Sakura estava tão exausta que apenas tinha tomado um banho antes de se jogar na cama do quarto onde Sasuke mostrou que ficaria. Nem sabia como estava tão cansada se havia dormido por três dias seguidos na Floresta Proibida, é claro que treinar com seu pai tinha exigido muito de seu corpo, mas aquele julgamento todo tinha exigido muito de sua paciência também.

Aquele conselheiro... não era flor que se cheirasse. A filha da Malévola tinha captado o olhar dele, era pura malícia com um toque de desespero.

Pelo menos havia conseguido se vingar do diretor, ele ainda estava sofrendo pela maldição que tinha jogado nele antes de levarem-no sabe-se lá para onde.

Estava amanhecendo quando acordou, mas muito tempo tinha se passado até decidir sair do quarto e atender aos roncos de seu estômago.

Ficou surpresa quando encontrou Sasuke sentado no corredor apoiado em sua porta.

— Bom dia – ele lhe desejou com um sorriso nos lábios assim que se levantou, espanando a roupa um pouco abarrotada.

— Bom dia – ela devolveu meio sem jeito.

— Eu estava esperando você acordar – ele explicou.

— Se eu soubesse teria saído mais cedo, estou acordada desde o nascer do sol – ela se sentiu um pouco culpada.

— Eu devia ter batido – ele suspirou sorrindo. – Mas não queria te acordar – jogou o cabelo para trás com uma das mãos.

"Que fofo", ela pensou sorrindo levemente. Mas seu estômago roncou estragando o momento.

— Ai que vergonha – ela colocou a mão na barriga se sentindo constrangida.

Sasuke soltou um riso.

— Vamos até a cozinha – ele apontou a direção no corredor e pegou uma das mãos dela.
Sakura foi caminhando ao lado dele, não muito tranquila já que ainda tinha que bancar a namorada.

Ir para a cozinha era bom, queria ver se conseguiria ficar sozinha para fazer o que precisava.

— Todo mundo já tomou café da manhã? – ela perguntou levianamente.

— Sim – Sasuke respondeu. – Izumi ainda está no quarto e meu irmão está com ela. Devido a toda essa situação meus pais não estão no castelo, eles foram com a Fada Madrinha resolver o caso do diretor... – o príncipe baixou mais a voz antes de continuar: – O diretor ainda está sofrendo o feitiço que você lançou nele.

— Uau – Sakura respondeu no mesmo tom de voz dele. – Ele deve ter mesmo causado muita dor. Me pergunto... – parou de falar sem saber se deveria continuar.

Sasuke se virou para ela e ergueu uma das sobrancelhas instigando que ela continuasse. Sakura não havia percebido como aquele gesto nele era charmoso.

— Me pergunto se toda a dor que ele causou em vida foi só para Izumi – ela murmurou por fim.

Sasuke suspirou.

— Eu não sei, o que me deixa sentido é: como não percebemos antes como ele era?

Sakura sabia a resposta para essa.

— Nem sempre o mal aparece em forma de chifres Sasuke, muitas das vezes é a própria pessoa que está ao seu lado e você nem espera por isso.

A começar por ela própria.

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Sakura tomou café da manhã na cozinha mesmo, acompanhada por Sasuke. Ele já estava aproveitando para fazer um lanchinho.

A filha da Malévola ignorava os olhares de medo que recebia dos empregados, eles pelo menos tinham a decência de desviar o rosto e não ficar encarando.

— Estava pensando em te levar em um lugar e fazermos um piquenique – disse Sasuke com a boca cheia. Sakura se controlou para não rir, ele estava tão fofo com as bochechas infladas enquanto falava. – O que acha?

Sakura pensou um pouco.

— Quais são as chances de eu poder ficar sozinha aqui nessa cozinha e preparar alguma coisa para você? – ela perguntou, mantendo o tom de voz brando.

— Consigo meia hora para você – respondeu Sasuke, estranhando o pedido, mas feliz por passar um tempo sozinho com ela agora que toda a situação do julgamento tinha temporariamente passado. – O que vai preparar?

— Cookies – respondeu sinceramente.

Sakura não percebeu, mas Sasuke se endireitou no assento, engolindo rapidamente.

— Iguais aqueles que você preparou da outra vez? – perguntou com a voz rouca.

— Mais ou menos – Sakura segurou a careta. – O sabor vai ser diferente – “E o resultado também”, pensou, afinal, os cookies seriam para quebrar o feitiço da poção do amor.

— Pode ficar tranquila, a cozinha real será sua por pelo menos meia hora – disse o príncipe indo providenciar o que ela acabara de pedir.

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Sasuke estava nervoso. Será que era o que estava pensando? Sakura ia finalmente “quebrar” o feitiço de si? Esperava que sim, esperava mesmo.

