Memórias de um Imortal escrita por Xarkz


Capítulo 9
Capítulo IX




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/766809/chapter/9

Diferente de quando eu hibernava, não havia noção de tempo quando eu simplesmente apagava devido à danos físicos, então não faço ideia de quanto tempo eu “dormi”, mas calculo que tenha sido por volta de dez dias.

Quando abri os olhos enxerguei apenas algo embaçado, mas consegui entender que estava debaixo d’água.

Tentei mover meu corpo mas ele parecia não estar lá… Pelo menos parte dele não.

Iniciei uma série de testes mentais, tentando compreender o quanto de mim tinha restado, sentia os músculos do pescoço e conseguia mexer os músculos peitorais, mas os do abdômen pareciam travados, funcionando parcialmente.

Tentei abrir e fechar as mãos, mas não havia nada para abrir e fechar.

Movimentei os braços e percebi que eram apenas dois cotocos, que terminavam um pouco antes dos cotovelos.

Por um instante quase respirei fundo, tentando aliviar a tensão, mas teria sido um erro terrível fazer isso embaixo d’água. Iria me afogar sem conseguir expelir toda a água e minha agonia iria durar até o dia em que eu conseguisse sair daquele lago.

Demorei alguns minutos para lembrar o que tinha ocorrido, então recordei-me dos vermes, meu corpo preso à árvore e do carro, caindo barranco abaixo, levando consigo minha cabeça presa pelo cabo de aço do guincho.

Provavelmente o puxão do cabo de aço arremessou minha cabeça no lago e cá estou, me regenerando lentamente.

Fiquei pensando em como estariam aqueles vermes, pois o pedaço do meu corpo que se regenerava sumia na mesma proporção no meu corpo antigo. Logo, logo estariam passando fome, aqueles malditos. Bem feito para eles!

Pensando bem, fui bem ingênuo em achar que poderia hibernar tranquilamente naquele local por vários anos. A chance de acontecer qualquer tipo de merda era imensa.

Alguém podia ter me encontrado, algum animal me atacado, ou as moscas poderiam colocar seus ovos no meu corpo, que serviria de alimento para as larvas quando os ovos eclodissem.

Tirando a cabeça, que mantive a mesma, todo o restante do meu corpo iria se regenerar, o que era algo novo para mim.

Nunca havia passado por aquilo antes, o que me deixou com algumas perguntas: já que a premissa é que meu corpo, quando destruído, iria retornar à forma original do momento em que fiz o contrato, então se minha cabeça fosse destruída também, quando eu me regenerasse, iria ter apenas as memórias anteriores às do dia do contrato? Afinal, as memórias ficam no cérebro e, teoricamente, meu cérebro seria refeito à imagem daquele cérebro do dia em que me tornei imortal, as memórias novas não deveriam vir junto.

Não era algo agradável perder todas as memórias de uma vida, mas poderia ser interessante usar isso em caso de algum trauma ou se eu enjoasse totalmente da minha vida, poderia recomeçar do zero, aprendendo tudo como se fosse novo.

Eu poderia até mesmo deixar algumas pistas para o “eu” desmemoriado seguir, apenas por diversão.

Tive bastante tempo para pensar nessas coisas enquanto estive no fundo daquele lago, dia após dia.

Pelos meus cálculos, regenerar o corpo inteiro demorava cerca de um mês.

Felizmente era verão, pois não seria nada agradável ficar tanto tempo na água fria.

Basicamente passei o tempo hibernando e acordando dia após dia, apenas para ver o quanto já havia me regenerado.

Meu tórax ficou completo quase ao mesmo tempo que as mãos estavam prontas, aí só restava esperar as pernas completarem o processo.

Nesse ponto eu já conseguia me locomover, mas preferi não sair de dentro do lago, vasculhando o fundo para passar o tempo.

O lago não era tão grande e já no primeiro dia encontrei minha caminhonete, caída de cabeça para baixo, então decidi ficar lá dentro.

Me sentei no banco do motorista, de cabeça para baixo, me prendendo com o cinto enquanto fingia estar dirigindo.

Mais alguns dias e, quando meus pés já começavam a tomar forma, decidi tentar ligar o veículo, o que obviamente não funcionou.

Então, após mais um dia hibernando achei que era a hora de sair.

Nadei até a superfície e fui cegado momentaneamente pela luz do Sol, após um mês submerso meus olhos já não lembravam como era serem atingidos pela luz diretamente.

Mesmo não precisando, respirei fundo. Respirar sempre me acalmava.

Eu estava totalmente regenerado e nu em um lago no meio do nada.

