria das pessoas da idade dela, incluindo Leo que tinha mandado mensagens, por algum louco ter deixado ele embriagado encostar no celular, estava se divertindo em festas e coisas do tipo. A única coisa irritante nisso era a insistência de Leonardo em beber, ela odiava aquilo.

Se jogou para trás na cadeira, tentando focar sua mente em uma só coisa. No entanto, quando ela finalmente conseguiu essa proeza, ouviu o tilintar de correntes chocando-se umas contra as outras, viu o brilho cegante das correntes douradas e também vislumbrou novamente aquele par de olhos vermelhos que lhe arrepiava a espinha.

— Charlie! — O grito estridente de Jace a tirou de seu transe.

Ela pulou na cadeira, arfando. Toda vez que tinha qualquer sonho ou memória daquele lugar era como se seu corpo todo buscasse uma resposta inexistente e entrasse em pane por isso. A mão ainda trêmula foi levada a testa enquanto ela mesma se dizia para ficar calma, pois estava tudo bem.

— Não queríamos te assustar — comentou Jason risonho —, é só que você… Como sempre, está surtando sozinha.

Nenhum dos dois se atrevia a olhar nos olhos dela, algo que ela detestava.

— Eu cochilei fazendo um trabalho de escola, isso não é exatamente surtar — mentiu. — Falem logo, o que querem? — A impaciência transbordava em suas feições e palavras.

— Uma vez você nos contou aquele mito grego, de um tal de Atlas que segurava tudo em suas costas, o céu ou sei lá. Você não é Atlas, Charlie, você é uma pessoa! — Jace protestou. — Pare de agir como se estivesse tudo bem em levar o mundo nas costas.

— Uma pessoa? — murmurou, não acontecia na vida de pessoas o que vinha acontecendo na dela.

— Queremos ajudar, mas não podemos se você sumir de manhã e voltar arrebentada com desculpas esfarrapadas, sumir logo em seguida e voltar mais estranha ainda! Você não fala, mal come e vive atolada em estudos quando não está sumida ou treinando. — Jason estava com a voz embargada, seus olhos marejados entregavam toda a preocupação. — Só nos diga: o que está acontecendo?

Ela pressionou os lábios, irritada. Depois de tudo que tinha passado naquele dia agora tinha mais essa. Podia entender a preocupação e a curiosidade, mas não entendia o motivo de perguntarem, ela sempre tinha agido daquela forma e não seriam algumas raposas e falcões acima da estatura que iriam mudar seu modus operandi.

— Eu sempre estudei muito e logo começam exames para faculdades, não posso ficar atrás. Eu me interessei por Aikido e por isso tenho treinado um pouco, eu realmente cai do cavalo e não sei o que querem ouvir de mim, agora podem sair do meu quarto, por favor?

— Pode parar de ser mesquinha?! — Jason perdeu a paciência, ela apenas suspirou em resposta.

— Jason, quando você souber o significado da palavra “mesquinha” vai poder usá-la. Estou cansada, pestes, me deixem na minha.

Ela não esperava por aquela reação, e justamente por isso que mesmo enxergando perfeitamente e tendo chance de desviar não o fez, não conseguia crer naquilo. Um soco certeiro e forte acertou em cheio seu rosto, que já estava dolorido devido ao treino com Arthur.

A força do golpe fez seu rosto virar e ela ter a visão perfeita do chão, quase tinha caído da cadeira onde estava, a mão encontrou o rosto de imediato. Seus olhos se encheram de lágrimas, mas não eram de tristeza.

— Você é doido? — Jace ficou estático, não sabia como reagir àquela cena.

— Você quer a verdade?! — Ela se ergueu, seus olhos ardiam em chamas vívidas. — A verdade é que toda minha vida eu apanhei calada, a verdade é que eu levo o mundo nas costas e não ligo para isso, a verdade é que se você está vivo para vir dar na minha cara como aquela vadia fazia é porque eu te mantive seguro com meu sangue e meu suor. A verdade, Jason, é que cada cicatriz que eu tenho no meu corpo é uma cicatriz que não foi pro seu!

Ela estava transtornada, urrando em plenos pulmões com lágrimas de raiva lavando sua face, arfava como um touro assassino, seus olhos tinham tomado a mesma cor que sangue e chamas bailavam neles. 

