Um universo vazio escrita por Júlio Oliveira


Capítulo 1
Capítulo Único


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura :)



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Gélido e vazio. Assim era e sempre seria o universo. Vagando por todos os lugares usando o poder da Joia do Espaço, Thanos observava a escuridão interrompida por estrelas e galáxias distantes. Anos haviam se passado desde aquele estalar de dedos, mas algo ainda causava estranheza ao Titã Louco. “O que, de fato, mudei?”, ele questionava-se a todo momento. A escuridão perpetuava-se pelo infinito e além, ao mesmo tempo em que sua mente também se perdia em trevas. “Tudo me parece igual. Não, não pode ser”, seus pensamentos contrariavam seus dogmas.

Seus olhos se direcionaram para a Terra. Sim, aquele minúsculo ponto azul longe de tudo e de todos. Ainda assim, um planeta com tantos heróis que lutaram bravamente até o último segundo, não hesitando em arriscar suas próprias vidas e realizar sacrifícios em nome do bem maior. “Bem intencionados, mas tolos”, o Titã concluiu. Aproximando-se daquela concentração de vida no meio do nada, usou a Joia da Realidade para ocultar-se perante os olhos humanos. Adentrou o planeta azul e passou a observar atentamente.

“São tantos! Será que não aprenderam nada?!”, foram as palavras que adentraram sua cabeça ao observar como estava o lugar. Parecia que todo o trabalho de Thanos havia sido em vão: a população terrestre crescia em ritmo acelerado, ainda maior do que antes da intervenção do portador da Manopla do Infinito. Mais do que isso: ainda que o número total de habitantes permanecesse menor do que antes do dia do estalar de dedos, os problemas prosseguiam. Pessoas passavam fome, pestes se alastravam e as guerras por motivos torpes permaneciam mais vivas e ardentes do que nunca. A humanidade não parecia aceitar as lições impostas.

Ao mesmo tempo, também pôde ver alguns heróis sobreviventes pensando em formas de reverter tudo aquilo que fora feito. Tony Stark trabalhava numa possível máquina do tempo, enquanto Scott Lang pensava em formas de aplicar a tecnologia Pym a favor da causa. “Eu lhes faço um favor e é assim que eles retribuem? Querem multiplicar os problemas, o caos e a desgraça?”, o Titã refletiu, ainda que não pudesse negar que todos os problemas ainda se faziam bem vivos.

Cansado daquela visão, tornou a usar a Joia do Espaço e se retirou da Terra. Vagou por planetas de todas as cores, tamanhos e temperaturas. Não havia para onde fugir: a vida parecia se alastrar em velocidade alarmante, quase como um câncer universal. Os antigos problemas se faziam mais atuais do que nunca e no fim das contas, os seres vivos se comportavam como se não houvesse um ser com poderes divinos os vigiando e “corrigindo” os seus excessos.

“Isso não pode ficar assim!”, Thanos incendiou-se. Usando a Joia do Tempo com sabedoria, conseguiu fazer a Manopla do Infinito regredir de seu estado avariado para a perfeição que era antes de seu uso total. Daquela forma, ele poderia usar o poder das seis Joias do Infinito simultaneamente. “Eles precisam de mais correção”, pensou enquanto fazia o movimento de estalar os dedos. Feito. Metade de toda vida existente havia sido extirpada quase que instantaneamente. “Agora eles todos hão de aprender”, teve a plena certeza.

Usou mais uma vez a Joia do Tempo, mas dessa vez para avançar cinquenta anos rumo ao futuro. Precisava ver quais seriam os resultados da sua segunda intervenção em escala universal. Tendo concluído sua rápida viagem temporal, foi mais uma vez até a Terra para averiguar todo o aprendizado que os humanos deveriam ter tido.

Mais uma vez diante do planeta azul, passou a encarar os detalhes. Viu que os grandes heróis terrestres estavam todos mortos. O incrível Homem de Ferro não foi capaz, afinal, de criar a máquina do tempo que tanto almejava. A tecnologia Pym fora inútil. No entanto, um grande problema persistia: a vida continuava a se multiplicar em alta velocidade. Pior: as pessoas pareciam ter se acostumado ao evento cataclísmico, como se já esperassem uma terceira vinda da intervenção, mas ainda assim não alteravam seus comportamentos.

Suas histórias já estavam marcadas com aquele tipo de tragédia, e isso parecia tornar os humanos mais fortes. Sim, eles sofriam e sentiam falta dos que desapareciam, mas eles pareciam nunca perder a maldita esperança. “E então voltam a se comportar coma as bestas de antes”, o Titã Louco refletiu. Ele sentia-se desgastado e impotente, pois parecia que nada do que fazia fosse útil para alterar de maneira real o status quo do universo. Começou a questionar suas crenças mais internas. “E se eu estivesse errado?”, pensou com grande medo no coração.

Tentando se livrar daquela ideia, saiu da Terra e decidiu o seu destino: Zen-Whoberi, o planeta onde nascera a sua filha adotiva, Gamora. Sim, aquele lugar iria reafirmar a sua fé. Thanos se lembrava bem das belas imagens de fartura e felicidade em tal lugar poucos anos depois de sua intervenção, um bom tempo antes de adquirir a Manopla do Infinito. Ele esperava encontrar a mesma fartura de sempre, ou talvez ainda mais. Isso confirmaria sua tese e mostraria que, na verdade, os humanos seriam apenas uma exceção, junto com outra pequena parcela do universo, provavelmente.

