Bishoujo's Life escrita por DelsLand


Capítulo 2
Capítulo 1 ~ Chuva Sussurrante


Notas iniciais do capítulo

Após o desejo de Usagi, as pessoas que sofreram nas mãos do Dark Kingdom recomeçam suas vidas de onde pararam... antes de tudo isso acontecer. A questão é: Como era a vida de cada um deles?



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Tokyo

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Ami

Mercury...

Acordo assustada. Abro meus olhos tão rápido, que sinto meus olhos queimarem com a luminosidade que vem de fora. Cubro meus olhos com as mãos, tentando entender o que aconteceu. Não consigo lembrar direito do que eu estava fazendo ontem à noite. Provavelmente estudando, brinco comigo mesma. Mas estudando para que?

Mercury...

Outra vez. Tenho certeza que escutei algo. Mercury? Mércurio em inglês, sem dúvida, mas quem disse isso e porquê? Penso levemente angustiada. Agora que estou mais desperta, a claridade não me fere. Sendo assim, decido levantar e procurar conforto em algo família. Caminho até minha escrivaninha e pego meu relógio de pulso, presente de meu falecido avô. Nada é mais familiar do que isso. Algo que tenho há tanto tempo. De uma época em que ainda tinha um avô e ainda tinha uma família completa... Me distraio olhando para os ponteiros, sempre precisos e confiáveis, mas sem tentar decifrar as horas.

Mercury...

            Precisão. Como se tudo fosse um enigma lógica e divertido, ouço aquela mesma palavra outra vez. Como um relógio cuco que marca as horas com o canto peculiar de um pássaro de madeira. 7:15 da manhã. Ainda é cedo, penso. Cedo o suficiente para minha mãe ainda estar em casa. Certa de que havia resolvido o mistério, abri a porta de meu quarto e andei o mais rápido possível, sem fazer barulhos ou correr de verdade, para chegar a cozinha e verificar se minha mãe estava lá.

            Paro no marco da porta entre a cozinha e a sala de estar, tomo fôlego, e me preparo para surpreender minha mãe. Como fazia quando ainda tinha 9 anos de idade. Mas assim que pulo do meu esconderijo e olho em direção a mesa, ouço o som da tranca da porta da frente. Minha mãe havia acabado de sair. Sempre precisa, como um relógio, pensei com tristeza. Minha mãe nunca se atrasava para o trabalho, ou para qualquer outro evento. Nem mesmo comigo, mas isso não me impedia de me sentir esquecida as vezes.

Mercury...

            O som. Não havia tempo para me afundar em tristeza exagerada. Eu tinha um enigma para desvendar. Pensar nisso me deixava mais animada, afinal, minha vida também é precisa e confiável como um relógio. Sempre igual. Sempre precisa. Ter algumas molas para apertar ou fivelas para ajustar, era algo bom para fugir da mesmice. Dou risada de minha piada boba e sem graça. Ninguém gosta de piadas assim, Ami, me recrimino e segui minha busca pelo som misterioso.

            Perambulo pela cozinha, depois pela sala de estar. E paro ao ouvir o som outra vez. Com o ritmo constante que ele tem, tudo que eu precisava fazer era fechar os olhos e confiar na minha audição. Mas antes do som, veio o aroma. Concreto molhado, reconheci. Amo o cheiro de coisas molhadas. Terra molhada. Grama molhada. Asfalto molhado.

            Mercury...

            Claro! Abro os olhos e vou até a varanda de nosso apartamento. Não havia ninguém. Não havia palavra alguma sendo pronunciada repetidamente. Tudo que eu ouvi foi uma combinação de sonolência e tédio que transformaram o tilintar da chuva e o ulular do vento, entrando por uma fresta na janela da varanda, contra um Teru Teru Bozu* e um Sino de Vento amarrado.

            Mamãe sempre amarra os sinos com uma fita durante a noite, para evitar que o som acorda algum vizinho. E o Teru Teru Bozu era meu. Um boneco que vivia remendando e rebordando. Aprendi a fazer com meu pai, que aprendeu com a mãe dele. Chovia há três dias seguidos e mamãe havia se recuperado de um resfriado semana passada. Como médica, ficar doente era ainda pior pra ela. Por isso pendurei ele na noite passada.

            Mercury...

            Deixei o Teru Teru Bozu soar os sinos uma vez mais, criando aquela melodia de uma nota só uma última vez antes de fechar a janela. Respirei fundo e comecei a agir. Sequei o chão da varanda, tomei meu café, lavei a louça na cozinha, sequei e guardei tudo, tomei meu banho, troquei de roupa, arrumei minha cama, coloquei meus óculos, peguei meu guarda chuva e mochila, e comecei minha jornada rumo a escola. Sempre precisa, como um relógio.


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Notas finais do capítulo

* Teru Teru Bozu (em japonês: てるてる坊主, lit. "brilha, brilha monge") são bonecos feitos de papel ou pano feitos a mão. Os fazendeiros do Japão começaram a prende-los na janela como amuleto. O amuleto supostamente tem poderes mágicos para trazer bom tempo e prevenir ou parar os dias de chuva. [fonte: wikipédia]



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