Descalça escrita por nathaliacam


Capítulo 3
II. Observações


Notas iniciais do capítulo

Em primeiro lugar, eu gostaria de pedir desculpas pela demora. Em segundo lugar, preciso dizer que provavelmente não conseguirei dizer que esse atraso nunca mais acontecerá, porque só vou iludir vocês. Eu tenho um compromisso com as minhas histórias, quem me lê há mais tempo já sabe disso, mas, infelizmente, atualizar uma vez por semana do jeito que minha vida está será impossível, como eu já tinha avisado.

Enfim, o importante é que estamos aqui. Demorou, mas saiu, e estou muitíssimo feliz de finalmente atualizar Descalça! Espero que vocês estejam gostando!

Ah, preciso dizer também que vocês me ajudaram bastante com os comentários! Eles me ajudaram muito a construir um caminho para esta história, e acho que vocês vão gostar bastante do que está por vir.

Outra coisa: algumas pessoas me perguntaram sobre a existência do site no qual Bella escreve o e-mail e recebe dez anos depois. Este site realmente existe, e tem o mesmo nome da fanfic. Se você também acha essa ideia sensacional, faça como eu e mande recadinhos para o seu futuro. Gosto de fazer isso especialmente quando as coisas estão um pouquinho difíceis na vida. Enfim, divirtam-se no futureme(ponto)org.

Bem, espero que vocês curtam a leitura. Um beijo enorme e até breve!



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Capítulo II. Observações

“Mestre Swan, bom dia.”

Bella completou a ação de pegar o envelope que pendia na entrada de seu gabinete e olhou para trás para se deparar com a figura magra e de cabelos longos. Aro Volturi era o coordenador do departamento de Bella no Forks College, e era conhecido por jamais aceitar as novas coordenadas sugeridas por outros professores. O papel dele era basicamente vetar e dizer que tudo estava bom do jeito que era, que os novatos – vulgo não-pós-doutores – eram sonhadores por sua pouca experiência e que as descobertas da ciência da educação eram puro discurso “esquerdista”.

Adorado por uns, detestado pela maioria, especialmente pelos alunos: este era Aro Volturi.

“Bom dia, Aro.”

Aquela era a maneira que Bella havia encontrado para desafiar Aro Volturi da maneira mais sutil que conseguia: a ironia. É claro que seus alunos a chamavam de Mestre Swan, assim como a maioria dos outros professores quando estavam em ambiente universitário. Aquele era o título de Bella até a última sexta-feira, então é claro que ela não reclamaria. No entanto, nas pessoas citadas, o termo “Mestre Swan” não carregava o sarcasmo que tinha na voz de Aro.

Sabendo que destacar que Bella era mestre frente a seus dois pós-doutorados era uma maneira de desdenhar dela, Bella o tratava da maneira mais pessoal possível – pelo primeiro nome. Aquele era um hábito que os professores mais próximos uns dos outros pessoalmente adotavam quando estavam fora da instituição. Só que Bella sabia que aquele era um jeito sutil de trazer Aro para mais perto do que ele realmente era, e raramente se lembrava: uma pessoa de carne e osso como todas as outras.

“Alguém comentou na última reunião de departamento que você não apareceu porque estava defendendo sua tese na Portland University.” Ele disse, depois de fazer uma careta discreta pelo tratamento de Bella.

“Foi,” Bella sorriu levemente, tocando a maçaneta da porta de seu gabinete, equilibrando o material das aulas do dia no braço e a bolsa no ombro, “Não pude comparecer nessa, mas estarei nas próximas, não se preocupe.”

Ele sorriu, apertando as próprias mãos.

“Ah, não, não estou cobrando nada,” sim, ele estava, “Foram apenas assuntos corriqueiros, como os de sempre. Como foi a sua defesa? Correu tudo bem?”

Bella arqueou as sobrancelhas, surpresa pelo interesse.

“Hm... sim, correu tudo bem. Fui aprovada.”

“Ah, isso é bom!” ele sorriu, “Parabéns, mestre Swan. Sei bem como pesquisas para tese são complicadas, você sabe, e depois vem o pós-doutorado e tudo o mais que a vida acadêmica tem a oferecer. Você ainda é jovem, com certeza vai trilhar longos caminhos dentro da filosofia.”

Bella assentiu, sentindo os livros pesarem em seu braço. Sua mão largou a maçaneta e reforçou o aperto no material contra o corpo.

“Obrigada, Aro. Também estou satisfeita de que tenha dado tudo certo.”

“Imagino que sim. Bom, eu tenho aula em dez minutos. Parabéns novamente. Mas pense em trilhar um caminho para a área idealista em sua próxima pesquisa... é mais interessante, Mestre Swan, eu garanto.”

É claro, estava demorando.

“Estou satisfeita com o que o materialismo tem a me oferecer,” ela sorriu irônica, “E pode me chamar de Doutora Swan agora.”

A gargalhada que Aro soltou a seguir teve uma pitada de sarcasmo, é claro, mas Bella fingiu não perceber. Sem paciência para alongar a conversa falsamente agradável, ela acenou com uma mão e em seguida abriu a porta do gabinete, fechando-a rapidamente depois de entrar.

