A princesa proibida escrita por Helena Melbourne


Capítulo 19
O baile das flores - parte 3 - inocência perdida




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Kiara, no entanto, nunca soube dizer o que Kovu desejava, pois naquele momento Kion invadiu a varanda, quebrando a intensa conexão visual dos dois com um pigarro.

— Estava a procurando, Kiara. – disse olhando desconfiado para o exilado, que sustentou o olhar sem intimidar-se.

— Ah... Claro. – desconcertada por ser pega a sós com aquele homem, fez seu caminho de volta ao salão, dando uma última olhada a ele antes de sair.

— Até breve, princesa. Continuamos nossa conversa em outro momento. – e fez uma reverência, sorrindo zombeteiro pelo desconforto da menina, esta devolveu o cumprimento, contrariada, apenas por educação. 

— O que fazia com o exilado, prima? – questionou acusadoramente, Kiara franziu o cenho.

— Não gosto de seu tom, Kion. Não estávamos fazendo nada demais. Vai contar para o meu pai?

— Claro que não, mas se fosse ele a flagrá-la com...

— Porém, isso não aconteceu. Então, vamos ao que quer comigo. – cortou autoritariamente, o primo suspirou vencido.

— Gostaria de fazer uma coisa e acho que vai gostar de me acompanhar. –sorriu maroto, lembrando-a de quando tinham 10 anos na corte e faziam travessuras.

***

Fuli observava um príncipe esnobe oferecendo carne aos camponeses, sua face demonstrava claramente o desgosto em executar a tarefa, porém, os demais se sentiam tão gratos que não percebiam. Ao menos, ele não se recusava a alimentar as pessoas como o garoto ruivo que conhecera no salão. Como alguém podia deixar crianças passando vontade, enquanto outros se fartavam? Ela odiava essas pessoas da nobreza.

— Por que essa cara, irmãzinha? – Rupert, seu irmão mais novo, perguntou.

— Não gosto disso, apenas. – ele revirou os olhos, sabendo como era o temperamento da irmã.

— Venha dançar, há tempos não temos uma boa festa e ainda com tudo oferecido pelos reis. – a loira sorriu com sua ingenuidade, mas resolveu dançar com o menor, afinal, a ingenuidade era uma bênção.

Muitos camponeses riam bobamente, já tinham esvaziado muitos barris de cerveja e parecia que não iriam se contentar até que a última gota acabasse. A senhora Tilian, que não gostava das bebedeiras do marido, resolvera juntar-se a ele naquela noite. O rosto estava corado e lívido de preocupações de uma forma que Fuli jamais vira na mãe; todos queriam aproveitar ao máximo do que a realeza disponibilizara.

Um pouco adiante da fogueira, Fuli avistou uma cabeleira da cor do fogo e sardas num rosto um tanto infantil para um garoto tão alto. Era ele. Sua raiva esquentou no peito, o que fazia ali? Veio tripudiar? Ao seu lado, notou uma garota em um vestido muito belo.

— A princesa! – alguém anunciou. Logo, exclamações surpresas surgiram de todos os lados e o flautista parou a música, ninguém esperava ver a princesa no meio dos camponeses. Atrapalhados, muitos cambalearam pelo efeito do álcool antes de se ajoelharem em reverência.

— Boa noite a todos. Fiquem de pé, por favor. – a menina parecia um tanto atrapalhada aos olhos de Fuli, talvez nunca tivesse se dirigido a tantas pessoas antes. – Bom, eu gostaria de agradecer a presença de todos por comparecerem à minha festa, é um prazer enorme poder finalmente conhecer o meu povo. Por motivos de segurança, meu pai não permitiu minha saída do castelo até que eu completasse as 18 primaveras. Porém, sempre foi um desejo meu ver vossos rostos e ouvir o meu povo, afinal, o que seria do reino sem vocês? Cada um é importante, seja aquele que planta, colhe, costura ou constrói. Todos cooperam para que Reichstein continue de pé e a isso sou grata. – As pessoas se entreolhavam, incertas sobre o que fazer ou dizer, nunca nenhum rei ou rainha se postou tão próximo sem a guarda toda por perto. – E como um presente meu para vocês, pedi que algumas servas leais trouxessem um pouco mais da comida e doces que temos no salão. Todos merecem desfrutar de nosso banquete. – E com um sinal de mão, muitas criadas, enfileiradas atrás de si, apareceram com cestas fartas de alimentos e depositaram nas mesas, onde o pão já se acabava. O povo se entreolhou e sorriram como crianças no natal.

