—Posso entrar ou verei algo que vai me traumatizar? - Carlisle entrou na cozinha, mas manteve os olhos cobertos pelas mãos.

—O que é isso, pai? - Edward riu do comportamento dele. Sempre teve um bom relacionamento com os pais, mas desde que ele voltou as coisas estavam diferente, mais leves e descontraídas.

—Sua mãe pediu para vir na frente e avisar que estávamos chegando. Ela não quer que as crianças vejam nada impróprio. - Bella deixou a panela que estava carregando cair. - Vocês foram rápidos. - Apontou ao ver os dois devidamente vestidos.  

—Que momento constrangedor. - Edward resmungou. - Desculpe por isso, amor.

—Tudo bem, querido. - Pegou a panela do chão e voltou a cozinhar. - Meus pais também são assim. - Suspirou com saudade deles, fazia alguns meses que não os via.

—Viu? - Carlisle apontou. - Somos pais normais.

—Tudo em ordem? - Esme perguntou antes de deixar as crianças entrarem, para o caso de o marido não ter conseguido chegar a tempo.

—Caminho liberado! - Carlisle gritou.

—Oi mamãe. - Max pulou nos braços da mãe.

—Oi meu anjinho. - O encheu de beijos. - Se divertiu?

—Muito. Comi vários doces. O sr. Carlisle e a sra. Esme são muito gentis. - Ele falava pausadamente, o que fez Bella e Edward rirem.

—Estou feliz que tenham se divertido tanto. - Abraçou Noah e Claire.

—Foi bem divertido e as pessoas daqui não são más. Ninguém ficou olhando para gente e rindo. - Noah explicou e Bella sentiu um aperto no coração. Não havia percebido que as crianças notavam como os moradores de Forks os tratavam.

—Podemos ficar aqui mamãe? - Claire pediu abraçando Edward pelas pernas. Ele abaixou e a pegou no colo. A presença dele fez com que ela se tornasse mais falante e já estava formando frases longas, apesar de ainda enrolar em algumas palavras.

—Você está cozinhando? - Esme inspirou e aprovou o cheiro que vinha das panelas.

—Desculpa por ter invadido a sua cozinha, mas quis fazer algo para retribuir a hospitalidade.

—Tudo bem. Fique à vontade, a casa também é sua. Edward disse que cozinha muito bem, então estou louca para provar um de seus pratos.

—Mamãe… - Max a cutucou. - Podemos ficar aqui? - Bella levou a mão a testa lembrando do que estavam conversando antes.

—Ah sim. Edward e eu conversamos e decidimos que vamos todos ficar aqui em São Francisco. - Anunciou e as crianças comemoraram, assim como Esme e Carlisle. Eles queriam ver o filho bem e sabiam que aquela família era o melhor para ele. - Mas… - Alertou e eles fizeram bico. - Temos que voltar para Forks antes.

—Não queremos. Vamos ficar aqui. - Noah choramingou.

—Vocês precisam terminar as aulas e tenho que vender a casa e pegar as nossas coisas. Vai ser só por dois meses no máximo. - Explicou com paciência. Ela também não queria voltar, mas tinha algumas obrigações a cumprir.

—O papai vai? - Max o encarou e Edward negou.

—Sinto muito pessoal, mas não posso ir agora. Vocês vão na frente e depois os encontro lá, prometo.  

—Por que não pode ir? - Noah também o encarou.

—Estou no meio de um tratamento e não posso interromper, mas gostaria muito de ir com vocês. Não me agrada nenhum pouco deixá-los irem sozinhos.

—Estaremos seguros. - Bella garantiu.

—E o Jacob? - Edward falou o nome dele entredentes. Gostaria muito de colocar as mãos nele e dar uma surra nele. Aquele chute foi pouco para o que merecia. Não gostava de resolver as coisas na base da violência, mas sentia que aquela situação pedia.

—Ele não vai ser um problema, já está preso. – Respondeu aliviada.

—Isso é ótimo, mas como isso aconteceu? - Ele estava surpreso, não imaginou que seria tão rápido assim.