O registro civil, que tanto trabalho tive para conseguir, acabou destruído na água mas, por algum motivo, não senti como se isso fosse um problema. Na verdade à algum tempo nada parecia ser problema.

Não se importar com os problemas deveria ser algo bom, mas junto à isso veio o tédio. Nada mais parecia ter graça e eu não sentia vontade de correr atrás de algo, seja lá o que fosse.

Foi aí que tive, talvez, a melhor ideia possível se passou por minha cabeça.

Mergulhei no lago novamente e nadei até meu carro.

Lá dentro encontrei minha sacola de viagens, peguei-a e a trouxe à tona comigo.

Já em terra firme abri a sacola, separando os objetos que ainda era possível utilizar e aquilo que se tornou lixo.

A única vestimenta que restou foi uma bermuda jeans e um par de tênis, totalmente desgastados, mas ainda em condições de uso.

Do bolso da outra divisória retirei uma sacola menor mas pesada, feita de couro.

Abri o fecho da sacola e retirei duas pistolas, um soco inglês, um canivete e uma faca. Todos objetos que coletei dos meus agressores.

De certa forma eu me metia muito em encrencas, mas desde o incidente com o assassino de Julia, nunca mais ousei matar alguém.

Não importava o quanto eu odiasse aquele cara, matá-lo pesou em minha consciência desde então.

Também nunca mais tive um relacionamento estável. Sempre quando começava a se tornar sério, eu acabava fazendo alguma besteira, como se inconscientemente eu não me permitisse entrar na vida de alguém e, pensando bem, não seria justo com a outra pessoa.

No bolso menor da sacola retirei uma barra de sabão, que utilizei para lavar a calça e os tênis, cheios de terra do tempo em que ficaram submersos, e então os pendurei nos galhos de uma árvore para secar.

Bastou apenas um dia para que estivessem prontas para uso.

A essa altura minha noção de tempo já não era a mesma, os dias pareciam mais curtos. Ficar um dia inteiro parado em pé não era nada para quem ficou um mês inteiro deitado no fundo de um lago.

Como em um piscar de olhos o Sol voltou a nascer e subiu aos céus, traçando uma trajetória convexa, passando por cima de minha cabeça.

Já devia ser meio-dia quando decidi que era a hora.

Vesti a calça e o tênis, guardei as armas dentro da sacola menor e parti, a pé.

Como bem me lembro, eu jamais cansava, mas também não tinha pressa, então caminhei na direção da cidade mais próxima, que devia estar a mais de trinta quilômetros.

Quando se vive tanto tempo, os dias parecem horas e os minutos parecem durar apenas segundos.

Novamente o Sol se pôs e, no meio da madrugada, cheguei na cidade.

Enquanto me aproximava do centro dela, percebi que as pessoas me olhavam com desconfiança devido à minhas vestes. Em outros tempos eu me sentiria discriminado, mas essas coisas não mais me afetavam.

Caminhei pelo centro apenas à passeio, no meio da madrugada, até que três sujeitos, tão mal vestidos como eu, se aproximaram.

Sinceramente achei que se tratasse de uma tentativa de assalto, mas apenas pediram se eu tinha fogo.

Puxei meu canivete, que possuía uma pederneira, utilizada para fazer fogueiras, e pedi para que o sujeito segurasse um pequeno pedaço de papel.

Fiz atrito com a faca contra a pederneira, fazendo com que desprendessem faíscas e assim o papel se incendiou. O sujeito então utilizou o papel em chamas para acender o cigarro.

— O cara é mágico, olha isso! — disse um deles, apontando para a chama no papel.

— Onde arranja um desses? — perguntou outro.

— Este eu ganhei. — o que era uma mentira, pois peguei de um homem que tentou roubar meu carro certa vez, junto com a arma que estava em minha sacola. — Mas você pode comprar em lojas de equipamentos de acampamento, eu acho.

— E mágica pra aparecer uma cachacinha, não rola? — disse o terceiro, fazendo com que os outros caíssem na risada.

Em pouco tempo já havia feito amizade com aqueles caras. Pareciam sofridos e estavam drogados, mas tinham bom humor e não pareciam perigosos.

Notei que todos possuiam várias cicatrizes no rosto e no corpo, um deles não tinha um dedo da mão e o outro mancava de uma perna. Alguns daqueles ferimentos pareciam recentes. Não imaginava em que tipo de confusão eles estariam metidos, mas achei melhor não perguntar.

— Onde eu consigo roupas por aqui? — perguntei. —  Perdi todas as que eu tinha, menos essas que estou usando.