— Viva à princesa Kiara! – um camponês bradou e muitos o acompanharam, aplaudindo e saudando a jovem monarca. Por essa, Fuli certamente não esperava, naquele momento admirou a menina castanha. Ficou observando o aglomerado de gente que formou-se envolta da princesa e depois de um tempo de agradecimento pessoal, o povo atacou vorazmente as mesas de comida. Ficou feliz de ver as crianças se deliciarem com os doces.

— Aí está ela, a menina que enfrentou-me, prima. – então viu o menino ruivo e a princesa ao seu lado, esta sorriu e Fuli corou envergonhada. – Como é mesmo o seu nome?

— É Fuli. – tentou parecer controlada, mas temeu que o ruivo pedisse à princesa para puni-la.

— Prazer conhece-la, Fuli. Foi muito nobre sua atitude de pensar nas crianças, é algo que já deveríamos ter feito. – suspirou aliviada.

— Obrigada. – agradeceu tímida. Em seguida, a princesa foi rodeada da multidão novamente e afastada de Fuli e Kion. Os dois encararam-se nervosos.

— Por que fez isso? Achei que era contra as regras dar comida dos ricos aos pobres. – ela desafiou, Kion sorriu de lado, fazendo com que Fuli sentisse um calafrio na barriga pelo ato.

— É contra as regras roubar, que era o que a senhorita fazia, porém, se a dona da festa resolve o fazer de bom grado, creio que ninguém pode impedir. – novamente a menina loira sentiu sua raiva voltar.

— Estás me chamando de ladra? – aproximou-se ameaçadoramente.

— Não, não. Perdão, foi uma brincadeira. Sinto que começamos mal, deixe-me apresentar-me novamente. Sou Kion, apenas Kion, visto que não se interessa por títulos. É um prazer. –ele riu e ela não pode deixar de rir também.

— Fuli, apenas Fuli, filha de carpinteiro, sem títulos. – ela não costumava dar conversa a homens, mas ele não estaria interessado nela de outra forma, pois não estava a sua altura social, assim pensou. – É um prazer... também. – falou meio indecisa, talvez pudesse tê-lo como amigo.

— Bem, Fuli, gostaria de dançar? – perguntou simplesmente, ela corou, “essa não”, pensou.

— Ah... eu não sou muito de dançar. – ele franziu o cenho.

— Que tipo de moça não gosta de dançar? – não foi realmente uma ofensa, apenas uma curiosidade em seu tom.

— O tipo de moça que gosta de espadas. – ele não se segurou e riu, mas viu que foi um erro, pois avistou aquele brilho felino nos olhos verdes voltar.

— Perdão, não quis ofender... novamente. Mas convenhamos que isso não é muito comum. A senhorita parece mesmo ter um gosto peculiar por infligir as regras.

— Às vezes faz bem. Nunca se descobre coisas novas se todos seguem um mesmo padrão. – ela levantou o nariz de maneira orgulhosa.

— Está bem, senhorita Fuli. Apesar do vosso pouco caso com meus títulos, faço parte de uma organização que luta pelo reino e precisamos de pessoas bem treinadas, mas acima de tudo, de confiança. Seu amor pelo povo é nítido, mas será que sabe lutar? – fez uma pausa misteriosa, ela não estava entendendo aonde ele queria chegar. – Vou lhe dar uma chance de mostrar o que sabe na próxima semana, venha ao castelo no período da tarde e verei suas habilidades. – o coração de Fuli saltou de emoção, ela não podia acreditar no que ouvia.

— Estás falando sério? – ela perguntou animada.

— Sim. – ele acenou, observando seus olhos brilhantes e sorriu maroto. - Com uma condição... – ela suspendeu o ar. – Dance comigo. – foi um pedido, mas uma ordem ao mesmo tempo. Seus olhos castanhos eram pacíficos, não enxergou malícia, contudo, não gostava de receber ordens, ainda mais de homens, hesitou.

— O senhor não saberia dançar nossas músicas. – argumentou.

— Então, me ensine. –pediu com a voz morna.

— Já lhe disse que sou uma péssima dançarina. – mas ele não desistiu e continuou com a mão estendida para que ela a segurasse. O flautista já recomeçara a música alegre e muitos já voltavam a dançar. Ela bufou e segurou sua mão, sendo arrastada até o local da dança. A mão dele era quentinha e até mesmo reconfortante, pensou.

Então, os dois começaram uma dança muito atrapalhada e confusa, com direito a pisadas nos pés de Kion, ocasionalmente, algumas de propósito, mas que renderam risadas a ambos.