Não precisou mandar para os dois sumirem de seu quarto, o medo que ela causou foi suficiente. Mesmo depois de a porta bater e ela se encontrar completamente só, não conseguia se acalmar, um estado de nervos onde ela poderia derrubar um leão se entrasse em seu caminho.

Houve alguma surpresa, mas não tanta, quando foi abraçada pelas costas. Reconheceu na hora aqueles braços e até mesmo o perfume, uma de suas mãos agarrou o braço do pai com força, foi quando sua cabeça se abaixou e as lágrimas não eram mais de raiva. Ela estaria gritando como um animal selvagem se aqueles braços não estivessem ali, palavras não eram necessárias, a atitude em si dizia tudo.

Se virou, olhando brevemente para cima, aqueles olhos a acalmavam. Então pressionou o rosto contra o corpo que a envolvia, deixando as lágrimas fluírem, aquilo tinha sido a gota d’água para seu emocional sensível, era como uma punhalada pelas costas. Abriu a boca várias vezes com a mesma palavra presa na garganta, mas não conseguiu produzir nenhum som além dos soluços.

— Odeio crianças mimadas… — comentou acariciando os cabelos da filha. — Não precisa dizer nada, filha. Eu sei.

Segurava o tecido das roupas com tanto força que seus dedos doíam, como estava de costas não podia ver uma figura atrás dela, o sujeito de olhos vermelhos que tanto lhe atormentava estava ali atrás em pé e com uma expressão séria. Fitando-a por cima, ergueu o olhar encarando o homem que fazia tudo a seu alcance para acalmá-la.

Deu um breve sorriso e então desapareceu, Charlotte não teria como saber que ele não estava apenas em sua mente por ora.

Nem ele seria capaz de invadir a mente dela naquele momento, sua cabeça rodava em torno do acontecido com o irmão e, ao mesmo tempo era puxada disso pelo pai que tão gentilmente cuidava dela. A atmosfera era diferente dentro daquele abraço, era leve e confortável, não tinha um nome para aquela sensação por nunca ter sentido, mas chegou a conclusão que era a sensação de se estar em casa, de pertencer a algum lugar.

“Então é assim que é se sentir querido?” Refletiu, estava cansada de fugir de como realmente se sentia há anos, saber que havia um lugar no Universo onde podia chorar sem temor, sem ter que fazer isso sozinha e isolada, era uma benção.

Os minutos se arrastaram muito, ela acabou indo dormir e mesmo assim, se sentia frágil e acuada, não se importou em esconder isso, não sentia necessidade de esconder nada. Era como se ele viesse com uma dose de soro da verdade, só não precisa de mentiras, a absoluta verdade era suficiente.

Em meio a toda aquela fragilidade, pediu num sussurro para não ficar só, já estava sonolenta e cansada demais para pensar no que estava falando. E não poderia dizer um momento em toda sua vida onde se sentiu tão aliviada quanto aquele onde a resposta afirmativa veio por um gesto com a cabeça.

Simplesmente fechou os olhos, pela primeira vez em muito tempo não se sentia só.

Teve o sono merecido, sem pesadelos ou sonhos, simplesmente descansou. Acordou com o celular vibrando e com a luz do sol incomodando seus olhos, notou o quanto tinha dormido ao ver a hora, se levantou da cama num pulo ainda com o corpo um tanto adormecido, olhou em volta involuntariamente.

Era normal sua única companhia naquele quarto ser Legolas, seu animal de estimação. Mas agora lhe parecia estranho, era como um cubo mágico faltando uma peça e por isso nunca seria possível montá-lo, beliscou o próprio braço para sair daquele pensamento.

“Como se eu fosse depender de alguém…” — Pensou saindo do quarto, bocejou e esticou os braços. Não tinha tempo para tomar um banho antes de sair então simplesmente resolveu sair comendo o café da manhã enquanto corria.

Trombou na cozinha, derramando o café que estava engolindo num gole só, se queimou e pediu desculpas instantaneamente, notando que tinha trombado com Phelipe no meio da cozinha. Ele tentava fazer algo para comer enquanto os gêmeos estavam de cara emburrada na mesa, era sempre ela a fazer a comida.

