O expresso era forte, sem açúcar. Puro.

Semelhante aos seus olhos, duas pedras de ônix.

Amargo e bem quente.

A mesma mesa de canto acompanhado sempre de um livro e do café forte.

O mesmo terno na parte da manhã e ao anoitecer, um moletom antigo de um time qualquer.

Eram poucas as vezes que carregava consigo um caderno ou então um tablet. Algo onde pudesse escrever suas crônicas.

Não  era de conversas que gostava, por isso estava sempre mais afastado de toda a movimentação da cafeteria.

Devia ter quase trinta anos, mas estava em boa forma. Com cabelos tão escuros quanto o café e a pele tão clara como a neve. Um pretendente voraz ao cargo de "príncipe encantado", ele não devia saber, se sabia, ignorava para que ninguém nunca o notasse. Só não era nomeado e cortejado como tal, pela carranca no belo rosto.

Havia um loiro tagarela que pelos rumores dali, seria  o melhor amigo. Opostos completos, deve-se acrescentar. Enquanto um falava pelos quatro ventos, o outro era reservado e trocava uma meia palavra, direta e monossilábica.

O café não era de luxo. Era apenas um café de bairro, passado de pai para filho. Aconchegante, como muitos dos fregueses diziam.

Havia ainda duas moças que viviam em meio a um grupo de amigos. Todos se conheciam, no entanto, não fazia questão de estar naquele meio de conversas e brincadeiras. O loiro sempre o atiçava à participar e todas as vezes, sem exceção, recebia a mesma cara feia como aviso de "não perturbe" do moreno. Era sútil como um elefante. Das moças, a morena de olhos perolados era compromissada com o loiro falante. Era tímida e encantava à todos com seu jeito meigo e calmo. Haviam se assumido depois de muito, muito esforço por parte dele. Com alguns gracejos e alguns doces caseiros, ramém  e tequila de algum bar qualquer, estavam juntos oficialmente. A felicidade estampada no rosto de cada um. O moreno, mesmo que não se pronunciasse, possuía um discreto sorriso de canto, aprovando os atos do amigo-irmão.

Já a outra,  era menos tímida. Diferente dos cabelos negros, os dela eram rosados. Um diferencial e tanto, não? Os olhos da menina, eram semelhantes à esmeraldas. Gostava de conversar e não tinha medo algum dos insultos e carrancas da parte do moreno. Eram como cão e gato. Ela sempre o atiçava a sair da zona de conforto.  Como duas crianças birrentas e barulhentas.

Semanas depois, alguns burburinhos se espalharam e os dois, que até então viviam mais entre tapas do que beijos, decidiram por uma trégua. Assumiram um relacionamento que evoluiu aos poucos. Sem pressa e exigência.

Aquele que anteriormente se isolava, permitiu aos poucos que entrassem em sua vida. A mesa antes isolada, era preenchida agora por todo o grupo. A cabeleira rosa, havia o arrancado da solidão.

O café era o mesmo de sempre.

Expresso, forte, sem açúcar. Puro.

A sútil diferença era vista por todos, os ônix não eram  mais preenchidos pela amargura, somente quentes e cheias de alegria.