Roommates escrita por weasleyyys


Capítulo 6
Work




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/767172/chapter/6

Luke

 

— Você é lindo e as pessoas te amam — assegurei ao meu reflexo no espelho do banheiro da Honey's, a padaria em que eu e Liz iríamos começar a trabalhar. Meu estômago se embrulhou com a lembrança de que era meu primeiro dia de trabalho, e eu provavelmente faria a minha especialidade: passar vergonha. — Sério, você é incrível — comentei mais uma vez, tentando me convencer. Às vezes, nem me assegurar disso ajudava a me acalmar. — E as pessoas-

 

— Isso é sério ou você só gosta de zoar da minha cara e passar vergonha ao mesmo tempo? — a voz de Liz me fez dar um pulo, e me virei, a encontrando escorada no batente da porta. Antes que eu pudesse responder, ela abanou a mão e continuou. — Vamos, você tá aí dentro faz meia hora. 

 

— Exagerada — falei baixinho, mas Liz ouviu mesmo assim, e me deu um peteleco na nuca. Resolvi sair rápido do banheiro, e segui por um corredor com outras duas portas: uma onde ficava a cozinha e outra onde ficava o escritório em que Livian fez nossa contratação. Ao final do corredor, desembocávamos atrás dos balcões e refrigeradores de comida, recheados com salgados, bolos e bebidas fresquinhos. 

 

Ao meu lado, Liz encarava a comida com admiração, e só faltava começar a babar. Sacudi seu ombro, para evitar esse possível episódio e a chamar para a realidade. 

 

— Esqueça esses pensamentos gordos e foque no trabalho, tá ok? Lembra que depois vamos poder pegar um lanche grátis para nós — aconselhei, porque eu obviamente era o sábio e maduro da dupla. Sobre o lanche grátis, pois é: como um brinde pela tarde de trabalho, além do salário mensal ainda podíamos escolher algo para comer todo dia como lanche. Eu e Liz achamos incrível. 

 

— Eu não tenho uma parte gorda — Liz lamentou. — A gula ocupa cem por cento de mim. 

 

Balancei a cabeça, rindo baixinho para não levar outro peteleco, e me dirigi ao balcão de atendentes, já que um garotinho estava parado lá esperando.

 

— Harry! — exclamei, percebendo que o garotinho na verdade era Harry, nosso novo vizinho. 

 

— Oi, Luke — ele acenou e sorriu para mim. — Minha mãe e a Shannon estão ali naquela mesa. 

 

Harry apontou para uma mesa em um canto, onde Charlotte e Shannon acenavam. 

 

— Legal — comentei, e resolvi explicar o porquê de eu estar atrás de um balcão de padaria. — Eu e a Liz resolvemos arrumar um emprego pra, sabe, sobreviver.

 

Harry assentiu, muito sério, e anunciou:

 

— Fico feliz que estejam tomando um rumo na vida. Porque a maioria dos jovens de hoje em dia... — ele balançou a cabeça, parecendo meu ex diretor da escola, Sr Hobbins, que adorava dizer frases de efeito. Fiquei esperando por uma, já me contraindo internamente, mas Harry balançou a cabeça de novo, desta vez desapontado com alguma coisa. — Ai, droga, eu esqueci o que eu ia falar. 

 

Soltei uma gargalhada, e pedi o porquê de ele estar querendo parecer tão culto. 

 

— Vou me formar esse ano — ele explicou, e eu arregalei os olhos. Harry revirou os dele, falando comigo devagar  como se eu fosse uma criança burra e além disso, gringa. — Do pré. E vou ter que ler o discurso, então estou treinando. É um saco.

 

Assenti, finalmente entendendo, o mundo voltando ao lugar. 

 

— Ata — falei, e antes que eu pudesse continuar e lhe dar algumas dicas provenientes da minha experiência de vida, vi Livian pelo canto do olho, alguns metros atrás de Harry. Ela não parecia muito feliz com a minha excessiva socialização com o cliente. Engoli em seco. — Boa sorte, então. O que vocês vão querer?