Um deles tirou uma camiseta rasgada de uma sacola e me entregou.

— Toma, cara! Usa essa por enquanto. — me deixando surpreso com a gentileza. — Pra comprar uma só de manhã, quando abrir as lojas. A gente pede uma grana por aí.

— Eu vou erguer um muro com meu tio, mas a grana só vejo no final do dia. — disse o outro.

— E vocês ficam fazendo o quê, durante a madrugada? — não me aguentando de curiosidade. — Porque ficam caminhando por aí na cidade vazia? Vocês não dormem?

— Cê não é daqui né? — perguntou aquele que mancava de uma perna. — Tem que ficar esperto, não dá pra dormir em qualquer lugar a qualquer hora. A gente dorme de tarde, pingado, senão não acorda mais.

— Como assim?

— De dia tem gente passando, cê deita em um cantinho e não acontece nada. Quase sempre né. Se dormir agora de noite, os maluco te arrebentam.

Comecei a ligar a história àqueles ferimentos e cicatrizes que eles possuíam. Alguém os espancava à noite, quando dormiam, por isso se mantinham acordados na madrugada.

— Quem são esses caras que batem em vocês enquanto dormem?

— É maluco que não tem o que fazer. Só por diversão.

— E se vocês dormirem em turnos? Dois dormem e um fica de guarda.

— Às vezes a gente faz isso, mas quando a gente vê eles já tão em cima, aí os que tão dormindo não têm tempo de correr e eles pegam.

Caminhamos a madrugada inteira, conversando e rindo de bobagens que nem graça tinham. Eles riam por estarem chapados e eu ria pelas reações exageradas deles.

O Sol nasceu e cada um seguiu seu rumo. Me vi sozinho no centro da cidade e decidi fazer o que fazia de melhor: esperar.

Sentei-me na calçada e, após três piscadas de olhos, a noite chegou novamente.

Não demorou muito para que o grupo se reunisse novamente.

— Ó o mágico ali! — disse um deles, apontando para mim, enquanto aproximavam-se.

— Tá com a mesma camiseta ainda. Não arranjou grana, cara? — me perguntando.

— Não sou bom em pedir dinheiro. — respondi, de forma direta. — Mas não se preocupe, vou dar um jeito de te devolver a camiseta ou o dinheiro dela.

— Não esquenta, mágico. Fica pra você.

Aquela gente parecia não oferecer perigo à ninguém, alguns eram trabalhadores e ainda eram gentis. Decidi interceder por eles.

— Eu agradeço pela camiseta, não tenho dinheiro mas vou retribuir. Essa noite vocês poderão dormir.

— Opa! Mas como vai fazer isso? Arranjou um lugar seguro pra gente dormir?

— Não! Vocês podem escolher o lugar que quiserem para dormir. Eu vou dar um jeito nesses caras, se eles aparecerem.

— Faz isso não, mágico! — falou um deles, preocupado. — Eles são tudo armado.

— Não tem problema! — respondi, com tranquilidade. — Só preciso que me dêem algumas informações sobre eles. Se são sempre os mesmos e quanto são.

— Olha, as vezes muda um ou outro, mas quase sempre são cinco. Eles vêm de carro e de moto, já chegam batendo na gente, um com taco de baseball e outro com facão, enquanto os outros ficam atrás, apontando a arma. Se a gente reage eles atiram.

— Vou precisar que vocês confiem em mim. Eu vou dar um jeito nesses caras.

Os três trocaram olhares, desconfiados.

— Não leva a mal, mas cê não conhece esses caras. Você é só um, eles são cinco e tão armados.

— Eles podem estar armados e serem em maior número, mas eu sou um mágico, lembram?

Eles trocaram olhares novamente, mas agora estavam sorrindo enquanto balançavam a cabeça negativamente.

— Cê deve ser meio doido, mas a gente vai tentar.

A dúvida estava estampada nos olhos deles e achei que não iriam aceitar o pedido, mas eu fui confiante no que disse e isso acendeu a esperança daquela gente.

Escolhemos um local aberto que, apesar de ser mais fácil de sermos abordados, também era mais fácil para fugir. A última coisa que eles queriam é serem pegos em um beco sem saída.

Os três deitaram com as costas escoradas em uma parede e usaram suas mochilas como travesseiro, enquanto eu montava guarda, em pé, de costas para eles.

Devido à enorme quantidade de dias mal dormidos, o sono acumulado fez com que eles adormecessem rapidamente.

Fixo naquele ponto, como uma árvore enraizada, observei a cidade, decorando cada fachada de loja, cada rachadura da calçada, cada falha da faixa de pedestres, mas nada dos agressores aparecerem.