Bella deixou os livros sobre a mesa redonda do pequeno ambiente que ela chamava de seu dentro do prédio da faculdade. Pequeno sim, mas igualmente aconchegante. Ela prometera renovar o espaço assim que pudesse, pendurar quadros nas paredes com divisórias brancas, rechear mais as duas prateleiras de livros dali e comprar um computador novo especialmente para ocupar este espaço.

Mais uma das promessas não cumpridas.

Ela fez um careta ao se lembrar disso, seus pensamentos passando brevemente pela maldita carta recebida em seu e-mail, e sacudiu a cabeça brevemente para espantar aquilo da mente. Não importa.

O envelope que estava pendurado na porta, entretanto, voltou a chamar-lhe atenção. Ela se sentou e abriu o papel pardo, passando os olhos rapidamente sobre os escritos no ofício.

“Ah, finalmente!”

Finalmente e bizarro. Tecnicamente dizendo, Bella já tinha autorização para isso, uma vez que era de fato uma professora contratada, como todas as outras. Porém, pela veia política que esta – e provavelmente todas as outras – instituição tinha, ela nunca tinha podido coordenar uma pesquisa sozinha. Nunca pode abrir editais para seleção de bolsistas para iniciação científica, porque não era doutora. Ironia dizer que foi literalmente conseguir o título, que a autorização “dificílima do reitor”, segundo o diretor da faculdade, chegou também.

Não importava mais. O fato era que, a partir de agora, ela poderia guiar os passos de outra pessoa para as maravilhas que o mundo acadêmico podia oferecer.

E talvez aconselhar o selecionado com o que seu eu de dez anos atrás tinha a ensinar em seus questionamentos e sonhos.

[...]

“Não ficou bom?”

Bella se arrependeu imediatamente do comentário feito, e quase mordeu a língua. Sua aluna, parada à sua frente depois da aula, esperava uma resposta mordendo o lábio inferior, o cabelo liso cor de caramelo caindo sobre os olhos numa franja jogada, a camisa listrada preta e branca esticada de forma que levantava a manga para exibir a tatuagem ainda coberta por plástico filme.

“É claro que ficou,” Bella sorriu, assentindo, “Ficou linda. Mas é enorme! Deve ter doído muito...”

“Ah, nem tanto,” ela deu de ombros. “O traço da tatuadora é muito fininho, está vendo? Então a mão dela era bem levinha também. Quase não senti.”

Bella se permitiu observar mais atentamente a tinta preta que compunha o desenho de um ramo de flores de cerejeira no braço de sua aluna. Aquela era, na verdade, uma das tatuagens mais bonitas que Bella já havia visto na vida. A delicadeza no traço realmente fino da artista deixava o desenho com um ar sutil.

“É realmente linda...” seus dedos coçaram para encostar na pele da aluna, mas ela não podia, porque provavelmente ainda estava dolorida, “sabe que, quando eu tinha mais ou menos a sua idade, eu era louca para fazer um monte de tatuagens?”

“É sério?” ela riu, baixando novamente a manga da blusa, “Não acho que tenha muito a ver com você.”

Bella torceu a boca, mexendo no cabelo comprido e solto antes de responder em tom de brincadeira:

“Eu nem sempre fui velha assim, Cath!”

“Não, não é por isso!” ela negou rapidamente, “Você nem é velha, Bella! Eu só quis dizer que você é meio séria e tal... seu estilo é mais sério. Não sei, não consigo te imaginar com uma tatuagem.”

Catherine tinha razão, porque nem Bella se lembrava daquele desejo. Porque nem Bella se lembrava de sua própria personalidade aos dezenove anos. É claro que ela também não conseguia enxergar a si mesma com uma tatuagem, porque Bella cresceu e, ao adiar tanto o desejo que tinha, deixou que este se perdesse em meio a sua versão “madura” e “séria”. Em demasiado.

“Eu entendi”, ela riu, “Eu também não consigo. Foi por isso que não fiz.”

“Mas ainda dá tempo! Dá uma olhada no Pinterest, quem sabe você não se interessa por alguma coisa? Não tem nenhum livro que você goste muito? Série... alguma frase célebre de algum filósofo...?”

Bella uniu as sobrancelhas, pensando. Sim, ela tinha várias frases célebres preferidas (inclusive algumas iluministas... “Todos os homens nascem livres e iguais” é muito do que Bella pensava e adotava para a vida, embora a ética defendida por seu lado na filosofia critique o fato de tal liberdade e igualdade se limitarem ao nascimento), mas nunca pensou em tatuá-las. Será que isso passou por sua cabeça aos dezenove anos?

“Pode ser, não é? Quem sabe?” Bella deu de ombros e sorriu, “Vou pensar. Catherine, antes que eu me esqueça. Vou soltar um edital para seleção de bolsistas para iniciação. Gostaria muito que você participasse.”

“Ah, sério?” ela sorriu, “Pode deixar! Estou aguardando este edital há meses e-“

“Bom dia, professora Swan!”

Bella se assustou com o grito dado por Alexander, que entrava na sala, mas riu em seguida, quando ele se sentou na primeira carteira em frente à mesa de sua professora.