— Vou ter que trocar a camisa.

— Charlie! — chamou quando ela estava prestes a ir trocar a roupa. — O que foi isso no seu rosto?

Normalmente, uma pergunta daquelas a faria congelar e inventar uma desculpa sem pé nem cabeça.

— Jason se sente muito homem por confundir a cara dos outros com saco de pancadas 

— Como é? — Phelipe se virou para o garoto, que se sentia em pânico, não contava com ela contar a verdade.

— Ha! Agora resolveu ser honesta?! — Se levantou, batendo a mão na mesa bruscamente. — Não brinque comigo!

— Cansei de dizer que eu cai da escada, tropecei no meu próprio pé, bati de cara na parede, tropecei no tapete sendo que nem tínhamos tapete ou acidentalmente cai de uma árvore e por isso desloquei meu ombro. — Sua voz era séria, seus olhos ardiam em fúria. — Entre tantas outras desculpas que arrumei para você acabar egocêntrico como acabou.

Aquelas eram algumas das muitas desculpas que ela tinha dado para os hematomas que sua mãe lhe causou através dos anos, ela sempre protegia seus irmãos a todo custo e por isso, ela se machucava, nunca esperou nada em troca e muito menos se arrependia, se machucava defendendo aqueles que amava.

No entanto, agora se arrependia parcialmente. Ninguém merecia o que ela passou, mas ao mesmo tempo, qualquer um que tivesse vivido o que ela viveu seria incapaz de agir como ele agiu, uma criança mimada fazendo birra, ela não se recordava de ter tido o direito de ser criança.

Deixou a camisa suja como estava, não queria continuar ali ouvindo Phelipe gritar com Jason enquanto obviamente, Jace sofria, então pegou um saco pela metade de cereal e saiu comendo como se fosse um salgadinho.

Quando a porta bateu atrás dela ainda podia ouvir Jason gritando com Phelipe, como se ele em alguma hipótese pudesse ter alguma razão.

— Onde é o incêndio?

Ergueu os olhos, só agora notando que tinha alguém na porta da casa dela.

— Leo? O que você está fazendo aqui?

— Cuidado, se você for tão receptiva posso querer voltar todo dia. Eu achei que você anda em problemas e precisava de um amigo por perto e pelos gritos acho que acertei, então eu… — Parou de tagarelar por um instante, seus olhos se arregalaram. — Quem fez isso com você?!

Ignorou o amigo, tomou seu rumo ainda pegando cereal do pacote e comendo de qualquer jeito. Estava com pressa demais para explicar tudo aquilo, apesar de querer, sabia que ele não iria embora apenas por isso. Era mais que acostumado com o jeito dela.

Ia atrás dela chamando e xingando ao mesmo tempo, nem mesmo olhava para trás, caminhando normalmente pelo pasto baixo. Assim que terminou de esvaziar o pacote de cereal, guardou a embalagem num bolso, parou por um instante e começou a correr. Aquilo devia servir como aquecimento afinal.

Leo conhecia há anos uma Charlotte sedentária, que detestava exercícios como uma corrida então o choque de vê-la correndo no sol escaldante o fez levar alguns segundos para raciocinar em correr atrás.

“De onde ela tirou esse vigor?” Perguntou-se tentando acompanhar, estava exausto depois do que tinha aprontado na noite anterior e ainda estava enferrujado, sem se exercitar há semanas.

Quando se embrenhou mata a dentro, ele se perdeu sem saber para onde ela foi, mesmo sua audição aguçada estava confusa em meio aquelas árvores, o vento o enganava, os rastros o enganavam, nada fazia sentido. Os rumores sobre aquela floresta não eram apenas crendices, afinal.

Depois de alguns minutos era mais que óbvio que Charlotte tinha, naquela velocidade, pego uma distância grande dele que estava andando em círculos. Mas nem mesmo a floresta conhecida por ser trapaceira pôde enganar o sexto sentido dele.

Disparou floresta a dentro, desviando de obstáculos com maestria, seus olhos registravam a imagem bem mais rápido que os de um humano comum, assim como o tempo do cérebro enviar a mensagem e o corpo responder num movimento também era menor. E por isso e mais um pouco ele chegou a um lugar no meio da floresta com um sorriso superior, que se desfez num segundo.

