O Segredo de Tixe escrita por Heringer II


Capítulo 9
Oito


Notas iniciais do capítulo

Este é o antepenúltimo capítulo dessa história. O que será que nos aguarda?

Espero que gostem! ^^ ♡



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Como sempre, os dois homens misteriosos estavam ociosos. Um deles, assistindo a televisão, balançava a máscara que usara durante a tentativa de assassinato no seu dedo indicador. Era um inferno estar hospedado em um hotel tão lindo, mas não poder sair do quarto em momento algum. O outro homem, ainda na janela, continuava a olhar fixo para o horizonte.

Um celular toca.

— É o meu? — perguntou o homem na janela.

— Não. É o meu. — atendeu. — Alô?

— Está na hora. — a inconfundível voz grossa falou.

— Como assim, chefe?

— Emanuel Barros chegou.

*

O avião de Emanuel pousou no Horácio de Mattos, o aeroporto de Lençóis, às 10h da manhã. Desceu, juntamente com Lívia e Evandro.

— Aonde vamos ficar, Emanuel? —Evandro perguntou.

— Há um hotel bem perto daqui. Se pegarmos um táxi, chegaremos lá em meia hora.

— Quanto é a hospedagem?

— Não sei, mas o delegado Cândido disse que a Polícia Civil pagaria a minha estadia. Para que vocês não paguem também, só precisam se hospedarem no mesmo quarto que eu.

Foi o que fizeram. Pegaram um táxi e se dirigiram ao Hotel de Lençóis, localizado na Rua Voluntários da Pátria. Não era um hotel feio, ficava numa área da cidade repleta de árvores. Na frente dele, havia uma cerca viva com o logotipo do hotel destacando-se.

— Então é aqui que vamos nos hospedar? — perguntou Evandro.

— Sim. — respondeu Emanuel.

— Até que trabalhar na Polícia Civil não deve ser algo tão ruim assim.

— Você devia ver quando os policiais decidem fazer uma festa de réveillon. Nem parece ser agentes de segurança.

— Ok, deixemos o papo para mais tarde. — Lívia se intrometeu. — Vamos entrar?

Então, os três se dirigiram para a recepção.

— Seu nome, por favor. — solicitou o recepcionista.

— Emanuel Barros.

— Emanuel Barros?

— Isso.

— Perito criminal Emanuel Barros?

— Eu mesmo.

— A Polícia Civil do Rio Grande do Sul pagou um estada de três dias aqui no Hotel de Lençóis. Por acaso, veio a essa cidade para realizar algum trabalho.

— Sim, uma investigação.

— Aqui diz que você tem direito a dois convidados para dividir o quarto. Imagino que os dois convidados sejam esses atrás de você.

— Exatamente.

— Seus nomes, por favor.

— Evandro Sales.

— Lívia Moretti.

— Hum... Tem descendência italiana, Lívia? — perguntou o recepcionista.

— Sim. Descobriu isso pelo meu nome?

— Seu sobrenome, na verdade. "Moretti" é um sobrenome muito usado na Itália.

— Meus avós por parte de pai eram italianos, migraram para o Brasil na década de 70.

— Péssima época para morar no nosso país, a Ditadura Militar estava a todo o vapor.

— Meus avós e meus pais moraram em pequenas cidades no interior nordestino, onde o Regime Militar não foi tão agressivo quanto em cidades importantes como São Paulo, Brasília e Rio de Janeiro.

— Hum... E ainda por cima, entende muito bem de história.

— Eu sou professora universitária de história.

— Ah, claro, eu deveria imaginar. — olhou para Emanuel, entregando-lhe a chave. — O quarto de vocês é o número 23.

— Obrigado. — o perito criminal agradeceu.

Os três se dirigiram ao quarto 23. Era um local tão luxuoso quanto o restante do hotel, com direito a televisão, wi-fi grátis, e uma janela que permitia contemplar as árvores que enfeitavam o lado externo do hotel.

