Então, acontece que tirar o loiro - perdão Jace - da minha cabeça não estava sendo um trabalho muito fácil. Eu passei a semana inteira evitando estar em qualquer lugar em que ele estivesse, o que não foi tão difícil, com exceção das aulas de matemática - nas quais eu sempre chegava atrasada para poder escolher um lugar longe dele - e nas vezes em que tive de evitar entrar na minha própria casa. Cheguei a passar um dia inteiro no porão da casa do Simon, com ele dando uma de superior e me explicando que “não posso evitar encontrar com o garoto para sempre, principalmente se ele for amigo de Jonathan”. A é? 

Me. 

Assista. 

Eu consegui passar a semana inteira sem nem trocar um olhar com o loiro. Ligo para Jon toda vez antes de entrar em casa, chegar atrasada na aula funciona perfeitamente bem e a Camille está fazendo seu próprio esforço para me afastar do seu precioso Jace no intervalo, então diria que estou fazendo um ótimo trabalho seguindo meus objetivos. 

Mas isso não quer dizer que a minha mente concorda com as minhas decisões. Toda noite sonho com ele, todo dia penso nele umas mil vezes, e toda vez que pego uma caneta e começo a escrever, seus traços pingam pelas palavras no papel. É absolutamente ridículo, nem eu me aguento. Eu nem sequer já cheguei a falar com o menino por mais de uma hora, e mesmo assim, aquela estúpida parte de mim não consegue esquecer o som de sua voz ou os traços de seu sorriso. Um sorriso que de nada me agrada.

O único momento no dia em que eu tenho algum sossego é quando começo a ler, estar em outro mundo me permite ser alguém que nunca ouviu falar no loiro oxigenado do Jace. 

Quando chego na escola me mantenho fiel a minha nova rotina diária e procuro pelo carro dos garotos novos no estacionamento. Eu murcho ao ver que já chegaram, já era a minha chance de tranquilidade de saber que não vou esbarrar nele pelo corredor. Assim, faço a única coisa que qualquer menina na minha situação faria, caminho para o banheiro feminino para tentar me controlar. 

Tá, ok. Eu não faria isso se fosse uma pessoa normal, principalmente porque parece meio arrogante de minha parte supor que Jace sequer quer falar comigo. Mas eu noto ele me olhando toda vez que cruzo o seu caminho, já notei ele se aproximando pelo canto do olho e acho que ele está querendo me confrontar sobre o porque o evito tanto. E eu faço isso também, porque não tenho nenhum motivo real para isso. Eu não tenho ideia do porque ele mexe tanto comigo. 

Entro no banheiro distraída, e escuto “Ah, se não é a anã de jardim”. Droga. Eu tinha que encontrar a única pessoa no mundo que eu odeio mais que o loirinho. 

Levanto meu rosto e olho bem nos olhos de Camille Belcourt “Ah, se não é o Satã em pessoa”. Ela da um sorriso enviesado para mim e eu estreito meus olhos. 

“Veio se olhar no espelho gnomo? Não se preocupe, não existe nada que você possa fazer para concertar o que está rolando nessa coisa”, Camille aponta para o meu rosto, ela caminha até estar bem na minha frente. Olho para ela e digo “Será que você poderia, por favor, ir ser estúpida em um lugar que é bem longe de mim?” Eu dou um passo na sua direção até estarmos quase nos tocando “Agora saia da minha frente”. Camille me olha com desprezo “Eu preferiria ser morta a seguir qualquer tipo de ordem sua”, olho bem nos olhos dela “Então eu tenho uma ótima notícia para você...” quando me movo para confirmar o que tinha acabado de falar, Kaelie, a minion da demônio, me empurra no chão pelas costas. Não posso nem dizer que estou surpresa. 

Camille passa por cima de mim e faz questão de pisar na minha mochila no processo. Hoje eu mato essa desgraçada. Mas ela sai andando e jogando os cabelos antes que eu de um jeito de achar uma faca ou um lança chamas. 

Levanto do chão e reviro meus olhos. “E cá estamos, em mais um dia no meu inferno particular” suspiro. 

E é só nesse momento que alguém sai de um dos boxes. Ela caminha até mim e sorri animada na minha direção “Você é a pessoa que estava discutindo com Camille?” Franzo a testa, só me falta mais uma seguidora do satanás  para lidar hoje, mas ergo meu queixo e olho bem nos olhos dela “Sim, eu mesma” digo em desafio. E fico bem mais que surpresa quando ela bate palmas e me abraça apertado. “Graças ao Anjo! Aqui estava eu pensando que era a única que respondia à altura daquela bruxa!” Ela me solta e deve ter visto o choque no meu rosto porque ela sorri para mim e fala “Ah perdão, é que já sei que vamos ser melhores amigas”. Não posso deixar de sorrir com isso, foi exatamente assim que eu conheci o Simon e o obriguei a ser meu amigo. “E você é?” Pergunto com um tom de divertimento na voz. 

“Sou Isabelle Lightwood, mas você pode me chamar de Izzy” ela segura minhas mãos “E nós vamos virar essa escola de cabeça para baixo!”