Todos se perguntavam quando é que a filha da Malévola voltaria, se é que voltaria. 

A resposta era três dias.

Sakura ficou fora por três dias.

Mas antes disso...

Sasuke estava em seu quarto, deitado na cama, coberto pelos edredons, olhando para o teto. Deveria estar dormindo, mas não conseguia. Os últimos três dias haviam sido assim. Sua maior preocupação era Sakura: onde ela estava? Estava com alguém? Estava bem? E, principalmente, realmente havia cometido assassinato como estavam dizendo? O príncipe não queria acreditar que aquilo era verdade. Não parecia ser a Sakura que conhecia.

Como as coisas tinham saído tão fora de controle?

Tinham saído no sábado para se divertir um pouco, para relaxar e só curtir um ao outro. Sasuke tinha enfim confessado seu amor a Sakura. Tinham se beijado e logo em seguida... Os dragões aconteceram.

E agora a situação estava completamente fora de controle, com todos achando que a filha da Malévola era uma assassina, sendo que nem sabiam o que havia acontecido realmente.

Estavam tomando café da manhã no dia seguinte ao ataque dos dragões quando as notícias chegaram: que a filha da Malévola fora avistada nos limites da Floresta Proibida e que havia matado quem ousasse se aproximar. Diziam que o ataque havia sido tão brutal que os corpos pareciam estar se decompondo há semanas já.

A Fada Madrinha estava no castelo da Bela e a Fera ajudando com os preparativos para a coroação do príncipe Itachi, que ainda aconteceria no sábado, e não recebeu muito bem as notícias, mas quem receberia bem uma notícia daquelas afinal? O conselheiro real e o diretor da escola, aparentemente. Eles se vangloriavam por estarem certos de que as crianças da ilha só trariam problemas ao reino.

Sasuke quase comprou uma briga com os dois. Foram Naruto e Itachi que o impediram.

— Eu sei que você está apaixonado por essa garota – disse Itachi, resoluto. – Que você a ama – ele apontou. – Mas eu, como futuro rei, não posso ignorar uma acusação dessas. Se ela tiver mesmo cometido assassinato ela vai ser levada a julgamento e ser mandada de volta para a ilha se for comprovado.

— Ela vai ser levada a julgamento de qualquer jeito – falou Izumi, timidamente, atrás deles. – Proteger dragões é crime – explicou.

— Ela ajudou a Academia inteira, se não fosse por ela o estrago poderia ter sido bem pior – Sasuke tentou defendê-la. O que era a mais pura verdade. Se não tivesse visto Sakura erguer as mãos para acariciar os dragões filhotes não teria feito o mesmo em reflexo. E provavelmente jamais teria entendido que eles não eram os monstros das histórias que lhe contavam desde que era criança. Aquele pequeno momento onde os filhotes confiaram em si fora mágico. Eles lhe lembraram filhotinhos de cachorro.

Mas também se lembrava do aroma que estavam preparando no refeitório. Nem Sakura saberia o que era aquilo: emboscada para pegar criaturas mágicas. Era basicamente uma poção que atraia qualquer ser que pudesse ter magia da Floresta Proibida em seu sangue. Nenhuma criatura era capaz de resistir àquele cheiro. Era assim que a caçada era feita.

Voltou a prestar atenção no irmão.

— Você, como futuro conselheiro real, não pode deixar que seus sentimentos por ela o ceguem – ele pediu com uma mão em seu ombro esquerdo. – Sei que a ama e isso é magnífico, vamos torcer para que toda essa história não passe de um mal entendido.

Sasuke sabia disso, mas não conseguia evitar. Proteger Sakura parecia fazer parte de si.

Suspirou virando mais uma vez na cama, lá se ia mais uma noite sem dormir direito.

— Cadê você Sakura? – sussurrou para o nada.

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Naruto estava caminhando ao lado de Sasuke nos jardins do palácio do rei Fera e da Rainha Bela. Estava pensativo, tinha que contar algo importante a Sasuke.

Àquela manhã tinha tido um sonho estranho.

