Bishoujo's Life escrita por DelsLand


Capítulo 3
Capitulo 2 ~ Uma Garota de Marte


Notas iniciais do capítulo

Quanto tempo uma chama solitária é capaz de queimar em um ambiente frio e solitário?



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Tokyo

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Rei

            Ela é tão estranha... Eu ouvi dizer que ela conversa com espíritos... Ela é sacerdotisa em um Templo amaldiçoado... Bruxa...

            – Hino-san! – A irmã Takagi quebrou o transe no qual eu havia mergulhado.

            – Si-sim?! – Me senti agradecida por ter algo mais no que pensar.

— A leitura do segundo parágrafo... – Com um olhar afiado e sua voz fria, o silêncio cobriu a sala, gelando meu peito antes fervente de raiva.

            – Then this ebony bird beguiling my sad fancy into smiling,

By the grave and stern decorum of the countenance it wore,

“Though thy crest be shorn and shaven, thou,” I said, “art sure no craven,

Ghastly grim and ancient Raven wandering from the Nightly shore—

Tell me what thy lordly name is on the Night’s Plutonian shore!”

            Quoth the Raven “Nevermore.” (trecho do poema The Raven de Edgar Allan Poe)

As demais aulas foram igualmente frias e vagarosas. A chuva prosseguia desde a noite passada, criando uma atmosfera melancolica, pontuada por sussuros maldosos e venenosos. Alguns eram camuflados. Outros eram diretos como flechas envenenadas. Normalmente, eu me agarrava ao calor de indignação em meu sangue e afastava o frio da solidão, mas havia momentos em que o fogo me consumia dolorosamente.

Meu avô sempre me ensinara a me orgulhar da minha personalidade forte e ardente. Porém, com o passar dos anos, ser uma chama viva passou a afastar aqueles que se sentiam sufocados pelo calor do meu espírito. Eu era evitada.

Minhas habilidades como sacerdotisa eram excepcionais, mas até isso passou a ser visto com maus olhos. Minha sensibilidade e aptidão exoterica, trouxeram diversos tpitulos e epitetos. Bruxa. Feiticeira. Noiva do Demônio. Com isso, o templo da minha familia passou a ser cada vez menos visitado, sob a fama de amaldiçoado.

Estudar em um internato católico não melhorou em nada. Uma vez que meu avô estimava a educação, ele se empenhou em conquistar uma vaga no melhor colégio da cidade. Uma escola apenas para meninas vindo diretamente dos EUA. Minha fama não deixou de me seguir como uma sombra agourenta para dentro da instituição, o que só aumento meu sofrimento e perseguição, inclusive pela parte docente.

O final do dia letivo é um alívio. Pego minha pasta, meu guarda-chuva, troco de calçados e inicio minha caminhada para casa. A chuva parou, mas o céu continua cinzento, combinando com o meu humor. Tento mantér o olhar fixo para a frente, mas é difícil ignorar as meninas que seguem pelo mesmo trecho que o meu. Grupos de amigas, a essa altura já cansaram de dar atenção para aminha estranhice.

Mas é doloroso. É doloroso ouvir conversas cheias de alegrias e segredos compartilhados, enquanto eu permaneço sozinha, cheia de segredos só meus, cheia de alegrias desbotadas e esquecidas no fundo do meu peito. Como se tivessem ouvindo minha leitura, Deimos* e Fobo* voam em minha direção, assustando as meninas próximas de mim.

— Como estão os meus lindos? – Ele circulam um pouco ao meu redor e depois pousam um em cada ombro, acariciando meu rosto com suas cabeças penosas e lustrosos.

Estava tão distraída caminhando que nem percebi que havia chegada nos limites do templo. Com a chegada de meus corvos de estimação, voltei a ser interessante e estranha. Minhas colegas lembraram que existo e, dessa vez, não querem camuflar seus comentários maldosos. Elas querem me ferir, querem que eu sinto vergonha de ser diferente, querem que eu corra para um local escuro e permaneça escondida. E eles conseguem.

— Ahhhh! – Uma delas grita, seguida de mais outra, até que todas aquelas que estavam por perto estão gritando de medo.

— Deimos! Fobos! – Meus corvos, eles sentiram minha dor e decidiram me defender, voando em círculos e grasnando contra as meninas.

Por um momento sinto pena, mas eles nem chegaram perto. Eles poderiam ter feito um belo estrago com seus bicos e garras afiados, mas decidiram gritar com elas. Consigo soltar um sorriso suave. Não estou tão sozinha assim, penso.

Chamo meus corvos, que me seguem, deixando as meninas descabeladas pelo medo e pelo próprio pânico. Subo os degraus rumo ao templo, eu estava pronta para correr em direção à minha casa atrás do templo, mas Deimos e Fobos tinham outros planos. Larguei minhas coisas perto do altar de orações e servi algumas sementes para meus amigos.

— Obrigado por me defenderem... – Disse, enquanto acariciava suas cabeças delicadamente.

Por algum motivo, me senti atraída pelo yorishiro e uma ideia surge em minha mente. Pego um pedaço de papel e anoto um pedido singelo, porém intenso. Amarro-o em um dos galhos, ainda molhado. Respiro fundo e me permito sorrir


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Notas finais do capítulo

*Naquela rígida postura,
Com o gesto severo, — o triste pensamento
Sorriu-me ali por um momento,
E eu disse: "O tu que das noturnas plagas
Vens, embora a cabeça nua tragas,
Sem topete, não és ave medrosa,
Dize os teus nomes senhoriais;
Como te chamas tu na grande noite umbrosa?"
E o corvo disse: "Nunca mais". (tradução de Machado de Assis)
*Deimos significa pânico em grego; era o deus do terror em batalha; também é o nome dado à um dos satélites de marte;
*Fobos significa medo em grego; era o deus do medo em batalha; também é o nome dado à um dos satélites de marte;
*Yorishiro: uma grande árvore, cercada por uma corda sagrada chamada de shimenawa



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