Mal via à hora de isso acontecer.

Poderiam finalmente ficar juntos sem esse peso no meio deles.

Mas ao mesmo tempo ele também estava temeroso. Se ela ia “desfazer” o feitiço poderia significar apenas que tinha se cansado de bancar a namorada de mentira.

— Você gosta de mim? – perguntou de supetão.

Sakura estava de costas para ele, observando o forno.

— Gosto – ela se virou para ele e parecia sincera.

— Sabe que eu te amo, não é?

Sakura tornou a virar de costas para ele.

— Você já me disse isso – ela respondeu levemente.

— Só para confirmar – ele resolveu ficar quieto depois disso.

Apenas observou quando ela retirou os cookies cuidadosamente do forno. Quatro ao todo. E os enrolou num papel toalha, guardando dentro da cesta que eles haviam preparados juntos enquanto os cookies assavam. A cesta estava recheada de sanduíches, frutas, alguns doces e suco.

Iam ter um verdadeiro piquenique. Sasuke ia segurar a vontade de comer o cookie e acabar de vez com toda aquela situação o máximo que pudesse, só para aproveitar antes do que quer que fosse acontecer depois de revelar que sabia do feitiço dela a mais tempo do que ela esperava.

— Estou pronta – disse Sakura.

E estava mesmo.

Sasuke admirou como ela era linda. Estava com as roupas dele porque se recusou a usar um vestido que não tivesse sido feito pela melhor amiga Ino, então havia escolhido uma camisa branca de manga longa, uma calça preta que era folgada em Sasuke, mas nela ficava mais ajustada e usava um cinto dele para manter a calça segura em seus quadris, e os mesmos coturnos de sempre.

Ela estava tão linda que Sasuke tinha que se obrigar a desviar o olhar do corpo dela e de como as roupas dele se ajustavam em certas partes dela.

— Vamos – ele estirou um dos braços para ela e a guiou pelo caminho.

É claro que Sasuke não era alheio aos olhares de medo que os empregados davam a ela. Mas tratou de sorrir e cumprimentar cada um, Sakura o imitava.

A levou para passear pelo labirinto do palácio. Tinham visto Naruto antes de entrarem, mas só o cumprimentaram de longe.

— Naruto finalmente percebeu que está apaixonado por Hinata – Sasuke comentou para a garota.

— Sério? – Sakura se virou surpresa para ele. – Ele que te disse?

— Eu posso ter dado um empurrãozinho – o príncipe fez cara de paisagem.

Sakura riu.

— Que bom – ela comentou. – Tomara que se acertem.

— É – ele concordou.

Ficaram algum tempo em silêncio até Sakura perguntar:

— Como é que você não se perde?

— Sei o caminho de cor – ele deu de ombros. – Eu adorava fugir das babás e dos guardas e corria para cá – ele deu um sorriso cúmplice a ela. – Estamos quase lá.

— Uau – Sakura murmurou baixinho.

Tinham chegado a uma estufa de frente a um grande lago, maior que o da Academia.

— São borboletas? – ela apontou para as árvores carregadas de insetos com asas.

— Borboletas da Lua – Sasuke a informou. – São chamadas assim porque só voam a noite.

— Deve ser lindo – ela comentou.

— E é – ele concordou. – Espere e verá.

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Sakura passou a tarde ao lado de Sasuke jogando conversa fora, sem coragem de acabar com aquilo. Se surpreendia com a dor que palpitava em seu peito, em pensar naqueles olhos gentis dele lhe destilando ódio pelo que havia feito com ele.

A verdade é que tinha prendido a gostar dele, era impossível não gostar, ele era tão gentil em um mundo onde pessoas como ele jamais lhe eram gentis.

Estavam sentados debaixo de uma das árvores.

O primeiro beijo deles tinha acontecido em meio ao brilho verde dos vagalumes. Então foi por isso que quando as Borboletas da Lua levantaram vôo depois que o sol se pôs e emitiram um brilho azul nas asas, é que Sakura ofereceu o cookie a ele.

— A gente já está aqui a tarde inteira que até me esqueci dos cookies que preparei – ela retirou da cesta dois deles e ofereceu um a ele.

Sasuke pegou a mão dela e depositou um beijo no torso antes de pegar o cookie que ela oferecia.

Sakura observou nervosa e mordeu o que segurava, não precisava, era só para incentivá-lo a fazer o mesmo.

— O que acha? – perguntou a ele, com medo de sua reação.

Mas Sasuke comeu o cookie inteiro antes de responder:

— O gosto é diferente do outro, não é? Acho que o outro era mais doce – postergou a resposta. – Vou ser sincero, esse tem um leve amargo no meio.

Sakura não entendia o que estava acontecendo. Tinha errado a receita? Não podia ser, tinha decorado ela.

