O Segredo de Tixe escrita por Heringer II


Capítulo 6
Cinco


Notas iniciais do capítulo

Aqui estamos de novo. Espero que gostem do novo capítulo. ^^ ♡



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Os três entraram no carro de Lívia e se dirigiram o mais rápido possível para a Catedral de Pedra. No meio do caminho, a historiadora pegou o celular e fez uma ligação.

— Não é muito recomendável usar o celular enquanto dirige. — disse Evandro, sentado no banco de trás.

— Eu posso prestar atenção na estrada e no telefone facilmente.

— Alô? — a pessoa que Lívia ligou atende.

— Diretor? — disse Lívia, com uma voz forçada que fez Emanuel e Evandro estranharem.

— Professora Lívia? É a senhora?

— Sou eu sim. — disse, mantendo a voz forçada.

— O que aconteceu, minha querida? Parece estar rouca.

— E de fato, estou. Peguei uma gripe forte, meu corpo está todo dolorido. Até para andar eu tenho dificuldades.

— Mas... E esse barulho ao fundo? É de carro?

— Ah, sim. É que... Como eu estou muito mal, eu estou indo ao posto de saúde para marcar uma consulta. Por favor, avise aos meus alunos que não darei aula hoje. Peça para que façam um resumo do último capítulo que estudamos.

— Tudo bem. Melhoras...

— Obrigada. Tchau.

— Tchau.

Desligaram.

— E depois reclama da corrupção no Brasil... — comentou Evandro.

— Cala a boca.

Poucos segundos após Lívia completar a ligação, o celular de Emanuel, que estava sentado ao lado dela, começa a tocar.

— Quem é? — Evandro perguntou.

— É o delegado. — respondeu Emanuel. — Pois não, delegado.

— Emanuel, onde você está?

— Como assim?

— Os policiais me disseram que você deixou o local do crime. Estou decepcionado com você, rapaz. Isso não faz parte da ética da sua profissão.

— Me desculpe, delegado Cândido. Realmente, eu deixei o local do crime, mas eu juro, foi por uma boa causa!

— Uma boa causa?

— É.

— E aonde você está agora?

— Estou voltando para a Catedral de Pedra.

— Não adianta mais, Emanuel. O corpo já foi levado do local.

— O que eu tinha que investigar no corpo da vítima eu já investiguei, delegado. Eu acredito que estou perto de descobrir o real motivo do assassinato.

— Você tem certeza?

— Não é certeza, mas eu acredito estar seguindo as pistas certas. — disse, olhando para a jóia.

— Ok, Emanuel. Você tem sorte de ser um dos melhores peritos criminais da polícia local, por isso posso confiar em você. Mas não suma desse jeito novamente!

— Entendido, delegado. E me desculpe também.

Desligaram.

— Acho bom nos apressarmos.

— Não se preocupe, Emanuel. — disse Lívia. — Já estamos perto da igreja.

Já era possível ver a inconfundível torre da Catedral de Pedra ao longe.

*

Sem que eles percebessem, um homem misterioso os vinha seguindo de moto desde que entraram na Rua Borges de Medeiros. Não usava capacete, estava com uma jaqueta de capuz que lhe cobria quase toda a cabeça e uma máscara. A mesma máscara que o outro homem que assassinou Flávio usou na hora do crime.

Tinha dúvidas se aquele era realmente Emanuel Barros. Quando percebeu que na parte das costas de sua farda estava escrito "PERITO CRIMINAL", não lhe restaram dúvidas: aquele era seu alvo!

Os três entraram na igreja e o homem ficou do lado de fora, parecendo esperar alguma coisa.

*

Quando Emanuel entrou na catedral, estava tão concentrado no enigma que acabara de resolver que nem parou para apreciar a bela arquitetura da igreja, coisa que fazia sempre ao entrar na Catedral de Pedra.

Correu diretamente para o altar, e parou em frente à escultura de madeira da Santa Ceia.

— Emanuel, o que houve? — perguntou Lívia.

— A madeira sagrada guarda o segredo dos escondidos. — respondeu Emanuel. — Neste local onde eu estou, foi exatamente onde Flávio foi assassinado. Ele fez questão de morrer próximo em frente à escultura de madeira da Santa Ceia. E sabe por quê?

— Por quê?

— Porque essa é a madeira sagrada a qual o enigma se refere.

— Como pode ter tanta certeza? — Evandro questionou.

— Pensem bem, Flávio estava fugindo de um assassino. Se vocês estivessem fugindo de um homem que está tentando te matar, vocês entrariam dentro de uma igreja? Onde não haveria escapatória e o criminoso poderia facilmente encurralar vocês? Flávio fez questão de vir para a Catedral de Pedra porque, de alguma forma, ele queria que a pessoa que tentasse resolver seu crime estivesse aqui. Porque é aqui que a resposta para o enigma está! Mais especificamente, no altar da igreja, onde está esculpida em madeira uma cena bíblica. A madeira sagrada só pode ser essa!

