Better Days escrita por oicarool


Capítulo 20
Capítulo 20




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Darcy Williamson não se considerava um homem ciumento. A bem verdade é que não lembrava de momentos de extremo ciúme. Elisabeta era seu único amor, e, pelo que recordava-se do tempo em que estavam juntos, nunca vira motivos para aquele desconforto. É claro que, no tempo em que pensou que ela estivesse casada com outro homem, Darcy sentia-se incomodado. Mas o ciúme não era um sentimento familiar.

Por isso, remexia-se na pequena cadeira de madeira que estava no jardim dos Benedito. Já afrouxara um pouco a gravata, mas ainda assim sentia-se um pouco sufocado. E, para quem olhasse de fora, como Cecília e Rômulo faziam, a cena era até mesmo engraçada. Darcy e Tom tinham exatamente a mesma expressão, e seus olhares estavam fixos na interação de Elisabeta e seu editor, Olegário.

Olegário chegara naquele dia na cidade, já que Elisabeta estava em fase final de seu livro. E, como tudo era motivo de comemoração para os Benedito, era também o dia de um jantar especial. Darcy chegara cedo, antes do homem, e cumprimentara Elisabeta de um jeito contido, como sempre faziam. Talvez por isso estivesse tão desconfortável desde a chegada do editor.

Olegário se aproximara de Elisabeta com um grande sorriso. Despudoradamente, passara os braços ao redor dela, puxando-a para um abraço apertado. Não passou despercebido para Darcy a forma como a mão de Olegário apoiou-se confortavelmente na base das costas de Elisa, ou como a outra mão tocou seus cabelos de forma possessiva. E nem deixou de notar que ela havia afundado o rosto na curva do pescoço do homem.

Desde então, Olegário a tocava mais do que parecia o necessário. Eram toques inocentes em seus braços, ou segurava suas mãos, mas a forma como ele a olhava não deixavam dúvidas em Darcy. Aquele era um homem com um objetivo, e um objetivo que não deixava Darcy confortável, de forma alguma. E, talvez Elisabeta não percebesse, ou talvez não se importasse, e era isso que o deixava mais incomodado.

Naquele momento Elisabeta explodiu em risos, e Darcy e Tom cruzaram os braços, ao mesmo tempo, causando sorrisos em Cecília e Rômulo. Estavam acostumados à reação de Tom com a presença de Olegário, mas não esperavam que pudesse ser tão parecida com a de Darcy. O menino não tirava os olhos da mãe, mesmo que todos os seus primos estivessem envolvidos em brincadeira.

— Papai, eu não estou gostando dessa festa. – Tom reclamou, fazendo Darcy olhar para o filho.

— Por que não? – seu foco era tanto em Elisabeta que não havia reparado na expressão do menino.

— Não gosto dele. – Tom voltou seu olhar para Olegário.

— Posso saber o motivo? – Darcy riu, involuntariamente.

— Ele me trata como criancinha e diz que vai namorar com minha mãe. – o menino bufou, e Darcy fez o mesmo.

— Isso é uma decisão da sua mãe. – Darcy fechou a expressão.

— Eu já disse que ela não pode. – Tom deu de ombros.

— E o que ela respondeu?

— Que esse não é um assunto meu.

Darcy voltou seus olhos para Elisabeta. Ela tinha um sorriso bonito no rosto, e parecia confortável na presença de Olegário. Passou por sua cabeça, de repente, que ela pudesse estar interessada em seu editor. Seria contrário às palavras dela, ainda assim, passaram sete anos separados. E, a julgar pela intimidade que tinham, deveria conhecer Olegário há algum tempo.

— Mamãe! – Tom gritou, de repente, fazendo Elisabeta virar-se para eles. – Eu estou com fome!

— O jantar já ficará pronto, meu amor. – Elisabeta sorriu para o filho.

— Ora, se não é o pequeno Tom. – Olegário sorriu, aproximando-se do menino e de Darcy. – Você cresceu muito desde a última vez que o vi.

— Não acho. – Tom respondeu desdenhoso, fazendo Darcy conter uma risada.

— É claro que cresceu. Logo mais passará sua mãe. – o homem sorriu. – E poderá leva-la ao altar, no nosso casamento.

— Olegário! – Elisabeta disse, com um sorriso, dando um tapinha no ombro do amigo.

Elisabeta viu, pelo canto do olho, Darcy remexer-se novamente, e lançou um olhar curioso à ele. Ele tinha o maxilar rígido, os braços cruzados, e estava obviamente incomodado, o que fez Elisabeta sorrir ainda mais.

— E o senhor? Acredito que não nos conhecemos. – Olegário encarou Darcy.