“Bom dia, Alexander.”

“Bom dia, mal educado,” Catherine olhou para trás e fez uma careta, “Obrigada, Bella! Vou me atentar ao prazo.”

“Por favor, não perca,” ela sorriu e Catherine foi se sentar, porque o restante da turma chegava para a aula. “Pessoal, bom dia,” ela disse quando a maioria já havia chegado, “Espero que vocês tenham me desculpado, eu odeio me ausentar em dia de aula, mas eu tive um compromisso inadiável.”

“Defesa de tese,” Alexander apontou para ela, “Certo?”

“Certo,” ela assentiu e apoiou a base das costas na mesa para falar, “Precisava defender a minha tese. Deu tudo certo, por isso estamos aqui hoje com um gás a mais. Vamos repor essa aula no futuro, não se preocupem.”

“Ah, não se preocupa com isso,” um aluno disse do fundo da sala, “Joga pro fórum online.”

“Vamos ver, Chad, vamos ver,” Bella disse com tom de risada, “Esperto, você. Bom, eu não vim semana passada, então isso quer dizer que vocês tiveram uma semana extra para fazer a leitura do texto! Sem desculpas hoje. Página 52 da apostila, vamos começar.”

[...]

[...]

Ter um computador no próprio gabinete era um luxo, Bella sempre dizia isso a si mesma. Era ótimo, porque, dessa maneira, ela conseguia deixar os arquivos realmente importantes em seu computador de casa ou no computador do gabinete, trancados e seguros. Laptops eram ótimos com toda a sua praticidade, mas depois do incidente de furto num congresso, os prejuízos a faziam estremecer.

Depois do furto, Bella decidiu investir num bom aparelho de mesa para deixar na universidade. Documentos como rascunhos de editais, aulas, provas e coisas do tipo deviam ficar guardados em pastas de compartilhamento entre seu computador de casa e do trabalho. Economizava dor de cabeça e tempo.

E, bom, a rede exclusiva de professores não tinha bloqueios, o que significava que ela podia até ficar de bobeira no Facebook quando bem quisesse.

Como agora, por exemplo.

Bella gostava de redes sociais, como qualquer pessoa que vivesse no século atual com a cabeça realmente no século atual. O Facebook não era a sua preferida, especialmente por conta das manifestações políticas que pipocavam de todos os cantos, e as desavenças ocorridas entre pessoas que não sabiam o que de fato era debater ideias e o que era atacar pessoalmente. Bella amava discutir política, porque, bem, fazia parte de sua profissão e do que ela escolheu estudar em vida. Entretanto, se mantinha longe dos debates virtuais para evitar grandes conflitos, especialmente os familiares.

Pois é, Charlie havia descoberto o Facebook também. E levava a sério.

Então Bella preferia “se alienar” – termo utilizado por ela mesma – no Instagram. Se tivesse mais tempo livre, passaria horas perdida na ferramenta de buscas do aplicativo, assistindo a vídeos rápidos de Faça Você Mesma e salvando tutoriais apenas para se esquecer que eles existiam, ou de massinhas naturais. Ah, e unhas. Estes últimos eram o motivo pelo qual ela procurava a manicure de vez em quando.

Porém, enquanto aguardava sua próxima aula começar – por Deus, quem fazia os horários de aula não tinha pena dos professores. Por que diabos marcar uma aula para o início da manhã e a próxima apenas às 15h? -, Bella exercitava o dedo médio da mão direita na barra de rolagem do mouse, lendo postagens, tirinhas e receitas compartilhadas por seus familiares, amigos e alunos. Correndo do que dizia respeito à política – as de Charlie, especialmente, ela raramente compartilhava algo em seu próprio feed, mas distribuía curtidas, amei’s e hahaha’s entre os posts que mais a agradavam. E pelas fotos de seus alunos, é claro. Ela adorava fazer isso, especialmente quando eles compartilhavam algum pedaço do campus do Forks College, que, ainda que pequeno, era charmoso e bem cuidado.

Limpando a garganta depois de deixar um recado que dizia que “me convida para almoçar quando vc resolver se aventurar!” num compartilhamento do Tastemade da conta de sua mãe e um “olha o tamanho dessa bochecha!!!” com um Emoji apaixonado na foto mais recente que Jasper compartilhara de Suzie, Bella tinha planos de abandonar o site para comprar algo na máquina de café mais próxima para a próxima aula. Rolou a página com mais rapidez, apenas para conferir por cima o que mais havia acontecido no último fim de semana de seus conhecidos.

E foi nesse momento que ela viu.

O fôlego ficou preso em seu peito por um segundo, e, em seguida, ela soltou o ar, pensando que provavelmente ela havia se enganado. Não era possível que a imagem de Rosalie sorridente tivesse o Space Needle* como fundo.

N/A: Space Needle é uma torre de 184 metros que fica em Seattle. É um símbolo da cidade.

Ela não tinha se mudado para o Alasca? É claro que tinha! Bella ainda curtia no Instagram e no próprio Facebook inúmeras fotos daquela que foi sua melhor amiga na adolescência em várias das estonteantes paisagens do Alasca. Ela tinha se casado, inclusive. Com um cara alto e forte, que se chamava Emmett, pelo que Bella tinha apreendido nas fotos.