Emanuel se aproximou do altar e analisou atentamente cada detalhe da escultura. Ela não se diferenciava muito das outras representações da Santa Ceia.

No centro, está Jesus Cristo, abraçado a uma figura que acredita-se ser João. Muitos acreditam que João era o "Discípulo Amado" a qual se refere em seu livro na Bíblia. Ele seria no caso, o discípulo favorito de Jesus.

À sua esquerda, estão Simão, Judas Tadeu, Mateus, Felipe e Tiago Menor. Curiosamente, o discípulo Mateus encontra-se de costas a Jesus, estendendo os braços para ele e conversando com Simão e Judas, igualmente maravilhados. Ele se encontra na mesma posição no quadro "A Última Ceia", de Leonardo Da Vinci. À direita de Jesus, encontram-se Judas Iscariotes, Pedro, André, Tiago Maior e Bartolomeu. Outra semelhança com o quadro de Da Vinci é a forma como as figuras estão posicionadas e o ângulo plano com o qual vemos a figura.

— Essa escultura foi feita pelo escultor uruguaio Júlio Tixe, no início da década de 1950, quando a catedral ainda estava sendo construída. — disse Emanuel, analisando a escultura de perto.

— Emanuel, não tem nada aí. — disse Evandro. — Vamos embora. Você entrega a jóia à delegacia, conta tudo e isso chega ao fim.

— Não! — disse Emanuel. — Não saio daqui sem resolver esse caso. Eu prometi ao delegado Cândido!

Mas Emanuel tinha que concordar que aquela escultura, apesar de bem feita, não apresentava nada que ajudasse a resolver o caso. Estava prestes a desistir e seguir o conselho do amigo, quando uma coisa chamou sua atenção.

— Pessoal! — gritou.

— O que foi? — Lívia perguntou.

Sem dizer mais nada, Emanuel se aproximou ainda mais da escultura e percebeu que abaixo da mesa onde Jesus Cristo se senta ao lado de seus séquitos, havia algumas letras minúsculas, menores até que as escritas na jóia. Mas o texto era aparentemente maior, com certeza não era apenas uma frase.

— Tem algo escrito aqui. — Emanuel falou. — Assim como na jóia, são letras minúsculas. São tão pequenas que não dá para ler nem com muito esforço.

— E se usássemos o meu microscópio gemólogico? — perguntou Evandro.

— Primeiramente, teríamos que voltar para sua casa para pegá-lo, o que já nos faria perder tempo. E mais, essas letras são tão pequenas que, mesmo com seu microscópio, acho que não conseguiríamos lê-las facilmente. Precisamos de algo que tenha uma capacidade de aumento gigantesca.

Lívia pensou um pouco.

— Eu tenho! — disse a historiadora. — Me esperem aqui.

Lívia foi até o seu carro.

*

O homem mascarado, ao ver Lívia sair da igreja, se escondeu perto de uma loja de chocolates que ficava quase em frente à catedral.

Tirou sua máscara para vê-la melhor. Não era o mesmo que havia assassinado Flávio naquela manhã, mas sim aquele que provocou um acidente com o carro do IML. Ele ficou observando a historiadora por um bom tempo, até ela tirar uma bolsa do seu carro e voltar para dentro da igreja.

*

— Aqui está. — disse a professora universitária, mostrando uma câmera fotográfica tirada de sua bolsa.

— O que é isso? — perguntou Emanuel.

— Não sei. — Lívia respondeu ironicamente. — Parece uma máquina fotográfica.

— Eu sei, mas como ela vai nos ajudar?

— Não é uma máquina fotográfica comum. — disse Lívia. — É uma Nikon P900. O zoom óptico dessa câmera chega a ser 83x a mais do que o normal dos nossos olhos. Você provavelmente já deve ter visto na internet um vídeo de um cara filmando a lua. Ele dá um zoom tão grande que consegue filmar perfeitamente até algumas crateras do nosso satélite natural. Esse vídeo foi gravado com uma câmera dessas.

— Fascinante. Posso usá-la?

— À vontade.

Emanuel apontou a câmera para a escultura no altar da igreja, o incrível zoom da câmera fez o minúsculo texto se tornar legível. O perito criminal bateu a foto.

— Deu certo? — Lívia perguntou.

— Deu sim. Vamos olhar a foto.

Evandro e Lívia se posicionaram ao lago de Emanuel e olharam para a foto mostrada na câmera.

— Parece ser a estrofe de alguma música ou poema. — disse Lívia.

— Sim. — Emanuel concordou. — Uma estrofe de quatro versos.

Os três voltaram sua atenção para o texto da imagem, lendo juntos o que dizia nele.

"Pelo tempo e pelos homens fora esquecida
No documento número 512 jaz relatada
A tríade de arcos marca a entrada da cidade perdida
Na montanha dos diamantes ainda pode ser encontrada."

— Ótimo! — disse Evandro, sarcasticamente. — O enigma nos levou a um outro enigma.

— Pelo menos este é todo em português. — falou Emanuel.