Darcy levantou-se, de repente, os ombros tensos, e colocou-se em frente à Olegário. Era consideravelmente maior que o editor, e sorriu internamente ao notar um pouco de assombro nos olhos escuros do homem. Mas não desfez a expressão fechada, e ofereceu sua mão, que Olegário rapidamente aceitou, embora não estivesse preparado para a força que Darcy depositou no cumprimento.

— Darcy Williamson. – Darcy disse, simplesmente.

 

— Olegário Pinheiro, sou editor de Elisa. – Olegário disse, simpático.

— Darcy é meu pai. – Tom intrometeu-se na conversa, com um sorriso orgulhoso.

Olegário ergueu a sobrancelha, e encarou Elisabeta, voltando seu olhar para Darcy em seguida.

— Me parece que temos muito a conversar. – o homem abriu um grande sorriso, olhando novamente para Elisabeta.

— Você nem imagina, Olegário. – Elisabeta retribuiu seu sorriso.

Lançou um último olhar para Darcy, com expressão enigmática, e deu o braço à Olegário, fazendo Tom e o pai revirarem os olhos.

— Mas antes, preciso mostrar à você o livro.

Darcy e Tom observaram os dois entrarem na casa, novamente iniciando uma conversa animada, e o inglês viu seu desconforto se intensificar. Não fosse por Tom, teria ido embora naquele mesmo momento, apenas para evitar a vontade que crescia dentro de si de iniciar uma briga. Ele só não sabia se tinha mais vontade de reclamar com Elisabeta ou bater em Olegário.

##

Darcy fez enorme esforço para ignorar seus sentimentos durante aquela noite. Tentou distrair-se brincando com o filho, conversando com os cunhados de Elisabeta, com Ofélia e Felisberto, e até mesmo permitiu que as meninas fizessem penteados em seus cabelos. Ainda assim, foi incapaz de não pensar em Elisabeta e Olegário, mesmo que não estivessem fazendo nada demais.

Analisando seus sentimentos, talvez estivesse incomodado por Olegário ser uma novidade na vida de Elisabeta. Desde que chegara ao Vale do Café, a vida dela parecia muito com o que ele conhecia. Suas relações eram praticamente as mesmas, e de alguma forma era fácil se adaptar novamente à vida dela. Pelo menos até a chegada daquele elemento, cuja história ele desconhecia.

Mas fez esforço para demonstrar maturidade. Afinal de contas, não tinha exatamente uma relação com Elisabeta. Não esquecia os momentos que passaram juntos, daqueles intensos e roubados momentos. Mas não passavam disso, de explosões de desejo e sentimento. E, a julgar por seu desconforto naquela noite, não estavam mesmo preparados para um passo adiante.

— Esta expressão não pode significar boa coisa. – Cecília sentou-se ao lado de Darcy, com um sorriso.

— Não é nada. – Darcy forçou um sorriso, enquanto observava Tom correr com os primos.

— Algo me diz que tem a ver com Olegário. – o olhar dela era curioso.

— Não com Olegário. Tem a ver comigo e com Elisabeta, e com toda essa história que nos envolve.

— Elisabeta me odiaria por fazer essa pergunta, mas você quer falar sobre isso? – Cecília mantinha um olhar calmo.

— Eu gostaria muito de falar sobre isso. – Darcy soltou o ar. – Mas é tudo complicado demais.

— Elisa ama você, você a ama, o que há de complicado nisso?

— Todo o resto, como você bem sabe. Todas as coisas em que acreditamos no passado. As coisas que não consigo não pensar ao vê-la com Olegário. E vê-la sorrindo dessa forma me faz pensar que talvez tenhamos história demais, que talvez Elisa mereça um novo começo.

— Darcy, preste atenção no que eu vou dizer. Eu conheço Elisa de uma vida inteira. E estive ao lado dela em todos esses anos. Elisabeta está leve como nunca, e é graças à você. – o sorriso de Cecília alargou-se.

— Você é muito sonhadora. – Darcy a cutucou com o ombro, contendo um sorriso.

— Eu os admiro por pensarem em Tom e respeitarem o tempo um do outro. Mas não pense demais sobre isso, não crie paranoias sobre os sentimentos dela. – Cecília aproximou-se, falando baixo.

— Cecília, eu não sei como você consegue ser assim.- Darcy sorriu, segurando a mão dela. – Você sempre ilumina tudo à sua volta.

— Só estou tentando me manter no posto de sua cunhada preferida. – Cecília sorriu, e Darcy beijou sua mão.

— Mas agora, deixe-me dar tchau para Tom. Amanhã tenho um longo dia.

Darcy levantou-se, e caminhou até o filho. O segurou nos braços, girando seu corpo com facilidade, fazendo Tom gargalhar. Então o colocou no chão e ajoelhou-se.

— Papai vai pra casa. – ele bagunçou os cabelos do filho.