Franzindo o cenho, ela clicou rolou novamente para rever a foto. Era sem dúvidas o Space Needle. Que estranho... poderia ser uma visita, é claro, mas em todos os seis anos em que Rosalie havia se mudado, ela jamais tinha visitado. Essa foi uma das coisas que fizeram Bella se afastar dela, em primeiro lugar.

Não que ela mesma tivesse cumprido a promessa de visitar Rosalie no Alasca. Mas nesta parte ela não gostava de pensar.

Ela clicou no perfil de Rosalie, apenas para constatar que a parte que dizia “Mora no Alasca” havia se modificado recentemente. A terceira postagem mais nova de Rosalie era, na verdade, uma atualização de status:

Rosalie Cullen se mudou para Seattle

Bella arfou.

Ela tinha se mudado de volta.

Rosalie estava de volta a Seattle!

Quer dizer, não era tão próximo quanto antigamente, quando as duas eram amigas e moravam em Forks, mas Seattle ficava a quatro horas de carro, diferente do Alasca, que as separava por um país inteiro.

Foi sem pensar. Bella tinha três minutos para estar em sala de aula, mas, mesmo assim, clicou na foto de Rosalie na parte lateral direita da tela.

Bella Swan: Oi, Rose! Quanto tempo! Acabei de ver que você se mudou de volta para Washington! Que bom saber que estamos fisicamente próximas de novo!

Podia ser que Rosalie torcesse a cara do jeito que ela sempre fazia, e dissesse com sua melhor voz irônica que era ridículo que Bella a procurasse de novo agora. Mas, não custava tentar, de qualquer maneira. Não ia doer.

No entanto, não ia dar tempo de esperar a resposta. Ela precisava estar em aula agora. Estalando a língua em frustração, Bella desligou o computador às pressas e catou os livros e laptop da mesa redonda, trancando o gabinete e correndo corredor abaixo na direção das salas de aula.

[...]

Era meio ridículo admitir, mas Bella estava com medo de olhar a resposta de Rosalie no Facebook. Com medo, porque, em primeiro lugar, ela havia respondido. Havia uma parte de Bella que esperava que nem isso fosse acontecer, porque ela bem conhecia o gênio forte da outra, e situações como aquela geralmente resultavam apenas numa tentativa de conversa ignorada. Mas, quando ao fim da aula um aluno que havia se esquecido de entregar o fichamento requerido pediu para envia-la por e-mail, e ela abriu sua conta no celular para conferir junto a ele o recebimento do documento, havia um novo e-mail na aba “Social”. Depois de confirmar e tranquilizar seu aluno, Bella clicou no remetente Facebook que relatava novas mensagens de Rosalie Cullen no chat.

Foi por isso que ela baixou o aplicativo do Messenger, mas resolveu esperar até chegar à sua casa para ler o que estava escrito. Porque já está no fim do expediente, ela justificou a si mesma em sua cabeça, mas era por medo. No fundo, ela sabia disso.

Entretanto, foi um verdadeiro alívio ao ver a quantidade de pontos de exclamação antes de propriamente ler as palavras escritas por sua melhor amiga da adolescência:

Rosalie Cullen: Bella!!! Me mudei sim, finalmente! Estamos próximas e não temos mais desculpa. Você ainda mora em Forks? Vamos nos encontrar?? Tenho muita novidade para contar!!!!

O sorriso no rosto de Bella foi tão verdadeiro quanto o calor que chegou a seu coração naquela hora. E a confirmação do convite foi tão sincera quanto a vontade de fazê-lo acontecer.

Bella Swan: Quando e onde?

 

[...]

Bella quase escorregou quando saiu do banheiro correndo para atender ao telefonema. Se o contexto não envolvesse um encontro com sua melhor amiga que não fazia contato há quase uma década, com toda certeza o ringue continuaria até que ela estivesse perfeitamente vestida e sem correr riscos de levar tombos pela casa. Mas ela estava morrendo de ansiedade, e estava morrendo de medo que Rose ligasse e cancelasse o compromisso a qualquer segundo.

E era melhor que ela soubesse disso agora, antes de se enfiar em roupas e colocar maquiagem no rosto.

“Pronto,” ela disse, segurando a toalha sobre os seios e tocando os cabelos que pingavam.

“Oi, Bella, sou eu,” Bella suspirou aliviada ao ouvir a voz de Alice, “Posso te pedir um favor?”

“Claro,” ela respondeu automaticamente.

“Será que você pode ficar com a Suzie esta noite? Tenho um encontro com o Jazz e a bruaca da mãe dele acabou de avisar que tem um ‘compromisso inadiável’. Agora eu te pergunto, o que pode ser inadiável para ela? O condimento de um veneno? Eu sei que ela está fazendo isso para me prejudicar, para eu não ter esse momento com o meu marido, porque ela queria que ele fosse jantar com ela todas as quintas à noite, então eu me recuso!”