Mais três piscadelas e o Sol já estava nascendo novamente.

Os primeiros raios atingiram os olhos dos três, que acordaram quase que de imediato.

Foi a melhor noite de sono que eles já tinham tido em muito tempo, mas quase me senti decepcionado, pois a ideia de ser herói estava cada vez mais me agradando.

O grupo se separou e eu queria logo que a noite chegasse.

Pisquei uma, duas, três… dez vezes e o dia não passava. Parece que o que reduz a marcha do tempo é mesmo a expectativa.

Resolvi me sentar em uma mureta, próximo à uma loja, não que eu precisasse descansar mas talvez apenas pelo hábito.

Ali, algumas pessoas passavam e me davam moedas.

Recusei cinco esmolas até decidir sair dali.

Era compreensível que me confundissem com um mendigo, devido à minhas vestes, mas eu estava bem longe disso. Possuía imóveis em meu nome… Que, a propósito, agora era Nicolas… Também tinha dinheiro no banco e, para emergência, investi metade do meu dinheiro comprando algumas barras de ouro, afinal, dinheiro desvaloriza e muda, mas ouro sempre terá seu valor.

Por três noites seguidas nada aconteceu, então a quarta noite chegou.

O trio, já mais descansado, demorava a pegar no sono desta vez, e a conversa seguiu madrugada à dentro.

— Aí mágico, faz aparecer umas mina aí pra gente. — disse um deles, fazendo graça para os outros rirem.

— É, faz aí. — concorda o outro, entrando na brincadeira. — Já tem uma semana que esse aqui levou chifre da mina dele. — apontando para aquele que mancava de uma das pernas, satirizando-o. — Ele ta precisando.

— Tomar no seu cú. — Respondeu o manco, mas sem perder o bom humor. — Se ele pudesse fazer aparecer uma mina, já tinha feito uma pra ele.

— Pois é! — continuou o primeiro. — Mas e aí, mágico, tu não contou nada de ti até agora. Tu tem mulher ou família em outra cidade por aí?

— Fiquei com algumas garotas aqui e ali, mas só existiu uma que realmente importou. Isso faz muito tempo… Realmente muito tempo.

— Ah é? Ela te deu um pé na bunda?

— Ela foi assassinada na minha frente.

— Ih, cara, foi mal. Não devia ter perguntado.

— Tudo bem! Não tinha como vocês imaginarem isso. Além do mais, como eu disse, faz muito tempo. Tanto tempo que às vezes preciso forçar um pouco pra lembrar do rosto dela. Acho que algum dia eu vou acabar esquecendo ela por completo.

— Vai nada, cara. Se gostava tanto dela assim, não vai esquecer.

— Agora talvez não, mas quem sabe daqui à uns mil anos.

— Daqui a mil anos a gente já vai ser adubo. — interrompeu um deles.

— Adubo nada. — discordou o segundo. — Nem isso vai ter sobrado. E já vai ter carro voador e teletransporte.

— Só pros ricos né. — completou o terceiro. — Porque o pobre vai ser sempre pobre. Quando o rico tiver carro que voa o pobre ainda vai andar de ônibus. E ônibus com roda, porque o que voa vai ser só pra classe média.

Não sei se foi a bebida ou as drogas que eles usavam, mas os três tiveram um acesso de riso.

No meu caso, até achei engraçado, mas o que me fez rir mesmo foi novamente a reação exagerada daqueles três.

Um deles segurava o estômago, que parecia doer, enquanto o outro rolava no chão e o terceiro ria sem som, enquanto seu rosto ficava cada vez mais vermelho até que mudou para roxo e parecia que iria falecer ali mesmo, de tanto rir.

Percebi que eu havia ficado sozinho tempo demais, não lembrava o quão divertido era simplesmente ficar conversando e falando bobagens à noite, com amigos.

Não era a situação ideal, nem o local ideal e, em outra ocasião, eu teria dito que não eram as pessoas ideais, mas aqueles três eram as melhores pessoas que encontrei em anos.

Mais do que nunca eu queria protegê-los e, naquela noite, finalmente eu poderia.

Não demorou muito desde que a noite chegou, então eles apareceram.

Um carro prata, que não recordo a marca mas era certamente caro, seguido de uma moto vermelha se aproximaram, jogando os faróis na nossa direção, cegando-nos.

Olhei de relance para os três, que a pouco estavam quase dormindo, mas agora estavam bem alertas, levantaram-se e ficaram de costas para a parede, com os olhos esbugalhados e as mãos na frente dos olhos, tentando cobrir a luz dos faróis.