Um pouco afastada do tumulto, uma jovem igualmente loira, mas de olhos azuis como o céu, observava a cena estrategicamente. Próximo a ela, também escorado em uma árvore, de cara fechada, estava o príncipe Felix, alto, forte, cabelos e olhos negros e como um lampejo, Vitani soube exatamente o que fazer, tinha os palhaços e a plateia, bastava apenas armar o circo.

— Está tudo bem, vossa Alteza? – questionou docemente, aproximando-se dele.

— Está. – respondeu ríspido, porém, ao olhar a garota e sua beleza, endireitou-se. – E quem é a bela moça que me dirige a palavra?

— Duquesa de Terfay. – usou a mesma mentira do incidente com o vestido. – Sou amiga próxima da princesa e acho que vossa Alteza seria um bom marido para ela. –exaltou seu ego, o semblante do outro mudara para orgulho.

— Bem, eu compartilho o mesmo pensamento, duquesa. Porém, sua princesa nem ao menos me agradeceu por ter vindo alimentar essa gente imunda. – soltou com asco. – Eu já estava fazendo isso muito antes dela chegar

— Bem, vossa Alteza deve entender que minha princesa é muito tímida e recatada.

— Qualidades de uma boa esposa. – pontuou.

— Certamente, e por isso, ela não teve coragem ainda de vir até o senhor. – fez uma pausa fitando as feições do príncipe, envaidecidas. – E para provar, falarei com a princesa neste instante sobre o senhor.

Vitani atravessou a multidão que cercava a princesa e conseguiu estabelecer uma conversa com esta por alguns segundos, em seguida, retornou até o local onde o príncipe se encontrava.

— Perguntei a ela o que achava do senhor e ela confessou seu encanto por vossa Alteza. Afirmou jamais ter visto homem tão belo, forte e generoso. E disse que o escolherá como marido. – o ego do homem inflava-se mais a cada segundo. – Mas, antes ela me pediu para avisar o senhor que... – fez-se constrangida.

— Fale! – pediu ansioso.

— É algo um tanto vexaminoso para se dizer, se é que me entende. Tanto, que a própria princesa não conseguiu e pediu que eu transmitisse sua vontade ao senhor.  – ele franziu o cenho.

— Pode falar. – já ficara impaciente.

— Antes de anunciar que vossa Alteza será seu marido, a princesa gostaria que... o senhor a beijasse. – falou de uma vez como se contasse um segredo muito pecaminoso. – Creio que deseja experimentar se o príncipe poderá suprir suas... necessidades enquanto mulher. Entende?

— É claro que consigo! E irei mostrar a ela! – Vitani deixou um sorriso vitorioso escapar os lábios, mexera com o orgulho de um homem poderoso, era o que precisava.

— Bem, vamos brindar então! Vossa Alteza será o próximo rei de Reichstein! –foi até a mesa e serviu vinho aos dois.

Vitani continuou a elogiá-lo e embebedá-lo até que os demais camponeses também estivessem demasiadamente alterados e não sustentassem uma conversa com Kiara. Quando viu que a princesa estava pronta para retornar à festa no salão do castelo, Vitani a interceptou. Tinha pedido ao príncipe que fosse a um local mais afastado e escuro, longe dos olhos dos outros.

— Princesa, preciso que venha comigo, quero lhe mostrar algo. – Vitani a puxou pela mão com rapidez, ignorando as perguntas da mesma. Agradeceu à estupidez da menina de não estar com os guardas por perto e o fato do primo ruivo estar entretido com a camponesa. – Está aqui, fique aqui. – Estavam no compartimento em que os soldados guardavam os equipamentos.

— Espere, o que pretende? – Kiara gritou, mas a menina loira trancou a porta do lado de fora, saindo rapidamente. Estava sozinha, iluminada apenas por uma fresta de luz da pequena janela da sala. – Me deixe, sair! Agora mesmo! Sou sua princesa! – ela batia contra a porta de madeira.

— Enfim sós, querida. – sentiu um hálito morno às costa tomado de álcool, um frio passou por sua espinha, estremecendo seu corpo. Virou-se temerosa e encontrou o príncipe Felix com um olhar desorientado e perigosamente próximo.

— P-príncipe, o que faz... aqui? – sua voz falhava, queria correr, mas a sala era estreita e seus pés pareciam congelados.

— Como assim? A princesa chamou por meus serviços e estou aqui. – encurralou-a na porta sorrindo galanteador.