Bella permaneceu em silêncio por alguns segundos, absorvendo o desabafo da amiga. Nunca era um sacrifício tomar conta de sua afilhada, e ela sempre se divertia muito desempenhando aquela função. Entretanto, naquela noite em especial, ela teria de dizer não à amiga.

“Alice, eu...”

Odeio ter que fazer você de babá, Bella, mas eu não vou conseguir mais ninguém à essa altura do campeonato...”

Ela mordeu o lábio inferior. Rose costumava adorar crianças, de qualquer maneira...

“Estou te esperando.”

[...]

Bella tinha ficado confusa entre duas bolsas que combinariam com a roupa escolhida e com o local marcado com Rosalie. Pensou também se usava um de seus confortáveis, sóbrios e sérios saltos ou uma sapatilha. Chegou a cogitar usar mais dois anéis além dos que ela sempre carregava nos dedos médio e anelar da mão esquerda, e até pendurou uma gargantilha delicada para ressaltar o discreto decote que a blusa preta florida mostrava. Mas, jamais, jamais, pensou que um bebê conforto seria um dos acessórios que ela carregaria consigo para dentro do restaurante.

Pelo menos Suzie ainda estava dormindo e, por mais que Bella não acreditasse que ela assim permanecesse por muito tempo, graças ao barulho e à agitação do local, uma Suzie dormindo sempre era melhor do que uma Suzie chorando. Sua afilhada a amava, e Bella sabia disso, mas a troca de colos e a percepção de que a madrinha seria a única companhia, sempre deixava a bebê nervosa e chateada. Foi indolor dessa vez. Até que ela acordasse, pelo menos.

“Comporte-se,” ela sussurrou na direção da afilhada, que dormia tranquilamente, “Por favor.”

Como resposta, um suspiro sonolento.

Bella entrou no restaurante. Era mais despojado do que ela imaginava, mas era de se esperar – era a cara de Rose. Não havia hostess, nem alguém para checar documentos e indicar mesas. Tinha muito mais cara de bar do que de qualquer outra coisa, e ela mordeu o lábio inferior, pensando no quanto aquilo poderia ser inadequado para uma bebê.

A culpa é sua por não saber falar não.

Firmando o aperto na alça do bebê conforto e buscando com o olhar, Bella localizou uma cabeleira loira a algumas mesas de distância. A mulher estava de costas, mas o louro tinha o mesmo tom de dourado claro que Bella se lembrava desde a adolescência, e se alongava até a cintura feminina. Caminhando para mais perto, Bella teve certeza se tratar de Rosalie ainda sem ver seu rosto – bastava identificar os ombros estreitos e o pescoço longo. Os braços finos e, daqui, dava para ver longas unhas vermelhas movimentando a tela do celular.

“Você não mudou nada!”

E então a mulher se virou e a encarou com os mesmos olhos azuis de sempre. O sorriso que os lábios pintados de vermelho mostraram também era o mesmo, bem como a diferença de estaturas quando ela se levantou.

“Bella!!” Rose disse com encantamento na voz, dando um passo a frente com os braços abertos. “Meu Deus, você também não mudou nada! Vem aqui me dá um-“

Rosalie arfou. Seus olhos se arregalaram e ela fitava um ponto fixo na altura da cintura de Bella. A morena riu, conseguindo prever o pensamento da amiga.

“Você está errada.”

“Estou? Porque eu definitivamente não me lembro de você ter me dito que é mãe!”

“Esta é minha afilhada, Suzanna. Filha da minha melhor amiga, Alice.”

Bella depositou o bebê conforto sobre a mesa e Suzie se mexeu com o movimento, sua expressão se moldando numa caretinha.

“Bella, que coisa mais linda...” Rose se inclinou e tocou a mãozinha em punho da bebê adormecida, “confesso que estou um pouquinho desapontada por ela não ser sua... desapontada por ela não ser minha, na verdade.”

Bella riu.

“Isso porque você ainda não a viu acordada. O que você acha de bebermos uma taça de vinho antes que isso aconteça?”

[...]

“Eu me casei por amor, Bella,” Rose sorriu, traçando figuras na condensação do copo de refrigerante, “Nunca pensei que isso fosse me acontecer, mas aconteceu.”

Bella não entendia o motivo de Rose dizer aquilo. Quer dizer, por que ela não se imaginaria casando-se por amor? Ela sempre teve namorados, desde que a puberdade chegou para as duas e fez crescer nelas seios e hormônios. Além da óbvia beleza que a loira sempre teve, seu carisma era natural e ter encontros nunca foi um problema.

“Por que não aconteceria?”

“Eu quis me concentrar na carreira,” ela deu de ombros, “Fui para o Alasca com a intenção de ter a melhor formação possível, e jamais pensei em me envolver num relacionamento sério enquanto estivesse lá. Eu sempre achei que desperdiçaria todo o meu esforço e todo o esforço dos meus pais para me manter lá se começasse a namorar ou coisa do tipo.”

Dessa parte, Bella se lembrava. Rose foi embora porque a universidade onde Rose estudou no Alasca oferecia a melhor formação das Américas, e o investimento pessoal e financeiro dela mesma e dos pais não foi baixo. Ela se lembrava de ouvir Rose dizer que ficaria virgem de novo até voltar para os Estados Unidos.