 

Ele rapidamente fez os pedidos e eu lhe entreguei tudo o que precisava. E assim passou a tarde: bater um papo com o cliente, dar comida, pegar o dinheiro, dar o troco, rir de uma piada da Liz, e tudo de novo. 

 

Houve um episódio meio estranho quando uma moça loira e alta entrou na padaria e veio até o balcão, onde Liz se apressou para atende-la, mas a moça enrolou o cabelo no dedo e falou com uma voz enjoada que eu pensei ser possível apenas em filmes como Meninas Malvadas:

 

— Com licença — a garota interrompeu Liz antes que ela pudesse anotar o que ela iria pedir. — Será que aquele garoto lá não pode me atender? Não é nada pessoal, só uma preferência. 

 

Ela sorriu docemente (e falsamente) para Liz, que nem fingiu compreensão e lhe lançou um olhar que me deu vontade de avisar a moça para correr enquanto podia. Liz parecia estar a ponto de dar com a mão na cara dela, e eu podia entender: que tipo de pessoa é tão sem noção assim? 

 

De qualquer forma, resolvi intervir antes que Liz colocasse seu emprego em risco, surgindo atrás dela e colocando uma mão em seu ombro.

 

— Hã... — comecei, mas havia um pequeno detalhe: o que eu iria dizer? Se eu dissesse para Liz que eu atenderia a moça, ela iria ficar brava, e se falasse para a moça que Liz poderia atender tão bem quanto eu, a moça provavelmente me sufocaria com seu lenço rosa. 

 

— Ele te atende, então — Liz bradou, me poupando da morte eminente, e saiu batendo o pé. 

 

— Oi — a garota sorriu como se nada tivesse acabado de acontecer, fingindo mascar um chiclete, e me contraí internamente, já sabendo o que viria a seguir. Ela estava definitivamente dando em cima de mim, porque eu simplesmente tenho um radar de cem quilômetros que atrai sempre as garotas mais chatas para mim. Sério, todas as meninas que já deram em cima de mim ou eram metidas e peruas ou queriam meu box de Friends emprestado, ou seja, isso não era um bom indicativo. — Meu nome é Regina. 

 

— Oi Regina — Respondi, tentando não fazer uma careta. O nome dela era Regina. Regina. Isso não podia ser uma coincidência: minha vida estava se transformando no filme Meninas Malvadas, e eu não estava gostando nem um pouco. — Então, você vai querer o que? 

 

Ela franziu a testa, meio aborrecida, mas manteve a pose: jogando os cabelos para trás, pediu quais os sabores de pastel que tínhamos. Fui respondendo, com toda a paciência do mundo, mesmo que houvesse uma placa atrás de mim que informasse tudo isso. Quando terminei, ela exclamou: 

 

— Ah, me desculpe! Eu não escutei nada que você disse: estava mais concentrada em outra coisa...

 

Engoli em seco, baixando a cabeça. Forcei uma risadinha amarela, e mudei de assunto: 

 

— Já decidiu o que vai querer? 

 

— Seu número de celular, pode ser? — ela piscou e sorriu pra mim, sem a menor vergonha na cara. 

 

— Eu- — Cara, aquilo não podia estar acontecendo. Regina podia ser bonita, mas até agora estava sendo chata que dói. Forcei minha mente a pensar rápido em uma desculpa. — Sabe, derrubei meu celular na privada semana passada, então estou sem. 

 

Regina fez um beiço, e esticou a mão para meu braço. 

 

— Não tem problema — falou. — Tem instagram? 

 

Ela não ia desistir, não? 

 

— Não, mas tenho namorada — menti em ambas as afirmações, mas dá para me culpar? Foi por uma boa causa. 

 

— Eu não estou vendo ela — Regina comentou, implacável. Olhei para Liz em busca de socorro, mas de repente ela parecia achar a placa de Leve 2 bolos e ganhe 1 extremamente interessante. — Ah, não me diga que é aquela lá — ela apontou para Liz, que agora examinava a máquina de churros. Aquilo me deu uma ideia bem louca e perigosa. 

 

— É, é sim — falei, deixando a irritação acumulada transparecer na minha voz. — Tem algum problema? 

 

Regina colocou a mão no peito, chocada, e o gesto me lembrou muito uma novela mexicana. 