— O senhor s-se enganou. Por favor, deixe-me ir. –pediu tentando manter a calma.

— Eu sei que a senhorita é tímida, mas não precisa fingir. Eu sei que a Alteza me quer. – e assim, capturou seus lábios num beijo molhado e possesivo.

 Kiara debatia-se nos braços dele, mas estava prensada à porta, impossibilitada de fazer qualquer movimentação, pois ele, apesar de bêbado, era muito mais forte. A frágil menina castanha sentiu-se violada, cerrou os dentes para não dar passagem à língua dele, então, Felix segurou seu rosto, impedindo-a de mexer-se e, eventualmente, ela cedeu resignada. Não era afeto, ou um beijo de final de conto de fadas de livro infantil, de amor verdadeiro. Era cruel, só conseguia sentir nojo, mas não tinha a força que sua vontade pedia para livrar-se.

— Pare, por favor! – pediu chorosa, a voz por um fio. – Socorro! – gritou.

— A princesa vai gostar. – ele dizia sem importar-se com seu pedido de socorro, alucinado em seu próprio desejo. – Vai gostar. – e assim, desceu seus beijos para o colo da menina, que exibia um pequeno decote.  Ela dava murros insignificantes nas costas do agressor e chorava alto. O príncipe rasgou a parte frontal do belo vestido, expondo seu espartilho.

— Paaareee!! –soluçou. – Socorrooo!

Kiara olhou para o céu, era como assistir a um espetáculo de tragédia grega, parecia estar fora de si, apenas sentindo, pois não tinha controle para fazer nada a respeito. Pediu silenciosamente por socorro a Deus e fechou os olhos, esperando acordar daquele pesadelo. Naquele momento, ouviu a porta atrás de si escancarar-se e caiu para trás, com o corpo do príncipe sobre ela, mas, em seguida, ele foi brutalmente retirado e arremessado para longe. Abriu os olhos e encontrou seu agressor desacordado perto de uma pilastra com a cabeça sangrando, provavelmente pelo impacto da pancada.

Ao olhar para cima viu as duas esmeraldas que passara a reconhecer em momentos de perigo fitando-a sério. Sentiu medo e arrastou-se até a extremidade da parede mais próxima, encolhendo-se. O homem crispou os lábios, jamais pensaria ver um olhar tão perdido e desolado na princesa, sentiu o coração apertar-se e a culpa atingir-lhe em cheio por compactuar com aquele plano, embora não soubesse o que Vitani iria aprontar. Nunca imaginou que pudesse sentir pena de Kiara, ele mesmo queria vê-la sofrer, porém, não daquela forma, era cruel demais. Kovu fez menção de aproximar-se e ela recuou chorosa, continha muito medo em seu olhar.

— Não irei tocá-la. – ele avisou, suavizando os movimentos, ela apenas soluçava encolhida. Então, retirou sua capa e estendeu à menina, ela sentia vergonha pela exposição de seu vestido rasgado. Kiara tomou- a de suas mãos, sem encostar nos dedos do rapaz, e colocou em seus ombros, tampando o colo. Kovu tomou o cuidado de não olhar seu espartilho, que destacava os seios, seria muito ofensivo, por mais que quisesse. – Precisamos sair daqui, venha comigo, vou leva-la a um lugar seguro. – disse com a voz mais doce que encontrou. Ela não parecia ter forças para levantar ou pensar logicamente, estava em choque. – Posso te ajudar? –questionou, ela virou o rosto para ele e ponderou por algum tempo, incerta. Não queria que ele a tocasse, mas tampouco queria ficar ali naquela sala horrível para sempre, então acenou, dando permissão.

Com a mesma delicadeza que Kovu desfez seu toque no pulso de Kiara mais cedo, ele passou um braço por suas costas e o outro na dobra de seus joelhos. A princesa temeu, estavam muito próximos, mas depois de um tempo sentiu uma sensação reconfortante de estar com a cabeça próxima ao coração do exilado e contando suas batidas, adormeceu por exaustão.

 Quando acordou, estava em seu quarto e a mãe chamava por ela. Nala tentava transmitir tranquilidade, porém, era evidente sua aflição. A cabeça latejava e os olhos pesavam, mas já não sentia-se mais tão desolada. Havia um vazio, uma dor em seu coração que talvez jamais fosse sair, ela pensara, sua inocência foi quebrada naquele dia e sentia que aquele castelo já não era mais tão seguro. Esteve em contato com uma dura realidade, que marcara sua alma. Porém, já sentia-se capaz de raciocinar e sabia que nunca mais gostaria de sentir-se tão indefesa novamente.