E Bella sempre dizia que ela não devia se privar de nada para priorizar a carreira.

Como a vida é irônica, ela pensou, deu a ela o que eu quis; deu a mim o que ela quis.

“Mas, aí você conheceu o seu marido.”

“Mas, aí eu conheci o Emm,” ela sorriu e voltou a fitar Bella, “e foi inevitável. Ele me pediu em casamento com dois meses de namoro, nos casamos dois meses depois.”

Bella arfou, surpresa.

“Mentira!”

“Verdade!” Rose gargalhou.

“Rose! Era tudo o que você dizia que nunca faria!”

“Eu sei!” Ela ainda ria. “Mas, Bella, você vai entender quando conhecê-lo. Ele é a minha versão masculina, eu juro!”

“Ele também faz piadas autodepreciativas?”

“Muito melhores do que as minhas!”

Bella sorriu, verdadeiramente curiosa sobre o marido de Rose, ao qual agora poderia chamar de Emmet – ou Emm, como ela sempre dizia. Estar ali com Rose era diferente do que ela esperava que fosse, mas, ao mesmo tempo, era exatamente o que ela sempre pensou que seria. Quer dizer, tudo era diferente agora: Rose era casada, tinha uma família, tinha passado quase dez anos morando no Alasca e tinha mil e uma histórias para contar a respeito das aventuras que por lá vivera. Todas as experiências vividas por ela a faziam uma mulher diferente, naturalmente dizendo. Mas, ainda assim, Rose era a mesma. Sua essência não tinha mudado nem um pouco, e aquilo era surpreendentemente bom.

“Mas e você?” Rose apoiou o cotovelo na mesa e inclinou-se para frente, sorrindo para a amiga. “O que mais tem para me contar?”

“Acabei de terminar o doutorado.” Bella sorriu, sentindo o orgulho preencher seu peito. “Dou aulas na Universidade de Forks há quase cinco anos, fui contratada assim que terminei meu mestrado. Moro sozinha, graças a Deus.”

“Ah, você não precisa aturar as diferenças com seu pai diariamente!” Bella sentiu um conforto no coração ao perceber a lembrança da amiga. “Isso é ótimo! Mas também, sinceramente, jamais pensei que você fosse voltar à casa dos seus pais depois do fim da faculdade. Inconcebível.”

A morena assentiu.

“Eu sei. Não foi fácil, porque eu só consegui algumas poucas aulas no Ensino Médio durante todo o meu mestrado. Dividi um apartamento até me formar, e aí as coisas melhoraram. Deu para pagar um aluguel e as contas sozinha.”

“Você sempre foi uma lutadora.” Rose deu de ombros. “Sempre tive certeza de que você se daria bem no que quer que fizesse.”

“Nunca foi fácil,” Bella concluiu. “Mas, eu nunca me deixei abater.”

Rose esticou os braços e pegou as mãos de Bella nas suas sobre a mesa.

“Eu tenho muito orgulho de você, sabia? Sempre soube que você iria longe, muito mais longe do que eu, porque você sempre teve muito mais garra do que eu. Não posso nem dizer o quanto estou feliz que recuperamos o contato. Emm não me aguentava mais reclamar de saudades de você.”

Bella riu, mas não teve tempo de responder, porque sua risada aparentemente foi alta o suficiente para acordar Suzie. A bebê resmungou no bebê conforto e esticou os braços, esperando que alguém a pegasse no colo. A madrinha a retirou do meio das cobertas e a levantou.

“Demorou, não é?” Riu na direção da criança. “Diga oi à Rose!”

Suzie observou o rosto de Bella e, reconhecendo a ausência da mãe, resmungou. Coçou os olhinhos e meteu o rosto no pescoço da madrinha, ainda choramingando. Bella rapidamente conferiu a fralda e, vendo que a bebê estava limpa, procurou a mamadeira em sua própria bolsa.

“Você tem muito jeito com ela.” Rosalie observou.

“Ela é um bebê tranquilo,” Bella deu de ombros e colocou a mamadeira entre os lábios da afilhada, que começou a mamar prontamente. “E passamos bastante tempo juntas, desde antes que ela nascesse.”

A loira observava Bella apoiar a cabeça de Suzie na dobra do braço e niná-la levemente enquanto a bebê drenava o leite da mamadeira. Sempre soube que a amiga gostava de crianças e surpreendeu-a saber que Bella não tinha ainda formado sua família. Se Rose, ela própria, já tinha se casado, era perfeitamente razoável pensar que Bella tinha seguido o mesmo caminho.

“Não te faz ter vontade de ter a sua própria?”

Os lábios de Bella se retorceram e seu olhar caiu novamente sobre Suzie. Rosalie viu a garganta de Bella se mover antes que ela, com o dedo indicador, retirasse uma mexa do longo cabelo castanho do rosto.

“Não sei te responder, para falar a verdade. Faz muito tempo que não penso nisso.”

Rose arqueou as sobrancelhas.

“Em família?”