— Como se eu fosse ficar em casa por um arranhão desses! — Charlotte tinha acabado de falar quando notou ele.

Logo a expressão dela ficou incrédula. Arthur olhou em volta, tentando disfarçar o sorriso que estava se abrindo em seu rosto ao ver a expressão de ódio de Leo, Charlotte ainda estava com a mão no curativo que tinha acabado de ganhar para esconder o machucado na face. Quando ela notou Arthur evidentemente feliz e seu pai tão irritado que chegava a dar medo, não foi difícil entender alguns pontos soltos em sua cabeça.

— Que mundo maravilhoso! — cantarolou, se os olhos dele tinham íris finas e compridas como os de uma cobra, os dela tinham chama e astúcia como os de uma raposa. — Guarda-costas, certo? — Engoliu seco. — Suma da minha frente.

Arthur estaria mais feliz com a situação se não soubesse o quanto uma punhalada pelas costas como aquela deve doer. Leo sempre soube que aquele dia ia chegar, só não sabia que seria daquele jeito.

— Charlie, eu posso explicar… Eu…

O corpo inteiro tenso, o sangue lhe tinha subido a cabeça e depois da decepção da noite anterior, ela não suportaria outra calada. Fechou os olhos pois não deixaria uma lágrima sequer cair, sua cabeça se abaixou por um instante, como se refletisse sobre algo.

O elemento surpresa sempre podia ser a chave de qualquer conflito. Ela avançar tão inesperadamente lhe deu vantagem e, Leo estava em choque demais para pensar em qualquer coisa, agarrou o brinco que ele sempre usava na orelha direita, idêntico ao que ela também sempre usava, puxando sem dó e rosnando como um animal.

— Nunca mais use isso perto de mim! — Não se preocupou mais em conter as lágrimas. — Ouviu? Nunca mais, você não respeita o que isso significa.

O que aquele objeto significa é sagrado para Charlotte e, para ela, mentiras eram o maior tipo de traição, ele não tinha o direito de carregar aquilo em cima de mentiras.

Uma fera prateada surgiu atrás dele, mostrando os dentes e abrindo as asas, claramente impondo-se.

— Ei, Sleang. Está tudo bem — Fez sinal com a mão, acalmando o dragão. — Você me odeia... Está respirando?

As palavras não disseram tanto à ela quanto o sorriso que ele deu. Fazendo-a largar o brinco, por mais irritada que estivesse, as palavras que ele tinha dito tempos atrás agora faziam sentido.

“Tantas mentiras, para quê?” Matutou desviando o olhar, eram amigos de infância e ambos sabiam que aquela briga tinha acabado. Apesar de estar irritado com Leonardo, Kai sorria de modo imperceptível, apesar de ter estourado como era de se esperar num primeiro momento, sua raposinha teve a sabedoria de tomar a decisão certa.

— Imbecil…

Arthur não entendia bem a situação, então apenas ficou quieto onde estava, abismado em notar que ela o tinha perdoado tão rápido, parecia surreal.

— Feche a boca senão entra mosquito, Arty. Você está achando que ela o perdoou, certo? — Aquilo soou mais como afirmação do que pergunta. — É apenas o que parece, não é da natureza dela perdoar mentiras, ela pode tolerar ou relevar muitas por saber que às vezes se fazem necessárias, apenas isso.

***

Ela não iria pedir desculpas nem morta e enterrada, Leo também não esperava por isso, então apenas tinha ido embora depois de explicar algumas coisas. Logo em seguida foi novamente apresentada diversas vezes ao chão, se irritava mais a cada queda, afinal não conseguia nem dar trabalho a Arthur, nem mesmo tinha se acostumado com os movimentos dele.

Em seus filmes e histórias o mocinho derrota alguém se acostumando com os movimentos do adversário, ela notou que aquilo era impossível, pois, era tão exato quanto meteorologia. Não tinha como se acostumar com algo tão inconstante e, assim, mais uma sessão de treino tinha acabado com ela arfando exausta, coberta de terra e vendo o rapaz se vangloriar.