 

— Não! Quer dizer- — ela exclamou, mas a interrompi.

 

— Que bom — falei, demonstrando que o papo acabava por ali. — Então, que pastel vai querer?

 

『✦』 

 

Quando finalmente terminamos de atender o pessoal, passamos para a última parte do trabalho: limpar a bagunça. Livian veio em nossa direção com dois paninhos e borrifadores, os entregando em nossos braços com sua cara de taxo natural.

 

— Temos que limpar as mesas agora. Liz, você fica com as mesas onde os clientes sentam, Luke, você com os balcões de comida aqui dentro. Eu vou conferir o caixa. 

 

Assentimos, rumando para nossas respectivas tarefas, já exaustos com o dia cheio. Por isso, quando finalmente terminamos, pegamos um lanche e uma bebida e nos escoramos no primeiro canto que encontramos. Escolhi um sonho e um suco de laranja e me aproximei de Liz, que estava esparramada numa cadeira em uma mesa lá pelo meio do estabelecimento tomando um milkshake enorme. 

 

— Liz — chamei e me sentei na sua frente, segurando o riso. Ela virou a cabeça na minha direção e ergueu uma sobrancelha, esperando eu continuar. — Teu pai é um sonho? Porque você é um padei- — me dei um tapa na testa — Ah, merda.

 

Liz tampou a boca com a mão antes que todo o milkshake que ela acabara de sugar saísse para fora, e assentiu com a cabeça, rindo silenciosamente.

 

— Nossa, você sabe mesmo fazer isso — ela fez um "beleza" com a mão em falsa aprovação, e dei de ombros. 

 

— Foi só uma falha técnica, mas normalmente funciona — brinquei, e encarei o copo de milkshake. — Eu nem sabia que tinha isso aqui.

 

— Cara, o fato de ter sorvete aqui foi o fator principal pra eu aceitar o trabalho — ela disse isso como se fosse básico, e o melhor fator para escolher um emprego. Ela não estava totalmente errada.

 

— Me dá um golinho? — implorei, olhando para o líquido gelado de chocolate em suas mãos. Liz revirou os olhos e franziu os lábios, mas esticou o braço devagarinho, como se me entregar a comida lhe causasse uma dor física. Bebi um gole, e ela soltou um gemido que me fez gargalhar. 

 

— Eu ia te oferecer um pedaço do sonho, mas como teu pai já é um- 

 

— Cala a boca e me dá isso aí — Liz me interrompeu antes que eu estragasse ainda mais a minha reputação, e agarrou o sonho.

 

『✦』

 

— Meu Deus — Liz disse, encostada na porta de casa enquanto eu a abria. Ela enfiou a mão na minha frente e girou a maçaneta por mim, não se importando de estar se escorando na porta, o que a fez cambalear para dentro do apartamento e quase dar de cara com o nosso apoio de todas as horas: o chão. — Eu tô morta. 

 

Concordei, me jogando no tapete da sala enquanto Liz se deitava no sofá e ligava a televisão, se conectando com a Internet e pesquisando: YouTube. 

 

— Vai fazer o que? — pedi, curioso.

 

— Colocar alguma música — ela respondeu, escrevendo Psycho com o controle, e a música começou a tocar. Fechei os olhos, morto, e comecei a resmungar palavras aleatórias da letra, já que eu não sabia a música inteira.

 

Passados alguns minutos, quando estava tocando aquela música nova da Halsey, Without Me, Liz se levantou cantarolando e entrou pela porta da cozinha, sumindo de vista. 

 

— Luke, quer brigadeiro? — berrou, me fazendo franzir a testa.

 

— Quê? 

 

— Você quer brigadeiro? Me deu vontade de fazer — ela repetiu devagar e alto. 

 

— O que é isso? — perguntei, e em seguida gritei o refrão da música. 

 

— Não acredito que você nunca provou brigadeiro! — ela disse, indignada. — É uma receita brasileira de chocolate e leite condensado. É bem bom. 

 

— Desde quando você é brasileira? — me impressionei, mas consegui ouvir o barulho de Liz batendo com a mão na cara.

 

— Não sou — explicou, impaciente. — Mas meu pai gosta de ver esses programas de comida exótica, e eu aprendi com ele. 