Um sonho estranho com Hinata.

E fora acordado por Itachi.

Nunca imaginaria que o príncipe mais velho pediria um conselho seu algum dia, mas aconteceu. Então agora cabia a Naruto contar o que estava prestes a acontecer para o melhor amigo. Mas não sabia como abordar o assunto.

— Está tudo bem? – Sasuke perguntou um tanto preocupado com o amigo.

Bem, tinha que começar por algum lugar.

— Mias ou menos – foi o que respondeu.

— Quer me contar?

Naruto suspirou e decidiu falar primeiro sobre o que estava lhe incomodando:

— Eu tive um sonho estranho com Hinata.

— A filha da Rapunzel? – Sasuke questionou confuso, não esperava que o amigo fosse enfim... Perceber.

— É – concordou.

— Um sonho estranho – murmurou Sasuke. Também havia tido um... – Estranho como? – perguntou.

— Eu a beijava – Naruto sussurrou abismado.

Sasuke sorriu.

— E? – incentivou o amigo a continuar.

— E foi isso – Naruto deu de ombros frustrado.

Não sabia como colocar em palavras que a pele da garota parecia veludo sob suas mãos, que os olhos brilhavam como duas joias e o sorriso tímido lhe encantava por demasiado. E o beijo... fora mágico. Tudo isso num único sonho. Aquilo lhe deixava ansioso e preocupado. Não sabia o que estava sentindo pela garota.

— Por que você acha que sonhou com ela? Um sonho em que você a beija, inclusive – apontou Sasuke.

— Não sei – Naruto respondeu frustrado.

Se sentia confuso, perdido, às vezes irritado. Hinata era um doce de pessoa, não queria sentir aquelas coisas por ela porque a amizade que tinham lhe era muito importante. E agora não sabia nem como faria para olhar para ela sem passar qualquer um daqueles sentimentos que ele considerava negativos.

Dessa vez foi Sasuke quem suspirou frustrado.

— Naruto, pensa um pouco – pediu Sasuke pacientemente. – Uma das razões para que a gente se imagine beijando uma garota é porque estamos apaixonados por ela.

O loiro parou no lugar, completamente em choque.

Todas as vezes que olhou Hinata e prestou atenção em seus cabelos, seus olhos, sua pele, sua boca, até na pintinha que tinha no nariz, no carinho que tinha por ela e o quanto a presença dela o fazia feliz...

Então aquilo era amor?

— Tudo bem? – Sasuke perguntou cauteloso. Estava alguns passos a frente do amigo quando percebeu que o mesmo não o acompanhava.

— Como eu pude ser tão cego? – Naruto exclamou.

— Você tinha mania de amor à primeira vista – o filho da Bela e a Fera deu de ombros, se compadecendo do amigo.

— Aí estão vocês – Izumi chegou correndo, as bochechas estavam coradas pela corrida. – Não vão para o tribunal? – ela perguntou.

— Por que ir para o tribunal? – Sasuke perguntou confuso.

Aquilo estalou a cabeça de Naruto.

— Eu ainda não contei – disse o loiro apreensivo. – Me desculpa – pediu para Izumi.

— Não tem problema – foi o que a filha do diretor respondeu. Ela arrumou a postura e se virou para Sasuke para lhe informar: – Marcaram uma audiência para a filha da Malévola. Segundo o conselheiro real, não podemos prosseguir com os preparativos para a coroação do príncipe Itachi enquanto essa ameaça estiver sobre nós.

— O quê? – Sasuke deu um passo para trás desolado.

— Era para eu te contar – disse Naruto. – Sinto muito cara.

— A Sakura não é culpada!

— Não vai caber a você decidir isso – disse Izumi tentando ser delicada.

— Eu vou testemunhar a favor dela – disse Sasuke resoluto.

— Você não pode – negou Izumi. – Por causa da relação de vocês, o namoro de vocês já é público, sabe?! Você é dispensado como testemunha por ser considerado imparcial.

Sasuke suspirou frustrado.

— Tem que ter alguma coisa que eu possa fazer para ajudá-la – implorou.