—Leah me ligou há pouco. - Deve ter sido na hora que ele estava no banho, Edward pensou. - E disse que ele foi preso. Então não tem com o que se preocupar.

—E se ele fugir? - Noah olhou preocupado para mãe. Bella não queria dar maiores detalhes na frente dos filhos. Eles eram espertos demais e capitavam tudo.

—Ele não vai. Lembra do Xerife? - Pergunto a Edward e ele bufou. É claro que lembrava. Ele havia defendido Jacob Black. - A filha dele foi vítima do Jacob. A garota está no hospital agora e ele atrás das grades.

—Como isso aconteceu, Leah? - Bella fechou a porta do quarto.

—Parece que depois que ele saiu da sua casa, bebeu ainda mais e encontrou com um grupo de garotas, e uma delas era a filha do Xerife. Você sabe como ele tem uma lábia e infelizmente ela acabou caindo na dele. Ele a levou para casa dele, estava muito bêbado e drogado também. A garota tentou ir embora, mas ele não aceitou isso e bateu nela, além de abusar dela.

—Isso é horrível. – Escorou na parede em busca de apoio. No começo ela não sabia que ele era capaz de tanta atrocidade, mas à medida que foram montando o processo, ela foi descobrindo a verdade sobre ele. - Ela vai ficar bem?

—O estado dela é grave, teve traumatismo craniano. Mas vamos torcer para que saia dessa. Tenho muita raiva do Xerife por sempre ter o protegido, mas não desejaria isso para ninguém.

—Ele deve estar se sentindo péssimo. Poderia ter evitado tudo isso.

—Sim. - Leah fungou e Bella notou que ela chorava. - Mas estamos perto de encerrar esse assunto e ele nunca mais vai machucar ninguém. Você vem para o julgamento? Acredito que agora as coisas vão ir mais rápido.

—Estarei lá. - Garantiu e Leah respirou aliviada. Ela e Bella haviam se tornado grandes amigas. - Como está o Embry?

—Um pouco febril, mas bem. Estava pensando em como contarei a ele que ele foi fruto de um estupro e que o pai dele vai apodrecer atrás das grades.

—Ele só tem dois anos. Você ainda terá muito tempo até decidir o que precisa fazer e como.

—Ah, Bella, é tão difícil. Eu o amo tanto, mas sempre que olho para ele lembro daquela noite.

—Sei que é complicado, mas você precisa apenas ver o seu filho e não o homem por trás da concepção dele. Como está na terapia?

—Está ajudando e agora que meus pais sabem a verdade, estão me apoiando. Obrigada por ter me ajudado. Como está o seu bonitão? - Leah queria mudar de assunto.

—Muito bem e finalmente nos acertamos.

—Que ótimo. Você merece ser feliz e sabe que nem todos os homens são iguais.

—Eu sei. Edward é incrível e os pais dele são maravilhosos. Me acolheram sem perguntas.

—Vai mesmo se mudar? - Leah queria ver a amiga feliz, mas também a queria por perto.

—Vou passar o final de semana aqui e depois volto para Forks, por uns dois meses, preciso vender a casa.

—Vai vender?

—Sim. Preciso do dinheiro para comprar uma aqui e construir um lar ao lado do Edward e das crianças.

—Acho que posso te ajudar com a venda. Já tenho uma pessoa em mente e ela vai cuidar muito bem da sua casa.  - Bella escutou um choro baixo do outro lado da linha. - Preciso ir, Embry está bem manhoso.

—Sei bem como eles ficam. Me mantenha atualizada.

—Pode deixar e esqueça um pouco dos problemas e foque apenas na sua felicidade.

—Você também Leah. Todos nós merecemos a felicidade.

—Quem quer macarronada? - Bella resolveu mudar de assunto, mais tarde contaria tudo a Edward, por hora, resolveu que seguiria o conselho de Leah.

—Estou cheio, mas eu quero. - Noah levou as mãos a barriga.

—Vamos tomar um banho enquanto a mamãe termina o jantar. - Esme segurou as mãos nos netos, Claire havia pegado no sono no colo do pai. - Sempre quis ver você assim. Fica tão lindo com uma criança nos braços. - Inclinou e beijo o cabelo do filho.