“Sim,” Bella deu de ombros, “estive muito concentrada na minha carreira nos últimos anos, e acabei não sentindo tanta falta. Especialmente por ter vivido tudo isso junto a Alice, mãe da Suzie. Sabe, nós ficamos amigas poucos anos depois de você ter partido. Eu vi Alice começar a namorar, vi ela ser pedida em casamento, estive no casamento... eu estava com ela quando a gravidez da Suzie foi descoberta, eu estava lá quando ela nasceu.”

Rose calou-se por alguns segundos, pensando. Ainda parecia pouco provável que a Bella que ela conheceu não sentisse a falta de tudo aquilo em sua própria vida. Viver através de experiências alheias, por mais próximas que fossem as pessoas, nunca foi o que ela pensou que Bella fosse fazer da vida. Mas, cada palavra que saiu de sua boca foi verdadeira, dolorosamente verdadeira.

“E você nunca teve um relacionamento que a fez pensar nisso tudo?”

A forma como Bella a fitou naquele momento fez Rosalie perceber que aquela pergunta não foi nada delicada ou apropriada. Ela tinha de se lembrar que já tinha se passado quase uma década desde a perda de contato entre as duas, e isso significava que elas não eram mais amigas como antes. Provavelmente, elas nem eram mais amigas.

“Me desculpe,” disse rapidamente, “me desculpe, Bella. Isso não é da minha conta.”

Bella sabia que Rose não fizera por mal, e nem mesmo pensava que sua pergunta fora assim, tão grave. Se o incômodo esteve expressão, era simplesmente porque ela mesma vinha tendo aqueles pensamentos. Desde que a carta que chegara do passado mostrou a ela como era sua versão dez anos mais nova, tudo aquilo vinha incomodando em intensidade absurda.

“Não precisa pedir desculpas,” Bella tentou sorrir, “foi só uma pergunta. E... bem, não posso dizer que não tive relacionamento que me fizeram pensar em formar uma família. Mas, fui eu mesma quem pensou, não foi o relacionamento que me levou a isso.” Ela franziu o cenho. “Não sei se você entendeu o que eu quis dizer. Às vezes eu acho que tanto tempo me dedicando à leitura e escrita de artigos e material acadêmico acabou me fazendo prolixa na vida real.”

Rose riu baixo. Suzie se mexeu no colo de Bella, empurrando a mão da madrinha que segurava a mamadeira para longe. Moveu-se, tentando se sentar e, uma vez que sua vontade tinha sido feita, bateu as duas mãozinhas na mesa de madeira.

“Não, você não está sendo prolixa. Só está sendo sincera.” Ela não tirou os olhos de Suzie ao proferir aquelas palavras. “Ai, posso carrega-la um pouquinho? Preciso confessar que meu útero está coçando neste momento!”

E, depois de gargalhar intensamente, Bella passou Suzie para os braços da amiga.

Sim. Da amiga.

[...]

“Tem certeza que não quer uma carona?” Bella ofereceu pela terceira vez.

Rose, que ainda estava com Suzie no colo, negou com a cabeça. A bebê achou incrível como os cabelos loiros se mexeram, e agarrou um tufo deles e puxou. Rosalie gargalhou e, delicadamente, retirou a mãozinha de Suzie de seus cabelos, fazendo caretas engraçadas para ela no processo.

“Tenho,” assentiu, “Não se preocupe, Bella. Emm vai vir me buscar, já tínhamos combinado. Até prefiro, sabia? É romântico, me lembra de quando éramos namorados. Amo que hoje sejamos financeiramente estáveis e eu possa ter o meu carro para andar para lá e para cá, mas a sensação de esperar para que ele venha me buscar e levar para casa é nostálgica.” Ela deu de ombros e agitou a mão livre na frente de Bella. “Coisas de casais cafonas.”

Bella riu.

“Entendo. Bem, você pode me ajudar a colocar o bebê conforto no carro? Ainda me embaraço toda com o cinto de segurança.”

“É claro!”

Rose também não tinha muita experiência, e aquilo, na verdade, rendeu boas risadas para as duas. Com as duas portas traseiras escancaradas e resmungões frustrados, frases como “gente, mas isso não faz sentido!” e “acho que é assim, olha... ah, não, não é” vinham das duas. Pelo menos Suzie não tinha se irritado, e assistia à cena quietinha no colo de  Bella.

“Finalmente!” Bella riu e saiu do carro. Bateu a porta e limpou o suor da testa. “Caramba!”

“Nunca pensei que fosse tão difícil!” Rose riu também e bateu a porta de seu lado no carro. Caminhou até Bella e a envolveu num abraço. “Obrigada por esta noite, foi incrível! Espero te ver de novo em breve.”

Bella sorriu e assentiu.

“Com toda certeza!”

“Rose? Rose!”

As duas se viraram na direção da voz masculina. Bella não reconheceu a figura, mas logo concluiu que fosse Emmett. Ele era alto, mais alto do que Bella ou Rose. Tinha ombros largos, sob uma jaqueta escura, uma barba perfeitamente aparada e um sorriso lindo.

“Ei!” A amiga virou-se na direção do homem e o abraçou rapidamente.