— Não se sente diferente? – perguntou nervosa.

— Diferente como? – ele perguntou com um sorriso nos lábios.

— Diferente! – ela exclamou não conseguindo se controlar.

— Não sinto nada que eu não devia sentir – ele deu de ombros e sorriu ardiloso. – Mas talvez devêssemos esperar mais um poção para a poção fazer efeito, certo?

Sakura gelou ao ouvir o que ele disse.

— O que você disse? – ofegou.

— Era isso o que o cookie era, não é? – ele reforçou, não deixando espaço para dúvida e se aproximou dela, que tinha levantado em afobação. – O primeiro cookie que você me deu era uma poção do amor e esse era para desfazer a poção, certo?

A filha da Malévola estava em choque.

— Você sabia – ela percebeu. – Há quanto tempo você sabe?

— Desde o lago – ele respondeu sinceramente. – A água é encantada, então eu não estava enfeitiçado em nosso primeiro beijo e em nenhum beijo que veio depois – ele sorriu colocando uma mão sob o queixo dela. Queria muito beijá-la naquele momento.

— Então você fingiu... – ela sussurrou, sentindo um aperto estranho no peito. – Durante todo esse tempo?

— Eu nunca fingi – disse sincero.

Sakura não podia acreditar.

— E você não está bravo comigo?

— Não – ele sorriu.

— Como pode não estar bravo?

— Eu já disse: eu amo você.

Aquilo fez Sakura se afastar dele, o coração aos pulos, a garganta parecia que tinha um bloqueio que não a deixava respirar direito e o estômago parecia um emaranhado.

— Você não pode me amar – disse com convicção.

— Posso sim – ele rebateu. – E você já confessou que gosta de mim, para mim é bastante por enquanto.

— Você não entende – ela começou a dizer, se era para falar a verdade, iria dizer ela toda. – Acha que seus pais e a Fada Madrinha já chegaram a essa altura?

Sasuke não entendeu onde ela queria chegar.

— Provavelmente, já está perto da hora do jantar – ele respondeu. – Me desculpe, mas eu não vou deixar você sair daqui até a gente se resolver.

— Não tem nada que a gente tem que resolver! – ela gritou. Estava começando a perder noção de si.

— Você me enfeitiçou! – ele devolveu nervoso.

— E você não está bravo comigo! – ela não entendia como ele não podia estar.

— Não!

— Mas devia!

— Por quê? Por que você está apaixonada por mim e tem medo de admitir?

Sakura ofegou em surpresa. O caminho era bem aquele, mas ela jamais iria admitir.

— Não te enfeiticei porque estava estou apaixonada por você – ela disse se controlando e tentando manter a voz neutra.

— Então por que me enfeitiçou? – ele sentiu uma fisgada no peito.

— Fiz isso para ficar mais perto de você na coroação e roubar a varinha da Fada Madrinha  assim que ela coroasse seu irmão – ela disse de uma vez.

— O que? – Sasuke ofegou dando um passo para trás, mas quem havia dito aquilo não fora ele e sim o rei que havia acabado de parecer junto com a rainha Bela e a Fada Madrinha.

Sakura ficou surpresa com a aparição dos três, mas se manteve no lugar. Ia acabar tendo aquela conversa mais cedo ou mais tarde de qualquer jeito, então por que não naquele momento?

— O que acaba de dizer é verdade? – perguntou a rainha. – Você usou o meu filho para conseguir a varinha?

Doía ver o olhar magoado de Sasuke, mas tinha prometido que seria sincera.

— Sim – respondeu olhando nos olhos deles, mas desviou o olhar para a Fada Madrinha. Ela não parecia surpresa com a confissão.

Sakura apertou as mãos ao lado do corpo, se sentindo formigar.

— Eu amo você – ouviu Sasuke dizer mais uma vez.

— Para de repetir isso! – ela se virou nervosa para ele.

Não era digna do amor dele, nunca seria, quanto mais cedo ele aceitasse aquilo mais cedo iria superar.

— Não paro – ele agarrou os braços dela desesperado. – Você disse que gostava de mim, eu acredito nisso, eu te perdôo pela poção e espero você aprender a me amar, mas, por favor, não quebra meu coração dizendo que tudo o que vivemos não foi verdade.

Sakura estava sem fôlego diante do olhar dele, sentia seu corpo pegar fogo com aquela declaração, foi somente quando ele se afastou assustado que a filha da Malévola percebeu que seu corpo realmente estava pegando fogo. Estava em puras chamas verdes.

— Sakura se acalma! – pediu a Fada Madrinha.

Mas Sakura não conseguia, estava completamente perdida em meio a todo aquele poder, perdeu a noção de onde estava e tudo o que pode sentir foi uma explosão antes de apagar por completo.

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