Podia ser apenas o segundo dia daquilo, mas tinha notado algo estranho ao seu redor, só não poderia explicar o que. O falcão se distanciava no céu quando ela sentiu um arrepio correr sua espinha, sua visão oscilou várias vezes, alternando de onde estava para o lugar escuro que a assombrava.

A garrafa de água que estava em sua mão caiu e um choque fez seu braço ter um espasmo, algo quente correu por ele em seguida, assim como uma sensação estranha por todo o corpo, como a de quando se cai num sonho e acorda-se em pânico.

Tentou esticar o braço para pegar a garrafa, mas seu braço travou. Olhou de soslaio e só então se deu conta, uma raposa estava com a mandíbula cravada em seu antebraço bem em cima de onde marcas estranhas estavam surgindo sobre sua pele. Sua boca se abriu, os olhos se arregalaram e nada mais fazia sentido.

Os olhos do animal eram como espelhos e refletiam ela, não conseguia falar ou reagir, apenas via aquela cena e sangue correndo ao ponto de lavar seu braço inteiro, era muito sangue colorindo seu braço e a boca da raposa, os dentes penetrando sua carne como se fosse um grampo perfurando o papel.

Ela deduziu que estava ficando tonta pela perda de sangue e, sua visão escureceu de uma vez, desmaiou e quando “despertou” estava cara a cara com algo tão brilhoso que lhe incomodava os olhos, parecia chama e ao mesmo tempo poderia ser descrito como vida, luz, natureza.

Aquilo cresceu tanto que ultrapassou a copa das árvores, sua luz era resplandecente, belíssima e cegante. Ela sentia uma orquestra inteira olhando aquilo, quando se ouve uma orquestra é um turbilhão de sentimentos, cada acorde traz um sentimento, cada nota que se cruza com outra traz uma sensação.

Era o que sentia e isso era muito mais belo que qualquer orquestra.

E como se o maestro tivesse dado o último sinal, se findou. A luz diminuiu e levou consigo toda a orquestra, até ficar uma chama pequena do tamanho de um cão onde estava sentada uma raposa-vermelha, de colarinho branco como um cachecol de neve. Charlotte não encontrava uma palavra sequer para pronunciar, nem mesmo sabia onde estava e conseguia ver, mesmo que sua atenção estivesse mais voltado a raposa, centenas de animais ao redor formando um círculo.

A raposa e ela no centro.

— Te alegra, criança. Finalmente despertou seu espírito animal, agora podes me ver e conhecer, mas não sou serva que fique ciente! — Ela se negava a crer que uma raposa estava falando, de boca fechada ainda por cima. Apenas ouvia a voz em sua mente, mas não via nenhum sinal de fala. — Tua alma é de fogo, teu espírito é da raposa, a astuta e nobre raposa! Eu sou o espelho da sua alma, o seu espírito animal.


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Notas finais do capítulo

Well, vamos lá terráqueos, pode ser um tanto confuso alguém que mente mais que respira abominar tanto o ato, pode soar hipócrita (talvez seja), mas essa louca não perdoa mentiras, independente do tamanho ou razão. Talvez nós tenhamos essa mania de esperar dos outros algo que não somos capazes de dar. Capítulo com Casos de Família! LOL quem quer bater no Jason o/

Curiosidades:

1 - Sim o Kai pode aparecer quando quiser, onde quiser, mas se fosse só isso ia ser fácil demais né? Já foi citado antes, magia tem preço e, mais que isso, se fosse pra ficar caindo de paraquedas quando convém ia arruinar muita coisa. Ele tem os motivos dele pra se restringir tanto.

2 - O Sleang é um dos dragões do Leo, apareceu junto com ele na primeira aparição do personagem. O perfeito Wyvern.

3 - Animal totem, como eu chamo em Charlotte, é apenas outro nome para os familiares (um espirito elemental que acompanha uma pessoa, normalmente um (a) bruxo (a), em forma animal, seja no plano astral ou físico) Esse nome especifico vem do xamanismo.

4 - Apesar da simbologia da Raposa ser comumente ligada a ladroagem e egoismo, eis uma simbologia paralela: a raposa representa realeza em mitos germânicos, disso surgiu o nome Louemius até. Representando também inteligencia, tenacidade, elegância, leveza. É um familiar ligado ao elemento fogo.



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