—Esme, pode deixar que eu os ajudo com o banho.

—Nós somos grandes, mamãe. - Max reclamou. - Pode deixar vovó Esme.

—Vovó? - Ela soltou as mãos dele e levou até acima do coração. - Sou oficialmente avó. - Comentou emocionada. - Noah e Max deram um beijo na bochecha dela e saíram correndo.

—É melhor eu dar uma olhada neles para não fazerem muita bagunça. - Bella avisou e pegou Claire no colo. - Já volto.

—Nem sei dizer o quanto estou emocionada. – Esme puxou uma cadeira e sentou ao lado do filho. – Não vejo a hora de ter mais netos. – Edward colocou a mão sobre a dela.

—Isso não vai acontecer, mãe. – Comentou com pesar.

—Bella não quer mais ter filhos?

—Não é isso. Bem, nós nem chegamos a conversar sobre isso. – Coçou a nuca encabulado. – E nem vamos precisar. Eu não posso ter filhos. Fiz o exame e confirmei.

—Lamento por isso, filho. – Carlisle colocou a mão no ombro dele.

—Não sinta. Eu tenho três filhos maravilhosos e sou muito grato por isso. É claro que gostaria de acompanhar uma gravidez, ver o meu filho nascer, ver ele dar os primeiros passos e tudo o mais. Mas ainda verei muitas realizações deles e apesar de não terem o meu sangue, eles são os meus filhos e é isso que importa.

—Para nós também. – Esme garantiu. – Já amo esses pequenos e não vejo a hora de tê-los aqui definitivamente. Precisamos comprar camas, não dá para eles dividirem uma, vão ficar desconfortáveis. – Ela fazia mil planos.

—Sobre isso...

—Não estão pensando em mudar, estão?

—Amor, eles querem ter o espaço deles. – Carlisle segurou a mão da esposa.

—A casa é grande, eles podem ficar aqui.

—Obrigado mãe, mas o papai está certo. Queremos o nosso próprio lugar. Enquanto eles estiverem em Forks eu vou arrumar uma casa para nós. Vou precisar de uma casa da arvore, pode me ajudar com isso?

—É claro e acho que já tenho uma casa em mente. Ela é nova e só vão precisar deixar do jeito de vocês. Só não tem uma casa da arvore, mas posso construir uma rapidamente.  

—A do fim da rua? – Esme torcia para que fosse, assim poderia ficar ao lado do filho e dos netos.

—Essa mesma. O preço está excelente também e a construção é maravilhosa.

—Foi você quem construiu? – Edward sabia de qual casa estavam falando e ela seria excelente para eles.

—Sim. – Respondeu orgulhoso. – Advinha quem é a corretora? – Edward deu de ombros sem a menor noção de quem seria. – Kate.

—Está brincando? – Riu da situação embaraçadora. Acreditava que Kate e ele estivesse bem e que fossem amigos, mas não sabia como ela ou Bella reagiriam ao se conhecerem.

—Posso ir junto. – Carlisle ofereceu. – É claro que não estou oferecendo apenas para ver a cara de vocês, mas para dar uma opinião técnica sobre a casa. – Disfarçou a desculpa com uma tosse.

—Se as crianças estiverem acordadas eu também vou. – Esme avisou e os três riram.

—E esse casamento sai quando?

—Casamento? – Bella perguntou e Edward engasgou. Ele haviam conversando sobre morarem juntos, mas não sobre casamento. Queria ir com calma e fazer a coisa certa ao mesmo tempo.

—O nosso. – Explicou e ela assentiu indo para o fogão, o molho já estava quase pronto. – Já consegui uma casa para nós. – Avisou e ela girou nos calcanhares para olhá-lo.

—Eu fiquei fora por cinco minutos. – Não sabia como ainda se impressionava com o que ele era capaz de fazer.

—Não brincamos em serviço. – Levantou e passou os braços ao redor da cintura dela. – Quer ir ver a nossa casa?

—Agora?