— Lamento – respondeu Izumi, triste pelo príncipe e também por Sakura. – Mas só depende dela agora.

— Ela vai ter alguma defesa? – Naruto perguntou, também querendo ajudar.

— A Fada Madrinha – respondeu Izumi. – Mas pode ter certeza que o conselheiro real vai ser implacável.

— Ele a odeia – lamentou Sasuke.

— Vai fazer de tudo para que ela seja acusada e volte para a Ilha – concordou Naruto.

— Quais são as acusações que ela vai ser julgada? – perguntou Sasuke seguindo em direção ao palácio e onde normalmente eram julgados os criminosos.

— Proteção a criaturas consideradas perigosas, desordem local, quebra de regras e assassinato – Izumi numerou enquanto seguia atrás do príncipe.

— Os professores vão testemunhar? – perguntou Sasuke.

— Provavelmente – respondeu Izumi. – Eles já foram chamados e pelos portais logo, logo estarão aqui.

Naruto assobiou.

— Querem fazer uma espécie de show por um acaso? – o loiro perguntou.

— É o que parece – lamentou Izumi. – Ninguém está proibido de participar e por ser a filha da Malévola muitos já estão por lá só para assistir.

— Querem fazer um espetáculo – percebeu Sasuke. – Sabe o que isso significa? Querem que toda Konoha se revolte com a ilha e jamais permitam que qualquer descendente daqueles que um dia foram considerados nossos inimigos saiam de lá novamente. Quem que organizou tudo isso em tão pouco tempo?

— O conselheiro real – respondeu Izumi.

Não demoraram em chegar a um dos salões, o que seria feito de tribunal.

Já estava lotado. Tinham colocado uma ampulheta na mesa daquele que seria o juiz.

Sasuke calculou rapidamente o tempo que ainda sobrava. Sakura só tinha até o pôr-do-sol para comparecer.

— O que acontece se ela não aparecer até lá? – Naruto perguntou ao seu lado.

Foi Izumi quem respondeu novamente:

— Ela vai ser considerada uma fugitiva.

Então só restava a Sasuke torcer para que Sakura comparecesse e fosse mesmo inocente. Tinha a impressão de que saberia a verdade assim que olhasse no rosto dela.

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Os ânimos estavam exaltados. O tribunal parecia mais cheio do que deveria em um julgamento normal, mas aquilo era o que o conselheiro queria: uma plateia fácil de manipular, com os nervos a flor da pele.

Ele sorriu muito contente quando os grãos de areia terminaram.

— Tempo esgotado – ele anunciou alto e claro.

A Fada Madrinha parecia que ia cavar um buraco de tanto que ela andava de um lado para o outro e cerrou as mãos com força ao lado do corpo.

O público se agitava saindo do tribunal querendo caçar a filha da Malévola.

— Não é justo – disse Sasuke. – Ela só estava nos protegendo – não só os humanos na Academia, mas principalmente os dragões que estavam em perigo.

Tinha decidido se sentar longe dos pais por terem concordado com aquele absurdo, não podia creditar que eles tinham deixado o conselheiro real chegar tão longe com todo aquele espetáculo.

— Sinto muito – lamentou Naruto ao seu lado.

— A Sakura vai aparecer – disse Ino, resoluta, se virando para eles.

Os amigos de Sakura estavam sentados no bando da frente de Sasuke. Eles tinham voltado dos reinos onde estavam para testemunhar em favor da amiga. Foram os únicos que permaneceram em seus lugares.

— Para onde vocês vão? – de repente uma voz se fez presente. Era Sakura. – Eu estou bem aqui.

Ela realmente estava. Tinha surgido do nada e aparecera bem ao lado da Fada Madrinha.

Sasuke se surpreendeu com a aparência dela. Ela parecia... Quase selvagem. Inclusive carregava as botas nas mãos apoiadas em um dos ombros em uma postura relaxada.

— Perdão pelo atraso – a filha da Malévola se desculpou. – Acreditam que eu me perdi? Aqui fora é bem grande – comentou irônica.

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