O Ex-Namorado Perfeito escrita por Mr D


Capítulo 1
O Pudim


Notas iniciais do capítulo

Espero que goste. Não deixe de comentar o que achou.
Desculpem qualquer erro e boa leitura!



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A história de Victória Souza poderia ser uma grande história de empoderamento sobre uma jovem mulher de vinte e cinco anos que mora sozinha, trabalha como confeiteira e é dona de um conceituado serviço de bufê na cidade de São Paulo. Prestes a publicar seu primeiro livro de segredos do mundo da confeitaria, a vida de Victória deveria ser invejada por todas as suas recentes conquistas, mas infelizmente, a história dela não é marcada pela sua tão bem-sucedida vida profissional e sim pelos inúmeros relacionamentos fracassados que tivera.

Tudo isso graças a um dom que aflorou na Victória ainda adolescente, mas que ela não chamaria exatamente de dom e sim uma maldição, mas a terminologia não é importante, por enquanto. Desde os quinze anos, sempre que tocava um homem, ela tinha um vislumbre – essa sim é uma terminologia importante de se recordar – de como seria o momento da separação deles, se acabassem entrando em um relacionamento, é claro. Vale considerar algumas regras que Victória aprendeu durante os anos seguintes sobre o seu dom/maldição, que tentarei descrever de forma puramente técnica e precisa.

Primeiro, o vislumbre do futuro só era visto uma única vez, no primeiro contato com o elemento, no caso, o homem. Segundo, o vislumbre só aconteceria se o elemento estivesse realmente disposto a entrar em um relacionamento com Victória, o que não incluía homens homossexuais, homens comprometidos e sem nenhuma propensão a traição – elemento de nível raro – ou homens que simplesmente não se sentiam atraídos por ela – elemento de nível ainda mais raro. Terceiro, nos vislumbres era sempre o homem que terminava, vale ressaltar que esse “sempre” só começou a partir da segunda vez em que tivera um desses vislumbres, com o primeiro foi diferente, mas ainda é cedo para falar sobre esse ocorrido em especial.

Victória era uma linda mulher, ponto. E não estou falando puramente de algo tão superficial quanto a aparência. Ela tinha aquele jeito desengonçado de rir de piadas que não eram tão engraçadas, estava sempre disposta a ouvir os outros falarem sobre o dia interessante – ou não – que tiveram, e como era mágico vê-la cozinhar, ela era linda a ponto de enfeitiçar quem já teve a oportunidade de assisti-la limpar um pouco de trigo em sua bochecha rosada com as costas da mão. Nada na aparência dela demonstrava o quanto era mentalmente danificada. O que nos leva ao momento inicial da história.

Victória estava em sua cafeteria favorita, que ficava exatamente no meio do caminho entre seu trabalho e seu apartamento, onde fazia uma parada obrigatória sempre que tinha tempo. Ela costumava ir até lá quando queria conversar com amigos, quando queria mais tranquilidade para terminar de escrever seu livro ou simplesmente quando queria fugir um pouco de seus pensamentos. Mas hoje, não estava lá por nenhum desses motivos.

Sentada a uma mesa no piso superior da cafeteria, onde tinha uma visão melhor do caos que era aquela avenida no horário de almoço, o que fazia com que se sentisse feliz por estar em paz desfrutando de seu café, foi quando o viu caminhar em sua direção. Carlos, seu futuro ex-namorado.

De forma bem resumida, Victória conheceu Carlos no supermercado, enquanto comprava ingredientes para a sua sobremesa favorita, pudim, isso foi há quase sete meses. Conversaram por um instante, Victória comentou que era confeiteira e que tinha um bufê. – Comentário esse feito de forma muito apropriada, quando ele estranhou a quantidade de açúcar e leite condensado em seu carrinho de compras, não era como se saísse dizendo às pessoas: Oi, eu tenho um bufê – Carlos pediu um cartão, pois sua irmã estava precisando do serviço para sua festa de noivado, o que obviamente se tornou a possibilidade de se verem mais vezes.

Começaram a sair uma semana depois. E quanto mais saiam, mais a coisa ia melhorando e ficando cada vez mais séria, até que com uns sólidos cinco meses de namoro, Victória convidou seus pais para um jantar em seu apartamento a fim de apresentá-los ao seu futuro ex-genro. Isso mesmo, futuro ex-genro, convenientemente esqueci de mencionar que Victória e Carlos se conheceram quando se esbarram em uma sessão do supermercado, fazendo com que seus braços se tocassem e Victória tivesse um vislumbre de como seria a separação deles. O que nos traz ao fatídico dia.