— Ok, já temos um lugar para ficar. — disse Lívia. — Qual o próximo passo?

— Amanhã, bem cedo, iremos à Chapada Diamantina. — Emanuel respondeu.

— E o que vamos fazer por lá?

— Sinceramente, não faço a mínima ideia.

— Que história é essa? — perguntou Evandro. — Nós vamos a um lugar sem ao menos saber o que fazer por lá?

— É.

— Você está louco, Emanuel. Diga logo que está pensando em procurar a cidade perdida.

— Eu não tenho o mínimo interesse em encontrar algo que eu sei muito bem que não passa de uma lenda. Mas não tem como negar que o assassinato de Flávio tem uma ligação muito forte com a Chapada Diamantina. Como vocês explicam as inscrições na jóia, o enigma no altar, e o mais intrigante, os dois estarem aparentemente remetendo à suposta cidade perdida do Manuscrito 512? E vale lembrar que foi exatamente nesse lugar que Flávio esteve antes de começar a agir estranhamente. Pessoal, estamos mais  próximos de resolver esse caso do que vocês imaginam.

*

Os dois homens vieram de táxi e pararam em frente à entrada do Hotel de Lençóis.

— Deu cinco reais a corrida, meus reis. — disse o motorista.

Um dos homens pegou uma arma e atirou na testa do taxista. O barulho do tiro fez todas as pessoas próximas dali correrem desesperadas.

— Você não gosta mesmo de taxistas, não é? — disse o outro homem.

— Só quando não colaboram comigo.

Se dirigiram à entrada do hotel.

*

— Vocês ouviram isso? — perguntou Lívia.

— Pareceu um tiro. — comentou Evandro.

Emanuel foi até a janela do quarto e olhou através dela. Percebeu as pessoas desesperadas fugindo e dois homens encapuzados saindo de um táxi e entrando no hotel. Notou que um deles estava segurando uma arma, que ainda fumaçava do tiro anterior.

— Dois homens entraram no hotel. Um está armado. — disse Emanuel, deixando Lívia e Evandro preocupados. — E algo me diz que eles querem a gente.

*

Os homens entraram no hotel e viram que a recepção estava vazia. Na verdade, aparentava estar. Um deles notou a superfície dos cabelos grisalhos do homem abaixado no balcão. Foi lá e puxou-os, obrigando o recepcionista a levantar-se.

— Estamos procurando uma pessoa. — disse o homem, segurando forte o cabelo do funcionário do hotel.

— Eu não sei de nada. — respondeu o recepcionista.

— Cadê Emanuel Barros?

— Não sei. — mentiu.

— Me dá a arma. — pediu ao companheiro, que a entregou.

— Vou perguntar só mais uma vez, certo? Sabemos que ele está aqui. — agora estava apontando o revólver para o pescoço do recepcionista. — Onde está Emanuel Barros?

Sem escolha, o recepcionista respondeu.

— Quarto 23. Acabou de ir para lá.

O homem largou os cabelos do recepcionista e fez um sinal para que o companheiro o seguisse. Foram em frente, acompanhando a numeração dos quartos, até chegarem ao 23.

— É aqui! — disse o homem que estava na frente.

O outro se apressou e rapidamente abriu a porta do quarto de Emanuel, os dois entraram, apontando as armas para... ninguém. O quarto estava, aparentemente, vazio.

Lívia e Evandro estavam escondidos debaixo da cama. Puxaram um pouco o cobertor do colchão para esconderem-se melhor.

Emanuel tinha estava do lado da porta, quando os homens a abriram, ele esconde-se atrás dela. Os criminosos estavam de costas para ele, e não perceberam o perito criminal se aproximar.

Emanuel segurou forte a mão do homem mais próximo dele, tirou-lhe a arma e realizou uma chave de braço.

O outro homem, ao perceber que o companheiro estava imobilizado, apontou a arma para Emanuel.

— Larga ele, se não eu atiro! — ameaçou o outro armado.

— Se atirar em mim, terá que atingir seu companheiro. Imagino que não é o que você queira...