—Depois do jantar. Estou com fome. – Abaixou a voz para que os pais não ouvissem. – Fiz muitos exercícios essa tarde.

—A culpa é toda sua por não termos comido nada. – O cutucou e ele riu.

—Minha culpa? Você que me manteve praticamente preso lá.

—Eu te amo. – O beijou rapidamente. – Seremos muito felizes juntos.

—Não tenho a menor dúvida disso. Prometo que vou mantê-los em segurança.

—E prometo ficar ao seu lado sempre.

—Olha, já temos os nossos votos. – Apontou e os dois riram.

—Você quer mesmo casar?

—Sim. E você?

—Será uma honra ser a sua esposa. – Ele beijou a mão dela.

—Em breve colocarei uma aliança aqui.

—Não se sinta obrigado a isso. – Ela não queria que ele fosse pressionado a nada.

—Não é por obrigação que faço isso, mas por amor a você e as crianças.

—Tudo certo. – Esme avisou os tirando da bolha particular deles. – Ela vai nos encontrar em uma hora. – Bella ergueu as sobrancelhas, confusa.

—A corretora de imóveis. – Edward explicou pigarreando. – E ela é também a Kate.

—A sua Kate? – Respirou fundo controlando o ciúme.

—Ela não é minha, você é. – Beijou a testa dela.

—Estou com fome, mamãe. – Max parou ao lado deles, todo sorridente.

—Tomou banho direito? – Edward perguntou o cutucando.

—Sim, eu sempre tomo. Pai, você vai no meu aniversário? A mamãe prometeu fazer um bolo.

—É claro que vou. Quando vai ser?

—No próximo mês. Vai ser bom para conhecer os meus pais. É claro que também estão convidados. – Falou aos sogros.

—Nós iremos. – Esme garantiu.

—Noah, todo mundo vai no meu aniversário. – Contou a novidade ao irmão.

—Que demais. – Ele comemorou animado.

—O jantar está pronto. – Bella colocou a travessa de macarronada na mesa. -Vamos comer e depois conhecer o nosso novo lar.

[...]

—Edward! Que prazer revê-lo. – Kate estendeu a mão para cumprimentá-lo e notou a mulher e os dois meninos atrás deles. – Vieram ver a casa para um amigo? – Esme não havia sido muito clara ao telefone.

—Vamos morar aqui, papai? – Max perguntou admirando a casa.

—Pai? – Kate olhou das crianças para Edward e começou a fazer cálculos.

—Se vocês gostarem vamos sim. – Explicou e notou a expressão de Kate. – Oh, não é isso que está pensando. – Se os meninos fossem filhos biológicos dele, significaria que ele a havia traído durante o namoro deles. – Queria te apresentar a Bella. – Estendeu a mão para segurar a dela. – Minha noiva. – Agora ele havia a deixado ainda mais confusa.  

—Oi. – Bella a cumprimentou e as duas se encararam.

—Acho que devo dar os parabéns, então. – Kate sabia que devia seguir em frente. Ela e Edward não foram feitos para ficarem juntos e ela estava feliz por ele. – Desculpa por ter pensando errado a seu respeito, sei que jamais faria isso comigo. – Apontou para as crianças que corriam no jardim.

—Meninos! – Bella os chamou e eles pararam de correr.

—Parece que eles já estão bem à vontade. – Kate assumiu a postura profissional. – Carlisle, você já conhece a estrutura da casa e pode dizer o quanto ela é maravilhosa.

—Ah, sim. Os cômodos são bem grandes e terão quartos para cada um.

—Vou ter um quarto só para mim? – Noah estava bem animado e Max fez um bico. Ele gostava de dividir o quarto com o irmão. – Você solta pum quando dorme, não gosto disso.

—É mentira isso. – Empurrou o irmão. – Eu não faço isso.

—Como sabe que não? Você está dormindo. – Noah retrucou e Max levou as mãos ao queixo, pensativo.

—É mesmo. Você é muito inteligente, Noah.

—Prontos para conhecerem a casa? Tem piscina. – Se as crianças já estavam encantadas com a casa, agora foram convencidos de vez e não demorariam a convencer os pais de comprarem a casa.