“Tirando uma noite de folga?” Ele perguntou depois de beijá-la na têmpora rapidamente.

“Quase isso. Nem vou perguntar de você, porque a sua vida é uma folga.”

Ele gargalhou e bagunçou o cabelo dela ligeiramente.

“Assim você me ofende.”

“Vem aqui, deixa eu te apresentar. Esta é a Bella, minha amiga de infância. E esta aqui é a Suzie.” O homem tocou a mãozinha de Suzie, que imediatamente riu na direção dele. “Bella, este é meu cunhado, Edward.”

Ele não era o marido de Rosalie! Ah, então tudo bem! Quer dizer, Bella não estava olhando demais porque seria muita falta de educação ficar reparando na beleza do marido da amiga.  Mas agora que ela sabia que ele era só o cunhado, ela podia dizer que ele tinha olhos que brilhavam, e que o sorriso dele era mais do que lindo. É claro que Suzie gostaria dele de imediato, quem não gostaria de receber toda aquela atenção?

“Oi, Bella,” ele olhou na direção dela pela primeira vez, “prazer.”

“Prazer,” ela respondeu simplesmente, sentindo-se vitoriosa por não deixar que o encantamento pela beleza dele não chegasse à sua voz.

“Quer ajuda para colocá-la no carro?” Ele ofereceu. “Sou um expert nessas cadeirinhas, sempre ajudo meus clientes na empreitada.”

“Você devia ter chegado há dez minutos,” Rose riu.

“Está tudo bem,” Bella sorriu. “Melhor eu ir, já passou da hora de Suzie dormir. Obrigada novamente, Rose. E prazer em conhecê-lo, Edward.”

“O prazer foi meu,” ele sorriu e tocou novamente a mãozinha de Suzie, “Prazer, lindinha! E aí, Rose, ganho uma carona ou não?”

Quando Bella buzinava para se afastar da amiga e do recém-chegado cunhado, ela olhou para o retrovisor, vendo Suzie brincar com a mão.

“Deve ser bom ser linda assim, mocinha, e chamar tanta atenção.”

Porém, a única resposta que obteve foi vê-la colocando todo o punho dentro da boca.

[...]

Pela provável quadragésima vez, Bella se revirou na cama. Frustrada, passou as mãos pelo rosto, sabendo que noites mal dormidas sempre acarretavam em péssimos dias posteriores. Ela ficaria sonolenta, impaciente e aérea pelas horas em que deveria ficar ativa no trabalho.

Seu corpo estava cansado, é claro. Cuidar de uma bebê, alimentá-la, trocá-la, fazê-la dormir e esperar que a amiga matasse todas as saudades de seu marido dava trabalho. Sair com uma bebê para um restaurante dava trabalho. Bella sentia isso em cada músculo que implorava por descanso.

Sua mente, entretanto, estava decidida a trabalhar. Pensar, pensar e pensar, revirar todas as cenas do encontro com Rose, cada palavra dita. Reviver. Ela não conseguia entender o motivo de que o encontro tenha tirado seu sono, porque fora um momento tão bom. Tão nostálgico, tão feliz... reencontrar a amiga de infância tinha feito muito bem para Bella, não fazia sentido que ela, agora, ficasse desta maneira.

O que será que incomodava tanto seu inconsciente? O fato de que as duas tinham vivido o que a outra desejava ter vivido? O fato de que Rose estava tão diferente e tão igual ao que ela se lembrava? O fato de ela não ter participado do casamento de Rose? O fato de ter descoberto que a amiga mudou todos os seus planos e casou-se quatro meses depois de ter conhecido o marido? Ou a pergunta que Rose fez?

Será? Será que Bella não queria ter vivido tudo aquilo? Será que ela já tinha se imaginado naquela situação antes? Quer dizer, a resposta era óbvia, porque, sim, a cada vez que Alice dava um passo na direção de formar uma família com Jasper, Bella pensava se isso algum dia aconteceria com ela. Sim, ela sonhou com esse momento, mas sempre tinha se justificado, pensando que em breve. Assim que eu terminar a graduação, depois assim que eu terminar o mestrado, depois assim que eu me estabilizar. E depois acabou.

E nem era só sobre relacionamentos. Era sobre fazer uma tatuagem, era sobre fumar a maldita maconha, era sobre ir a festas, era sobre ser jovem.

Trinta anos. Eu tenho quase trinta anos. Eu não sou mais jovem. Não sou. Não estou mais na idade de fazer a primeira tatuagem, ir a festas estudantis, fumar maconha. Eu sou a figura de responsabilidade agora, eu estou do outro lado.

Trinta anos.

Trinta anos.

Vinte e nove anos e seis meses.

Seis meses.

Que ideia maluca, ela pensou olhando para o teto, quando aquilo lhe ocorreu. Cobriu a boca com a mão. Respirou fundo. Que ideia ridícula.

Ela se sentou na cama e buscou o laptop na cabeceira da cama.

Que ideia fantástica.


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Notas finais do capítulo

Não sei vocês, mas muito mais do que a aparição de Edward ou Rose, minha parte favorita deste capítulo é Suzie.

Comentários me empolgam e me fazem escrever!



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