— Desculpa a demora, o trânsito está horrível.

Carlos não a beijou e sentou-se de frente para Victória, que continuava a tomar seu café e olhar para o lado de fora, serena. Não é como se não estivesse preparada para aquele momento, ela teve sete meses para isso. Mesmo que algumas vezes fossem incrivelmente dolorosas, ela se sentia anestesiada, pelo menos nos primeiros minutos.

— Tudo bem, sabe que adoro ficar aqui – Victória deu mais um gole em seu café – sozinha.

Silêncio constrangedor.

— Vai pedir alguma coisa?

— Não… Victória… – Costumava ser Vicky – Como eu disse por telefone, tem algo que eu preciso te falar.

Victória era péssima em fingir surpresa.

— Eu quero terminar.

— Ah… Entendo.

Eu avisei.

— Mas definitivamente não é você, é que...

Durante os minutos que se seguiram, Victória parou de prestar atenção em tudo que saía da boca de Carlos, pois era como se estivesse presa em um terrível déjà vu. Em vez disso, continuou a observar as pessoas caminhando na rua, o semáforo mudando de cor e o céu coberto de nuvens cinzas, enquanto as desculpas continuavam a soar pela sua – naquele momento – não tão favorita cafeteria.

— … e não sei se estou preparado para isso. Diga a seus pais que sinto muito.

Carlos se levantou e foi embora, Victória respirou fundo e tomou mais uma xícara de café antes de sair caminhando até sua casa. Onde encontraria um novo problema, com a diferença de que esse seria inédito. O jantar com seus pais era algumas horas depois, em seu apartamento, e ela não tinha mais um namorado para apresentar a eles. Primeiro pensou em ligar contando a “novidade” e desmarcar, mas também pensou que achariam que ela estava triste com a situação e viriam de qualquer forma consolá-la. Mas Victória não queria demonstrar tristeza, então resolveu continuar com o plano do jantar, assim poderia mostrar aos seus pais como estava feliz. E talvez até ela mesma acreditasse nisso.

Preferindo caminhar até o condomínio onde morava, para ter mais tempo de distração enquanto tentava seguir adiante de um relacionamento que havia acabado tinha menos de dez minutos, Victória se permitiu ficar triste por um momento – um momento muito breve – reconhecia que tivera bons momentos ao lado de Carlos durante os meses que ficaram juntos. E chegou até a esperar que seu vislumbre do futuro não se realizasse, quase nunca pensava nessa possibilidade, mas graças ao ocorrido especial que citei anteriormente, quando a jovem Victória tocou pela primeira vez o garoto que agora ela preferia nem lembrar mais do seu nome – mas que nesta história, será conhecido como a única exceção – tinha se tornado inevitável pensar nisso sempre que entrava em um relacionamento.

O céu cada vez mais cinza, mas com um arco-íris sútil entre as nuvens, refletia o estado de espírito de Victória quando finalmente chegou ao seu condomínio. Foi nesse exato momento que decidiu que deixaria tudo o que sentia de lado e recomeçaria assim que entrasse no prédio. Carlos não fora o primeiro, nem o segundo, sequer foi o terceiro. Então não deixaria algo tão tristemente comum abalá-la.

Enquanto ia em direção ao elevador, tirou o celular do bolso e ligou para sua melhor amiga, Fernanda, que atendeu prontamente.

— Estou no trabalho, fazendo algo importantíssimo, então que bom que você ligou.

— O Carlos terminou comigo.

Victória apertou o botão para chamar o elevador e esperou enquanto sua amiga lhe dizia frases de incentivo.

— Você sabia que seria hoje?

A curiosidade sempre foi o maior efeito motivador de Fernanda, que afinal de contas, trabalhava na sessão de notícias de celebridades de uma revista local.

— Eu suspeitava.

Ela sabia.

O elevador chegou. E a porta se abriu revelando um homem entretido em seu celular, Victória já nem ouvia mais o que Fernanda falava, sua mente havia ignorado qualquer fator externo que não fosse a incrível beleza daquele homem, que curiosamente, nunca vira naquele prédio.

— Boa tarde – ele disse, passando por ela quase sem notá-la.

Victória não respondeu, apenas entrou no elevador e continuou a apreciar o homem, que aparentemente continuava incrivelmente belo mesmo de costas – se isso for possível. Ignorando o fato de não ter tido a educação de responder o cumprimento do estranho, Victória só pensou em uma coisa, quer dizer, ela achou que só tinha pensado.

— Eu quero ser dispensada por esse homem.

— Quê?


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Notas finais do capítulo

Até o próximo capítulo! (Espero)



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