— Já? – o menino reclamou. – Vovó ainda nem me deixou repetir a sobremesa. E Olegário ainda não foi embora.

— Preciso acordar muito cedo amanhã. – Darcy piscou para o filho. – E passaremos uns dias longe um do outro.

Darcy observou os olhos de Tom ficarem maiores, e a dúvida tomou conta deles.

— Ficarei uns dias em São Paulo, resolvendo problemas de trabalho. – Darcy sorriu, confiante. – Serão dias longos e chatos, e por isso você não vai comigo.

— Mas você prometeu que poderíamos ir. – Tom baixou os olhos, encarando os próprios pés.

— E nós vamos. Mas só quando eu não tiver trabalho, e puder passar o dia inteiro passeando com você.

— Eu não quero que você vá. – a voz do menino saiu baixa.

— E eu não quero ir. – Darcy levantou o queixo de Tom, fazendo seus olhos encontrarem os do filho. – Mas antes que você perceba eu já estarei de volta. São apenas alguns dias.

— Você promete que volta? – Tom perguntou, em dúvida.

— Nada me faria não voltar. – Darcy sorriu abertamente. – Agora me dê um abraço.

Tom jogou-se nos braços de Darcy, que o apertou contra seu corpo. A viagem o estava importunando há dias, e pretendia conversar com Elisabeta naquela noite. Mas, em meio à seu desconforto com Olegário, mal tivera tempo. E agora partia seu coração despedir-se do filho, mesmo que seus planos não fossem passar sequer uma semana fora.

Com muito custo, afastou-se do filho, e despediu-se dos demais. Elisabeta não estava em nenhum lugar à vista, e por isso Darcy pediu que Cecília a informasse sobre sua viagem. Ele andava em passos lentos, com as mãos nos bolsos. A lua brilhava no céu, e Darcy sentia-se estranhamente solitário, como se não houvesse nada mais errado do que estar em uma cidade que Tom não estivesse.

— Darcy? – ele ouviu a voz de Elisabeta, enquanto preparava-se para montar em Brisa. – Você já vai?

Elisabeta aproximou-se rapidamente, parando a seu lado.

— Sim, eu preciso ir à São Paulo amanhã, e...

— São Paulo? – ela o interrompeu. – E você não ia me dizer?

— Você estava... ocupada. – Darcy abriu um sorriso pequeno. – Pedi que Cecília contasse a você.

— Olegário é só meu amigo. – Elisabeta disse, de súbito, sem saber de onde veio.

— Você não precisa me explicar. – Darcy sacudiu a cabeça.

— Eu quero explicar. – Elisabeta aproximou-se dele, acariciando seu rosto. – São só brincadeiras dele.

— Você realmente não precisa me explicar. Você é... bem, você é livre, no final das costas. – ele sorriu de forma angustiada.

Elisabeta ergueu a sobrancelha, e um sorriso surgiu em seu rosto.

— Darcy Williamson, você está tentando me enrolar? – o sorriso dela se alargou, enquanto passava os braços em torno do pescoço dele. – Por acaso você está querendo usar essa liberdade em São Paulo?

— O que? – Darcy espantou-se, mas suas mãos foram para a cintura dela, automaticamente.

— Você me levou para a sua cama e para os seus estábulos, e agora quer fingir que nada disso aconteceu? – ela continuava sorrindo.

— Não foi isso que eu falei, só estou dizendo que você poderia escolher Olegário, se quisesse. – mas suas mãos apertaram a cintura dela.

— Ótimo. Mas o sentimento não é recíproco. Você não está livre para escolher ninguém em São Paulo. – Elisabeta grudou seu corpo ao dele. – Não é porque não nomeamos esse nosso estranho compromisso que você está solteiro, Darcy Williamson.

Darcy soltou uma risada, junto com uma respiração que não tinha notado que segurava.

— Isso quer dizer que você também não está solteira, Elisabeta Benedito?

— Você parece surpreso. – ela ergueu a sobrancelha.

— Bom, seu editor estava falando sobre casamento, então...

Mas Darcy foi interrompido pelos lábios de Elisabeta de encontro ao seu. Permitiu que a língua dela tocasse a dele, e os dois sentiram seus corpos se aquecendo naquele contato. Mas foi lento, sincero, e Darcy sorriu entre o beijo, fazendo-a sorrir também. Ele colou a testa na dela.

— Eu não pretendo demorar. – disse, em voz baixa.

— Por favor, não demore. Eu não tenho certeza se posso esperar mais sete anos pelos seus beijos. – Elisa roubou um beijo rápido.

— Nem sete dias, minha menina. Antes que possa sentir minha falta, eu já estarei de volta.

Darcy a beijou novamente, e quando foi embora, levava um sorriso no rosto.


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Notas finais do capítulo

Esse é um capítulo com ideias da Milena =D