— Mas o que significa?

— Não tem como sabermos agora. Talvez o ideal seja analisarmos verso por verso. Começando por esse primeiro.

— "Pelo tempo e pelos homens fora esquecida". — Lívia leu.

— Supõe-se que seja algo antigo, então. — comentou Evandro.

— "No documento número 512 jaz relatada". — Emanuel lê o segundo verso. — Esse verso é ainda mais confuso.

— No documento número 512? — perguntou Evandro. — O que isso quer dizer?

De repente, Lívia parou para analisar melhor aquele segundo verso. Seus olhos mostraram uma mistura de nervosismo e entusiasmo.

— O Manuscrito 512. — disse ela, falando como se tivesse resolvido o problema.

— O quê? — perguntaram os dois.

— Leiam para mim o terceiro verso de novo, por favor.

— "A tríade de arcos marca a entrada da cidade perdida". — Emanuel leu.

— Cidade perdida? Com certeza deve ser o Manuscrito 512!

— Mas... O que é esse manuscrito? — perguntou Evandro.

Antes que Lívia respondesse, uma sombra masculina se destacando sobre a luz da entrada da igreja chamou a atenção dela e dos outros dois.

Os três ficaram apavorados ao ver o homem mascarado diante deles.

— É... Com licença? — disse Emanuel. — Podemos ajudá-lo.

— Emanuel Barros? — perguntou o homem de máscara.

— Eu mesmo.

— Você já me ajudaria bastante se me entregasse o objeto que está com você.

Lívia e Evandro se olharam, enquanto Emanuel observava assustado o homem que escondia o rosto.

— Me desculpe... — falou Emanuel. — Mas... Eu não sei do que você está falando.

— Tudo bem, vai ser do jeito mais difícil.

O homem apontou a arma para os três.

— O objeto ou a vida. A escolha é sua, Emanuel.

O perito criminal olhou para Lívia e Evandro. Eles também estavam assustados.

— Quem é você? — perguntou.

— Acredite, Emanuel, minha identidade não te interessa. Eu não tenho nada que te interesse, aliás. Mas você... Tem algo que me interessa...

Emanuel olhou de novo para seus amigos. Com um pouco de receio, pôs a mão no bolso e tirou a jóia.

— É isso que você quer? — o perito criminal perguntou.

O mascarado nada falou, apenas estendeu a mão esquerda, com a direita ainda mantendo a arma apontada para eles.

— Antes, me responda uma coisa. Foi você quem matou Flávio Deodoro Mirantes?

— Não. Se eu fosse o responsável por aquele assassinato, teria feito o trabalho completo, e essa jóia estaria comigo agora.

— Por que quer isso? Você tem alguma coisa a ver com o assassinato de Flávio?

— Digamos que, me entregando essa jóia, você estará contribuindo para um bem maior.

— Um bem maior? E qual seria?

— Você não entenderia.

— O que Flávio tinha a ver com isso?

— Está fazendo perguntas demais, Emanuel. E minha mão estendida já está ficando exausta.

Emanuel caminhou em direção ao homem misterioso até ficar bem perto dele. Quando os dois estavam bem próximos, o mascarado encostou o revólver no abdômen do perito.

Emanuel segurou a jóia com uma mão e ergueu a outra para cima, demonstrando não querer reagir ao homem armado. Pôde olhar nos olhos do criminoso pelos buracos da máscara. Aos poucos, aproximou a jóia da mão estendida do mascarado.

Em um rápido movimento, Emanuel segurou as costas da mão do homem, removendo a arma da linha de tiro. Permaneceu segurando forte a mão armada. Guardou a jóia no bolso e usou a mão agora livre para segurar o cano da arma por baixo. Prendeu o dedo do homem mascarado no gatilho e pressionou-o, quebrando o dedo dele e fazendo-o largar a arma imediatamente. O homem acabou caindo no chão.

Agora em posse do revólver, Emanuel tirou o carregador da arma e removeu seu cartucho, tornando-a inutilizável. Em seguida, a jogou para longe.

— Rápido, vamos sair daqui! — Emanuel gritou para Lívia e Evandro e saiu correndo da igreja o mais rápido que conseguiu.

Quando Evandro ia atravessar a porta da catedral, o mascarado agarrou sua perna, mas ele conseguiu escapar, dando um chute no queixo do misterioso homem.

Os três entraram rapidamente no carro de Lívia. Ligaram o veículo e saíram dali o mais depressa que conseguiram.

— E agora, para onde vamos? — perguntou Lívia.

— Para a delegacia. — Emanuel respondeu.

Ela concordou com a cabeça e partiu.

Na porta da igreja, o homem ficou observando o carro da historiadora até ele dobrar a esquina e sumir de vista. Pegou seu celular e ligou para o seu chefe.

— Temos um problema.

— O que houve? — perguntou a voz grave e autoritária.

— Eles escaparam.


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Notas finais do capítulo

Que tenso.

Espero que tenham gostado! ^^ ♡



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