Floresta de Nordmarka

— Ei, Orion, acorda logo. A gente tem que caçar hoje. – Esbravejou Dave, enquanto colocava seu sapato.

— Hum... – Resmungou Orion, deitado na cama improvisada sob o chão. – Por que diabos eu tenho que caçar com você?

Dave caminhou até a cama do garoto e puxou as cobertas de cima dele.

— Talvez porque você é quem pensa nas armadilhas perfeitas. Anda logo, a gente não pode deixar para ir depois das oito horas, você sabe que fica mais perigoso.

Orion suspira:

— Tudo bem, vou me arrumar.

Dave saiu de perto de Orion e andou até a cozinha mal feita do esconderijo dos dois. Rasgou um pacote que parecia ser de alumínio e jogou o pó presente no interior em dois copos de água. Deu uma leve misturada com um pedaço pequeno de madeira, e a água ficou consistente e com uma leve coloração verde. Orion, agora com seu traje usual, caminhou até a porta da cozinha e fitou por um momento o amigo: branco, mas com a pele bronzeada. Seus cabelos médios e castanhos batiam no seu ombro. Seus olhos negros observavam os dois copos de suplemento vitamínico enquanto seus braços, magros mas de certa forma com uns músculos definidos, quebravam uns ovos e faziam um omelete.

— Dave...

— Fala. – Ele respondeu seco, como de costume.

— Você cozinha muito mal, por que fica fazendo as refeições? – Falou Orion, soltando um pequeno sorriso.

O garoto riu e se virou, fazendo contato entre seus olhos negros e os olhos azul claro de Orion.

— Pelo menos consigo pular de paraquedas.

Orion riu e fez uma careta.

— Isso não vale, você sabe que tenho medo de altura. Aliás você é péssimo em fazer... – Orion deu uma cambaleada e se apoiou na pequena cadeira de madeira. – Ai...

Dave correu e ajudou o amigo a sentar.

— A enxaqueca de novo? – Perguntou, colocando a mão na testa de Orion, para checar se estava com febre.

— Sim... Mas daqui a pouco passa.

Dave levou a mão da testa até o pequeno e ondulado cabelo loiro de Orion e fez um cafuné, dizendo:

— A gente precisa dar um jeito de invadir um laboratório abandonado, ou sei lá, conseguir um remédio pra você.

Orion sorriu e puxou a mão de Dave.

— Qual é, olha só! Já está passando, foi mais rápido dessa vez. Não precisa se preocupar Dave, você sabe que tenho essas dores de cabeça desde pequeno, já estou até me acostumando com elas.

Dave fez uma cara séria e depois sorriu.

— Isso é porque você não toma sol! – Brincou com o amigo, fazendo referência a cor de pele de Orion, que era extremamente branca.

— Haha, muito engraçado. – Respondeu o garoto, com deboche. – Você não se cansa de fazer essas piadas? Por que você não termina logo esse café da madrugada aí, pra gente fazer essa caçada logo, estou farto de não comer carne por tanto tempo!

— Okay, okay, senhor “eu não consigo aceitar uma brincadeira”. – Falou Dave, com um tom de brincadeira, enquanto ia rumo ao fogão, terminar o omelete.

*****

Instalação de Laboratório GENMOD

Vários soldados esperavam em fileiras as intruçoes da operação. Todos estavam um pouco inquietos. Um grande símbolo de “HH” estava bordado em todas as mangas direitas dos uniformes deles. Após alguns minutos de espera, o diretor Dan entrou por uma imensa porta de metal.

— Senhores... – Disse ele, com sua voz grossa e fria. No mesmo momento todos os soldados fizeram uma pose de reverencia por alguns segundos. – Eu contratei vocês porque a Horizon Helmet é famosa por todos os seus trabalhos concluídos com maestria, por isso estou dando essa missão para vocês. Meus soldados fracassaram nessa mesma tarefa, e os que sobreviveram foram severamente punidos.

— O que isso quer dizer senhor? Nossa missão é matar algum tipo de mutante feroz? – Perguntou um soldado, bem ao fundo. – Sabemos que essa região é cheia deles por causa da grande radiação que ainda paira sobre Oslo.

— HAHAHA! – O diretor soltou uma gargalhada, que obviamente era falsa. – Não, meus nobres. Vocês só terão que eliminar... uma garota. – Todos os soldados se olharam entre si, confusos. – Usem todo armamento e tudo que tiver disponível para exterminar seu alvo. Sabemos que ela caiu na região da floresta de Nordmarka. Uma foto do alvo está sendo mandando agora para o dispositivo de alvos de todos vocês. Desejo toda a sorte do mundo. – Dizendo isso, Dan entrou novamente pela porta de metal, deixando para trás vários soldados confusos.

*****

Floresta de Nordmarka

Dave e Orion caminhavam com extrema cautela pela floresta, tentando evitar ao máximo que algum mutante os vissem ou ouvissem. Dave ia na frente, mantendo a liderança com uma metralhadora em mãos.

— D! D! – Sussurrou Orion, apontando para algo branco que se mexia ao longe na sua direção esquerda. – Será que poderia ser uma zebra? Sempre quis provar a carne de uma!

— Zebras não vivem em florestas seu animal! – Dave sussurrou de volta e continuou andando. – Fora que elas já tinham sido extintas bem antes da Grande Guerra. Hehehe, parece que seu QI diminuiu ein Orion. – Ao se virar, Dave notou que Orion não estava mais o seguindo. – Orion? Orion?

Tarde demais, Orion já se aproximava do vulto branco caído no chão. Agora já era possível ver que era apenas uma garota. Seus grandes cabelos negros e bagunçados dificultavam ver seu rosto.

O garoto chegou mais perto e se agachou do lado da garota. Era possível perceber que ela ainda respirava.

— Orion! Orion! Saía daí agora! Você ficou louco? – Sussurrou Dave, que chegara nesse momento.

— Ela está precisando de ajuda.

— O que? Não mesmo, você perdeu o juízo garoto?! Ela pode ser uma saqueadora, pode estar com alguma doença infecciosa ou pode ter sido afetada pela radiação! – Respondeu Dave, cortando o amigo.

— Por favor, D! Nós não podemos deixar ela assim, jogada como um lixo! Não somos assim, ou já se esqueceu.

Dave ficou parado, olhando Orion nos olhos, esperando que ele mudasse de ideia. Não rolou.

— Tá. Mas você vai carregar ela nas suas costas. E vamos ficar sem carne.

Orion sorriu e agradeceu. Colocou a garota nas costas como pôde e saíram andando rumo ao esconderijo novamente.

Do alto de um pequeno morro, na entrada da floresta, um soldado observava os três com seus óculos de zoom.

— Alvo confirmado! – O soldado berrou para os outros, que estavam próximos dali. E então começaram a marchar floresta adentro.