— Atire nele! — disse o imobilizado. — Se Emanuel morrer, nosso problema estará resolvido.

— Mas ele tem razão, se eu disparar, você morre.

— E daí se eu morrer? Nossa missão não é matar Emanuel?

— Que história é essa? — questionou o perito criminal. — De que missão vocês estão falando?

— Não é da sua conta! — disse o homem imobilizado. — Atire logo nele, seu imprestável!

Emanuel rapidamente pegou a arma que estava em sua cintura e apontou para a cabeça do homem que estava imobilizando.

— Ok, isso já passou dos limites! — disse Emanuel. — Eu não acredito que vocês me seguiram até aqui! Diga logo o que estão planejando, ou eu juro que o seu amigo aqui vai morrer.

Por baixo da cama, Lívia, que tentava segurar um espirro, acabou soltando-o.

O criminoso não imobilizado, ao ouvir o barulho vindo da cama, se aproximou lentamente. Evandro e Lívia puderam ver os passos do criminoso se aproximarem cada vez mais deles.

O homem armado levantou o cobertor da cama, revelando as duas pessoas escondidas.

— Hum... Veja só o que temos aqui. — apontou a arma para os dois que estavam escondidos. — Tudo bem, Emanuel. Vamos jogar o seu jogo.

— Primeiramente, só quero que me digam o que diabos vocês querem comigo.

— O meu amigo, que você está segurando nos braços agora, deixou isso bem claro quando vocês se encontraram na igreja. Queremos o objeto que está com você.

— Se refere à jóia?

— Exatamente.

— O que sabe sobre ela?

— Tudo o que você sabe. Talvez até um pouco mais.

— Foi por isso que vocês mataram Flávio na igreja?

— Vocês que trabalham para a polícia são muito engraçados. Se acham muito superiores, quando na verdade, não estão em uma posição tão digna de fazer o que quiserem.

— Do que está falando?

— Acha mesmo que tem o direito de me fazer todas essas perguntas, Emanuel? Olhe para onde estou apontando a minha arma.

— Bem, eu também tenho um amigo seu na minha mira.

— Realmente. Você tem um amigo meu na sua mira. Eu tenho dois amigos seus na minha mira. E mais, meu amigo disse que não se importa se perder a vida. E devo ser sincero, eu também não ficaria triste por ele morrer. Mas e você, Emanuel? Pode dizer o mesmo se eu resolver atirar nesses seus dois amigos?

Emanuel olhou para Lívia e Evandro, deitados de baixo da cama e com o revólver na frente de seus rostos.

— Vamos fazer um trato. — disse o perito criminal. — Afaste essa arma dos meus amigos e eu solto o seu companheiro, te entrego a jóia e respondo o que mais você quiser.

— Como vou saber que não está tentando me enganar?

Emanuel guardou a arma na cintura e diminuiu um pouco a força com que segurava o homem.

— Agora — disse Emanuel. —, mantenha distância deles.

— Espere! — o homem armado reagiu. — Antes, quero ver a jóia que está com você.

Emanuel puxou vagarosamente a jóia do seu bolso.

— Me dê ela.

— Não! Antes de eu te entregar, você vai parar de apontar essa arma para eles.

O homem armado olhou desconfiado para Emanuel. Parou de apontar a arma para Lívia e Evandro, mais ainda a segurava com o dedo no gatilho.

— Agora, preste atenção. — disse Emanuel. — Eu vou soltar seu companheiro, e te entregar a jóia. Quando eu fizer isso, você vai arremessar sua arma para longe, entendeu?

— Eu não posso garantir nada.

— Então, eu também não garanto que você terá a jóia.

— Tudo bem, Emanuel. Como quiser.

O perito criminal largou o criminoso, que imediatamente correu para pegar a arma que Emanuel havia tirado de sua mão. Pegou-a e apontou para o perito.

— Solte essa arma. Caso contrário, o acordo está desfeito e não entregarei nada a vocês.

