Acordei do mesmo modo como acordo todas as manhãs, esperando que o dia seja melhor do que o que passou. Não que eles fossem ruins, muito pelo contrario, sempre eram ótimos, mas eu como qualquer um sempre queria que eles fossem melhores.

Ouvi batidas na porta, levantei, pisando no chão eternamente gelado do meu quarto. Anne gritou meu nome do outro lado da porta, e um arrepio percorreu meu corpo.

Andei mais rápido dizendo para ela esperar. Abri a porta, e logo recebi um abraço. Ela fazia aquilo com frequência, sempre me abraçava assim que eu acordava. Não posso reclamar, já que, em manhãs frias como aquela um abraço quente era o que eu mais precisava.

Ela tinha um cheiro bom. Eu sabia bem que ela não usava perfumes, mesmo porque, era alérgica. Era um cheiro leve, que me dava tranquilidade,que me deixava feliz.

-Então, como foi a noite? – Ela beijou minha bochecha, me soltando logo depois.

-Boa, com sonhos. – Não era mentira. Eu havia tido sonhos sim.

Os sonos nunca mudavam; sempre a mesma coisa, mas nunca me enjoei deles. Acho que ninguém enjoa dos sonhos que tem, sobretudo quando os sonhos são bons.

-Sobre o que? -Suspirei. Ela sempre havia sido muito curiosa.

-Sabe que uma vez uma garota me disse que quando se conta um sonho para aquém, ele perde a mágica?

-Credo, que menina burra.

-Sabe que eu sempre achei a mesma coisa?

Começamos a rir. Começar o dia com ela era sempre muito bom. Quando ela ficava algum tempo longe, era visível a falta que ela fazia pra mim. Ficava mais quieto que o normal, pelos cantos esperando até a felicidade voltar junto com ela.

A amava e tal forma que eu mesmo não entendia. Nunca havia sentido algo daquele tipo, e nem mesmo achei que poderia sentir.

-Acho que hoje, você não tem nada pra fazer, né?

-Não. Hoje não.

-Quer fazer o que então?

-Dormir. –Ela soltou um leve riso.

-Não não! Porque não damos uma volta?

Ela era animada demais, não gostava de ficar parada e devo dizer que quase sempre era contagiado pela animação.

-Esta mais frio que o normal. Melhor ficar aqui.

-Você quem sabe. Vai tomar banho! To esperando.

-Mas ta muito frio!

-Isso não é motivo para não querer tomar banho! Vai logo.

Ela desceu as escadas, e achei melhor fazer o que ela tinha mandado, afinal, era ela quem mandava.

Entrei no banheiro, tirando lentamente cada peça de roupas esperando meu corpo se acostumar com o frio. A água estava quente, o que me ajudou muito a relaxar.

Provavelmente todos tinham saído, e Anne e eu estávamos sozinhos.

“ Anne...”

Afundei mais na banheira pensando nela. Eu iria fazer de tudo pra ficar com ela até o últimos dos meus dias, e não ia desistir tão fácil.

Sai do banho, fazendo questão de sair o mais rápido possível, para colocar minhas roupas novamente.

-Aposto que nem banho direito tomou, já que foi tão rápido.

-Foi o suficiente.

Ela riu, e me puxou para fora do quarto.

-Anda logo, vamos dar uma volta.

Ótimo, dava tudo pra ficar em casa sozinho com ela, e ela me decidi que quer sair. Pelo menos, talvez assim tenha mais chance de ficar perto dela.

-Ah! Será que simplesmente não podemos ficar aqui?

-Tem certeza?

-Absoluta!

-Ta bem então... Você é quem sabe...

Ela sentou no sofá, e me puxou junto com ela. Ouvi um suspiro, e posso até dizer que ela estava aliviada de não sair. Assim como a maioria das pessoas, o frio não é o melhor amigo dela.

Anne chegou mis perto de mim, colocando a cabeça em meu ombro, como sempre fazia.Antes ela pedia permissão, agora nem precisava mais.

-Como foram os dias com seus pais? - Não ia agüentar ficarem silencio por muito tempo.

- Foram bons... Papai anda meio doente, mas nada fora do normal.

-Entendo.

O pai dela ficava constantemente doente, não que fosse velho, mas a saúde nele não era muito boa. Sua mãe era maravilhosa, pelo menos pelo que Anne me falava, eu mesmo nunca tinha falado com ela.

-Minhas irmãs perguntaram se você é tão bonito quando parece nas fotos. Sinceramente, nunca fiquei com tanta raiva delas! Não paravam de falar de você! – Ela riu.

Era normal, as irmãs delas ficaram falando de mim, e dizendo como queriam casar comigo.Nada diferente, todas (ou quase todas)  as garotas falavam essas coisas.

-Não tenho culpa, se sou a perfeição. -Ela me deu um leve tapa no braço.

-Metido.

-Essa é mais uma das minhas milhares de qualidades.

-Vamos parar de falar neles, ta bem? Acho que logo vou ter de voltar.

Fiquei em silencio. Não gostava nada quando ela ia embora, ficar na casa dos pais.Uma tristeza fora do comum me abatia.

Ela deixou a cabeça cair pesadamente sobre meu ombro. Devia ter adormecido, com toda a certeza estava muito cansada. Passei meus braços em volta dos dela e a aproximei mais.

Poderia ficar assim com ela pra sempre, sem nunca mais deixá-la  sair de perto de mim.