Ficaram pálidos e suas pernas tremiam à olhos vistos.

Permaneci inerte, na frente deles e de frente para os recém chegados.

Enxerguei apenas vultos, mas identifiquei três homens descendo do carro e dois da moto, se posicionando em seguida em frente aos veículos.

Contei cinco silhuetas, que pareciam portar objetos em suas mãos.

— Olha, a escória está se multiplicando. — disse um deles. — Eu falei que isso ia acontecer. Agora a gente tem que apagar pelo menos um.

— O que vocês querem? — perguntei, olhando para um deles onde julguei serem seus olhos, enquanto fingia que a luz dos faróis não estava me prejudicando.

— Cala a boca aí, escória não fala, só sangra. — respondeu uma das silhuetas.

Dei três passos na direção deles, ficando a pouco mais de dois metros de distância e repeti:

— O que vocês querem?

Ouvi risadas e então alguns passos vindo pela minha direita. Senti uma movimentação brusca, quando finalmente consegui enxergar o sujeito que vinha na minha direção desferia um golpe horizontal com um taco de basebal. Defendi com o braço, cujo osso provavelmente deve ter trincado com o golpe, então segurei os braços do atacante e o puxei para baixo com força, direcionando um golpe com o taco de baseball no farol esquerdo do carro, que se quebrou, apagando-se no mesmo instante.

Com o cotovelo atingi seu nariz. Ele cambaleou e então golpeei seu maxilar com um direto de direita, tão forte quanto os que usava nos velhos tempos em que fui campeão. Suas pernas amoleceram e ele ia cair, se eu não o segurasse.

Não me importava que ele se estatelasse no chão, apenas o segurei para usá-lo de escudo, pois ouvi o som de uma arma engatilhando.

Peguei emprestado o taco de baseball e empurrei o agressor para cima dos outros, quando ouvi o som de um disparo, que não me acertou.

Teria atingido seu próprio aliado?

Um segundo veio em minha direção e, já distinguindo as silhuetas, golpeei com o taco de baseball o mais forte que pude, atingindo-lhe a lateral da perna.

Quando seu joelho tocou o chão, aproveitei e lhe dei um chute na cabeça.

Parti para cima dos outros três, então ouvi um segundo disparo.

Esse me atingiu no peito, porém, não me detive e continuei caminhando.

Notadamente aquele que disparou ficou perplexo pela minha reação incomum ao ser baleado. Aproveitei os segundos em que seu cérebro tentava assimilar o ocorrido e então lhe golpeei na cabeça com o taco.

Ouvi um terceiro disparo e, como o primeiro, não me atingiu. Eles não pareciam ter uma boa pontaria.

Pulei por cima do capô do carro, ficando frente à frente com outro deles, então segurei-o pelo pescoço com a mão esquerda enquanto fechava meu punho direito, porém, ouvi outro disparo e desta vez senti o impacto em minha cabeça.

A mão com que segurava o pescoço do sujeito enfraqueceu e ele se soltou, correndo em direção a moto.

Olhei para o lado, tentando mover meu corpo o mínimo possível, e vi os dois que sobraram fugirem em disparada, quando ouvi a voz de um de meus amigos, desesperado.

Olhei para o outro lado e vi dois deles baleados, caídos no chão já sem vida, enquanto o terceiro tentava reanimá-los e então olhava para mim.

Minha perna esquerda perdeu a sustentação e, como se fosse em câmera lenta, despenquei até o chão.

Não sei que parte do cérebro a bala atingiu, mas senti adormecer todo o lado esquerdo do meu corpo.

Com muito esforço fazia um mínimo movimento com a mão esquerda, enquanto a direita parecia normal.

Foi quando aprendi que, por mais que minha resistência a dor estivesse acima do normal, ainda precisava de um cérebro intacto e funcional.

Localizei o ponto por onde a bala entrou e, deslizando a mão direita pela cabeça, até próximo à nuca, localizei também o ponto por onde ela saiu.

Quanto àqueles três, eu acabei de assassinar dois deles.

Não diretamente, mas o responsável, sem sombra de dúvidas, era eu. Afinal, eles tinham sobrevivido até agora, mesmo com alguns ferimentos, mas tinham sobrevivido do seu jeito.

Fui eu quem os convenceu de que estariam seguros comigo.

Eu os matei!

Ao que parece minhas decisões resultam em morte para as pessoas ao meu redor.

Foi quando lembrei o motivo de eu estar sozinho até então.

Julia!


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Observações e críticas construtivas serão bem vindas!



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Memórias de um Imortal" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.