Embora receoso, o homem concordou em largar o revólver.

Emanuel entregou a jóia para o cara na sua frente. Porém, não a soltou. Apenas a segurou, encostando-a na mão do homem.

— Por que não me entrega logo? — perguntou o criminoso.

— A jóia já é sua. Mas antes, já sabe o que fazer.

Os dois trocaram olhares desconfiados e ansiosos.

— Me entregue a jóia e eu jogo a arma.

— Minha condição agora é inferior que a sua. Quem pode matar alguém aqui é você. Eu posso te entregar a jóia e você me mataria logo em seguida.

— Ou eu jogaria a arma fora e você não me entregaria o objeto.

— De todo jeito, seu amigo também está armado. Ele poderia atirar em mim facilmente. A vantagem é sua.

Mais uma profunda e demorada troca de olhares. Desta vez, Emanuel reparou no cabelo degradê do homem que estava na frente dele. Lembrou-se do vídeo que vira horas antes. Aquele era o assassino de Flávio, tinha certeza.

O homem jogou a arma fora. Lívia e Evandro se levantaram imediatamente.

— Agora, me entregue a jóia.

— Pode ir atrás dela.

Emanuel atirou pela mesma janela o artefato que os homens vieram procurar.

— Vamos sair daqui! — disse para Evandro e Lívia.

Emanuel subiu na cama e pulou pela mesma janela.

Evandro e Lívia estavam confusos e assustados, mas ao verem o homem armado atrás deles, instintivamente repetiram a ação de Emanuel. Pularam da janela.

A altura, apesar de já causar uma vertigem, não era tão grande. Os três chegaram no chão sem grandes problemas.

O homem com a arma foi até a janela e disparou contra eles, mas não acertou nenhum tiro. Emanuel, antes de fugir, pegou a jóia, que estava jogada na grama do quintal do hotel, e colocou-a no bolso.

Emanuel, Evandro e Lívia saíram dali correndo.

— Droga! É a segunda vez que os perdemos.

— Ainda dá tempo de pegá-los! Vamos depressa!

*

Os três chegaram até um estacionamento próximo ao Hotel de Lençóis. Um senhor, que aparentava ter já uns quarenta anos de idade, estava entrando em seu carro, quando o Emanuel o parou antes dele entrar no veículo.

— Com licença, senhor. — disse o perito criminal. — Poderia me emprestar o seu carro por tempo indeterminado?

— Está me assaltando?

— Bom, tecnicamente, eu trabalho para a Polícia Civil. — Emanuel mostrou o seu "bolachão", aquele enorme distintivo que os policiais usam. — E também, usar o seu carro vai ser por uma boa causa. Então, não é um assalto.

— Emanuel, olha! — Lívia apontou para os dois homens vindo na direção deles.

Emanuel rapidamente entrou no carro, seguido de Lívia e Evandro. Ligaram o carro, enquanto o senhor tentava impedí-los. Um dos homens atirou contra eles. O disparo não atingiu Emanuel, que dirigia, por muito pouco. O projétil deixou uma marca na janela ao lado de Emanuel. Vários outros tiros foram dados, todos deixando pequenos buracos no automóvel.

Os três saíram das dependências do hotel, deixando os dois criminosos para trás.

— Será que é muito pedir meia hora de descanso? — resmungou Evandro, sentado no banco de trás.

— E agora?

— Eles nos seguiram até aqui. Sejam lá quem forem, eles querem essa jóia a qualquer custo.

— E para onde está nos levando agora? — Lívia perguntou.

— Para onde deveríamos ter ido há muito tempo. Para a Chapada Diamantina.

Os dois homens observaram o carro de Emanuel até perderem ele de vista. Subiram em suas respectivas motos e seguiram o perito criminal.

O pobre senhor, agora sem carro, assistiu a toda aquela movimentação, sem entender nada do que havia acontecido.


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Notas finais do capítulo

Espero que o senhor tenha seguro.

Até o próximo! O/



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