Chegando em Zen-Whoberi, o que o Titã Louco encontrou foi surpreendente: a miséria e a fome tomavam conta do lugar. “Não, isso só pode ser uma ilusão”, ele pensou. Usou a Joia da Realidade para desfazer aquela grande mentira, mas ela nada fez. Sim, tudo que Thanos estava enxergando era a mais pura realidade. Não faltavam recursos no planeta, mas existiam alguns poucos seres que tinham o completo poder político sobre o local, transformando o resto da população em praticamente escravos. Vendo aquele cenário, o portador da Manopla do Infinito pôs-se a chorar.

“Eu fiz de tudo por vocês, e é assim que retribuem? Eu consertei este planeta e você resolvem quebrá-lo novamente? Não faltam recursos ou meios de melhorar as condições desses seres. Por quê?”, sua mente estava fervilhando de ódio, decepção e tristeza. Ele via aquelas criaturinhas verdes clamando por comida e ajuda, e era impossível não se lembrar de Gamora. Sua filha adotiva também passara pela fome e miséria, mas fora salva por ele junto de metade de seu povo. Como ela se sentiria ao ver o estado atual de seu planeta? “Se ela ao menos estivesse aqui”, pensou tristemente o Titã.

Encarando a Joia da Alma, ele podia sentir a presença de sua amada filha. Ainda assim, sua ausência e o vazio pareciam gritar mais alto. Thanos precisava recompor a sua tão presente força e fé. Deixando Zen-Whoberi para trás, foi rapidamente para o primeiro planeta que visitara após o primeiro estalar de dedos. Ele lembrava-se bem do nascer do sol que acompanhara lá enquanto sorria tristemente por sua vitória, vitória essa que lhe custou tudo.

Estando mais uma vez no mesmo lugar, viu que o sol nasceria mais uma vez. No entanto, não existia um universo agradecido do outro lado: apenas mais do mesmo. E ele sabia que não adiantava quantas vezes mais estalasse os dedos, não havia poder capaz de parar a vida. Talvez fosse simplesmente o ciclo natural, o caos ordenado. Pensou por um instante em pôr fim a toda vida existente de uma vez, mas logo viu que isso não faria sentido, tendo em vista que tudo que ele fizera foi em prol da própria vida em si. “Foi?”, questionou-se.

Virou-se então para as sombras e, usando a Joia da Realidade, revelou o que ele havia preparado naquele planeta pouco tempo depois do sacrifício de sua filha. E então, diante de seus olhos, não havia mais o vazio do universo: imensas e incontáveis estátuas se ergueram até onde o horizonte alcançava. Elas mostravam Gamora desde sua infância até seus últimos dias. Amor e saudade tomaram conta do espírito do Titã Louco, e ele chorou mais uma vez. Talvez, o universo não fosse tão vazio, afinal. Talvez, ele tivesse reparação. Ou, talvez, o único motivo real para tudo isso fosse ela: Gamora.

— Quem diria que minha maior vitória poderia se mostrar tão vazia... — Thanos disse em voz alta para que a imensidão inteira pudesse ouvir. — ...sem você.

Sentindo-se fraco, a coisa que ele mais temia era voltar atrás. Sim, ele podia fazer isso: bastaria mais um estalar de dedos para desfazer todos os outros. Mas não, toda essa jornada de dor e sacrifício não poderia ser em vão. “Se ele tivesse acertado a minha cabeça, eu não estaria pensando nisso”, refletiu ao lembrar do momento em que quase perdeu a vida ao receber um poderoso golpe de Thor. E o Titã Louco sabia bem: poderia ter escapado daquele ataque de várias maneiras, mas resolveu arriscar sua vitória. “Talvez eu já pudesse prever o peso do vazio e da inexistência após cumprir minha missão”, pensou com pesar.

E, encarando mais uma vez o vazio, desejou plenitude. “Estaria eu traindo a mim mesmo?”, refletiu brevemente, antes de jogar tudo para o alto. “Que seja”, foi a última coisa que pensou antes de estalar os dedos pela última vez.

Após um clarão, viu-se novamente em Zen-Whoberi, planeta de sua amada filha. Olhou para sua mão esquerda e viu que a Manopla do Infinito não estava mais lá. As Joias do Infinito também estavam desaparecidas. Tudo que o Titã Louco trajava era sua típica armadura dourada, impondo força e medo. No entanto, a figura que se encontrava a sua frente contrastava com todas essas características: uma criaturinha pequenina e verde o encarava com enormes olhos. Tinha longos cabelos vermelhos e, como Thanos logo veio a comprovar, uma voz doce e infantil.

— Cadê minha mãe? — Era a pequena Gamora.

E, estendendo sua grande mão, o ex-portador das Joias do Infinito sabia que futuro que teria com sua filha não precisava ser finito.

— Venha, filha — ele disse antes de conduzi-la para longe dali.


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Notas finais do capítulo

Este conto foi minha primeira aventura no mundo das fanfics. Sempre trabalhei em obras originais e devo dizer que foi bem desafiador lidar com um mundo já bem sedimentado e com personagens de outros autores. Fico feliz e grato por você ter lido até aqui. Caso esteja com tempo, diga o que achou da obra :)

Até mais!



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