— É verdade o que o exilado contou, minha filha? O príncipe... – não conseguiu terminar a frase.

— Ele tentou. – respondeu simplesmente sem vida, mas foi o suficiente para Nala.  

— Não se preocupe, filha amada. Estou aqui, não vou deixar nada acontecer, descanse, vou resolver tudo. – Kiara deixou-se ser embalada pela promessa da mãe e voltou a dormir.

Despertou cedo na manhã seguinte, tudo doía muito ainda, mas precisava levantar-se e saber como ficaria toda a situação do dia anterior. Era uma princesa, não podia se dar o luxo de demonstrar tanta fraqueza. Pediu para que Razel preparasse seu banho e roupas limpas e lavou-se como se pudesse retirar de seu corpo os acontecimentos daquele pesadelo. Em seguida, foi até a sala de reuniões de seu pai e encontrou-o com a mãe esperando por ela.

— Kiara. – Simba correu ao seu encontro e a abraçou fortemente, ela não estava pronta ainda para aquele tipo de contato, mas devolveu seu afeto. – Como se sente, minha filhinha?

— O que foi feito de Felix? – foi direto ao que queria saber, o pai engoliu em seco.

— Expulsamos a comitiva real dele e o banimos para sempre de nossas terras. Cortamos nossas alianças econômicas com eles para sempre. – disse decisivo.

— E isso não irá nos afetar? –questionou um tanto preocupada.

— O reino de Utah não é assim tão importante, eles não nos forneciam muita vantagem mesmo. – tranquilizou, mas Kiara sabia que depois da queima dos estoques de trigo, passavam por uma situação delicada. – Não se preocupe.

— Está bem, então. – falou sem ânimo. – Ah, quero que no almoço reúnam todos os convidados nobres, pois farei meu decreto real, já que não pude fazer ontem. –o rei e a rainha se entreolharam preocupados, a filha não estava bem emocionalmente para fazer algo tão importante.

— E... o que você pensou? – o pai questionou receoso.

— Saberão na hora. – deu um sorriso que não chegou aos olhos e deixou o cômodo.

Kiara não estava com fome, não conseguiu tomar o desjejum e não queria almoçar, mas reuniu suas forças para arrumar-se decentemente a fim de fazer seu decreto. Antes, lhe parecia tão animador a ideia de poder falar o que quisesse, mas esse maldito pronunciamento estava repleto de expectativas sobre aqueles príncipes idiotas. Ela não queria saber de nenhum príncipe.

— Kiara, me perdoe, eu não devia tê-la deixado sem vigia ontem, é tudo culpa minha, eu me distraí e... – Kion falava rapidamente.

— Não é sua culpa. – ela disse firme, mas não se prolongou com o primo.

Toda a nobreza, os príncipes e demais soldados estavam no salão terminando sua refeição e Kiara perguntava-se se saberiam o que ocorrera na noite anterior, eles não demonstravam pesar. Mas, mesmo que soubessem, não se importariam tanto assim, afinal, a dor era apenas sua e a única coisa que queriam dela era que satisfizesse a vontade de todos, não se importavam de fato com seus sentimentos. A princesa parou na metade da escadaria principal e com uma taça na mão e uma pequena colher, chamou a atenção dos presentes, que aos poucos se calaram.

— Boa tarde, peço perdão por minha ausência na noite anterior. Não passei bem e tive de ausentar-me de minha própria festa. Porém, não tive tempo de fazer meu decreto real e o farei agora. – todos estavam muito curiosos, os príncipes sorrindo, cada um pensando que ela os escolheria como marido. – Este é o meu primeiro decreto como futura rainha de Reichstein. E, para isso, gostaria de chamar aqui o soldado Kovu. – houve burburinhos e reclamações por todo o salão, viu ao longe o pai de seu trono levantar-se furioso. – Kovu! – chamou-o e este apareceu com o olhar mais curioso que já vira. – Ajoelhe-se- Ele o fez, apesar de confuso. Pegou então o cedro real e tocou-o no ombro direito e esquerdo do rapaz. – Eu te nomeio hoje o meu guarda pessoal e assim será até que eu decida que não seja. Está feito e selado. – com seu anel carimbou o papel em que já havia escrito o decreto.

Kiara deu uma última olhada em seu guarda pessoal, ainda ajoelhado ao pé da escada, completamente perplexo e subiu para seu quarto, apenas ouvindo o caos que se instaurara no salão. 

 

 


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