 

— Ata — falei, compreendendo, enquanto Liz ligava o fogão. — Esse treco é bom mesmo? 

 

— É a melhor coisa do mundo — ela garantiu. — Se você não gostar, não é humano. 

 

— Tá, né — me levantei, entrando pela cozinha e encontrando Liz mexendo uma panela com um creme marrom dentro e uma mancha de chocolate na bochecha.

 

— Aliás — ela continuou, agora olhando pra mim. — Acho que devíamos fazer tipo um... contrato de colegas de apartamento. 

 

Ergui uma sobrancelha, absorvendo a ideia. 

 

— Tipo... umas regras? — pedi. 

 

— Isso — ela falou com a boca cheia, já que tinha acabado de provar um pouco do creme (que endurecia cada vez mais) pra ver se já estava pronto. Em seguida, falou um pouco mais insegura. — Pode ser?

 

— Claro — falei, porque realmente achei uma boa ideia. — Espera aí. 

 

Corri em direção ao meu quarto e peguei uma folha e uma caneta, voltando a cozinha e me sentando em posição de escrever. 

 

— Hã... acho que primeiro devíamos colocar as coisas básicas, como limpeza e gastos — Liz sugeriu, despejando o brigadeiro em um prato e o colocando na minha frente na mesa, se sentando e entregando uma colher para mim. Assenti, mergulhando a colher no creme escuro. — Acho que o mais justo é dividirmos essas tarefas de acordo com o que cada um prefere... Não enfia tudo na boca, isso aí tá quente!

 

Parei com a colher a um centímetro da minha língua, e comecei a soprar. 

 

— Justo — concordei, pensando na tarefa que eu gostava mais de fazer em casa. — Podíamos dividir a limpeza em cômodos, daí cada um de nós limpa os respectivos quartos e banheiros e lava suas roupas, alguém limpa a sala e outra pessoa fica com a cozinha. Nossa, esse treco é bom mesmo! 

 

Liz riu, e comentou aliviada:

 

— Graças a Deus: acho que eu não conseguiria viver com alguém que não aprecia o quão bom brigadeiro é — ela engoliu uma parte do brigadeiro. — Voltando, acho que é uma boa ideia. Olha, eu estou de boa com qualquer um desses cômodos, mas pra ser sincera prefiro a cozinha.

 

— Beleza — falei, porque era o oposto do que eu preferia, e comecei a anotar direitinho. — Fico com a sala. O que mais?

 

Liz não falou por um momento, e percebi que ela franzia a sobrancelha e brincava com seu colar enquanto pensava. 

 

— Nada de fumar — falou, erguendo os olhos. 

 

— Eu não fumo! — exclamei, assustado. Liz deu de ombros, fazendo pouco caso.

 

— Em caso de você querer começar.

 

— Tenho uma importante: nunca, sobre nenhuma circunstância, devemos deixar o Leo tomar banho aqui. 

 

Liz me olhou estranho. 

 

— Por que ele iria querer tomar banho aqui? 

 

— Ele adora testar shampoos variados — expliquei, dando de ombros e escrevendo. — Outra: você precisa assistir Friends comigo.

 

Liz ponderou por um momento, mas acabou concordando, com uma condição: 

 

— Mas você precisa assistir The Originals comigo. Além de The 100, mas essa você já começou. 

 

— Okay — concordei. — Mais alguma coisa? 

 

— Sim — ela disse, puxando o papel e a caneta de minha mão. — A última regra, mas não menos importante: vamos continuar amigos. Nada mais, nada menos. 

 

Assenti, abrindo um sorriso largo, porque aquilo ia ser divertido. Liz terminou de escrever essa última regra e assinou o papel, me passando a caneta para que eu fizesse o mesmo. 

 

— Então é isso — falei, assinando e deixando o contrato entre nós. Em seguida, estiquei a mão para ela, que ergueu uma sobrancelha, mas a apertou. 

 

E assim, meus amigos, é que começamos: com um emprego numa padaria tendo uma chefe mal-humorada, o início das aulas da faculdade e um contrato pedindo para ser quebrado.

 


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Roommates" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.